Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 2

Prólogo: A Nova Abordagem de Shiroyama Hideo

O mês de maio chegou com uma onda intensa de calor. Como havia uma praia perto da escola, muitos alunos traziam trajes de banho e, após as aulas, iam para lá. Isso eram boas memórias de ensino médio, exceto pela parte em que quase todo dia estava chovendo.

Em breve as férias de verão chegariam, junto às provas intermediárias — preocupando todos os estudantes —, ocupando toda nossa concentração. O mês seguinte viria com as atividades de verão e ninguém poderia aproveitá-los sem que estivessem com notas seguras.

Consequentemente, observava que além dos grupos sociais terem crescido, muitos haviam se comprometido. Por mais que aquele ano letivo havia iniciado somente no mês passado, ainda era algo surpreendente ter tantos casais em tão pouco tempo...

Eu era um completo zero à esquerda em relação a comunicação e aparência. Por outro lado, não era incomodado com coisas como — Olha, aquela garota está gostando de você! —, nem nada disso. Isso porque afastei qualquer indício de ser atraente aos outros por causa do uso de máscara constante.

Porém, estes fatores dos quais considerava uma vantagem de camuflagem, acabaram sendo conclusivos para me meter em problemas. Veja, por alguma engrenagem desse destino chamado vida escolar, tornei a dormir muito pouco — culpa daquela professora de ciências sociais! — e fui apelidado de “zumbi escritor” por isso.

Mês passado, fui envolvido em uma disputa sem sentido entre dois clubes: o de jornalismo e o de literatura, posto injustamente pela professora Harashima por ter visto algum potencial em mim, um mero aluno transferido. Mesmo achando minhas ideias distorcidas.

Por conta dessa disputa mostrei minhas habilidades de escrita e, usando-as consegui lidar com a situação — espalhando intrigas e ameaças por aí... —, tendo ainda uma pequena comunicação com os colegas de classe... os mesmos que deram aquele apelido maravilhoso, ótimo!

Mas, fiquei muito sobrecarregado com as atividades do clube e ainda tive de fazer vários relatórios por levar a culpa de ser o responsável (mentira) por insultar algumas alunas do segundo e terceiro ano (verdade).

Fala sério, resolver essas pendências levou o resto do mês de tanta dor de cabeça. Por isso, estava contente que abril havia passado. Um novo mês chegou e, uma nova oportunidade para alguém neutro como eu conseguir algum reconhecimento da maneira certa.

Antes das aulas começarem aquele dia, tinha ido até a sala dos professores, onde a professora Harashima se encontrava. Deveria entregar o último relatório disciplinar que fui cobrado a fazer.

— Certo, com esse é o último... — murmurou ela, guardando o relatório em uma pilha de cadernos e livros.

— Hum, quanta coisa para corrigir, não? — comentei, assustado com a quantidade de documentos sob sua mesa. Não era à toa, as provas bimestrais estavam chegando e todos ansiavam pelas correções das atividades.

— Ah, nem me fale. Minhas costas estão me matando! — disse a professora, se espreguiçando.

— Alguém da sua idade reclamar disso a essa hora da manhã realmente é algo complicado, hein?

— O que disse?

— Não, nada não! É que também costumo ter essas dores, sabe? Principalmente nas pálpebras!

— Trate de dormir melhor, seu imbecil! — retrucou ela, me batendo com um caderno em minha cabeça. — Diga o que quiser, mas mentiras de alunos é a coisa mais fácil de se prever hoje em dia.

O tabefe foi tão intenso que senti meu cérebro chacoalhando. Será que conseguiria chegar no Sexto Sentido depois de receber aquele Tesouro do Céu?

— Não dava pra me dar um crédito, não? Seu amado estudante se dedicou muito pra cumprir sua tarefa árdua...

— Era isso ou suspensão? Ainda estou tentando enfiar algum bom senso na sua personalidade distorcida, Shiroyama...

Enquanto massageava o galo que surgiu na cabeça, notei um folheto preso no mural de avisos na sala dos professores. Fui até lá para ver melhor, que dizia:

Concurso juvenil de artistas! Se inscreva!

— Oh, interessado? — perguntou a professora, parando ao meu lado. — Parece que o professor Miyamura confiscou isso de algum aluno e o colocou aqui, que falta de profissionalismo.

— Falta de profissionalismo não seria você dizer tal coisa na frente de um aluno, por acaso?

— Do que está falando? Eu não disse nada, certo?

Depois que ela me encarou como uma fera, fui obrigado a concordar. Deixando aquela cooperação forçada de lado, parecia que a professora estava de mau humor em relação àquele anúncio. Bem, aqueles tipos de concursos externos eram um dos motivos para fazer os alunos arranjarem trabalhos de meio período, arriscando comprometer seus rendimentos escolares.

E exercer trabalhos nesse grau de intensidade era algo proibido pela escola.

— Não quero ouvir isso de alguém que agiu desta forma para forçar alunos a se competirem para ganhar um passe para os Estados Unidos — indaguei.

No término da disputa entre os clubes e a dissolução do clube de jornalismo, a professora estabeleceu uma competição entre mim e a presidente do clube de literatura — Yonagi Kaede —. Sob o objetivo de que melhorássemos nossas habilidades de comunicação, o vencedor receberia uma indicação dela para irmos ao exterior e estudar em alguma universidade renomada.

Era uma oferta muito tentadora, mas depois de remoer aquilo por duas semanas, pude ver o quanto aquilo tinha sido uma boa armação daquela mulher. Quer fazer com que os outros fazerem o que você quer? Apenas lhe dê um prêmio à altura.

— Quanto à competição, é algo sério — suspirou a professora, frustrada. – Só posso fazer uma indicação de aluno por ano e, levando em conta o quanto você e Yonagi têm a aprender, devem levar isso como um incentivo além de qualquer coisa.

— Oh... entendi... — respondi, intimidado pela oferta. Por mais que aquilo tivesse me animado, estava pensativo em relação a algumas coisas. — Deveria contar como um trabalho indireto todo aquele tempo que levamos fazendo aquelas redações... contaria facilmente como horas extras de um trabalho de meio período.

— Incrível como você consegue distorcer o trabalho duro da sua professora em reconhecer alunos prodígios, hein... certamente, tenho que te desviar desta personalidade podre! — retrucou a professora, me puxando em uma chave de braço em que quase não conseguia respirar.

— Se está tão preocupada assim, deveriam tentar promover mais destes concursos artísticos, não?

— Isso é algo muito maior do que você imagina. Obviamente, as editoras trabalham duro em encontrar artistas para suas obras, mas há uma mancha escura por trás deste pensamento ingênuo. Os alunos que se interessam por isso devem ser conscientes antes de querer adentrar em propostas incertas do tipo!

Gostaria de dizer algo a respeito, mas seu raciocínio não estava errado. Quer dizer, entendia seu ponto de vista. Ela se referia aos prazos absurdos que os ilustradores eram submetidos — não totalmente ocultos —, mas minha percepção dizia que era ainda mais anormal do que se podia esperar.

Voltando sobre o assunto da aposta entre mim e Yonagi, aparentemente teria de levar aquilo a sério. Não era algo que qualquer estudante teria a chance de poder participar, ainda mais para alguém na minha situação que fui transferido para aquela escola.

— Lembre-se: estarei de olho a respeito dos dois, Shiroyama. Saiba que ambos possuem chances, sem favoritismos.

Mesmo com aquelas palavras, tinha minhas ressalvas. Era um cenário em que me encontrava em completa desvantagem.

E assim, deixei a sala de professores com minha cabeça fervendo pela pressão daquela aposta. Meus próprios valores seriam postos à prova.

***

Na classe, decidi deixar aquele assunto pendente apenas entre membros do clube de lado.

De fato, estava prestes a colocar em prática uma estratégia para chamar a atenção das pessoas e foi a razão para que não tivesse dormido bem aquela noite.

Nesta sociedade, os solitários são aqueles isolados que se desenvolvem de maneira diferente dos populares. Nem todo mundo consegue se adaptar aos padrões mórbidos estipulados pelas massas. Ora, se conseguia enxergar aqueles ao meu redor como asteroides em um cinturão, deveria me manter como um mero transeunte?

Tudo nesta vida era definido por estratégias. Nossos pontos fortes existem para serem mostrados com orgulho, não por agrado. Estrelas são esquecidas por não poderem demonstrar nada mais que seus brilhos, muitas vezes ofuscadas pelos semelhantes.

E me certificaria de que iria brilhar do meu próprio jeito.

Claro, havia mostrado a todos ali que sabia escrever muito bem. Minhas redações competiram com as de Yonagi Kaede, a garota considerada um gênio por toda a escola, gerando inveja e rivalidade por suas habilidades.

Sim, mostrar uma de minhas habilidades chamou muita atenção, mas não da forma que queria. Como resultado, fiquei à beira do esquecimento e isolado de tudo como um zumbi que apenas escrevia quando toda confusão cessou.

Mas hoje seria o dia que mudaria isso. Tinha mais uma carta na manga!

Abri minha mochila e peguei uma pasta portfólio, em que comecei a organizar o que tinha nela.

Sim, desenhos!

Desenhos era uma das formas mais eficientes de chamar atenção das pessoas, pois não eram todos que sabiam desenhar e tornavam desenhistas em seres especiais. Era um diferencial na vida de um aluno do ensino médio e uma possibilidade de caminho profissional!

Notei que todos da classe estavam de olho. Viram como isso é mesmo eficiente? Logo, um dos colegas chamado Kuwasabe falou em minha direção:

— Ei, isso é seu? Você desenha?!

— Ah... ah, sim. Isso mesmo... — respondi sorrindo, apesar de estar nervoso.

O grupo de Takahashi — no caso, conhecia todos os presentes — se aglomerou ao meu redor para ver melhor os desenhos, no qual consegui arrancar olhares surpresos de seus rostos.

— Uau! Você é incrível! — expressou Nana, fitando as artes animada. — Não sabia que você desenhava!

— Esses desenhos são mesmo muito bons — comentou Takahashi, com o olhar fixo em cada folha virada no portfólio.

Eu suspirei orgulhosamente. Aquilo tinha sido uma tática infalível nos meus tempos de ensino fundamental, quando falhava na comunicação de conseguir amigos ou aliados e usava meus desenhos como objetos de barganha para não ficar solitário nos trabalhos em grupo!

Porém, esses cinco minutos de glória se esvaíram quando uma pessoa entrou na sala de aula. Ela usava o uniforme de forma impecável, seus cabelos negros chegavam até os ombros e tinha um olhar gélido e intenso. Ela era Yonagi Kaede, a presidente do clube de literatura.

Ao entrar rapidamente na classe de imediato, atraiu a atenção de todos. Se aproximou da minha mesa e me entregou um formulário.

— O que é isso? — perguntei.

— A professora Harashima entregou isso para os membros do clube. Já que seus relatórios se encerraram, irá nos ajudar com isso. Temos muito trabalho para fazer de agora em diante.

Ah, a forma como ela acabava com meu êxtase era muito irritante! Apenas pela sua presença meu reconhecimento obtido das minhas habilidades se dissipou como fumaça! Sem contar que a maneira como me encarava era de um desdém desmotivador...

Porém, seu olhar gélido se alterou ao fitar para os meus desenhos. Ela esboçou uma reação de surpresa para aquilo que estava vendo.

— Ah, é... eu gosto de desenhar além de escrever... — disse, baixando o tom de voz. Droga, toda vez que estava próximo daquela garota não conseguia agir normalmente, mesmo quando o assunto era algo relacionado a mim mesmo.

— Você...

Yonagi parecia estar buscando palavras para descrever o que estava vendo e eu fiquei esperando a sua resposta, até que falou com uma cara provocativa:

— ...de quem pegou isso para falar que foi você que fez?

— Isso é meu, idiota! Por que eu faria isso?!

— Mostrar isso agindo tão presunçosamente é ter mesmo muita coragem — continuou Yonagi. — Precisa se empolgar tanto pra conseguir atenção dos outros?

— Hein? Quem está sendo presunçoso aqui? — Meu corpo tremeu de raiva pela acusação ridícula. — E... e eu não estou fazendo isso por atenção, viu...

— Tarde demais, sua imagem já era... — zombou Takahashi. Todos ao seu redor riram.

— Ora, vindo de você, não fico surpresa...

Retiro o que disse, Yonagi era uma pessoa totalmente irritante que apenas queria me tirar do sério!

— Seus olhos gélidos estão te confundindo, é? Só alguém como eu poderia produzir algo incrível!

— Quem é você para falar do jeito que enxergo as coisas se os seus olhos que parecem estar mortos.

— Isso não nega o fato do seu péssimo senso! Não sabe elogiar alguém, por acaso?!

— Quem tem péssimo senso é você, seu...!

E assim começou a discussão daquele dia com Yonagi Kaede, a única pessoa que definitivamente não conseguia me comunicar direito e que sempre implicava comigo.



Comentários