Volume 2
Capítulo 5: E a Decisão do Conselho Estudantil é... ①
Depois de conseguir me desculpar com Himegi, decidimos nos encontrarmos depois a fim de conversar sobre Kumiko. Hoje não haveria tempo devido os questionários restantes e como a convenção seria no dia seguinte, a única chance que teria de tomar previdências era naquele mesmo dia.
— Não pode falar isso agora, Shiro? — perguntou Himegi.
— Preciso me encontrar primeiro com Chinatsu Chitose, do 2°F... — expliquei, com relutância. — Ela também está trabalhando no mesmo lugar que eu, então preciso que me cubra hoje e amanhã.
— Ah, entendi... — Himegi respondeu vagamente, como se sua mente estivesse em outro lugar.
Francamente, qual era a da cabeça dela? Há até alguns segundos queria me esganar...
Porém, quando me despedi e me virei pra cruzar o corredor, ela me puxou rapidamente e cochichou próxima a mim:
— Espera aí...! Você disse Chinatsu Chitose do 2°F?! Você precisa ter cuidado ao dizer o nome dela em voz alta!
— O quê? Por quê?
— Está havendo um rumor dela estar sabotando as financias dos clubes usando sua autoridade como tesoureira! Todos do primeiro ano estão comentando sobre isso!
— Hein?
Se não soubesse daquela situação de primeira mão, aquilo teria sido a notícia mais bombástica da semana para mim.
— Isso é ainda por causa daquele fórum idiota? — indaguei. — Em falar baixo o nome dela, você quer dizer...
— Sim. Nós supomos que seja Kumiko que esteja espalhando esses rumores... — interveio Kuroi. — E de que arrumou seguidores, como as crianças possuídas de uma entidade!
Como sempre, não entendia nada do que aquela garota dizia.
— Resumindo, Kumiko possui ouvidos por todos os lugares.
— Pelo visto, suas ações em conjunto do Conselho Estudantil a fez ganhar mais apoio do que eu imaginava... e em menos tempo, também.
Com isso, podia afirmar com clareza: Kumiko queria tirar Chinatsu do Conselho Estudantil.
Minha cabeça latejava. Chinatsu corria um grave risco de ser expulsa e eu não estava tão seguro também. Era apenas uma questão de tempo para que ligassem os pontos até a mim.
Se fosse dedurado, seria game over.
— Bom... sendo assim... — Me dirigi a Himegi, preocupado. — Vou mesmo conversar com você agora. Isso é muito importante.
E então, tornamos a conversar sobre toda a situação que ocorreu até aquele momento minutos antes do intervalo terminar.
***
Era uma verdadeira corrida contra o tempo.
Com as coisas tendo chegado até aquele ponto, não restava muitas escolhas a serem feitas. Os seres humanos vivem a base do que podem e devem decidir. Se há uma situação fora de controle em que se está envolvido, as alternativas são ainda mais limitadas, o que não podem te assegurar uma vitória sem perdas.
Você pode dizer que vitórias pesadas desse tipo não são saudáveis.
Mas dizer que são totalmente erradas era um verdadeiro engano.
Veja, em uma história de drama, vitórias que vêm depois de algum personagem morrer fazem o protagonista evoluir de certa forma. Considerar isto uma vitória é uma forma otimista de se ver as coisas.
É o mesmo que — perdeu a batalha, mas ganhou a guerra —.
Essa era a realidade dos solitários. Quando você luta contra a massa da sociedade diversas vezes, nota-se que há batalhas que não podem ser vencidas. Era impossível arranjar amigos sem que houvesse algum tipo de contato ou interação, então qual seria a resposta?
Não crie inimizades, tendo o mínimo de receptividade com qualquer um, mesmo que isso não funcionasse sempre e com qualquer pessoa.
Pensando neste ponto de vista, qual deveria ser a melhor linha de raciocínio que deva ser tomada?
Não, qual perda menos significativa que deveria ser considerada?
Eu sou uma pessoa que sempre lidou com derrotas. Se fosse colocar em poucas palavras, quando se trata de abandonar ou ser abandonado, era o perdedor mais experiente.
Não há nada vergonhoso quando você abaixa sua cabeça pela sua derrota através da própria vontade. Isso era diferente de se abalar.
Meu coração se fechou para esses tipos de sentimentos. Não me importo de perder, aceitaria a derrota e melhoraria com meus erros e voltaria com ainda mais força. Não existem lutas de apenas um único round, nem mesmo esse caso seria uma delas.
A vida sempre te dará uma oportunidade de virar o jogo.
Por isso, deixei de subestimá-la, por mais que me pregasse peças. A vida era cruel e gentil ao mesmo tempo, pois a pessoa que te maltratou e por ventura você a venceu posteriormente, poderia ainda superar as dificuldades em algum momento.
Este foi o caso de Kumiko Horie.
Se ela queria mostrar suas verdadeiras habilidades para mim, fiquei impressionado. De verdade.
Mas tudo aquilo deveria ter um fim.
Por conta da convenção, soube que o Conselho Estudantil cuidaria do caso de Chinatsu Chitose naquela segunda-feira, após o sexto período.
O fato de ser o último a saber das coisas era justamente por não me comunicar com ninguém, soube tardiamente por Himegi.
— Isso que é problema...
Não tinha tempo a perder!
— O que você fará, Shiro? Vai querer impedir Kumiko de entrar no Conselho Estudantil?
Aquela pergunta sincera de Himegi me deixou com um gosto amargo na boca.
— Não, vou tomar uma atitude pelo meu próprio egoísmo. Desculpe, Himegi. Se Kumiko estiver querendo uma segunda chance de ser uma pessoa melhor, não acho que seja uma ideia ruim dela se unir ao Conselho Estudantil.
— Mas, você sabe que isso não é verdade...!
— Sim, eu sei! Mas, não concorda que se ela assumir uma responsabilidade tão grande, sua queda será ainda mais alta se cometer outro erro novamente?
— É, você está certo, mas...!
— A essa altura, não há nada que possa ser feito. Já é tarde demais...
— Só se desistir! Não podemos fazer isso, Shiro! — grunhiu a garota. — A curto prazo, pode até ser que não faça nada, mas...
— ...a longo prazo, ela verá que as coisas podem não ser como planeja e saia por conta própria. Entenda... não somos nós que decidiremos este caminho!
Himegi ficou cabisbaixa, mas compreendeu meu ponto de vista. Nisso, pedi para que ela explicasse para Yonagi que não iria ao clube.
— Mesmo dizendo essas palavras, por que irá intervir pelo seu egoísmo? Isso também não deveria te dizer respeito, certo?
— É, tem razão. Mas, o meu caso é um pouco diferente. Não serei egoísta exatamente pelos meus próprios motivos, porque...
Como o sinal tocou, um aglomerado de alunos retornava às suas classes, algo que deveríamos fazer também. Por isso, tornei a andar, enquanto respondia as palavras de Himegi:
— ...porque devo ajudar uma pessoa que pode cair no abismo do desespero a qualquer momento.
***
Após o término do último período e dos questionários restantes, vi o grupo Takahashi se despedindo. Takahashi se dirigiu para a audiência do Conselho Estudantil, provavelmente para auxiliar Kumiko.
Não imaginava que em algum momento nós estaríamos em posições diferentes. Mas ele era o oposto de mim. Suas interações sociais eram incríveis e muito influentes. Sua imagem era conhecida por todos e transparecia confiança. Esses tipos de pessoas eram meus inimigos naturais desde o ensino fundamental.
Simplesmente porque meu jeito de ser entrava em conflito com o deles.
Como era de se esperar, a audiência ocorrerá em uma classe fechada com somente os convidados e não fui um deles.
Mas não era como se todos soubessem quem viria participar.... e se Kumiko chamou apoio, poderia muito bem agir como um à Chinatsu.
Jogaria na mesma moeda, porque não?
Dito isso, bati na porta e entrei. Ao entrar, me deparei com vários olhares curiosos em minha direção, praticamente de desconhecidos. Felizmente reconheci Shiina entre as pessoas, que acenou para me aproximar. Me sentei ao lado dela e esperei.
— O que está fazendo aqui, Shiroyan?
Ela realmente me considerou alguém próximo para me chamar assim...
— Soube sobre isso há pouco tempo. Onde está Chinatsu? — fitava os arredores, apreensivo.
— Está vindo. Kumiko também não chegou, que estranho...
Fitei o recinto, novamente. Takahashi ficou surpreso ao me ver ali, no lado inimigo. É... sentia que um choque de conflitos gerará um baita caos naquele lugar.
Também eram presentes os membros do antigo clube de jornalismo — Todo Himura, Higusa Amari e Ichika Yari —, me olhando com desdém. Como esperado, ainda ajudavam Kumiko por trás dos panos. Por mais que tivesse tentado manter os olhos neles, sumiram facilmente da vista de qualquer um... o que me causou dificuldade de lembrar de seus nomes...
Mas não tive interesse algum naquela audiência e muito menos neles, somente em seu resultado. Pedi para que Shiina me dissesse onde Chinatsu poderia estar e saí de imediato.
Naquele momento, sabia de uma coisa.
Onde Chinatsu estivesse, Kumiko também estaria.
O lugar em questão era no andar de cima, na sala do Conselho Estudantil. As duas ajeitavam algumas papeladas para a audiência e junto a elas, se encontrava a presidente do local, uma garota esbelta de longos cabelos esverdeados escuros.
Então, aquela era a presidente do Conselho. Tinha uma expressão séria no rosto e transpassava a imagem de uma pessoa responsável. Como não a conhecia, foi a impressão que tive dela.
Eu bati na porta e as três se viraram para mim.
— Ah... eu preciso falar com as duas... vai ser rápido, prometo.
— Entendo. Um conhecido... — disse a presidente. — Parece que já está quase na hora de ir.
Ela passou por mim e puxou meu braço de repente. Tentei me desvencilhar, mas sua força era notável. Pude ouvir sua voz:
— Você está envolvido nessa confusão, certo? Se está aqui, então você é o Shiroyama Hideo, que causou perturbações no mês passado. Recebi algumas denúncias a seu respeito recentemente, sabia?
— Oh... que honra ser lembrado pela presidente do Conselho Estudantil... — sorri, nervoso. — Não disseram nenhum elogio sobre mim, não?
— Não brinque comigo, novato. Melhor que não me tente, já me deu muita dor de cabeça por causa daqueles problemas entre clubes.
— E espero que saiba que também fui aquele que ajudou a solucionar aquele problema... bom, não que esteja pedindo compaixão... — estendi um pedaço de papel em sua direção. — Então, espero que isso resolva alguma coisa...
— O que é isso?
— Alguma compensação pra evitar problemas, como você disse... — respondi, indiferente. — Pra evitar dores de cabeça, sabe?
A garota suspirou, olhou para o papel e levantou a cabeça. Em nenhum momento, sua postura se alterou. Virou-se para as garotas e proferiu, prontamente:
— Esperarei vocês duas na sala. Não se atrasem... com imprevistos — avançou corredor adentro sem nem olhar para trás. Que presença!