Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 2

Capítulo 3: Os Interesses de Todos se alinham, completamente Bagunçados. ①

Metade de maio passou em um piscar de olhos. De acordo com a ordem de acontecimentos, daqui a duas semanas terá o encontro de todos do clube na casa de Yonagi para ver um filme de terror — detestava me lembrar disso — e na semana seguinte, teria a convenção.

No dia de arrumar a exposição do clube de artes, logo após encerrar as atividades na biblioteca, fui me inscrever para o concurso, marcado para acontecer na metade de junho. Ainda não tinha revelado o fato de saber desenhar aos calouros. Yonagi também não contou nada a respeito para eles, talvez por achar irrelevante. Depois das reações distintas de Yonagi e Chinatsu, comecei a me questionar para quem deveria realmente querer mostrar algo que sabia fazer.

Não era como se não quisesse me abrir para os membros do clube da qual participava. Himegi, por exemplo, era uma pessoa muito carinhosa e atenciosa, sabia que gostaria do que poderia lhe mostrar, mas simplesmente querer me destacar naquele clube não me pareceu mais uma boa ideia.

Por pensar seriamente nas coisas, talvez tivesse me tornado arisco, já que me viam todos os dias da semana. Suas ações e personalidades me faziam sentir como se estivesse deslocado de alguma maneira.

Não adiantava tentar me entender se não conseguia compreender o que estava sentindo, por isso, deixei aqueles pensamentos de lado. No meu quarto, montei uma agenda para me organizar com os eventos que iriam acontecer nos próximos dias. Fazia muito tempo que tinha tanta coisa planejada para fazer, pessoas solitárias não têm esse hábito de combinar encontros com amigos.

Mas havia um problema: o dia de ver o filme na casa de Yonagi. Eu realmente não queria ir, mas negar isso abertamente na frente de todos era inviável. Aliás, mesmo que dissesse a ela em particular, seria impossível. Acho que não tenho escapatória...

Mas, não queria desistir! Definitivamente iria pensar em alguma maneira de não ir. Talvez só devesse inventar que peguei um resfriado naquele dia. Era impressionante o quanto me sentia desconfortável só por pensar numa maneira de ficar distante...

— Talvez aconteça algo próximo no dia para que não precise ir... — murmurei. Já que tantos eventos estavam prestes a acontecer, não era nenhuma surpresa que algo a mais aconteça. Tudo aquilo parecia ser algo forçado para mim e, se fosse parar para pensar, a vantagem só recairia sobre Yonagi, que poderia usar ao meu favor.

***

Como se já não tivesse problemas o bastante, na manhã do dia seguinte, o professor do primeiro período anunciou que em duas semanas todas as disciplinas teriam questionários para nos prepararem para as avaliações diagnósticas.

Às vezes me esquecia que estava em uma escola de elite...

Durante o intervalo, enquanto procurava um banco vazio no pátio central para almoçar em paz e sozinho, me deparei com uma Himegi encolhida sobre alguns arbustos do jardim do pátio. Ela olhava atentamente para os dois lados, mas não conseguia ver além dos arbustos. Decidi não me intrometer e achei um assento vazio um pouco próximo de onde ela se encontrava.

Fiquei concentrado em meu almoço que não percebi o momento em que Himegi se aproximou de mim, ainda agachada. Quando nossos olhos se encontraram, tomamos um susto.

— Que susto...! O que... você está fazendo aqui, Shiro?! — exclamou a garota, envergonhada.

— Ah... só estou almoçando. Eu tinha te visto antes, mas como você estava longe, vim parar aqui.

Ela gaguejava tanto que não parava de balbuciar com o rosto vermelho como pimentão. Ao se acalmar, limpou sua saia da sujeira e se sentou ao meu lado.

— Você estava procurando alguma coisa? Posso ajudar se quiser... — indaguei, aturdido.

— Ah... não. Não procurava algo perdido, estava investigando!

— Investigando? Quem?

— Kumiko... — proferiu a garota. — Estive preocupada com o fato dela não ter feito nada durante todo esse tempo.

Eu assenti a cabeça, surpreso.

— Ah! O que estou fazendo? Deve ser alguma paranoia achar que ela esteja planejando alguma coisa só por estar quieta! Eu... sou uma estranha, não sou?

Durante todo aquele tempo, pensava apenas sobre meu lado da história, sempre desconfiado de Kumiko por me odiar e não cogitei que Himegi ou os outros poderiam estar tão preocupados quanto por causa dela.

Portanto, decidir acalmar sua inquietação.

— Na verdade, também ando preocupado com ela. Afinal, não parece que seja o tipo de pessoa que esquece os ressentimentos com facilidade, não é?

— Bem... sim! Quer dizer... obrigada pelo conforto. Achei que estava exagerando com as minhas preocupações.

Dito isso, nós dois nos esgueiramos pelos arbustos e ela me mostrou a direção para onde olhava. Kumiko estava sentada sozinha em um dos bancos do pátio, mexendo no celular. Olhando assim, não aparentava estar fazendo nada demais, mas sabíamos que não podia ser o caso. Ela constantemente mandava mensagens de texto e áudio pelo celular.

Aquilo dava vontade de se aproximar para poder ouvir melhor, mas sabia que não era o certo fazer isso. Nisso, notamos o momento em que se levantou e se dirigiu para o prédio especial. Decidimos segui-la a poucos metros de distância.

Ao entrar no saguão, duas presenças apareceram. No entanto, como ainda estávamos distantes não pude distinguir quem eram aqueles junto à nossa suspeita.

— Parece que é uma garota e... a outra pessoa não sei quem seja...

Himegi murmurou, aparentemente conseguindo discernir um deles. Que olhar afiado! Era algum tipo de Individualidade, por acaso?

O problema era que mesmo sabendo que tinha mais uma garota ali, Himegi não conseguiu saber dizer quem era. A questão que mais me intrigou foi que a terceira pessoa avançou rapidamente pela escadaria, com Kumiko sendo a última a agir.

Assim como em Detetive Conan, eu e minha assistente avançamos o primeiro lance de escadas cautelosos. Porém, quando os suspeitos venceram os corredores e subiram mais um lance de escadas, uma voz conhecida nos fez parar o que estávamos fazendo:

— Shiroyama!

Era a voz da professora Harashima! Por que justo agora?!

Kumiko desceu rapidamente os degraus para investigar o corredor, mas consegui puxar Himegi a tempo de não sermos vistos contra a escadaria. Nossa perseguição foi comprometida.

Realmente odiava quando alguém interrompia momentos delicados daquela forma...

— O que vamos fazer!? — murmurou Himegi para mim.

Não respondi de imediato, já que ouvi novamente passos se aproximando. Galguei os degraus com Himegi e descemos aquele lance de escadas. Kumiko não dava o braço a torcer. Chegamos ao saguão e nos alojamos em uma sala vazia a tempo dela não nos ver. Suspiramos aliviados.

— Eu verei o que a professora quer comigo. No pior dos casos, Kumiko pode descobrir que eu a segui e pode me incriminar. Só espero que isso não se agrave dela dizer para o Conselho Estudantil.

— O que você acha que ela irá fazer lá em cima?

— Não há muitas coisas para se fazer nos andares acima, então só posso supor duas coisas... — expliquei. — Ela definitivamente deve estar se encontrando com alguém junto daquelas outras, pelas mensagens do celular. Resta saber se será em uma sala de clube ou um lugar privado, como no banheiro.

— Seria melhor se parássemos por aqui mesmo, não é?

— Sim. Se durante os próximos dias, ela estiver fazendo este mesmo percurso, poderemos nos arriscar mais.

Começamos a nos afastar dali, mas peguei no braço de Himegi rapidamente e disse:

— Antes de ir, preciso que me faça um favor.

Ela me olhou sem entender e disse rapidamente o que queria. Himegi apenas concordou com a cabeça, então me despedi e fui na direção em que tinha ouvido a voz da professora Harashima, a poucos metros de onde estávamos.

— Eu tinha te visto, mas o perdi de vista. Preciso falar com você.

— Certo. Eu também estava a sua procura, professora — menti. Se dissesse o contrário, poderia ter uma chance de me proteger caso Kumiko tenha realmente desconfiado de mim e procure me chantagear pôr a seguir. Agora era inventar uma boa desculpa para aquela mulher...

— Sério? Bem, vamos.

Nós fomos para a sala dos professores, que estava vazia. Sentamo-nos um de frente ao outro.

— O que queria falar comigo, Shiroyama?

— Ah, pode falar primeiro, professora — comentei, suando frio.

— Certo, então. É sobre algumas coisas, na verdade.

— Algumas coisas?

— Sim. Soube que você se inscreveu para o concurso do clube de artes, o que achei muito legal.

— Ah, era sobre isso que queria falar com você... — cocei a cabeça, nervoso. — Eu... eu gostaria de te perguntar se teria como sair mais cedo para me preparar para este concurso. Eu realmente quero participar.

— Isso era outra coisa que gostaria de conversar com você — expressou ela, o que me deixou confuso.

— Como assim?

— Yonagi veio conversando comigo sobre seu interesse na disputa. Parece que deixei um peso enorme sobre os ombros dos dois. Por mais que seja algo que será decidido no último ano escolar, isso parece ter se tornado algum tipo de obstáculo para que tentem se entender.

— Hein? Me entender? Com ela? — grunhi, incrédulo. — Ah... deixando isso de lado, ela realmente está empenhada em vencer esta disputa, então não me parece estar sendo algo ruim.

— Certo, mas estamos falando de Yonagi. Ela é uma das melhores alunas daqui. Qualquer que seja o desafio, irá agarrá-lo com afinco. Este é o seu nível de determinação. Mas não estou aqui para falar dela, e sim de você, Shiroyama.

— De mim?

— Enquanto ela está demonstrando com todas as letras que está disposta ao que for para vencer, você está sendo o contrário. Além de se tornar algo mascarado, não se manifestou em nada. O que está havendo?

Eu fugi dos seus olhos, fitando para as próprias mãos entrelaçadas. Aquilo era um tópico que era mais sensível do que imaginava.

— Bem... acho que ainda estou avaliando essa situação. As coisas mudaram rapidamente de um mês para o outro.

— Pensei que você queria se destacar com suas habilidades, como tinha me dito no mês passado. Eu lamento por tudo o que aconteceu com Kumiko Horie, isso teria algo a ver com o que aconteceu quando a levei para a biblioteca naquele dia?

Eu soltei um longo suspiro. Pensando com clareza, não foi nada em relação com Kumiko. Ela realmente havia me deixado perturbado com suas palavras, mas até aquele momento, não fiz nada que pudesse condizer com o seu jeito de agir. Até então, não existia suspeitos, estava apenas lidando comigo mesmo.

— Talvez só esteja querendo ficar um pouco sozinho para pensar. Ultimamente não tive como fazer isso.

— Espero que seja somente por essa razão. Eu realmente quero ver a evolução dos dois e que suas interações melhorem.

— Eu entendo o que esteja dizendo para mim, mas acho que não precisa se preocupar tanto com Yonagi. Ela está se enturmando muito bem com o pessoal do primeiro ano. E eu...

A professora exasperou.

— Sabe, Shiroyama. Às vezes, até você sabe ser positivo. Deveria fazer isso mais vezes para outras coisas. Certo, me decidi! Aí vai o seu dever de casa!

— Ótimo, mais coisas para me preocupar... se ao menos recebesse uma promoção por isso...

— O jeito como você está observando as pessoas é superficial demais! Se você quer interagir com os outros, mesmo que minimamente, deve cogitar as características desta pessoa. Como ela se comporta, suas manias, seus medos, suas formas de interação. Ter uma boa comunicação é excepcional para o mercado de trabalho, mas praticar sua percepção sobre o intelecto das pessoas se faz necessário também.

— Você fala sobre pesquisar sobre a pessoa antes? Como se antes de uma conversa de negócios, você deve saber os tipos de transações mobiliárias que esta pessoa faz, suas parcerias, investimentos e focos no banco de ações?

— Você já pensou além do que deveria, mas sim. É basicamente isso. Talvez enfrentar Yonagi seja algo que o deixe aflito, mas é por esse motivo que você deve saber mais sobre ela. Afinal, os dois possuem métodos diferentes de chegar no mesmo resultado.

— Métodos diferentes...

Eu estava apreensivo. Yonagi deve ter pensado que fui intimidado por ela e perdido a motivação da disputa. Isso explicava o motivo da professora ter me chamado pra falar a respeito.

— Mudando de assunto, tenho uma mensagem de Mitsuhara Kobune, a supervisora.

Eu resfoleguei ao ouvir o nome da supervisora. No final do mês passado, me encontrei com ela, que suspendeu o teste especial para mim — como aluno transferido —, devido a confusão dos dois clubes. Ela era uma pessoa icônica, totalmente imprevisível. Tinha certeza de que qualquer coisa que vinha dela era algo problemático.

— Apesar de tudo o que você fez mês passado, o teste especial ainda precisará ser realizado. Ela já se programou para se encontrar com você e dizer em mais detalhes de como será.

Não era nada surpreendente que isso tenha acontecido. Afinal, a decisão de não dar o teste especial no mês passado foi dela e não da diretoria. Havia compreendido que a auxiliei com a situação dos clubes, já que a aprovação da criação do clube de jornalismo foi de sua parte.

— Para isso, tenho que me preparar para este teste... não é?

— Isso mesmo. Porém, não precisa se preocupar. Só posso dizer que este teste será realizado no mês que vem, em junho.

Eu a encarei em silêncio e acenei com a cabeça.

Diante dos acontecimentos, o fato de estar interessado no concurso de artes supostamente foi interpretado como uma maneira de pensar, realizando outros tipos de atividades. Enquanto a investigação de Kumiko com Himegi prosseguisse sem resultados e o clube de artes me entretece, poderia servir como um escape em relação a Yonagi.

Aquelas duas me interpretaram errado. Não queria me aprofundar em conhecer Yonagi para vencê-la. Naquele momento, sequer imaginava se venceria aquela disputa sem me sentir totalmente dedicado.

Mesmo assim, poderia tirar proveito da situação. Devido ao concurso, a professora Harashima permitiu que saísse mais cedo para me preparar. Enquanto estivesse afastado do clube de literatura, Kumiko Horie poderia afastar seus interesses dos calouros, que estavam tão preocupados com ela. Com a ajuda de Himegi, poderia observá-la e então dar um veredito para aquelas suspeitas, de uma vez por todas.

***



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