Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 2

Capítulo 1: Causa e Efeito Shiroyama ①

Como todo término das aulas, os alunos se dirigem aos seus clubes. Comigo não foi diferente. No início, éramos apenas eu e Yonagi no clube de literatura tendo a biblioteca à nossa disposição, mas depois do clube de jornalismo ter sido dissolvido, alguns calouros se juntaram. Agora, éramos cinco estudantes do primeiro e do segundo ano.

Isso não mudou as coisas para mim, já que apenas queria ficar lendo meu livro em paz.

Uma das alunas do primeiro ano — Himegi Kyouko —, era a mais animada dali, comentando sobre qualquer coisa relacionada a livros e jornalismo. Ela me ajudou a derrubar os planos de Kumiko Horie, uma aluna do segundo ano que tinha um ódio profundo por Yonagi e quis tomar toda a atenção de todos para si.

Parando para pensar, aquilo foi uma ideia muito ridícula. Se você não é uma pessoa pronta para enfrentar uma grande oposição, essa vontade não passa de algo superficial. Apesar dos trancos e barrancos, foi possível contornar aquela situação sem haver grandes sacrifícios — exceto pelo meu cansaço de escrever tantos relatórios! —.

Enquanto lia meu livro, ouvia meio desconexo a conversa entre Himegi e os outros membros do clube, até que Yonagi fechou o próprio livro com um marca-páginas e pigarreou para chamar a atenção de todos:

— Muito bem. Agora que Shiroyama terminou a sua punição, teremos nossas atividades do clube de volta. Todos estão com os formulários que entreguei a vocês?

— Sim! — responderam todos em uníssono.

— Certo. Vocês irão colocar neste formulário gêneros literários de sua preferência. Vamos fazer uma votação para saber nossos gostos em comum.

Os calouros se exaltaram com a atividade — comentando a respeito munidos de vários tópicos —, enquanto apenas fitei o branco do papel, desejando do fundo do coração poder sair logo dali e ir dormir.

Kuroi Hoshida, uma garota de cabelos escuros e tiara vermelha, é fissurada em obras de terror e suspense; Teru Yamada era o outro rapaz além de mim que gostava de obras de ficção e mitologia; Himegi Kyouko colocou em sua lista que gostava de biografias e romance — ah, a típica aspirante a ser redatora de jornal —.

Eu coloquei que gostava de ficção científica e aventura, já que não sou chegado em obras de terror e romance era algo que não sabia como abordar, a não ser que fosse colocado nas obras que gosto. Como era bom torcer para casais que dão certo!

— Que tipo de obras você gosta, Yonagin? — perguntou Himegi.

— Já disse pra não me chamar assim... — disse Yonagi, cansada de tanto repetir aquilo. Mesmo depois de dias convivendo, ainda não havia se acostumado. — Bem... gosto de ficção científica e biografias.

Os calouros ficaram surpresos que logo Yonagi gostasse de ficção científica, mas não era de se esperar menos, a julgar por uma certa trilogia da qual nós dois gostávamos em comum...

— Ei, depois me recomende algumas biografias! — exclamou Himegi.

Depois de escrever meus gêneros de interesse, empurrei a folha e me debrucei na mesa, a fim de tirar um cochilo. O título de “zumbi escritor” não foi me dado à toa — por mais que não quisesse admitir... — por dormir muito pouco, minha aparência não era lá das melhores, principalmente pelas olheiras.

Achei que conseguiria descansar um pouco até o final do clube, mas algo foi jogado em minha cabeça e me levantei de susto. Ao olhar para o chão, vi que fui atingido por um caderno. Ei, isso não é um jogo de acerto ao alvo!

— Não durma no meio das atividades do clube, seu imbecil... — retrucou Yonagi, exibindo uma aura mortal.

Só que meu cansaço foi tanto que, apesar de ser intimidado por ela, acabei bocejando. Isso só piorou as coisas. Outro caderno veio em direção à minha cara.

— Finalmente acordou?

— É, acho que depois de tudo isso, não irei mais tentar dormir aqui... — comentei, ameaçado pelas ações furiosas daquela garota.

— Pelo visto, você teve mais trabalho do que pensei sobre os relatórios... — expressou Himegi, mostrando preocupação. Ah, não me olhe assim com esses olhos tristes! O alvo foi atingido em cheio!

— É... mais ou menos. Não é como se tivesse dificuldade de fazer aqueles relatórios..., mas ter essa punição por duas semanas foi realmente algo bem complicado.

A fim de encerrar o conflito entre os dois clubes, armei uma emboscada para Kumiko Horie e fui envolvido na punição para que ninguém mais fosse prejudicado a pedido de Himegi. As circunstâncias foram amenizadas, então não me preocupei muito com aquele resultado.

Depois que todos escreveram os seus gêneros literários, Yonagi os analisou e comentou que “ficção científica” foi o mais votado. Vendo por esse ângulo, era totalmente compreensivo que todos nós fôssemos escrever algo relacionado a esse gênero.

Na minha opinião, é o melhor gênero de todos!

— O ideal seria votarmos para esse gênero, mas esse não será o caso... — entoou a presidente.

Ninguém entendeu o que ela quis dizer.

— Estou dizendo que... para que todos tenhamos uma ideia de como devemos melhorar nossas habilidades de escrita, temos que usar um gênero menos popular entre nós como exemplo.

Isso significa que não queria que nós negligenciássemos os tipos de ficções? Que coisa tão sem sentido, apesar de estar visível em seu rosto.

— Ah, queria que o gênero de Terror tivesse vencido... — murmurou Kuroi, desanimada.

— É uma pena que isso tenha terminado assim, mas fiquei realmente empolgado em escrever algo de ficção! — disse Teru. — Que gênero nós iremos pegar, então?

— Vamos ver... acho que se começarmos com biografias, será mais prático.

— Sim, vamos fazer isso! — Himegi concordou no mesmo instante. A decisão, no entanto, me deixou com o estômago embrulhado.

Porém, parece que ninguém mais além de mim expressou descontentamento.

— Isso é apenas uma atividade comum ou tem algo a mais, Yonagin? — questionou a garota, curiosa.

Realmente, foi algo que me deixou curioso também. Afinal, reunir os integrantes apenas para falar sobre gêneros literários era algo muito vago. Não é como se fosse tão interessante a ponto de querer escrever a respeito.

— Como esperado de Himegi, já iria falar sobre isso mesmo... — disse Yonagi.

Ei, não precisa falar isso com um rosto triunfante...

— Algum concurso, talvez? — cogitei a possibilidade. Subitamente, me recordei daquele anúncio visto na sala dos professores e estranhamente me senti atraído pela suposição.

— Vamos ver, acho que vai ser interessante se vocês tentarem adivinhar o que deva ser... — brincou Yonagi, travessa.

Desde que a professora Harashima nos desafiou com aquela disputa, ela constantemente promovia táticas de incitar conversas para se aproximar deste resultado, o que parecia estar funcionando.

Os outros colegas adentraram nessa tática.

— Vamos ver, acho que apenas mostrar um ponto de vista de um estudante do ensino médio sobre um tipo específico de gênero não é lá grande coisa. Talvez seja algo como um concurso de ideias? — apontou Teru.

— Talvez seja uma seleção que busque analisar padrões de futuros escritores! — arriscou Kuroi. — Ah, acho que nesse caso posso colocar algum suspense!

Ela apenas quer usar terror e suspense nos seus textos, apesar de tudo... só faltava ela se vestir de preto como a Wandinha!

— Algo como uma seleção de candidatos para uma convenção ou algo assim? — tentou Himegi.

Yonagi ouviu todas as opiniões e finalmente deu o seu veredito.

— Bem, é quase como a Himegi disse. Na verdade, haverá uma convenção para escritores e jornalistas no mês que vem. A professora Harashima nos disse que seria interessante para nós termos fixamente uma ideia do que queremos e, se caso alguém queira seguir esta linha de profissão, preparar a mente para tirar dúvidas com profissionais de verdade será um grande passo para este objetivo.

Ou seja, iremos para um evento em que escritores e jornalistas irão e poderão dar dicas e orientações sobre nossas carreiras. Como esperado da professora de ciências sociais.

Esta notícia gerou uma animação no grupo. Himegi tinha o sonho de se tornar jornalista e por isso que entrou no clube de jornalismo, na qual a presidente era a Senjou Hana — garota do terceiro ano com o mesmo sonho —. Parece que depois de ver seu êxito, decidiu de vez em seguir aquela carreira.

Seus olhos brilhavam por aquela possibilidade de falar com profissionais. Bem, no meu caso será interessante poder participar também. Me pergunto que tipos de escritores iríamos encontrar neste lugar.

— Geralmente nesses eventos há mesas de RPG com especialistas que possuem contato com empresas de games! Será essa a minha grande chance?! — exclamou Teru Yamada.

Kuroi não comentou muito, mas ficou absorta em seus pensamentos, provavelmente já cogitando sobre as obras de suspense que irá interrogar aos escritores.

— Sendo assim, essa votação foi para que possamos classificar a ordem dos gêneros que iremos descrever. Então todos terão sua chance de poder escreverem o que gostam em algum momento.

Isso parecia bom. Agora todos irão se empenhar em fazer um bom trabalho para conseguirem algum reconhecimento, deixando de lado toda aquela disputa da professora Harashima. Era um interesse em comum pra todos, sem ter uma limitação de ser do primeiro ou do segundo ano.

E isso acabou me aliviando um pouco a pressão.

Depois de fazer vários relatórios superficiais no mês passado, estive com falta de alguma inspiração. Porém, sabia que isso iria roubar minhas noites de sono novamente em algum momento. Fazia tempo que não observava os céus estrelados e pensava sobre mim mesmo.

Eu preferencialmente deixei a questão da disputa de lado. Não quero me preocupar com aquilo no momento. Não é como se nós tivéssemos que provar algo naquele instante. Com isso, comecei a elaborar sobre a minha redação sobre biografias, sem ainda saber qual autor deveria pesquisar.

Claro que, analisando as ações em relação à disputa, Yonagi está na dianteira.

***

Quando todos se preparavam em seguirem para suas casas, rapidamente arrumei minhas coisas como de costume e fui na frente. Os corredores já estavam vazios, iluminados pelo brilho alaranjado do pôr-do-sol. Meus ombros tensionavam pela falta de descanso gerado do mês passado, por isso senti que caminhava meio curvado, mas isso não me importava. Apenas queria ir para casa e descansar.

Por alguma razão, aquela inscrição na sala dos professores retornava à mente constantemente. Não sabia a razão, mas aquilo me deixou incomodado. Talvez devesse ir até lá para olhar aquilo melhor se surgisse a oportunidade...

Não que estivesse querendo me gabar das minhas habilidades artísticas, mas notei o quanto queria avaliar aquele tipo de concurso, por nunca ter participado de nenhum até então. Aquela possibilidade me deixava apreensivo.

— Ah, parando para pensar... não mostrei os meus desenhos para os outros do clube...

Murmurei para mim mesmo em voz alta. Todos ali, exceto Yonagi, não viram os meus desenhos. Não que estivesse interessado no que iriam me dizer, já que tinha certeza de que fariam as mesmas reações dos meus colegas de classe.

Aquela sensação de quando mostrei meus desenhos foi gratificante, mas parando para pensar, essa suposição que surgiu me gerou um sentimento estranho no coração, do qual não compreendi exatamente o que seria.

Mas não me causou uma boa impressão.

Algo esbarrou em meu ombro que me fez sair de meus pensamentos. Ao olhar para trás, me deparei com uma Himegi exibindo uma cara brava.

— Não quis nem esperar a gente sair juntos? Grosso... — retrucou ela, fazendo beicinho.

Seja brava ou fofa, apenas escolha um deles...

Acabei me retardando na hora de responder, sem saber o que dizer.

— É... bem. Foi mal.

— Isso não parece ser nem um pouco sincero, viu! — bufou Himegi, indo na frente. Os outros logo nos alcançaram e o ritmo das conversas retornou.

— Fala sério, deveria haver algum tipo de punição para você, veterano — debochou Kuroi. — Outro dia, ouvi sobre uma lenda urbana que se um aluno andar sozinho no corredor da escola acaba sendo pego por uma entidade e tem o corpo partido em dois!

Aquela era uma escola de terror, agora?

— Isso deve ser só aplicado quando se está de noite ou em algum horário específico, não? — questionei a tentativa dela de me assustar.

— Não era algo sobre ser as três ou quatro da manhã? — comentou Teru, entrando no assunto.

— E do que adianta querer comprovar o que diz uma lenda urbana? — indaguei, irritado.

— Esqueçam. Com esses olhos de zumbi, é capaz de qualquer entidade fugir de medo assim que virem o Shiroyama... — proferiu Yonagi, indiferente.

Eu suei frio por um momento. Não conseguia distinguir de quando aquela garota era séria ou quando fazia piadas. Espere, ela sabia fazer piadas?

— Isso foi realmente terrível, até mesmo para mim... — expressou Kuroi, me encarando com compaixão.

Espere, onde está aquela história dos calouros respeitarem os veteranos? Não faça essa cara, Kuroi. Ela não fez de brincadeira, ou fez?

— Não se incomode, esse garoto já está acostumado pelos seus olhos mortos não mudarem nunca... — retrucou Yonagi.

— Que seja...

Minha mente foi totalmente perturbada com aquela atmosfera da biblioteca minutos atrás. Parece que o assunto acabou morrendo com o seguir dos passos, acalmando meu espírito. O que não tenho costume é com tanta interação do tipo.

À minha frente, pude notar que Yonagi aparentava estar um pouco cansada também. Sua determinação de querer ganhar essa disputa o mais rápido possível está estampada em seu rosto. Me pergunto a razão disso. Claro que era uma oportunidade que não se via todo dia, mas...

Ora, vamos! É difícil realizar algo do tipo. No meu caso, interagir com as pessoas daquele jeito... como se fosse algo simples ou fácil. Dado minhas circunstâncias físicas, a sonolência e cansaço me consumiam a ponto de não sentir vontade nem de abrir minha boca para dizer algo.

Como que esses calouros são tão energéticos? Só tínhamos um ano de diferença!

Pronto, agora a minha própria mente passou a me irritar. Deixei de pensar tanto no assunto e conforme andava, fitei a exibição do pôr-do-sol através das passagens das janelas pelo corredor. Só de ver o lento desfile das nuvens nadando num céu alaranjando acalmou meu coração.

— Talvez deva desenhar essa cena...

Com os dedos, formei um quadro para captar uma boa perspectiva. Depois, tirei uma foto com o celular e verifiquei se ficou boa. Não tinha o costume de observar os elementos comuns rotineiros do dia-a-dia, exceto de noite.

O amanhecer e alvorecer são momentos decisivos e marcantes. E por ironia, são horas do dia em que as pessoas menos costumam prestar atenção. Cada um possui o próprio resplendor, mas pouco apreciados.

Mantive aquela cena salva no celular, talvez servisse como um lembrete da própria crítica. Ou um resguardo de que devesse produzir uma arte nova e não deixar apenas na ideia...

Quando me decidi a retomar meu caminho na escadaria, ouvi um som de câmera fotografando. Ao me virar, me deparei com uma garota de longos cabelos loiros também olhando para o céu alaranjado, tirando fotos com uma câmera profissional.

Uma leve brisa do fim da tarde esvoaçava seus cabelos dourados, me fazendo apreciar tal visão. Assim como eu, ela tirava fotos para desenhar ou era apenas hobby?

A luminosidade do final de tarde ofuscou minha linha de visão, me fazendo coçar os olhos. De repente, ao abrir os olhos, a garota sumiu de onde a vi.

Senti um calafrio percorrer meu corpo, desci rapidamente as escadas e fui repreendido depois por Yonagi pela pressa nos corredores.

Acho que não deveria ficar ouvindo as lendas urbanas que Kuroi contava, no fim das contas...

***



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