Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 2

Capítulo 2: Saber para Prever a Fim de Poder ③

Ao conhecermos uma pessoa nova, ela fica em nossos pensamentos quase o tempo todo passando uma sensação diferente, algo que muda sua rotina. Era estranho como essa presença das pessoas gerava tais mudanças sucintas no ambiente. Como era um leitor ávido, era algo bem comum que visava estimular mudanças do tipo ao protagonista.

Me pergunto se era isso o que acontecia comigo.

Sob aquela atmosfera rotineira da biblioteca, minha dor de cabeça latejava demais, então apenas encostei minha cabeça na mesa e tentei dormir. Espera... aquilo não era um Déjà Vu?

Levantei a cabeça imediatamente antes que um caderno me acertasse em cheio no rosto.

— Tenho que te comprar um remédio para dormir, por acaso? — retrucou Yonagi. — O que foi isso?

Quem imaginaria que meu Sexto Sentido despertaria daquela forma? Athena, estou a seu serviço! Se não morri pelos ataques da professora Harashima, poderia sobreviver aos golpes de Yonagi!

— Ah, só estou cansado e...

Antes que terminasse de falar, alguém bateu na porta da biblioteca e entrou. Era Takahashi, o aluno mais atlético da minha classe.

— Ah, desculpa incomodar... — expressou. — Precisamos de ajuda para organizar os cartazes do clube de artes.

Que ótimo... trabalho voluntário. Por que não poderia apenas ser deixado em paz durante o dia inteiro?

— Parece que você veio em boa hora. Ele é todo seu — Yonagi apontou pra mim. Ei, eu não era uma cesta de roupa suja para ser jogada fora, sabia?

Que maravilha.

— Ah, aproveitando. Vocês estão sabendo dos jogos de interescolar que haverá nas férias de verão?

Takahashi entrou naquele assunto comigo antes, até tinha esquecido de comentar com todos do clube. Não, optei em não dizer aquilo.

E sabia dessa razão.

— Jogos de interescolar? — questionaram os calouros.

— Sim. Parece que serão três escolas ao todo que irão competir. E vai ter uma festa no final organizada pelo pessoal do terceiro ano. Queria saber se algum de vocês teria interesse.

A proposta pairou pela biblioteca. Os calouros se entreolhavam, Yonagi parecia estar ponderando sobre o assunto e quanto a mim, apenas fitava a janela.

— Agradeço pela intenção do convite — Disse Yonagi. — Mas tenho planos para as férias de verão.

— Parece ser interessante, mas ainda não saberemos o que iremos fazer quando chegar o momento.

Os calouros disseram aquelas palavras de maneira parecida. Eles não tinham intenção de participar daquele evento repentino.

— Ah, mas vou estar nos jogos torcendo pela nossa escola! — exclamou Himegi, animada. — Acho que é o mínimo que posso fazer!

Kuroi e Teru concordaram. Acho que apenas serão espectadores dos jogos, pelo visto.

Takahashi olhou para mim, mas apenas desviei o olhar. Não tinha vontade em participar daquele evento desde o começo!

— Bem, se essa conversa acabou... vão ajudar o Takahashi — proferiu Yonagi.

Eu e Teru acompanhamos Takahashi pelos corredores. Por algum motivo, me senti mais tranquilo pra pensar a respeito.

— Que coisa rara o clube de artes ter tanto destaque assim para precisar de ajuda com divulgação... — comentei, querendo mudar de assunto.

— Sim, parece que os membros estão realmente empenhados. Todos fizeram obras incríveis a ponto de serem reconhecidos a exporem seus trabalhos para a escola inteira — explicou Takahashi.

Isso me deixou surpreso, conseguir um feito daqueles era algo muito impressionante. Além do fato de ter visto em primeira mão a dedicação dos membros do clube no dia anterior. A vontade que tive era de poder participar daquela exposição também.

Sim, um desejo angustiante cresceu dentro de mim. Talvez se pedisse isso diretamente para Chinatsu, receberia essa ajuda.

— Nem me fale... se eu soubesse desenhar, com certeza já teria ficado popular! — retrucou Teru, mal-humorado. — Não tenho dúvidas de que faria sucesso!

— Quer morrer, é?

Aquele garoto se assustou quando o encarei, deu um guincho que se calou automaticamente. Pela sua expressão, ficou sem entender o motivo do meu estresse, mas o ignorei. Não sabia dizer se a ignorância era uma maldição ou benção, como muitos dizem por aí...

Chegamos ao pátio central, onde havia muitos outros alunos mexendo com molduras tiradas de várias caixas. Os bancos foram utilizados para resguardar as pilhas de telas pintadas que seriam expostas. Fiquei estupefato.

— Obrigada por aparecerem! — exclamou Chinatsu, ao longe. — Terminamos de organizar as telas das pinturas, precisamos de ajuda aqui!

Nós nos juntamos e começamos a ajudar. Colocamos os desenhos nas molduras e fomos instruídos onde colocar os trabalhos, de modo que toda a escola pudesse ver.

— Isso é incrível! — expressou Teru. — Essa exposição está no nível do Festival Cultural...

— É, tem razão...

Por mais que fossem dez membros — pelo que havia contado —, tinha muitas pinturas e telas. Talvez cada um tivesse feito dois ou mais desenhos e todos ficaram sensacionais. Aquilo só aumentou minha vontade de poder participar. Ao término, todos se reuniram novamente, onde finalmente Chinatsu apareceu para fazer um comunicado.

— Pessoal, primeiramente, gostaria de agradecer a todos os voluntários que ajudaram!  Essa exposição é muito importante para o clube de artes e nós iremos promover este evento em conjunto com a convenção dos escritores que vai acontecer em breve!

Todos nós batemos palmas.

— E não apenas isso, percebi que há ainda muitos outros alunos interessados em participar. Há ainda algumas molduras extras que poderão ser usadas. Por isso, para diferenciá-los dos membros do clube, faremos um concurso para escolher as últimas obras a serem expostas!

Acho que segurei minha respiração, por que meu peito falhou por falta de ar. Aquela sem dúvidas era a melhor notícia que recebi do que qualquer outra — agora, sem dúvidas —. Senti que toda a tensão que estava sentindo se esvaiu rapidamente.

— Dito isso, faremos uma lista de inscrição para o concurso. Então, pra quem quiser participar, apenas vá para ao clube de artes! Claro, quem quiser entrar para o clube depois desta competição, será bem-vindo!

Encerrado a atividade, tivemos que voltar para a biblioteca. No caminho, eu e Teru conversávamos sobre o tal concurso:

— Se soubesse desenhar, iria participar com toda certeza! Isso sem dúvidas é algo que só acontece uma vez na vida!

— Dessa vez não quero te matar... tem toda razão.

— Hein?

Qualquer outra coisa que tivesse me deixado estressado se tornou irrelevante. Acho que assim que desse o horário de ir embora, iria correndo ao clube de artes fazer minha inscrição.

— Eu fiquei surpreso com um evento tão grande assim acontecer. Os membros do clube devem ser muito empenhados — comentei.

— Sim, devem ser mesmo a ponto de chamarem atenção do Conselho Estudantil desta forma.

— Como assim?

— Ah, é que para realizar um concurso assim, teria que obter a permissão da escola e do Conselho Estudantil, já que isso envolve a verba dos clubes para os materiais. E, por haver tantos trabalhos expostos, acho que a verba enviada a eles foi bem alta.

Isso foi algo que me deixou pensativo. De acordo com Teru, aqueles membros, não, aquele clube havia superado as expectativas do próprio Conselho Estudantil. Não me surpreenderia se tivessem chamado atenção dos professores também. Sinto que chegarão longe se continuarem neste ritmo.

O que me fez pensar sobre Chinatsu, por ser a presidente do clube de artes. Ela era realmente incrível, afinal. Pude sentir sua dedicação para com o clube, chegando ao ponto de se sentir solitária em ver todos dali se esforçando tanto.

Mas por que ela não estava no mesmo embalo que os membros? Por ser a presidente, imaginava que fosse a que mais estivesse empenhada a mostrar seus trabalhos artísticos.

Claro que, como responsável pela organização da exposição, supus que havia preferido se encarregar nas questões diplomáticas enquanto os outros se dedicassem nas obras.

Não importava por onde olhava, ela era uma garota excepcional. O que gerou um desconforto dentro de mim. Para alguém que tinha um planejamento perfeito e membros esforçados, não me surpreenderia que expusesse mais do seu orgulho pelos seus feitos, mas ela não era esse tipo de pessoa. Chinatsu era tão radiante pelo seu altruísmo que ter cativado o Conselho Estudantil não deve ter sido nada.

Mas, sendo tão incrível assim, por que ficou tão interessada nos meus desenhos? Será que estava querendo tantos membros assim? Já que citou o interesse de haver mais membros depois da exposição, talvez esse fosse mesmo o caso, só que era mesmo algo tão necessário assim?

Será que foi por essa razão que ela conseguiu tanta verba do Conselho Estudantil?



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