Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 2

Capítulo 4: A Estratégia de Kumiko Horie ③

Sexta-feira.

Se até então era chamado de “zumbi escritor” por causa dos olhos mortos e das habilidades de escrita, hoje fui chamado apenas de “zumbi estudante” pelo grupo Takahashi entre risadas.

— Hoje é sexta-feira! Será que é o Dia dos Mortos? — exclamou Ota, um dos membros do grupo Takahashi.

— Não, imbecil... — retrucou Nana. — E hoje nem é dia treze. Pare de viajar.

— Não imaginei que o clube de literatura estivesse te dando tanto trabalho, Shiroyama! — comentou Takahashi, rindo de braços cruzados. — Yonagi deve ser realmente complicada e impaciente.

— Você não faz ideia... — respondi, exausto.

Desde o dia que pisei naquela escola, tive ciência de que a rotina seria árdua, mas ser alguém da elite era sinônimo de estar sobrecarregado? Eu não era o Homem de Ferro! Nem mesmo era uma I.A. pra agir no modo automático a toda hora!

Fora que agora era incluso o trabalho, que sugava os resquícios da minha bateria social. Sério, aquelas crianças realmente davam trabalho. Alguém dava energético para serem tão agitadas?

Além de que, assim como Chinatsu, infringi uma regra da escola e uma lei trabalhista.

Acabei me tornando um parceiro de crime.

Como só iria durar por algum tempo, não seria tão ruim assim. Fazia tempo desde que não ocupava minha mente daquele jeito. E era divertido ensinar as crianças, menos quando tentavam me sujar de tinta.

Um dos membros do Conselho Estudantil apareceu na classe junto a uma garota chamando por Takahashi, pegando seu celular antes que sumisse pelos corredores.

— Que inesperado... — comentou Nana. — Estranho a Higusa o estar acompanhando, não?

— Ela está nos ajudando, também... — explicou Takahashi. — Mesmo que não nos falemos muito, parece que todos estamos começando a ficar próximos dos outros amigos de Kumiko.

Para ser chamado por alguém do Conselho, era possível ter a ver com Kumiko? Se o bispo se moveu, então a rainha se moveria em breve... por qual outra razão o contataria?

De qualquer forma, uma coisa era certa:

Se aquela situação envolvia o Conselho Estudantil, Chinatsu continuaria ocupada em seus deveres de tesoureira e me daria mais trabalho de ter que cuidar das crianças sozinho. Aquilo era algum tipo de Operação Babá ou algo assim?

Era gratificante pensar que não ficarei naquele trabalho de meio-período por tanto tempo... por que não ficarei tanto tempo mesmo? Ah! Era pela competição de artes! Ah, a falta de sono me fazia esquecer das coisas com muita facilidade...

Só agradecia que o fim de semana chegou para descansar melhor. Teria que pensar com cuidado o que pedirei de conselho no dia da Convenção. Tentei mais de uma vez investigar quem seriam os presentes, mas o site em questão não os divulgava de maneira alguma...

Com os exames chegando, ainda teria que visitar os locais de trabalho, mas era algo que poderia deixar de lado por enquanto.

Quando cogitei que a falta de sono começava a afetar minha capacidade de raciocinar direito, uma voz familiar chamou o meu nome.

Era Himegi. Acompanhada de Teru e Kuroi, todos pareciam muito preocupados.

— Shiro! Precisamos falar urgente com você! Venha conosco!

Eu me levantei os segui pelos corredores, ficando a sós.

— O que houve?

— É a Kumiko... — começou Himegi.

— ... nós sabemos o que ela está planejando... — continuou Kuroi.

— E o que é?

— Ela quer se tornar parte do Conselho Estudantil! — concluiu Teru, alarmado.

A única razão para Kumiko não estar interessada em mim ou em Yonagi era por querer alcançar um objetivo maior, o Conselho Estudantil. Com Takahashi ajudando a se preparar para isso, ninguém duvidaria de que isso poderia se tornar algo possível.

— Vocês dizem dela virar membro... e não apenas ganhar influência? — indaguei.

— Isso mesmo! — disse Himegi.

— Eu não esperava isso dela... na verdade, isso não combina com seu jeito.

— Somente ter influência de alguém não é o bastante pra aquela garota! Se ela quiser mais, irá atrás! — exclamou Teru.

— Mesmo achando tudo isso um exagero a seu respeito, não posso negar... — comentou Kuroi.

— No entanto... eu ouvi o pessoal da minha classe comentando que querem derrubar um dos membros do seu cargo! — explicou Himegi, aflita.

— Comentando? Mas de onde tiraram isso?

— Parece que criaram um fórum em que vários rumores foram surgindo... — disse Teru.

— Fórum?

— Sim, esse aqui! — Himegi me mostrou a tela do seu celular, entregando-o a mim. — Parece que foi feito por alguns alunos, mas o que importa é que a informação apareceu aí.

Droga... se as coisas forem por este caminho, aquela possibilidade poderia se tornar algo real. Nada era mais perigoso do que uma ilusão se tornando realidade...

O fórum organizava vários tipos de tópicos, mas o problema era que as contas não continham os nomes reais dos usuários. Portanto, não era possível descobrir quem espalhou a informação.

— Apesar das vagas estarem preenchidas, Kumiko seria a única que tentaria derrubar alguém para assumir o seu lugar! — disse Kuroi.

Assim como uma vez ela tentou superar Yonagi, tornando-a alvo usando o jornal da escola e acabou falhando — por minha causa —, não me admirava que tentaria a mesma abordagem com outra pessoa.

Isso era sua cara.

E neste caso, usar do anonimato era ainda mais efetivo do que o método anterior...

— Bom, mas é do Conselho Estudantil de que estamos falando, certo? Não são eles que escolhem os candidatos?

— Sim, mas as eleições são promovidas pelos próprios alunos. Se houver uma movimentação por causa de algum aluno popular, não seria uma surpresa do Conselho Estudantil se interessar por esta pessoa, certo?

Eu concordava com a opinião de Kuroi. Se ela tivesse o apoio da maioria dos alunos, o Conselho Estudantil não poderia ignorar isto. Além disso, era apenas uma questão de tempo de todos saberem daquele fórum.

— Só para confirmar, a Yonagi faz parte do Conselho Estudantil?

— Não, Shiro... — respondeu Himegi. — Se ela fosse, não estaria no clube de literatura, não é? Apesar de se encaixar em qualquer cargo deles...

Desta vez, tanto Yonagi quanto a mim estavam fora de serem alvos daquela garota ardilosa. Isso significava que não foi apenas uma mera desavença. Esta era a sua verdadeira personalidade, assim como eu e Yonagi conhecíamos nossas próprias em segredo.

Cerrei meus punhos e franzi o cenho. Desejava fazê-la cair em seus planos novamente, mas o que faria?

— O que acha que devemos fazer? — perguntei a eles. — Não somos os alvos, não acho que ela queira um cargo maior apenas para nos importunar.

— Mesmo assim, temos que avisar isso aos outros! Não podemos deixar que ela ganhe! — exclamou Himegi.

A voz dela geralmente era meiga, mas transmitia raiva e indignação desta vez. Não apenas isso, o fato de Kumiko mudar o foco de alvo nos deixava impotentes. Nem mesmo a ameaça de expulsão a faria parar, e era isso o que mais nos irritava.

Nossas mãos estavam atadas.

Se as coisas continuassem assim, um confronto indireto seria travado. Como não a queriam dentro do Conselho Estudantil, moveriam todos quem pudessem do primeiro ano para votarem contra Kumiko...

— ...e querem também o apoio do segundo ano, certo?

— Sim! Se tivermos a vantagem numérica ao nosso lado, vamos impedir que ela alcance essa vitória! — continuou Himegi. — Não quero que vença de jeito nenhum!

Mas não tinha contato com ninguém, exceto Chinatsu. E Takahashi estava do lado dela desta vez. E outra, a influência deles seria alta a este ponto?

Os calouros viram pela minha expressão de que não poderia ajuda-los como queriam. Esta situação era diferente de antes.

Eu me tornei algum tipo de herói para eles por ter detido Kumiko da forma que fiz ou algo assim? Não possuo o One For All, sabiam?!

Isso não existe.

— Eu vou tentar pensar em alguma coisa..., mas acho que devem pedir ajuda para Yonagi, que é mais conhecida que qualquer um de nós.

— Nós faremos isso... — murmurou Himegi, virando-se para o corredor. — Achei... que era melhor te avisar sobre isso.

Os três foram embora e, por ser ainda intervalo, decidi dar uma volta. Enquanto caminhava, vi um dos desenhos expostos pelo clube de artes e lembrei do interesse de Kumiko. Duvidava muito que tivesse tanto interesse assim por artes.

Verifiquei as obras e toquei em suas molduras, mas não vi nada especial nelas. Eram feitas de madeira e tinham vidro de acetato para proteger o desenho. Cocei a nuca e senti uma súbita dor de cabeça pela falta de sono. Decidi que prestaria mais atenção nas ações do Conselho Estudantil para ver se Chinatsu ficaria ocupada novamente.

Para onde fosse, ouvia os murmúrios sobre Kumiko entrar para o Conselho Estudantil. Não conseguia acreditar que aquilo era o assunto do dia, agora podia ver que não precisava de muito para querer se tornar popular.

Veja, era apenas causar uma confusão atraindo pessoas inocentes, ser acusado, pedir desculpas e querer entrar para o Conselho Estudantil. Simples!

E por que falhei em minhas apresentações, então?! O que fiz de errado para minhas habilidades serem esquecidas?

Após o último período de aula, arrumei as minhas coisas e ouvi uma comoção no grupo de Takahashi. Todos estavam animados e até surpresos com a atitude de Kumiko:

— Não esperava que ela fosse mudar da água para o vinho! — exclamou Nana. — Acho que a julgamos mal antes, mesmo... eu sabia!

— Ainda chocada com isso? — brincou Kuwasabe.

— Não fique tão pensativa quanto a isso... — advertiu Takahashi. — Lembre-se que aquilo foi um plano do Shiroyama para que fôssemos um tipo de freio naquele momento. Era o que ela precisava, que a direcionássemos para outro rumo, como aconteceu.

Suspirei, passando a ignorá-los. Como poderiam querer esquecer tão facilmente o que ela causou? Será que estava sendo tão imparcial assim?

Desde que as pessoas ajam de forma a corrigirem seus erros, o perdão seria concedido. Mas havia um limite para tal. Se Kumiko não ultrapassou essa linha, era capaz de fazer algo muito maior ou pior. Tal possibilidade era preocupante por si só e nem sequer passou em suas cabeças?!

No entanto, se isso ocorresse com pessoas tímidas como eu era diferente. A pressão suportada seria maior. Infelizmente, não era sempre que podia calcular os próprios passos para não cometer erros. Se ninguém o conhece, então seus feitos são inúteis. Viva uma mentira, e ela poderá te elevar ou te derrubar.

Sim, viver desse jeito não passa de uma mentira.

Decidi ir até o clube de artes para ver Chinatsu e conferir se iríamos juntos para o museu desta vez. Ao chegar lá, senti uma forte pressão emanando da sala do clube. Aquilo era um Hatsu poderoso! Havia realmente usuários de Nen por ali?!

A garota estava sentada em uma das mesas sob um amontoado de papéis, muito séria. Completamente rodeada pelos membros do clube, concentrados em si. Ninguém prestou atenção em mim, mesmo quando bati na porta.

 Como esperado, minhas habilidades de se mesclar nos cenários deveria ser considerada uma dádiva. Me estiquei entre os estudantes a fim de obter mais informações.

— Ah... eu não esperava por isso... — comentou Chinatsu, atenta a papelada. — Que desastre...

A garota encarava pilhas de papéis e notas fiscais constando vários números altos... era tanta coisa que nem imaginava tal possibilidade de quantidade de reclamações e dívidas.

— E agora? O que faremos? — perguntou Shiina, aflita.

Foi então que Chinatsu olhou para a multidão ao seu redor e me notou. Talvez estivesse procurando indiretamente por alguma coisa que a tirasse daquela situação, seja qual fosse.

— Shiroyama... o que houve? — Ela me fez uma pergunta como se o que estivesse encarando não fosse nada demais...

— Eu que pergunto. O que está havendo?

Mesmo já compreendendo, resolvi perguntar.

— O Conselho Estudantil me acusou de exagerar nos custos para o clube de artes..., mesmo tudo nos conformes...

— Há muitas discrepâncias, Chinatsu... — interviu um dos membros do Conselho Estudantil. Sua pose era tão pomposa que parecia um dos agentes da CP9.

— Eu sei, Hiyatetsu! Não precisa ficar repetindo as mesmas coisas!

— Parece que Kumiko fez muitas sugestões da qual os membros do Conselho resolveram aderir... — proferiu Shiina. — Ela surgiu com isso do nada e ganhou muitos prestígios em pouco tempo.

Aquele cara chamado Hiyatetsu a mal encarou, sendo ignorado. Com isso, poderia dizer com toda certeza que Kumiko tinha uma ótima lábia para estas coisas. Se até mesmo botou colegas contra si...

— Suponho que você deva cuidar disso... — disse a Chinatsu. — Eu cubro o seu turno por hoje.

— Shiroyama... obrigada! — expressou a garota com olhos úmidos. Ei, não faça isso, vai me fazer chorar também.

— Ei! Pare aí... — Hiyatetsu bloqueou a entrada da classe. — O que você quer dizer com “cubro o seu turno”?

Chinatsu engoliu em seco.

— Eu à estou ajudando em um projeto, só isso... — grunhi, deixando-o mais perturbado.

— Há tempos que Chinatsu ficou completamente irregular com seus deveres! Se ela estiver envolvida com algo fora da escola, a presidente não vai gostar nada disso!

— Então a pergunte diretamente, seu cabeça-oca. Ela está bem à sua frente, não?

— Seu...!

— Shiroyama, é melhor parar...!

— Fala sério... — suspirei. — Quem você pensa que é pra ficar querendo mandar nos outros? Sua única função é apenas controlar a etiqueta dos alunos e clubes, não é?

— Sou o 1° secretário do Conselho Estudantil, Hiyatetsu Bara! Posso perguntar o que eu quiser pra qualquer um!

— E daí? Não estou interessado pra saber qual seu cargo e o que faz... não faz a menor diferença!

— Shiroyama, não é? Se eu fosse você calaria a boca! — Hiyatetsu elevou a voz. — Sei muito bem a seu respeito. Causou muita dor de cabeça para nós no mês passado, viu?!

Aquilo era tão trágico a ponto de ser cômico.

— Se eu te causei tantos problemas, então por que não tenta me expulsar? Ah, esqueci. Você não tem poder nenhum pra isso.

Ele segurou meu colarinho, revoltado. O clube de artes inteiro nos apartou, mas não detive minha boca:

— E se lembra de mim, então deve também lembrar de Kumiko, certo? Ela causou mais problemas do que eu, sabia?!

— Ao menos, um dos dois está fazendo a diferença enquanto o outro fica se achando! Meça minhas palavras: se você se envolver com qualquer outro problema, estarei contra seu favor!

Hiyatetsu arrumou a farda de seu ombro e saiu da classe a passos pesados. Sob minha vista ao corredor, notei que alguém presente ali saiu rapidamente.

— Shiroyama... não é uma boa ideia arrumar briga com o Conselho Estudantil...!

Chinatsu se levantou, alarmada. Mas apenas lhe devolvi um sorriso tranquilo.

— Não esquenta comigo. São eles que não sabem o erro que cometem ficando contra alguém generosa como você.

— ...

Eu fiz um cumprimento de cabeça e saí da sala. Nisso, Shiina veio atrás de mim.

— Shiroyan, certo?

Ei... Shiroyan? Não invente apelidos para os outros tão de repente! Qual era daquelas garotas? Achei que só fizessem isso com outras garotas!

Diante daquele susto, acabei afirmando com a cabeça.

— Eu gostaria de te perguntar se você poderia acompanhar Chitose até a estação. Ela vai resolver essas pendências em casa, mas estou preocupada...

Visto a reação emocional dela ao falar comigo, compreendi que a situação se encontrava em péssimas condições.

— Ah... Acho que não vai haver nada de especial para fazer no meu clube hoje. Não vejo problema nisso...

Eu esperei Chinatsu no andar térreo do prédio especial. Enquanto a aguardava, notei que aquele Hiyatetsu conversava no celular próximo dali. Ao contrário de como me insultou mais cedo, falava animadamente com quem se encontrava na outra linha.

Me esgueirei para não ser visto, após terminar sua ligação o cara se dirigiu aos andares superiores. O Conselho Estudantil se encontrava no último andar daquele prédio, então era uma ação normal por ser membro.

Conforme galgava os degraus, cumprimentava tranquilamente os alunos que passavam. Hiyatetsu deveria ser alguém bem respeitoso para estar no Conselho. Era bem capaz que sua carreira estivesse definida, inclusive.

O segui até chegar no último andar, da qual permaneci nas escadas. Ao contrário do que aparentou ser, Hiyatetsu não era arrogante. Por qual razão alguém com uma pinta de generoso como ele ficou daquele jeito pra cima de mim, então?

Retornei ao saguão e me encontrei com Chinatsu. Nós andamos em silêncio até a estação. Ela andava cabisbaixa, ainda preocupada com a situação financeira envolvida.

Se estivesse no seu lugar, também ficaria preocupado. Quer dizer, essas simulações administrativas para a vida adulta poderiam ser tão assustadoras quanto as reais, claro que não poderiam ser comparadas pelas suas proporções.

Pelo que me lembrava, ela morava indo em direção ao centro de Chiba, então iria direto ao Museu, logo depois. Realmente não me lembrava de nada importante a fazer no clube, depois falaria com Yonagi sobre meus planejamentos para a convenção na semana que vem. Não era nada relevante de se relatar com urgência, mesmo.

Chegamos à Estação Inagekaigan e em dois minutos o metrô chegou. Como estava cedo, conseguimos pegar assentos vazios.

— Estou te causando muitos problemas, não é, Shiroyama? Sinto muito pelo Hiyatetsu ter pego no seu pé... não sei o que deu nele.

Havia um sorriso triste em seu rosto. Um sorriso de culpa.

— Não se incomode. Estou fazendo isso porque quero, viu... — respondi, indiferente. — E não é como se alguém do Conselho Estudantil fosse me assustar...

Ela riu, apesar de estar falando de um colega seu. Foi mal.

— Além disso... — continuei. — Preciso arranjar tempo pra pensar mesmo.

— Ultimamente as coisas estão assim. Sem tempo... — comentou Chinatsu, fitando a janela ao transmitir as paisagens em movimento. — Não temos tempo de planejar nada direito. Parece que as aulas começaram ontem e cá estamos já próximos do meio do ano.

Aquilo era reconfortante de lembrar. Logo seriam férias de verão e, descansaria com afinco, ou apenas jogaria a noite toda. Ou as duas coisas! Se tivesse um Neuro-link para tal, meu verão seria mágico!

Claro que antes disso haverá as provas intermediárias, e me deparei com a dificuldade de achar tempo para estudar por causa do trabalho de meio-período. Teria que me dedicar duas ou três vezes mais depois da visita do local de trabalho que acontecerá em breve.

— Você vai conseguir lidar com isso... — disse, com voz rouca. — É a tesoureira do Conselho Estudantil, afinal.

Chinatsu sorriu intensamente. Dessa vez, parecia estar feliz naquele momento.

Não conseguia entender as razões de Kumiko, mas vi o puro esforço de Chinatsu em ajudar o clube de artes e exercer suas funções como atuadora financeira. Como algumas sugestões e rumores de um mero fórum podem ter abalado a dedicação de Chinatsu Chitose, quem manteve seu cargo durante todo aquele tempo?

Chinatsu se arrumou em seu assento e, subitamente recuei um pouco, era uma reação instantânea a qualquer ação feita por qualquer garota próxima. Desenvolvi essa habilidade no ensino fundamental por várias garotas se afastarem de mim!

Você poderia chamar isso de sexto sentido, mas era mais como um calafrio por estar invadindo o espaço dos outros.

Todos possuem seu limite pessoal — as garotas priorizam isso muito mais que os garotos —, e por isso, aprendi a ter essas percepções por tanto ficar sozinho. Chinatsu pareceu não ter notado, o que me tranquilizou. Olhei para outra direção e me mantive em silêncio.

Cenas de pessoas próximas no trem ou metrô executando monólogos motivacionais eram facilmente confundidas como casal, mas não se enganem. Não poderia dizer com clareza se me tornei um amigo de Chinatsu Chitose.

Se não estávamos na mesma classe, não éramos nem colegas de classe. Podia chamá-la de camarada? Estou reunindo uma tripulação e procurar o lendário tesouro dos piratas, por acaso?

No fim, acabei percebendo que ela adormeceu durante a viagem. Ela aparentava estar bem cansada, descansando profundamente.

Como não sabia em que estação desceria, tive de acordá-la e decidimos que sairíamos na estação do museu e, de lá, ela pegaria sua bicicleta para casa.

Aquele final de tarde foi mais agradável. As aulas terminaram mais cedo e, não estava tão cansado como nos outros dias. Talvez hoje pudesse dormir melhor... tal possibilidade cresceu minhas expectativas!

Quando atravessei o saguão para sair do Museu, uma das funcionárias disse que Chinatsu recebeu uma carta e perguntou se poderia entregá-la a ela. Peguei a carta com certo receio. Será que era alguma carta de amor?

Chinatsu era uma garota bem bonita, então isso não era uma surpresa. Talvez seria melhor se soubesse onde era seu endereço e a entregar pessoalmente naquele instante. Mas, antes que decidisse fazer isso, notei que havia um emissor na carta.

Cartas de amor não tinham nomes do emissor ao destinatário. Era literalmente querer dar um tiro no próprio pé antes de querer dizer — eu amo você! — para a pessoa amada.

No segundo seguinte, fiquei incrédulo. Não havia o nome do emissor, em vez disso, estava escrito:

Do seu Adversário e da/do estudante que está aqui com você.

Aquilo definitivamente não era uma carta de amor!

Suei frio, aquilo era uma ameaça para Chinatsu e não sabia o que fazer! Além disso, a parte do “estudante que está aqui com você” era suspeita também. Só poderia ser a meu respeito, certo?

Decidi abrir a carta com essa suposição, nem mesmo estava lacrada. Dentro do pequeno envelope, continha apenas um papel rosa com uma frase escrita:

Descobri o esquema de vocês. Para o/a estudante que a ajuda, você ainda será descoberto.

Fiquei incrédulo com o que acabei de ler. Claro, sabia dos riscos que me submeteria por estar trabalhando até tarde sem contar aos professores ou meus colegas. Nem mesmo meus pais sabiam disso, me arrisquei mais do que podia e agora aquilo.

Ao menos ainda não fui descoberto. Então, se conseguisse voltar a vida normal sem me encontrar com Chinatsu, talvez não ajam suspeitas sobre mim.

Mas, não queria deixar Chinatsu assumir toda a responsabilidade. Ela foi descoberta, toda sua reputação e cargo do Conselho Estudantil estavam comprometidos. Não havia nada que pudesse fazer a ela naquele momento.

Não tinha certeza se quem nos seguiu foi a própria Kumiko Horie, pois pode ter sido alguém próximo a ela.

Ela foi baixa até naquele ponto?

***



Comentários