Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 2

Capítulo 1: Causa e Efeito Shiroyama ③

No final, interrompemos a discussão sobre o gênero literário escolhido e foi decidido que seria abordado posteriormente. O tópico principal de conversa fora, sem dúvidas, a visita de Kumiko Horie. Himegi ainda tentou convencer Yonagi de continuar com a atividade de clube, mas disse que estava com a cabeça cheia para tentar desviar o assunto.

Eu me sentia do mesmo jeito. Sentia-me duplamente aliviado por não ter que improvisar nada na atividade de clube e por Kumiko ter ido embora.

— Mesmo assim, foi incrível o fato de você tê-la encarado de frente, Shiroyama! — exclamou Teru, animado.

— Ela parecia com um Predador, prestes a abrir sua boca gigante para engolir quem estivesse mais perto... nem mesmo tive coragem para encará-la... — Kuroi fez outro de seus comentários bizarros, apesar que desta vez eu tinha que concordar...

— Isso não foi um ato de coragem e sim um ato de descuido — retrucou Yonagi, massageando as têmporas.

— Aquilo foi realmente assustador — expressou Himegi, rindo nervosa.

Apenas suspirei como resposta. Estava cansado, apenas queria ir embora e dormir.

Todos esperaram Yonagi fechar a porta da biblioteca e caminhamos juntos pelos corredores. No entanto, ela disse que iria sozinha entregar a chave na sala dos professores.

Então eu e os calouros continuamos o percurso até o hall. Kuroi e Himegi estavam comentando de irem dormir juntas àquela noite. Parece que Kumiko havia as aterrorizado de verdade... não tinha ninguém que manipulava Energia Amaldiçoada naquela escola, por acaso?

Enquanto trocava meus sapatos, senti que estava me esquecendo de alguma coisa, mas não sabia o quê. Quando fui conferir minhas coisas na mochila, acabei me dando conta:

— Meu caderno de desenho... não está aqui.

Devo ter deixado cair em algum momento... ah, pode ter sido quando acabei me esbarrando naquela garota mais cedo! Ah, que azar. Eu poderia voltar até o lugar onde supostamente tivesse deixado cair, mas tive o pressentimento de que se alguém o tivesse encontrado teria deixado na sala de professores, já que é onde fica a caixa de achados e perdidos. Resolvi ir lá e dar uma olhada.

Quando estava próximo de chegar ao local, ouvi vozes conhecidas e me escorei na esquina entre os corredores. A julgar pelo volume das vozes, não estavam a menos que dez metros longe de mim.

— Você parece estar muito bem depois de tudo o que aconteceu, Yonagi.

— Acho que eu deveria dizer a mesma coisa de você, Kumiko. Apesar de você estar aparentando estar mais nervosa do que parece.

— Em toda a minha vida até agora, só conseguia imaginar que você era a pessoa mais arrogante por chamar atenção, Yonagi. Mas pelo visto, me enganei profundamente.

— E? O que isso significa? — confrontou Yonagi.

— Não se preocupe. É fato que ainda te odeio, mas posso assegurar totalmente que agora você está em segundo plano para mim.

— Segundo plano?

Ah, sinto que não deveria estar ouvindo aquela conversa. Mas se me mantivesse escondido, as coisas só piorariam. Simulei que estava andando e me revelei rapidamente para as duas.

— Pensei que já tivesse ido embora, Shiroyama. O que está fazendo aqui? — indagou Yonagi, com o tom usual de sempre. Kumiko apenas reagiu de surpresa.

— Ah, deixei cair meu caderno de desenho em algum lugar e não sei onde foi parar. Pensei que poderia estar na sala dos professores e aqui estou.

Respondi, coçando a nuca. Meu estômago estava embrulhado só de ter de encarar Kumiko novamente em tão pouco tempo.

Passei entre elas, que não disseram mais nada. Achei o meu caderno de desenho e o coloquei na mochila. Depois, fechei a porta da sala e avancei pelo corredor.

— Até mais — disse, indiferente.

— Espere aí, Shiroyama — entoou Kumiko.

Eu me virei cautelosamente em sua direção.

— O que foi?

— Se bem me lembro, você disse que era um estudante transferido, não é?

— Sim. Isso mesmo.

Eu não estava surpreso com isso, já que ela havia frequentado esta escola no seu primeiro ano. O fato dela estar me perguntando aquilo sugeria outra coisa.

— Eu me pergunto como serão as coisas daqui para frente, com todos vocês tentando agir normalmente depois de tudo. Você é certamente o pior tipo de pessoa que existe. Sem contar que os alunos transferidos sempre são muito bem observados...

— ...

Decidi não responder àquela provocação. Estava claro que ela estava querendo me atingir de alguma forma, mas não me alterei.

— Certamente, não consigo te odiar tanto por isso, Yonagi. Veja, você está no pior lado. Eu consegui reaver minha amizade com o Takahashi e os outros e você... apenas obteve uma pessoa que é capaz das piores intenções.

Ela estava tentando inverter nossas posições?

— Acho que não preciso responder essa provocação barata, Kumiko — retrucou Yonagi. — Nem mesmo Shiroyama precisa responder isso.

Se fosse colocar esses ideais na balança, então Yonagi estava certa. Kumiko havia adotado uma posição de ilusão para se proteger do dano infligido que sofreu mês passado. Ela aparentava ter se cegado com a própria desilusão.

— Estou curiosa para saber o que mais você tem na manga, Shiroyama. Você não passa de um rato, afinal — continuou Kumiko, ignorando a resposta de Yonagi.

— Eu, por outro lado, não estou interessado sobre você. Nunca estive — disse, incomodado. — Sou apenas um aluno transferido que quer passar o ano escolar em paz e já fui muito atormentado mês passado por sua culpa.

Não iria surtir muito efeito se omitisse, então fui sincero. Claro, conhecendo a pessoa chamada Kumiko Horie, sabia que tiraria proveito de qualquer informação que cedesse. Havia uma fagulha de determinação em seus olhos, tudo o que conseguia cogitar seria em qual tipo de abordagem usaria para me atingir...

— Você acha que irá conseguir se manter discreto para sempre? — Kumiko apontou para minha máscara. — Se o que você me causou gerou tudo isso sem você supostamente não estar interessado, me pergunto do que será capaz de fazer se algo for do seu interesse.

Eu não a respondi de imediato.

— Está enganada sobre mim. Nunca agiria desta forma com os outros por algo da minha conta — disse rapidamente, cerrando os olhos. — Como você mesma sabe, não me importo com as opiniões dos outros sobre mim. Se eu tiver de fazer algo sozinho, eu o farei, porque estou sozinho.

— Você deve estar certo... continue tentando se proteger desta maneira miserável. Foi divertido brincar com você — zombou Kumiko, rindo. — É assim que um perdedor deve agir, certo?

Quem aqui era o perdedor, canalha?

Dito isso, ela foi embora. Eu e Yonagi ficamos em um breve silêncio antes de retomar em direção ao hall. A acompanhei em silêncio, até que ela se pôs a dizer:

— Acho que ela realmente te odeia.

— Acho que você já havia percebido naquele mesmo dia... — respondi, indiferente.

— Pode ser que esteja planejando algo novo. Por ora, não fará nada, mas nem consigo imaginar o que possa inventar depois.

— Que dureza...

— Porém, pode ter certeza que vai querer te humilhar assim como quando tentou fazer isso comigo.

Kumiko havia tentado derrubar a posição de destaque de Yonagi diante da escola inteira, a deixou solitária no clube de literatura espalhando mentiras sobre suas redações. Claro, ela fez o mesmo comigo quando quis impedir isso, sem gerar efeito.

— Eu a subjuguei e estraguei o seu plano. Nada mais coerente do que tentar se vingar de mim mesmo.

— Mesmo que tenha dito que tentaria se conciliar comigo na frente da professora Harashima...

Talvez ambas quisessem resolver seus problemas, mas de maneiras diferentes. Kumiko perdeu pois achou que me isolando de todos da escola surtiria algum efeito, mas foi exatamente o contrário.

Eu não importei nem um pouco.

Isso nos tornava completos opostos. Porém, isso também ocorria entre mim e Yonagi. A estratégia de Kumiko não tinha funcionado, mas nada a impedia de ter outra ideia para poder me atingir.

Ou talvez só estivesse pensando demais...

— Mas talvez você tenha percebido... — Yonagi continuou a falar. — ...quando ela estava falando sobre mim, não tirou os olhos de você.

Suas palavras me deixaram uma impressão de alerta daquela garota fria, como agulhas espetando minha pele. Tive calafrios.

Dito isso, Yonagi parou de andar por um tempo.

— O que houve?

— Por mais que esse assunto da Kumiko tenha voltado, espero que não se esqueça da nossa disputa.

— ...

Eu não emiti resposta. Diante dos meus pensamentos confusos, focar na disputa estava em último das coisas que queria fazer. Parando para pensar, entre nós, somente Yonagi estava realmente se dedicando para mostrar resultados.

Além de deter o título de presidente do clube, era muito respeitada pelos calouros, diferente de mim. Era óbvio que isso lhe daria uma confiança em continuar aquela disputa, já que estava recebendo tanto apoio.

Estranhamente, não acho que aquela proposta seria entregue à Yonagi se não tivesse alguém a altura para competir. Será que a professora Harashima estava apenas esperando este momento aparecer para agir?

E uma parte de mim gostava de ver isso nela, o que não me fazia ter vontade de atrapalhar.

Mas... seria possível que estivesse sendo usado como um bode expiatório novamente?

Suspirei rapidamente e lhe dei uma resposta.

— Eu... não esqueci.

— Ótimo. Espero que você realmente valha a pena para termos essa disputa, Shiroyama.

Se realmente existisse o — Efeito Shiroyama —, não seria algo interessante como uma causa em um fenômeno grandioso. Assim como o Efeito Doppler, agiria como uma propagação de onda momentânea que supostamente geraria conflitos e discussões... foi a impressão que tive após o resultado das interações daquele dia.

Será que qualquer coisa que interagisse terminaria de tal maneira? Que raio de lógica era aquela? A garota ao meu lado simplesmente tornou a caminhar como se não existisse, me vi obrigado a fitar o pôr-do-sol que novamente dava as caras só pra me dizer que as coisas não haviam mudado, muito pelo contrário.

E assim — sob aquele pensamento —, aquele início de mês do qual pensei que teria um pouco mais de paz, tirou toda minha possibilidade de poder relaxar antes das provas intermediárias.



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