Volume 2
Capítulo 3: Os Interesses de Todos se alinham, completamente Bagunçados. ②
Depois da conversa com a professora, sabia que se comunicaria com Yonagi. Enquanto me organizava em ver o que desenharia para o concurso em meu quarto, surgiu aquele pensamento. Não tinha como não achar aquilo estranho... não aparentava ser algo que Yonagi faria.
Era incrível como pensou tal coisa sendo que em poucas semanas teria a convenção de escritores, no qual sempre enfatizou que deveríamos nos empenhar em almejar obtermos informações valiosas sobre o que queremos fazer.
A força da imposição dela sobre nós foi grande, mas nos ajudaria de certo modo. Era o que Yonagi acreditava — ou parecia acreditar —, não tinha certeza.
Minhas dúvidas se tornavam mais fortes e intensas. Em prol de me defender, faria meus próprios preparativos. Me pergunto quando foi a última vez que estive tão ocupado, a ponto de não ter tempo para os meus próprios pensamentos.
Descansei o lápis na escrivaninha e fiquei um tempo sem me mexer, absorto nos meus objetivos e em tudo o que aconteceu. Se tivesse mais experiências de vida, talvez fosse algo que pudesse revolver com mais facilidade.
Sem ter ideias para desenhar, decidi deixar isso para outro momento e resolvi me deitar para dormir.
Naquela quarta-feira, estranhamente resolvi analisar mais abertamente as pessoas ao meu redor, de forma indireta. Ainda não sabia que resposta estava buscando e meus olhos simplesmente fitavam os arredores.
Takahashi percebeu que estava encarando bastante em sua direção, decidiu se aproximar para conversar comigo:
— Está precisando de algo? Seu rosto está aparentando isso.
— Bem perspicaz. Como esperado de você — disse. — Na verdade, tenho algumas perguntas que queria te fazer. Acho que iria me ajudar bastante.
Nós decidimos nos encontrar em frente à máquina de bebidas do pátio central para conversarmos a sós. Quando nos encontramos, ele me instigou a começar a conversa:
— Serei direto ao ponto, então: sabe de algo sobre Kumiko Horie?
A pergunta o pegou de surpresa. Eu estava mais ou menos achando que essa reação surgiria.
— Pra dizer a verdade, depois do que aconteceu mês passado, nós nos encontramos às vezes, ainda recentemente combinamos de ir ao Karaokê e passear no shopping. Nada parece estar errado com ela...
— Ah, entendo... — Minha voz soou rouca. Não era o tipo de resposta que estava esperando.
— ...só que aqui na escola, não nos falamos muito — continuou Takahashi. — Não conseguimos nos encontrar direito nos intervalos, apesar de sempre conversarmos por mensagens.
— Oh, lembro dela ter comentado a respeito de ter se afastado de vocês...
— Sim, simplesmente achou que tínhamos nos afastado dela. Mas foi exatamente o oposto. Quando não conseguimos conversar, tenta compensar isso marcando encontros depois das aulas.
Isso era um tipo de resposta que estava procurando.
— Bom, o que você acha disso?
— O quê?
— Acha que isso é algum comportamento estranho?
— Na verdade, acho isso algo bem normal. Nada a impede de ter feitos outros amigos fora a gente quando ficamos em salas diferentes, certo?
— Acho ótimo ela não querer perder contato com vocês. Parece que ao menos algo dela era verdadeiro.
— Você não precisa ficar mais se preocupando com ela, Shiroyama — expressou Takahashi. — Por mais que tenha feitos coisas ruins, as consequências que surgiram a assustaram de verdade. Não acho que irá causar mais problemas novamente.
Takahashi passou por mim e jogou sua lata no lixo, mudando o seu tom de voz:
— Sei que isso deve ser um pressentimento de alguém que não confia abertamente nas pessoas, mas peço que dê um voto de confiança a ela.
Aquelas não eram palavras de um mero colega de sala e sim, um sinal de aviso ao meu ver.
Eu compreendia tal sentido, por ter sido o responsável de pedir sua ajuda para encurralá-la contra a parede, não era algo que qualquer um quisesse fazer com alguém que conheça. Como agora haviam voltado a serem amigos, era normal querer defendê-la.
— Sim, não confio tanto nas pessoas. Eu sou desconfiado com tudo e todos. Mas não foi por ela que quis conversar com você.
— Não? E o que seria? — Takahashi amenizou o tom da sua voz.
Por favor, não haja como se eu fosse o tipo de pessoa que gosta de fazer intriga por aí... seu semblante estava alterado.
— Na verdade... achei o ato dela de querer perdão de nós algo muito louvável. É difícil de fazer isso, sabe... — decidi acalmar Takahashi. — Queria saber por você como foi se reconciliar com ela. Sinto que devo fazer isso com Yonagi.
— Hein? Vocês brigaram?
— Não, somos apenas conhecidos. Conhecidos não brigam... — retruquei, estressado. Takahashi acabou rindo.
— Certo, entendi.
— A posição dela é a mesma que a sua — tornei a falar. — Ambos não confiam em mim e não os culpo por isso, sinceramente. Afinal, não nos conhecemos direito mesmo. Sua relação com Kumiko era parecida, mas agora vocês se falam. Sinto que preciso entender melhor os interesses de Yonagi ou ao menos tentar a como chegar nisso.
Não queria respostas rápidas, pois sabia que isso não aconteceria. Naquele momento, não sabia como me aproximar de Yonagi sem saber o que fazer corretamente. Poderia apenas falar com ela diretamente, mas agir impulsivamente só me causaria arrependimentos.
— Isso está meio difícil de entender pelo contexto... — murmurou Takahashi, coçando a nuca.
— Quis dizer que, se alguém como Yonagi ou Kumiko fazem algo como mandar mensagens ou chamar atenção de outra pessoa, seria correto afirmar que não fariam isso com outras pessoas?
— Bom, pode ser... — respondeu Takahashi. — No caso de Kumiko, parece que não tinha muitos amigos, então me mandar mensagens foi a maneira de me manter próximo, ambos sabemos que não se pode fazer isso com muitas pessoas.
— Acho que se um desses lados não possui desejos de agir sobre os outros, como eu, talvez seja o mais sucinto que chame atenção, certo?
— Provavelmente. Acho que entendendo essa situação, você irá conseguir compreender suas intenções.
— Certo, acho que Kumiko deve estar realmente se empenhando em algo para depender tanto dos seus conselhos por mensagens... devo concordar com isso, ao menos.
Takahashi ficou sem reação durante alguns segundos, até que suspirou.
— Desconfiado como sempre, hein? Você parece que não vai mudar nunca.
— Eu realmente não odeio esse meu lado, sabe... — sorri, presunçoso.
— Parece que tenho que tomar cuidado com o que conversar com você, daqui em diante. Falando nisso, ela comentou que ouviu a professora Harashima te chamando por perto quando estava andando pelo prédio especial. Você não estava a perseguindo, certo?
Apesar do tom calmo de Takahashi, era notável o peso de suas palavras. Takahashi não viria falar casualmente comigo apenas por perceber o quanto os observava. Kumiko e eu agimos da mesma forma.
Como suspeitado, aquela garota realmente prestava atenção nas coisas ao seu redor. Sem prever aquilo com clareza, tinha que desviar esta incerteza dele:
— Não, não a estava perseguindo. Eu já estava à procura da professora Harashima, mas por não a ter encontrado na sala dos professores, fui procurar no prédio especial. Se quiser, ela pode confirmar isso a você.
— Não, está tudo bem. Quanto a sua investigação durante a nossa conversa, vou deixar passar dessa vez.
— Obrigado. Não farei isso com frequência, prometo.
Dito isso, me despedi fazendo uma nota mental que teria de evitar aquelas conversas com ele e me dirigi para outro lugar planejado.
***
Encontrei com Himegi onde havíamos nos separado no dia em que perseguimos Kumiko pelo prédio especial. Nós combinamos aquele ponto marcado de antemão, mas não avançaríamos em nossa empreitada.
— O quê? Tem certeza, Shiro?
— Sim. Ela conversava com Takahashi no celular momentos antes de vir para o prédio especial, que soube que também estávamos aqui. Não sei ainda o motivo, mas provavelmente esteja se empenhando em algo e por isso, não devemos nos meter nisso. Se estiver se dedicando a fazer alguma coisa para seu benefício, é errado da nossa parte continuarmos com essa perseguição sem sentido.
— Você está certo. Está correto, mas... — Himegi desviou o olhar. — Me pergunto o que deve ser esse benefício próprio que esteja procurando...
— Não se preocupe. Duvido que ela irá atrás de se vingar de vocês do primeiro ano. Ela não possui motivos para isso.
— Por outro lado, ela tem todos os motivos para querer acabar com você, Shiro. E isso me preocupa.
Aquela garota devia ter o maior coração do mundo. Eu fiquei tão surpreso que senti meu rosto corar. Desviei o rosto e tentei conter meu nervosismo.
— Não se preocupe comigo. Eu sou o que menos pode ser afetado aqui. Ela não tem informações minhas por ser um aluno transferido...
— Há a Yonagin também, e não quero que Kumiko pense em outro plano ruim agora que está se sujeitando a mudanças de hábito, como o dia de cinema na casa dela. Aliás, você irá, certo?
Eu engoli seco. Aquela conversa mudou da água pro vinho! Himegi ativou seu Hatsu?!
— Ah, sabe... eu não sei. Estou tendo muitos compromissos para fazer ultimamente...
— Você não comece com essas desculpas! Todos vão ficar tristes se você não for!
Será mesmo? Poderia ser o contrário... já que era o que menos me comunicava no clube...
Soltei um suspiro e decidi mudar de assunto.
— Deixando isso de lado, talvez seja melhor que você pare de a seguir. Isso pode acabar gerando uma ideia errada dela de ti. Não sabemos do que ela possa ser capaz, mas é melhor que não tenha nada para usar contra nós.
— Você está certo, não a seguirei mais — concordou Himegi, baixando seus ombros. — Preciso convencer os outros que temos que ser mais otimistas.
— Teru e Kuroi pediram isso para você?
— Não, mas comentaram que estavam apreensivos quanto a Kumiko. Senjou e você quase foram suspensos por culpa dela.
Se não fosse toda aquela intervenção, Senjou poderia ter perdido sua chance de conseguir as recomendações que tanto queria. Depois de encerrarmos a conversa e saímos do prédio especial na hora exata do final do intervalo, o sinal tocou.
— Vou procurar aqueles dois o quanto antes pra falar sobre isso... — disse a garota. — E você, tome cuidado. Tenha ciência de como irá conversar com ela!
— Eu vou tentar... — cocei a nuca, indiferente. — Não imaginei que o intervalo já iria terminar, mas preciso fazer isso o quanto antes. Pode ir na frente.
— Certo, até depois.
Me despedi dela e me dirigi rapidamente para perto da quadra de tênis, onde se encontrava a pessoa que pretendia encontrar.
Senjou Hana.
— Himegi disse que você precisava falar comigo... o que houve?
— Você se lembra do que te pedi em troca dos livros didáticos para ajudar na sua indicação?
Mês passado, havia a encurralado para que me ajudasse a desmascarar Kumiko. E por isso, fiz uma barganha usando as fontes didáticas que precisava em troca do conteúdo do teste especial para os alunos transferidos.
Sinceramente, apenas cogitei que seria apenas útil ter o conteúdo do teste especial apenas por precaução. Quando ouvi a professora Harashima me chamando no dia anterior, imaginei que comunicaria que Mitsuhara Kobune me pressionaria a realizar este teste, por isso tive a ideia de pedir para Himegi me ajudar a ter aquele encontro entre nós dois.
— Foi o que pensei que me pediria..., mas você realmente me ajudou naquele dia. Tenho que cumprir com o meu lado.
Ela se aproximou e me deu um bloco de notas, da qual tinha várias anotações. Uma perfeita fonte de dados.
— Com isso, minha dívida está feita. Espero não precisar me submeter a algo como aquilo, novamente. Por mais que seja cruel dizer isso, não quero fazer mais nenhum negócio com você, Shiroyama.
— Eu entendo, veterana. Não se preocupe, realmente acho que irá conseguir o que almeja. Você está no caminho certo, afinal.
Apesar daquelas palavras duras, agi indiferente.
— ...ou era o que pretendia fazer, mas a Kirisaki disse que você fez tudo aquilo para me ajudar — continuou Senjou, de cara amarga. — Por isso, não te perdoei por completo, mas estou profundamente grata pela sua ajuda.
A garota percebeu minha confusão repentina e me interrogou:
— O que foi, Shiroyama? Está tão surpreso assim pelo que Kirisaki disse sobre você?
— Hein?! Você... está imaginando coisas! Não... não é nada disso que você esteja pensando!
Havia me desestabilizado completamente, o que tirou risadas do rosto de Senjou.
— Não me diga... você está interessado nela?
— Eu... eu só estou um pouco nervoso...
Ah, alguém me tira dali! Não estava preparado para aquele tipo de situação!
— Mas..., mas, não posso negar que sinto gratidão por ela ter cooperado em te ajudar — tentei reagir rapidamente. — E queria poder retribuir de algum jeito, mas ainda não encontrei tal oportunidade.
— Você quer agradecer Kirisaki?
Senjou estava realmente surpresa.
— Eu? Bem... talvez, sim.
— Achei que você fosse alguém horrível, mas até que tem um lado fofo.
— ...
Em questão de instantes, o rosto frio de Senjou se tornou corado e animado. Parece que sua impressão sobre mim mudou de maneira inesperada....
Achei que nossa comunicação seria cortada após aquela conversa.
Ela me deu um papel dobrado, ao abri-lo vi um número. Parecia o de um armário.
— Este é o número da caixa de sapatos da Kirisaki. Não sei o que pode acontecer, mas boa sorte.
Nos despedimos e apesar daquele rumo inesperado, tive a impressão de que nunca mais a veria de novo.
Não que me importasse com aquilo. Senjou Hana cumpriu o seu papel e passaria a ser alguém desconhecida novamente.
Por mais que não tinha pensado sobre o assunto, poder ter a chance de falar com a Kirisaki novamente havia me deixado estranhamente animado.
***