Volume 2
Capítulo 5: E a Decisão do Conselho Estudantil é... ③
— Agora... ao próximo round... — saí da classe vazia e galguei a escadaria do próximo andar, da qual parei em sua curva: — Quanta gentileza a sua de estar nos observando, hein.
A minha frente, outro estudante se encontrava sentado nos degraus, incrédulo:
— Como foi que...?
— Ora, por favor. Quem seria outra pessoa de olho nessa confusão toda, além de você?
— ... — Hiyatetsu Bara desviou o olhar, inconformado. Desde que tornei a ver os membros do Conselho Estudantil mais vezes, aquele cara era o que mais perambulava pelos cantos. A quem visse acharia que era sua dedicação pelo trabalho, mas tinha uma teoria diferente a respeito.
— ...para que Kumiko tivesse acesso aos documentos dentro da sala do Conselho Estudantil, alguém teria que abrir a porta.
— Eu não sei do que está falando! Pare de falar bobagens! — Ele se levantou, furioso. — Só estava descansando um pouco! Preciso fazer minha ronda diária, agora. Saia da minha frente!
— Que estranho logo o secretário principal do Conselho estar tão preocupado em fazer rondas... isso não existe.
— E o que você sabe sobre...!
Antes que se afastasse, agarrei seu braço e o coloquei atrás das costas. Sua reação foi tão lenta que não teve como revidar.
Passos ecoaram em nossa direção.
— Hiyatetsu, desculpa a demora. Eu estava... hein? O que está acontecendo aqui?!
Uma garota surgiu de repente. Não, aquela garota foi o motivo para Hiyatetsu estar ali desde o início.
— Não poderia imaginar muitas pessoas me observando e auxiliando Kumiko sem ser um de vocês... — indaguei, indiferente. — ...como imaginava, Higusa Amari.
— O que está fazendo com Hiyatetsu, garoto?! Solta ele! — esbravejou a garota. — Ei! Está me ouvindo?!
— Você foi a responsável por se comunicar com ele para Kumiko, não foi? — apontei, a deixando incrédula. — Ela precisava de uma ponte até o Conselho Estudantil. Então, só posso imaginar que os outros em seu auxílio fossem Todo Himura e Ichika Yari.
— Como você...?
— Você e Himura foram atrás de manter as comunicações com os membros... espera. Acho que seria melhor dizer que aqueles dois que fizeram isso enquanto você aprofundava sua relação com esse daqui, não é?
— O... o que está dizendo?! — Hiyatetsu ficou vermelho. — Me larga de uma vez!
— Chega de papo furado. Vocês já conseguiram o que queriam, então está feito. Tratem de me deixar em paz, pode ser?
— O que quer dizer?
— Estou dizendo que Kumiko não vai conseguir me ameaçar, muito menos vocês. Se não souberem se comportar, podem ter certeza que as denúncias contra todos serão certeiras... — Novamente peguei o celular. — ...e com provas concretas.
— Maldito! Está gravando?! Droga! — Ele se contorceu, mas não saiu do lugar.
— Essa não! — Amari se aproximou aflita e tentou pegar meu celular, mas a empurrei de imediato.
— Ótimo, foi a reação que esperava... — desliguei o gravador e guardei o celular. — Isso torna as coisas mais fáceis, certo?
— Seu... o que pretende?!
— Que apenas continue com o bom trabalho e finja que não existo, de preferência — O larguei e continuei: — Não sei exatamente das suas razões pra tê-la ajudado e nem me interessa. Mas não entre no meu caminho, funcionário.
Ele bufou, aturdido. Em seguida, me virei até Amari:
— E você, dê este recado para os outros: não se metam comigo. Uma palavra minha e todos vocês irão se lascar juntos.
— Garoto maldito... — Amari tremia de raiva, mas não me atacou. Em vez disso, foi em auxílio de Hiyatetsu.
— Até que vocês combinam... como pulgões.
Os deixei ali, sem aguardar uma resposta. Poderia supor vários motivos daquele cara os estar ajudando, mas não queria saber... isso era tudo, não existia valor algum daquilo para mim.
Conforme caminhava até o hall, me deparei com a professora Harashima, que acenou para que me aproximasse.
Imaginei a razão de estar me chamando.
— Há alguma mensagem da Mitsuhara?
Ela suspirou e esboçou um sorriso cansado.
— Parece que você está se acostumando com as investidas daquela mulher, hein? Ela realmente é uma pessoa difícil de se lidar...
Naquele momento, tudo o que não queria ouvir era sobre o teste especial, mas...
— Quero que saiba que você deve ficar em alerta.
— Hum? Por quê?
— A decisão de realizarem os questionários foi coisa de última hora, mas serão levados em consideração para as provas diagnósticas. Não preciso dizer que isso também terá peso no teste especial.
— Mas...!
De fato, aqueles questionários foram muito repentinos, mas não imaginei que seriam levados a sério a esse ponto! Eu poderia estar condenado por conta da minha nota em geografia!
Eu exalei pesado, mas não retruquei.
— Acho que só saberei o resultado de tudo isso no final de junho, hein?
— É melhor que comece a se preocupar cada vez mais com as suas notas..., mas também tenho uma boa notícia.
— Boa notícia?
Estava até surpreso de receber algo bom, já que só tive tempos conturbados até agora.
— Mitsuhara Kobune me disse que se você ficar entre os 20 melhores na pontuação geral das provas diagnósticas, o peso do teste especial seria reduzido com o que queira opinar.
— ...
Aquilo que ela se referia já era algo do meu conhecimento. Ao receber as anotações de Senjou Hana, descobri que o teste especial inicial era uma avaliação com todas as disciplinas, unindo conteúdo do primeiro e segundo ano. Seguindo esta lógica, poderia opinar em como poderia facilitar a prova, tirando uma disciplina da avaliação. Considerando que a dificuldade das áreas que domino seriam aumentadas, era a intervenção perfeita.
Como Kumiko talvez me atacará novamente com alguma outra tática para tentar me expulsar, terei que usar todas as oportunidades que surgirem ao meu favor.
— Entendido. Irei estudar bastante e conseguirei ficar entre os 20 melhores. Mais alguma coisa?
— Ah, sim. Queria te perguntar algo... — Ela se aproximou. — Soube de alguém que o viram entrando no museu depois da escola... e coincidentemente Chinatsu Chitose do 2°F também frequenta aquele lugar. Você sabe de algo a respeito dela?
Engoli em seco. Provavelmente, já fizeram seus movimentos para me encurralarem. Era até correto dizer que mesmo se não intervisse entre aquelas duas, Kumiko teria me pego. No entanto, era com medidas daquela que tinha a especialidade de escapar.
— Não, nem ao menos a conheço direito. Fui até o local para me informar se havia algum concurso de artes, já que me interessei pelo o daqui. Apenas a encontrei lá por acaso, entende?
— Acaso, hein... entendo... — Ela franziu o cenho. — Não está querendo participar daquele concurso editorial, certo?
A fitei diretamente, mantendo a postura.
— Não. Não tenho a intenção de participar, mas gostaria. Era isso o que queria dizer.
— Esses jovens, viu? — Ela suspirou. — Sei que quer desenvolver suas habilidades, mas há momentos certos para tal. Fique ciente disso, certo?
— Tudo bem... — fiquei cabisbaixo. — ...mais alguma coisa, professora?
— Só mais uma: como anda a disputa, Shiroyama?
— Hein? Ah, isso... bem... — Aquela pergunta me pegou desprevenido. Droga, professora!
Ela suspirou com minha resposta vaga e relaxou seus ombros.
— Espero ao menos que saiba o que esteja fazendo. Decisões são coisas que podem ser momentâneas, mas há vezes que as consequências surgem apenas depois. Você deve estar atento com o que faz para que não sofra sequelas das quais pode não se recuperar.
— Talvez estas respostas eu não tenha nesse momento, professora. — disse. — Estou tomando minhas decisões aos poucos, por mais que a maioria ao meu redor não perceba isso.
— Isso é alguma das habilidades de um solitário ou algo assim? — retrucou a professora.
— Bem, eu chamaria essa habilidade de Análise Sorrateira Invisível, ou algo assim.
— Isso é porque você não se comunica, imbecil... — respondeu a professora, batendo em minha cabeça. Por que ela sempre fazia isso? Eu não era um tambor.
— Saiba que desejo sorte para ambos, viu! — expressou ela, se virando para sair. — Seria bom que os outros saibam das suas ações discretas, mas você também deve pensar nas extravagâncias dos outros ao seu redor.
— É como se eu fosse uma pedra olhando para um oceano inteiro...
— Então as consequências das suas ações já podem estar acontecendo, por considerar parte deste oceano como a sociedade.
Se a sociedade fosse um oceano mesmo, iria apenas afundar como uma simples pedra sem resistência alguma. Não, eu tinha como resistir a isso. Pessoas solitárias não reagiam a esse tipo de coisa, por essa razão deveria pensar diferente.
Como uma pedra — que ao afundar —, irei compreender a densidade daquele oceano, mesmo sem conhecê-lo por completo.
***
A resolução da audiência do Conselho Estudantil foi...
- Chinatsu Chitose não seria mais a tesoureira. Este cargo foi designado à Kumiko Horie pelas suas ações que colaboraram para o estruturamento financeiro e por Chinatsu ter adoecido, não tinha como lidar com o fardo naquele momento;
- Shiina Toshi continuaria como a presidente do clube de artes e poderia considerar Chinatsu como membro;
- Alegada de não conseguir lidar com os afazeres de tesouraria, omitida a parte de que trabalhava meio-período, Chinatsu não foi suspensa da escola.
- Shiroyama Hideo não foi mencionado durante a audiência;
Esta foi a resolução que eu queria.
Novamente atuei nos bastidores e lidei com a situação sem receber crédito nenhum. Não, você pode dizer que o verdadeiro crédito em mim foi não ser envolvido diretamente por esses conflitos, o que apenas me daria mais dor de cabeça.
No final daquele dia, ainda fui trabalhar no museu. Desta vez, Chinatsu estava ao meu lado ajudando. Aquele final de tarde para a noite passou bem depressa. Fitando-a de relance, podia ver a quão aliviada ficou com o resultado, por mais que perdeu a luta contra Kumiko.
Quando as crianças foram embora, fui conversar com ela.
— Hoje não vou poder te ajudar com as páginas. Amanhã estarei ocupado e preciso ir para casa cedo.
— Tudo bem... — respondeu Chinatsu, com um sorriso no rosto. — Eu agradeço por tudo o que você fez hoje por mim, Shiroyama. Acho que não saberei como retribuir.
— Não se preocupe com isso, você já fez isso me ajudando a trabalhar aqui.
— Imagino que tenha encontrado as respostas que andou todo esse tempo procurando? Mesmo que seja difícil ficar pensando e cuidando das crianças, não é? — Chinatsu riu.
— Apesar de tudo, eu consegui sim. Achei o que procurava e isso realmente aliviou o peso que andei sentindo. Obrigado.
Chinatsu desviou sua atenção para o ambiente ao redor.
— Apesar do que aconteceu, ainda pude ser aceita no clube de artes como um membro. Ainda não sei como pude escapar disso sem uma punição severa.
— Por mais que as coisas não tivessem saído como planjeado... foi um bom resultado. Com isso, o seu fardo vai se aliviar, ao menos um pouco.
— Eu gostaria de pensar mais como você, Shiroyama... — Ela me encarou de volta, com um sorriso sincero. — Calcular friamente a melhor opção para si mesmo... talvez não tivesse sobrecarregado os outros se pensasse mais em mim mesma.
Poderia ser que Chinatsu estivesse se martirizando pelas escolhas que tomou e isso a corroeu por dentro durante muito tempo.
— Se os outros não quisessem que tomasse essa atitude, eles a teriam impedido, não?
— ?
Para que ela não voltasse a se mergulhar no desespero, eu a tiraria deste estado novamente.
— Eu não sei do seu relacionamento com os outros membros do clube de artes, mas Shiina é uma grande amiga sua. Por isso, mesmo que todos estivessem contra você, ela não estaria. Não se esqueça disso. Eles fizeram isso porque achavam que seria bom para você.
Notei os rostos de preocupação dos membros enquanto lidava com as artimanhas de Kumiko. Não tinha como ter certeza, mas parece que ela criou um forte vínculo com todos. Por mais que agissem sozinhos, eles tinham seu apoio. E ela, deles.
Lágrimas surgiram de seus olhos e ela rapidamente os enxugou. Fiquei preocupado que tivesse dito algo de errado, mas Chinatsu se adiantou em falar:
— Não se preocupe. Estou feliz! Eu sou muito abençoada por ter o apoio de todos... e de você, também.
— Não acho que fiz muita coisa, mas que seja... — disse. — Afinal, fui eu que te pedi para sair do Conselho Estudantil.
— Sim, e agora foi o responsável por fazer uma garota chorar. Como você é uma pessoa cruel... — Chinatsu socou meu ombro e se dirigiu para a outra sala. — Boa noite, Shiroyama. E devo dizer que ainda não desisti de te recrutar para o clube de artes. Você sabe que será sempre bem-vindo, certo?
— Sei, sim.
— Por mais que eu estivesse arrumando confusão com a Yonagi por isso... ainda acho que não devo desistir.
Com essas palavras, ela desapareceu da minha vista ao fechar a porta. Tomei o rumo oposto, me dirigindo para a estação. A brisa gelada da noite me congelava, mas isso não me importava.
Todas as respostas que queria obter agora estavam ao meu alcance.
***