Volume 2
Capítulo 2: Saber para Prever a Fim de Poder ①
O assunto dos próximos dias de clube se resumiria na discussão sobre os gêneros literários votados. A convenção seria em breve e tal expectativa animava os calouros, só que por mais que estivesse ansioso também — sendo uma quebra da rotina —, não estava tão concentrado assim nas atividades do clube devido ao que aconteceu com Kumiko, suspeitando que Yonagi notasse isso em mim.
Tirando a preocupação dos exames intermediários, nem mesmo as brincadeiras que Takahashi e seu grupo faziam na classe me deixavam de pensar na ínfima possibilidade de Kumiko estar planejando algo. Eu era o tipo de pessoa que gostava de me precaver o máximo possível quando lido com pessoas, não gostava de ser surpreendido.
Com tudo isso acontecendo, me senti estagnado no tempo. Nos tempos livres na classe, em vez de me concentrar nos próprios pensamentos em ideias para escrever, ora desenhava ou prestava atenção nos outros. Em dado momento, notei o quão regular tinha me tornado com aquelas banalidades.
Depois de algum tempo, meus colegas deixaram de reparar nos desenhos, me poupando esforços de me comunicar arbitrariamente.
Pelo visto, a estratégia dos desenhos também foi uma falha...!
Minhas tentativas de comunicação se tornaram tão escassas que minhas ações consistiam em ficar observar os outros. Onde foi que tinha errado?
Yonagi e eu gostávamos de uma mesma trilogia, mas nunca tivemos tempo para falarmos sobre o assunto. Imagino que era por causa da disputa, a pretensão dela de querer ser a escolhida era algo que impedia nossa comunicação que não fosse sobre isso. Embora ainda estivesse interessado em saber sua opinião.
Me pergunto se em algum momento poderia ter a chance de poder fazer isso.
Kumiko havia feito toda aquela atuação, mas não que ainda estivesse mantendo contato com aqueles três antigos membros do clube de jornalismo do segundo ano.
O sinal para o intervalo tocou, mas decidi não sair da sala. Quando ficava ansioso, não conseguia comer nada. Isso acontecia bastante quando estava desenhando, a ansiedade e angústia me consumiam! Seria algum tipo de marca da maldição?
O mesmo acontecia quando submetido em situações complicadas, sem ver uma solução à frente. Resolvi ficar o intervalo inteiro tentando me distrair desenhando e na hora de ir para o clube, poderia comprar alguma bebida na máquina de vendas ou poderia fingir que estava com dor no estômago e ir para casa mais cedo...
Coloquei os fones no ouvido, tornando a rabiscar. Havia muitos gostos e estilos entre desenhistas amadores, muitos gostavam de apenas desenhar paisagens, natureza morta, silhuetas etc. No meu caso, preferia desenhar rostos quando não estava interessado em paisagens espaciais. Pode-se dizer que me prendia bastante nos detalhes expressivos das pessoas, talvez fosse pela minha falta de interação social? Que seja, apenas era o que gostava de fazer.
E... havia outra coisa. Em prol de dar seguimento com meu plano anterior, fui cruel com a Senjou Hana e conhecido a Kirisaki Touka, da qual sua presença aparecia cada vez mais em minha mente.
Durante minha infância, conheci muitas crianças com a mesma situação, mas após entrar no ensino médio, isso havia parado. Não esperava que encontraria outra pessoa assim de maneira inesperada, estava intrigado de várias formas.
Apesar que fosse algo contrário do que costumava ser, queria saber mais sobre Kirisaki. Afinal, ela não escondia seu rosto e parecia ser uma pessoa muito radiante.
Por isso, achei ótimo que mais ninguém veio me abordar por causa dos desenhos — mesmo que quisesse que a fama tivesse durado um pouco mais... —, notei recentemente o quanto desenhava seu rosto. Era seguro dizer que estava ficando mais interessado em saber mais sobre ela do que da disputa contra Yonagi.
Sim, pensar em Kirisaki me fez lembrar do que conversei com Yonagi após o incidente entre os clubes e meu verdadeiro objetivo de ter ido para aquela escola...
Além disso, lembrei sobre a festa que Takahashi havia citado. Será que ela estaria lá?
Naquele dia, resolvi desenhar olhos para não chamar tanta atenção desenhando outra pessoa. Por mais que as pessoas odiassem meus olhos de zumbi, gostava muito de desenhar vários tipos de olhares. Dizem que os olhos são a janela da alma, se fosse isso, então era o tipo de pessoa que gostava de identificar que tipo de alma as pessoas possuem através dos seus olhares, se estão felizes, tristes, frustradas ou furiosas.
Estava tão concentrado que não percebi que estava sendo visto, até que essa pessoa se aproximou da minha mesa. Pela minha linha de visão, esta pessoa era uma garota pela saia e a curva das pernas.
Engoli em seco. Resolvi olhar para cima.
Não conhecia aquela garota. Ela tinha longos cabelos dourados que chegavam até a cintura. Não era muito baixa e tinha um rosto animado, totalmente focado nos desenhos que produzia.
Rapidamente me senti aliviado por não ser a pessoa que estava pensando...
Até que me lembrei que era a garota que tirava fotos do pôr-do-sol com uma câmera outro dia.
— Ah... — Minha voz escapou sem querer, mas não consegui pensar em nada para dizer.
— Ah! Desculpe! Acho que te assustei! — exclamou a garota, exasperada. — Não consegui evitar de te olhar desenhando! Você é muito bom!
— Bem... eu... obrigado, acho... — balbuciei, aturdido por aquela presença radiante. Seus olhos vívidos tiraram toda minha concentração, então deixei de desenhar e resolvi guardar meu caderno de desenho.
Ainda bem que estava de máscara! Fiquei totalmente abobalhado!
— Ah, então você achou seu caderno de desenho! Que bom! — expressou a garota, aliviada.
— Hein?
Como sabia do meu caderno de desenho?
— Fiquei me perguntando se você saberia onde era a caixa de achados e perdidos, já que não sabia o seu nome e acabei não perguntando quando nos esbarramos.
O meu caderno de desenho deve ter caído naquele momento, então ela deve ter levado para a sala dos professores... que altruísta.
Estava tão surpreso que não soube como reagir.
— Ah... é. Muito obrigado. Nem sei como agradecer...
— Espero que não se importe, mas acabei olhando alguns desenhos que você fez no caderno e achei incrível!
Isso realmente não fazia importância, já que não havia nada demais nos desenhos. Minha preferência era desenhar rostos e expressões, então não tinha que me preocupar deles serem vistos por terceiros.
— Bom, tudo bem. Não se preocupe.
Na verdade, estava era aliviado por não ter feito nada além de rostos nele até aquele momento!
Por outro lado, meu nervosismo era imenso por estar conversando com aquela garota, que não conseguia formar uma única frase sem gaguejar. Isso me fez lembrar a interação com outra pessoa.
— Como alguém que saiba desenhar desse jeito não está no clube de artes?
— Ah, eu... nem sabia que havia esse clube.
Nem tive tempo de analisar todos os clubes por causa da disputa entre os clubes de literatura e jornalismo. Basicamente, a professora Harashima não havia me dado escolha, já que estava procurando algo relacionado com literatura ou artes mesmo.
Se bem que, a decisão final estava dentro das minhas preferências, não podia reclamar disso.
— Estou no clube de literatura, acabei me ingressando lá — comentei, deixando a garota consciente da situação. Ela esboçou uma reação triste que me deixou com o coração pesado.
— Entendo... muitas pessoas acabam desistindo da parte artística e seguem a área literária, não é?
— Isso não foi o meu caso. Vamos dizer que não tive muito tempo para escolher e acabei no de literatura...
Aquela resposta a deixou menos tensa, voltando a exibir um sorriso radiante.
— Bem, sinta-se bem-vindo a qualquer hora para visitar o clube! Sou a presidente dele, então estou permitindo isso!
Oh, achei que ela fosse apenas um membro. De fato, emanava uma grande animação para fazer as coisas e senso de liderança.
Meus sentidos artísticos me diziam que deveria desenhar seu rosto naquele momento. Eu não parava de olhar para seus detalhes faciais. Acabei me controlando e apenas devolvi o cumprimento.
— Certo, qualquer dia eu dou uma olhada por lá.
— A propósito, que erro meu. Acabei me esquecendo de me apresentar! Sou Chinatsu Chitose, do 2°F. Prazer em te conhecer!
Então estávamos no mesmo ano... isso era impressionante. Prestei tanta atenção em seu rosto que esqueci de reparar no laço azul em seu colarinho. Acho que já estava na hora de conhecer mais pessoas do mesmo ano que não fossem sucintas a serem meus inimigos...
— Sou Shiroyama Hideo, é um prazer para mim também.
— Entendi! Shiroyama, é um prazer! — Ela se despediu e desapareceu pelo corredor, me deixando totalmente pensativo sobre o que havia acabado de acontecer ali.
— Clube de artes... acho que realmente deveria dar uma olhada, depois — Não era uma má ideia, como estava me sentindo saturado de tanto escrever, talvez devesse dar uma relaxada e fugir das atividades do clube.
Pus as mãos sobre a cabeça e tornei a me arrepender de ter pensado naquilo. Yonagi certamente não iria me deixar em paz se tentasse algo como aquilo!
Esse pensamento me fez olhar para o relógio, vendo que ainda restava algum tempo para o final do intervalo. Me levantei e decidi comprar um suco ou algo assim. Por alguma razão, aquela interação com a Chinatsu havia me deixado mais leve dos tormentos que estava encarando, só depois disso que notei o quanto estava faminto.
***