Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 2

Capítulo 5: E a Decisão do Conselho Estudantil é... ②

Nós ficamos em um silêncio desagradável. Era horrível ter de iniciar uma conversa desse jeito.

— Hum... o que está fazendo aqui, Shiroyama? — perguntou Chinatsu.

— Eu preciso falar com vocês duas antes que comece a audiência.

— E por qual razão a presidente agiu desse jeito com você?

— Porque esse garoto é simplesmente desprezível! — rosnou Kumiko. — O que foi aquele pedaço de papel que deu a ela, afinal?

— Não te diz respeito, então não sou obrigado a responder.

Me virei para Kumiko.

— Então, você quer mesmo a posição de tesoureira. Não foi à toa que teve todo aquele trabalho, hein? — E enfatizei: — Dentro e fora da escola.

— Hein?

Chinatsu fez uma expressão confusa no rosto. Isto porque não a dei a carta que foi enviada ao museu.

— Então era você mesmo que estava trabalhando junto a ela, não é? — retrucou Kumiko, sorrindo. — Eu sabia que a pessoa que a acompanhava iria intervir na audiência por medo de ser expulso!

— É, disso você estava certa... — expressei, suando frio.

— Shiroyama, você já sabia...

— Eu tinha uma vaga ideia do que poderia ser, mas não tinha provas.

Chinatsu estava preocupada com aquela suspeita e a confirmei. Nesse caso, todas as cartas teriam de ser postas na mesa.

— Há! Provas? Do quê, exatamente? — questionou Kumiko. — Qual seria a suposição de um mero enxerido?

— Achei estranho que estivesse tão preocupada com as ações da exposição de desenhos, pra começar... — indaguei. — Você realçava atenção e comprometimento sobre todos os assuntos envolvidos do Conselho Estudantil, por menores que fossem.

— E daí? Nunca foi da sua conta o que queria fazer, de qualquer forma!

— Ora, não me surpreenderia que estivesse procurando por notas fiscais dos custos das molduras para ter argumentos concretos enquanto fingia agir em nome do Conselho.

— O quê?! — Chinatsu resfolegou, enquanto Kumiko permaneceu em silêncio.

Eu suspeitei que Kumiko investigou aquelas molduras a fim de achar etiquetas de preços ou códigos de barras. Como não encontrou nada, teve que procurar pelas notas fiscais. É dever da tesouraria guardar os comprovantes de todas as compras realizadas, sem exceções.

Por essa razão que a vi se espreitando pelo prédio especial, manteve sua investigação minuciosa durante todo aquele tempo pra obter o máximo de provas possíveis.

Kumiko cerrou os punhos, sua expressão endureceu. Senti um Déjà vu do que aconteceu mês passado. Aqui estava eu revelando seus planos, novamente.

Mas dessa vez, as intenções eram diferentes.

— E então... — Kumiko começou a falar, mas a interrompi.

— Chinatsu, tenho uma pergunta para você: o que está deixando o seu coração mais pesado?

— Como assim?

Ela indagou minha pergunta. Kumiko ficou incrédula, sem entender, que retrucou:

— O que está pensando em fazer? Qual é o seu problema, afinal?!

Levantei as minhas mãos, ativando minha habilidade especial: assumir rendição sem demonstrar hesitação.

— Não sei você, Chinatsu, mas não quero correr o risco de ser expulso. Por outro lado, gosto de estar no meu trabalho de meio-período, apesar que não vá ficar lá por muito tempo. Não é um risco que valha a pena correr.

— Shiroyama...!

As duas garotas ficaram incrédulas com minhas palavras, que mal reagiram. Não importava se era por uma razão fútil, teria que criar um palco da qual pudesse me proteger das ameaças daquela garota.

— Kumiko, não preciso dizer nada, mas o grupo de Takahashi confia em você. Seria bom que correspondesse suas expectativas, certo?

— Você realmente não precisava dizer isso... — retrucou a garota. — Mais importante, admitiu que realmente quebrou uma regra da escola...

— Por que reage dessa forma quando ele está falando sobre a importância dos seus amigos, Kumiko?

— Calada. Isso não tem nada a ver com você, garota.

— Sendo assim, vamos resolver isso aqui e agora... — disse, apesar daquela resposta atravessada. — Se Kumiko quer o cargo da tesouraria, apenas a ceda, Chinatsu.

— Hein? Mas...!

— Você deve entender que não está em condições para negociar. Esse peso criticou todas as suas ações... se for para a audiência da forma em que se encontra, só causará mais dor em si. As coisas não podem continuar desta maneira.

— Só quero lembrá-lo que você também não está em posição de estabelecer critérios... — retrucou Kumiko.

— Desde que você não tinha intenções de me afetar nesta situação, estou neutro em relação as duas... — Eu encarei Kumiko, contorcendo seu rosto. — Além disso, você não tem provas que comprovem que estive trabalhando por meio-período...

— Acha realmente que não tenho provas? — Ela indagou. — Que mandaria aquela carta como um tiro no escuro? Não me faça rir!

— Uma... carta? — Chinatsu me encarou, confusa. Tirei o papel do bolso e a entreguei.

— Não, nunca imaginaria que alguém da sua laia mandaria uma ameaça dessa sem ter um álibi agindo nos momentos em que não se encontrava presente.

— Seu...!

— A julgar por ter se surpreendido quando cheguei, não teria como você estar gravando minha voz ou a conversa pra refutar meu argumento, nem mesmo de assegurar alguém do outro lado da porta ouvindo nossa discussão. Assim como não tenho provas de que esteve procurando pelas notas fiscais e espalhado falsos rumores usando aquele fórum, usando outras pessoas para isso. Veja, foram apenas meras especulações.

— Shiroyama...! — Kumiko rangeu os dentes, mas depois suspirou e baixou os ombros. — É, você tem razão. Não tenho provas. Dessa vez, não somos exatamente inimigos aqui.

— Chinatsu, desista do cargo do Conselho Estudantil. Se quer que valha a pena todo o trabalho duro que teve desde que começou a trabalhar, deve seguir com isso até o fim.

Eu me referia às páginas que esteve arduamente trabalhando sozinha durante tanto tempo. Chinatsu tremia, seus olhos úmidos me fitavam, ciente do que dizia.

Mais tranquilo, coloquei as mãos no bolso pra conter aquele nervosismo e continuei a falar:

— Além disso... competições não são assim tão ruins. Se Kumiko te venceu desta vez, você pode apenas derrubá-la depois. O ano ainda não acabou, certo?

Kumiko grunhiu com aquela resposta. Chinatsu segurava suas mãos contra o peito, decidindo o que iria fazer.

 — Mas... a minha reputação será manchada e não poderei voltar a me candidatar novamente...!

Alguém que fosse retirado do cargo antes de uma nova eleição era uma acusação de ser uma fraude. Eu entendia que era uma posição totalmente desfavorável.

— Aponte que está incapaz de continuar o trabalho.

— Hein?

— Se você disser que não está bem de saúde, poderá colocar as suas faltas como alguma justificativa. Suas idas ao médico se tornaram constantes, certo?

— E acha que ficarei quieta quanto a isso? — retrucou Kumiko, irritada. — Com todas essas informações, posso denunciá-los aos professores a qualquer momento!

— Vai ficar quieta, sim. Se não ficar, irei mostrar a carta que você deixou no museu. Se a letra não for sua, apenas precisarei buscar o responsável — A ameacei. — E tenho bastante candidatos pra isso.

— Até parece que vou acreditar nessa...

— Acha que estou brincando? — grunhi. — E qual professor acreditaria no que diria, se sua reputação ainda não se restaurou?

— Maldito! Para de ficar se achando!

— Sua personalidade desprezível seria colocada à prova e, convenhamos que como tenho álibis pra isso, não teria dificuldades de virar qualquer tipo de acusação.

Houve um período de silêncio.

— Parem vocês dois! Tudo bem, admito... eu não posso manter as duas coisas... — expressou Chinatsu. — Eu vou me esforçar para me recuperar disso!

Kumiko ficou surpresa.

— Isso só pode ser brincadeira, certo?

— Está resolvido. Kumiko, parabéns pelo cargo. Contamos com seu trabalho duro no Conselho Estudantil. — disse, curvando a cabeça e me virando ao corredor. — A audiência de vocês duas já vai começar, já sabem o que farão, certo?

— Porque está me favorecendo? Você não acabou de dizer que poderia facilmente me denunciar? — questionou Kumiko. — Ou foi apenas um blefe por estar com medo?

— Chega dessa discussão! Estou indo na frente...!

Esperei Chinatsu passar por nós, que caminhava enquanto enxugava suas lágrimas, aceitando a sua derrota de cabeça erguida.

— Eu realmente poderia ter acabado com você, se quisesse. Mas desta forma posso te colocar sob uma coleira... — A respondi, indiferente. — Afinal, não confio em você e com razão. Mesmo assim, posso te observar de um lugar seguro e avaliar seus movimentos. São dois coelhos numa cajadada só.

Não poderia vê-la em ação no Conselho Estudantil, mas a deixaria em uma posição difícil de me denunciar.

— ...ideia maldita.

Kumiko parou ao meu lado e falou:

— Eu sabia que você pegaria seu caderno de desenho naquele dia.

— ...como assim?

Naquele instante, aquela Kumiko Horie que uma vez tentou derrubar Yonagi Kaede se encontrava à minha frente.

— Eu vi o momento em que se esbarrou com Chinatsu no corredor e deixou cair o caderno. Fui eu que a instrui a deixar na sala dos professores, para que desse uma olhada e ficasse interessada em suas habilidades. Veja, por um simples acaso de saber que você desenha, poderia ter te suspendido através de um mero deslize.

— ...

Não soube o que responder naquele momento. Após o incidente da disputa entre os clubes, a professora Harashima me explicou que uma suspensão poderia comprometer e muito os alunos pelos rendimentos, sendo possível ainda um acréscimo de dificuldade dependendo do caso.

— Claro que... é totalmente diferente o caso da expulsão, sendo claramente uma mensagem de despedida de querer se tornar alguém de elite e ninguém deseja isso, certo? — foram suas palavras.

Por isso, evitar situações que gerassem suspensões era algo crucial naquela escola.

Kumiko não mudou, afinal. Só que não tinha certeza se apenas quis me testar ou se realmente tentou me pegar. Se fosse o caso, sua falha ficou clara naquele instante. Como fui eu mesmo que anunciou a derrota, minha consciência estava tranquila. Não fui abalado.

— Devemos considerar isso um empate, talvez? — comentei.

— Não sei. Você mesmo disse que a vitória foi minha, não foi? Mas ainda poderia te incriminar por causa do trabalho de meio-período. Sabe disso, não é? A professora Harashima iria adorar saber disso.

— Já disse... suas ameaças não vão me assustar.

— Não há como saber se não tentar, certo?

— Mesmo que você que tenha sido a responsável pela criação de um fórum e mandante dos rumores? Você literalmente perseguiu uma aluna e a pressionou psicologicamente. Acho que isso não passaria ileso de jeito nenhum.

— Felizmente, não há punições pela criação de fóruns... — debochou a garota. — E, mesmo que não tivesse funcionado, poderia tê-la pressionado de várias outras formas. Tudo o que precisaria era atrair uma boa quantidade de pessoas para intimidá-la, mas não foi necessário chegar a este ponto...

Suspirei e tirei o celular do bolso.

— É, imaginei que você fosse a responsável. Mas lembro que me disse que não poderia fazer nada sem provas, certo? Aqui está, então... — liguei a função da gravação de voz, fazendo-a guinchar. — Falei que você não pensaria em fazer isso, mas não que eu não faria.

— Seu... maldito! — Ela brandou em minha direção, mas a afastei rapidamente.

— Se você não calar a boca, isso pode acidentalmente ser ouvido pelos seus amiguinhos que tanto lutou para conseguir de volta ou até mesmo pelos professores.

Kumiko tremia de frustração à minha frente.

— Eu sabia! Desde que você arquitetou aquela armadilha na biblioteca que causou a dissolução do clube de jornalismo, notei a forma como manipulou a situação e usou todos daquela maneira descarada! — Esbravejou. — Já encontrei muitos vermes, mas de longe você é o pior de todos! Eu juro que uma hora você vai cair e serei aquela que vai te pisar feito o inseto asqueroso que é!!

— Cheguei a me perguntar em que momento você perceberia, mas fiz o certo de não esperar nada de alguém da sua laia...

— Não ache que esqueci sobre Yonagi apenas por ter começado a te odiar, seu maldito! — rosnou a garota. — Só me irrita o fato dela ter mantido o relacionamento contigo, mesmo a tendo usado contra mim!

Em nossa última discussão que levou a decisão da professora Harashima de dissolver o clube de jornalismo, usei de uma mentira pra enganar Kumiko... colocando a Yonagi como pretexto para superá-las agindo como um antagonista.

— E porque ela se importaria com tanto? Na verdade, nós nos encaramos como oponentes e temos consciência disso — proferi. — Você foi literalmente a única pessoa que caiu nesse truque, sua idiota.

— Que seja...! Vou acabar com vocês dois, custe o que custar! Ainda vou achar um meio de esmagá-los usando as intervenções da escola!

— Para falar isso com tanta confiança, imagino que isso não seja algo incomum de acontecer aqui, não é?

—  Isso mesmo! Você saberá em breve o quão comum é alguém ser expulso daqui! Tudo é apenas uma questão de tempo até que você seja lançado ao fundo do poço!

Ela me encarava com olhos ferozes, como se estivesse prestes a me devorar. Com todo aquele ódio direcionado para mim, era possível que tentará de tudo para me tirar daquela escola usando qualquer ferramenta disponível.

— Andei mesmo percebendo que as táticas de avaliação nessa escola são mesmo bem elevadas, mas não é algo que não possa me livrar... — dei de ombros.

— Você é mesmo desagradável! Pensei que poderia te derrubar usando outra pessoa fora aqueles que você ficou próximo, mas vermes são mesmo coisas escorregadias!

— Não se usa o mesmo truque de alguém se não sabe fazer melhor...

— Cale a boca!

Aquele show de insultos levaria o dia inteiro, tendo a certeza de que o fôlego de Kumiko não cessaria até me transformar em uma barata. Estava lidando com Loki, por acaso? Onde estavam as valquírias e os nórdicos para me ajudarem naquele prelúdio do Ragnarok?

De qualquer forma, não queria levar aquilo adiante por mais tempo. Já estava farto da ladainha vinda daquela garota insignificante e sem valor algum.

— Bom, desejo do fundo do coração que você tenha tanto trabalho de agora em diante, que não conseguirá nem mesmo lembrar que existimos... — retruquei, olhando profundamente em seus olhos, que recuaram. — Vamos ver se irá se adaptar com a rotina do Conselho Estudantil, visto que não para de querer meter seu ego ridículo na vida dos outros.

— Eu... — Kumiko ficou sem reação com as minhas palavras. — ...vou tornar sua vida um inferno e...

— Entenda de uma vez: não me aflijo com o problema dos outros, pessoas solitárias agem como egoístas quando lhe convém. Por isso que você não conseguiu me eliminar e nem irá. Danos externos não me fazem efeito, pois escolhi me isolar destes sentimentos. Além disso, agir como um solitário se tornou minha carta na manga e esse novamente foi seu erro, nunca deixei de ser um solitário em nenhum momento até agora.

Kumiko balbuciava, mas de sua boca não saía som.

— Eu disse que não me interessei sobre seus assuntos, certo? Ser alguém solitário é não possuir interesses que o comprometam. Minha maior fraqueza social é minha maior defesa pessoal.

— Como pode falar isso com tanto afinco?... verme asqueroso...

— Se realmente me importasse, não o diria — Me afastei. — Acho que agora você deveria ir, a audiência já vai começar.

Ela saiu naquele mesmo instante e suspirei de alívio. Descontar sua frustração em alguém era mesmo desgastante, principalmente com uma pessoa que não enxerga o mesmo que você.

Mas graças a isso, pude finalmente compreender os sentimentos que surgiram desde o início daquele mês.



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