Volume 1
Epílogo: Depois de tudo, Retornamos para aquela Sala ③
Chegamos no local do clube e, antes de abrir a porta escutei vozes familiares. Ei, espere... aquela voz era...
Abri a porta rapidamente e me deparei com algo não antes visto. Antes, apenas eu e Yonagi ficávamos sentando-se naquela mesa, bem distantes um do outro. Agora, havia mais gente ali. Quase todas as cadeiras da mesa estavam ocupadas. Himegi estava lá e foi sua voz que havia escutado. Os outros membros calouros do clube de jornalismo também estavam ali, o que me deixou surpreso.
— O que eles estão fazendo aqui?
— Ei, que grosseria falar isso depois do que todos nós passamos por causa daquela confusão! — exclamou Himegi, inflando suas bochechas. — Não tem nenhuma regra que não nos permita vir para cá, certo?
— Sim... certo. Mas estou surpreso mesmo assim — expressei, sentando-me no lugar de costume. Onde Himegi estava sentada era do meu lado. — O clube de vocês não havia sido dissolvido?
— Exatamente — disse um dos membros. — Mas, já que não tínhamos outro clube para ir a professora Harashima disse que poderíamos nos juntar a este que não possuía muitos membros. Bem, os ex-membros do segundo ano resolveram sair e fazer outra coisa, então aqui só há os calouros.
Aquela mulher... aposto que ela tinha planejado isso desde o começo! E quando pensei que poderia passar os restos da tarde em um lugar tranquilo sem a presença de muitas pessoas...
— Ei, quer dizer... que agora vamos mesmo ter atividades de clube?
— Sim... é o que parece — respondeu Yonagi. Ela parecia tão abalada quanto eu, já que pelo visto também gostava de ficar reclusa e longe das pessoas.
— Ora, isso não é bom? — disse Himegi, cintilante. — Agora podemos discutir sobre livros e montar resenhas! Além disso, podemos terminar os deveres de casa aqui quando não tivermos o que fazer!
— Você só veio por causa dos deveres de casa, não é mesmo? — retruquei, deixando-a emburrada. Ah, não faça esse bico! Isso não te deixa assustadora, pelo contrário!
Espere, vou ter que ficar do lado desta garota que mescla ingenuidade e fofura? Vou morrer.
Yonagi suspirou profundamente.
— Então, vamos começar? Primeiro, vamos iniciar nossa atividade de clube com uma introdução de cada um... não conheço nenhum de vocês.
Ela realmente sabe ser direta, mas era uma boa ideia. Conhecer os nomes e as personalidades de pessoas que andam próximo de si era o primeiro passo para conhecer seus pontos fortes e fracos. Ei, isso também é importante, certo? Isso é uma estratégia de batalha, afinal.
— Certo, sou Teru Yamada. Estou no primeiro ano, classe D — disse um dos calouros, erguendo a mão. Ele tinha cabelo curto e usava óculos. — Gosto muitos de obras de ficção e de mitologias.
Todos bateram palmas para ele.
— Sou a próxima. Me chamo Kuroi Hoshida. Estou no primeiro ano, classe F — proferiu a garota próxima de Yonagi. Ela tinha cabelos escuros com uma tiara vermelha, além de se vestir desajeitadamente. — Gosto de obras de terror e suspense!
Todos bateram palmas, mas ela se empolgou e bateu suas mãos na mesa de repente.
— Se vamos fazer uma antologia, devemos fazer uma de terror! Ah, eu conheço obras ótimas! Vocês vão adorar!
Todos sorriram torto como resposta, já eu estava quase tendo um ataque cardíaco. Caramba, aquilo realmente me assustou! Que medo! Essa garota me dá medo!
— Ah, eu devo ser a última, então — Himegi se manifestou, levantando a mão. — Sou Himegi Kyouko, primeiro ano, classe B. Conheço todos vocês então, vamos continuar nos dando bem!
Outra salva de palmas, Himegi era uma pessoa exemplar.
— Vamos, é a sua vez, Shiroyama — disse Yonagi.
— Hein? Por que tenho que me apresentar?
— Porque sim. Por mais que todos nós saibamos quem você seja, é falta de educação não se apresentar para os alunos mais novos. Apesar de você ser um transferido...
Aquelas palavras frias de Yonagi me alfinetaram. Esqueça o que aconteceu durante aquelas semanas! Aquela figura sensível que ela fez há algumas cenas atrás nunca existiu! Não se iludam!
— Certo. Sou Shiroyama Hideo. Segundo Ano, classe C. Conto com vocês.
— Que rápido! — exclamou Himegi.
— Grosso — retrucou Yonagi.
— Olha quem fala...
— Porque ainda está usando máscara? Que curioso... — questionou Kuroi, animada.
— Espero que não seja por querer parecer ser misterioso... — murmurou Teru. –— Isso aí não é uma síndrome de ensino fundamental, não é?
— Claro que não!
— Se bem que parece ser isso mesmo... — continuou Himegi.
Eu decidi que se surgisse aquela pergunta mais uma vez em algum outro momento, sairia dali correndo daquela escola e nunca mais voltaria.
— Parece que sou a última, então. — disse Yonagi, se levantando graciosamente e chamando a atenção de todos. — Sou Yonagi Kaede, a presidente deste clube. Estou no Segundo Ano, classe A. Diferente da figura amável e um tanto avoada da Senjou Hana, quando tivermos atividades do clube nós a faremos com louvor, entenderam?
Ela pareceu uma líder militar! Credo! Por favor, não me faça fazer flexões ou abdominais!
Yonagi voltou a se sentar e todos nós ficamos em silêncio durante alguns momentos, até que ouve uma batida na porta e uma garota pediu licença para entrar.
— Nunca vi esta biblioteca tão barulhenta quanto agora... — expressou Senjou, passando pela porta.
Ela se aproximou de nós e olhou para cada um com seus olhos cintilantes. Parece que sua personalidade de sempre havia retornado.
— Não está triste por que o clube se desfez? Você ainda tem o resto do ano inteiro... — comentei.
— Na verdade, não. Eu estou me sentindo culpada por tudo o que aconteceu, mas tudo deu certo no final. Consegui a recomendação de que precisava. Agora posso passar o restante do ano em segurança. Obrigada a todos aqui por terem me ajudado!
Ela se curvou no mesmo instante, deixando a todos surpresos.
— Ei, mas não ajudei em nada... — interveio Yonagi, apreensiva. — Na verdade estava contra os seus interesses.
— Não tem problema! Você suportou muito por minha causa, somente te agradecer não é o bastante.
Eu suspirei de alívio. Apesar de avoada, Senjou Hana era uma pessoa legal. A julgar pela reação de todos os alunos do primeiro ano, ela exalava uma atmosfera de animação por onde passava. Pessoas cintilantes como ela brilhavam seja onde fosse.
— Além disso, preciso agradecer principalmente a você, Shiroyama! — expressou, virando-se para mim.
— Ah... eu...é, de nada. Eu acho... — gaguejei. Dificilmente as pessoas se viram para falar assim comigo do nada. Fui pego de surpresa. — Não precisa me agradecer por nada.
Senjou pareceu não entender a princípio o sentido das minhas palavras, mas sorriu depois como resposta. Acenou para todo mundo e foi embora.
Enquanto todos conversavam normalmente, somente eu e Yonagi nos recluímos aos nossos livros. Como não havia nada realmente para se fazer, estávamos à vontade.
Houve outra batida na porta e a professora Harashima apareceu. Ela parecia estar de bom humor, comparado a mais cedo.
— Bom, vejo que estão todos se dando bem.
— Sim, de algum jeito — expressou Yonagi. — Acho que aqui vai se tornar um lugar bem barulhento.
— Bem, eu concordo com você que as coisas vão ficar mais agitadas mesmo.
— O que quer dizer? — perguntei a ela.
— Acontece que eu sou a responsável por este clube e agora que não há mais o outro posso me focar inteiramente em ocupar todos vocês!
Ela abriu seus braços fazendo uma pose de maga das trevas, o que não tinha nada de assustador. Todos ficaram incrédulos com o que tinha dito.
— Você só está animada por ter metade do trabalho agora e quer deixar tudo com a gente, não é?
— Calado, Shiroyama.
— Professora, o que está pretendendo? — questionou Yonagi. — Parece que você não tinha a intenção de apenas juntar todos nós em um clube só, não é?
— Exatamente, Yonagi.
Por que você elogia o comentário dela e ignora o meu? Isso não é favoritismo?
Ela soltou um pigarro antes de começar a falar: — Bem, você está certa. Vamos lá — Ela assumiu uma postura mais séria. — Vocês já devem ter se apresentado, certo? O que todos vocês pensam que têm em comum?
Todos nós nos olhamos sem entender o que ela estava querendo dizer.
— Todos gostamos de livros... não é? — arrisquei. — Isso é óbvio.
— Calado, Shiroyama.
— Não é algo relacionado ao que gostamos, mas sim a como agimos, certo? — perguntou Himegi.
— Maravilhoso, Himegi. É isso mesmo.
Espera, por que você fez isso de novo? Eu sou algum excluído que só fala as ideias ruins? Ah, parando para pensar, sou mesmo.
— É como ela disse: vocês são todos jovens promissores que estão travados em suas psicologias medíocres! — ela fez seu decreto apontando para todos nós.
— Isso já é demais. Me chama de distorcido e agora fala que tenho uma psicologia medíocre? — Após me levantar e falar meu descontentamento, recebi um giz direto na testa.
— Deixa eu explicar. Vocês têm mentes incríveis, mas suas personalidades estão prendendo suas chances de alcançarem um nível de entendimento social maior, algo importante para todos. Principalmente para Yonagi e o distorcido do Shiroyama.
— E o que você quer que façamos? — Eu levantei a minha mão para falar, já aborrecido. — Eu sou o que sou e acho que possuo muitas qualidades, seria algo assim?
— Antes que você comece com as suas suposições distorcidas, vim aqui propor um acordo.
— Acordo?
— Eu deveria dizer que seria algo como uma competição. Uma competição de elite! Ah, mas não é envolvendo o pessoal do primeiro ano. Eles ainda têm um longo caminho pela frente. Mas quanto a você e a Yonagi... tenho algo a propor aos dois.
— Não estou gostando de ser posta ao lado desta pessoa — expressou Yonagi com um olhar teimoso, se não fosse por ter me insultado teria achado bem fofo.
— Isso me parece um plano maligno...
— Que maligno, nada! Esta é uma oportunidade única para estudantes do segundo ano! Antes que a juventude de vocês se encerre daqui a dois anos, vocês terão a oportunidade de melhorarem como seres humanos e como os futuros profissionais que serão!
Eu estava achando aquilo tudo muito fantasioso para acreditar, mas a professora estava falando sério quanto àquilo.
— E o que seria exatamente?
— Como eu disse: isto é uma competição! — Ela apontou para nós dois. — Ambos querem ser os melhores com as palavras, mas suas habilidades de comunicação são ruins. Se vocês me entregarem uma prova de que estão melhores evoluindo nisso, irão ganhar uma recomendação minha para irem para os Estados Unidos!
— ?!
Todos ficamos surpresos. Honestamente, não esperava por aquilo. Realmente, quantas oportunidades como ir a outro país você poderia conseguir na vida? Era algo muito raro. Se fosse parar para pensar, seria bom para mim que poderia ter bastante referências para trabalhar em minhas histórias, por mais que tinha total certeza de que a minha personalidade não iria mudar. Na verdade, não queria que ela mudasse.
Percebi que Yonagi estava tremendo, o que presumi que fosse de empolgação, mas ela estava exibindo uma cara gélida totalmente assustadora! Essa garota não sabe ficar empolgada, não?!
— Uma recomendação de universidade, certo? — expressou Yonagi, determinada. Ela só havia se empolgado na voz, então?
— Sim, isso mesmo. Uma recomendação universitária. Por isso os alunos do primeiro ano não poderão participar desta vez!
— Isso não é justo! E quanto a nós?! — exclamou Himegi, aflita.
— Não se preocupe. Eu também estarei de olho no rendimento de todos vocês. Farei com que isso aconteça ano que vem também, por isso estejam atentos, talvez apareçam alguns bônus.
Todos se empolgaram de vez, somente eu que ainda estava tentando processar toda aquela informação.
— Quer dizer que se eu ou Yonagi evoluirmos nossas habilidades, poderemos estudar fora do país?
— Claro. Afinal, temos nossas turmas internacionais — disse a professora, confiante. — Lembrem—se: esta é uma escola de Elite! Os intercâmbios servem para estimularem os alunos mais interessados, é claro. Mas eu vejo em vocês um grande potencial que deve ser explorado e desenvolvido! É o meu dever como professora estimular isso!
Agora ela havia me pegado de jeito. Desta forma, nem mesmo eu deixei de ficar empolgado.
— Vencer a Yonagi em uma competição... parece que isso vai ser bem trabalhoso.
— Eu que deveria dizer isso... competir com alguém como você que distorce tudo e todos ao seu redor com ideais estranhos... chega a ser até repugnante.
Pare de tentar agir como a maioral falando coisas tão cruéis! Apesar de ela estar certa...
Diante daquela rivalidade acirrada que nós tomamos um pelo outro, viramos nossos rostos e tornamos a nos sentar.
— Isso vai ser bem divertido! Estou no aguardo pelos resultados de todos vocês!
***
No final do clube, todos arrumaram suas coisas. O pessoal do primeiro ano continuava animado com aquela disputa. Pelo que eu tinha entendido, tinham decidido deixar de lado as próprias avaliações para que pudessem ver como que eu e Yonagi iríamos no sair.
Eu estava me sentindo muito exposto. Ah, eu quero ir para casa e não sair de lá nunca mais!
Falando nisso, estava tão cansado por ter dormido tão pouco que já estava cambaleando.
Todos estavam andando na frente exceto eu, Yonagi e Himegi. As duas estavam comentando sobre a disputa, em que Yonagi dizia com toda a sua confiança de que iria vencer.
Eu queria ter vontade de dizer algumas coisas, mas estava cansado demais para isso. Minha cabeça estava doendo e estava morrendo de fome. Poderia comer um Saize antes de ir para casa.
Fala sério... era assim que as pessoas imaginavam que uma comédia romântica poderia ser durante o ensino médio? Casais se formando por terem algo ou não em comum, ou mesmo quando se envolvem em um acidente e se aproximam após isso... nada disso tinha acontecido!
Malditos mangás Shoujo! Suas autoras devem ter dormido durante as aulas planejando aquelas histórias mentirosas! Ah, eu tinha me iludido bastante por causa delas no ensino fundamental...
Aliás, do que poderia ser chamado aquela situação em que me encontrava? Fora o Teru Yamada aquilo era praticamente um harém, só que não... ah, acho que estou tendo devaneios demais pela falta de sono. Infelizmente, minhas interações com garotas eram tão péssimas que não podiam contar como oportunidades para o amor.
Por sorte, estava livre daquele tipo de pensamento. Sim, eu era apenas um aluno solitário que pensa diferente de todos. Vejam o quanto sou incrível!
Não, não vejam a minha aparência de zumbi! Eu estou com tanto sono que poderia dormir ali no corredor mesmo...
— Ah, a propósito, Shiro. Eu queria te agradecer — disse Himegi, se virando em minha direção.
— Hein? Agradecer pelo quê?
— Sim. Por ter conseguido contornar a situação sem magoar ninguém! — Ela disse aquilo com um sorriso tão grande que foi o bastante para aquecer meu coração.
— Ah... eu...
— Não quero admitir, mas ela está certa. Você me tirou um tormento — expressou Yonagi, contida. — Acho que estou te devendo uma e isso é decepcionante.
Ah, elas estão me deixando constrangido! O que há com esse clima?
Enquanto pensamentos inúteis vinham a mente, lembrei de algo que queria conversar com Yonagi havia um bom tempo. Na verdade, desde o primeiro dia que nos conhecemos.
— Yonagi... você compartilha a mesma ideologia que Hisashi Masayoshi, certo?
Ela me encarou em silêncio.
— Hisashi Masayoshi? Quem é esse? — perguntou Himegi.
— Um escritor que ganhou vários prêmios com uma trilogia sobre o espaço. Gosto muito de suas histórias — explicou a garota, indiferente.
Hisashi Masayoshi havia escrito a trilogia de uma história espacial focado em sociologia. Era um conto com forte crítica sobre a margem da sociedade.
Eu conhecia bem aquela história por ser minha favorita.
— Se eu sigo o mesmo pensamento dele... quem sabe? — Yonagi me encarou e tornou a caminhar, murmurando: — Você... realmente se parece um satélite, sabe...
...ou foi isso o que eu entendi, mas Kuroi e Teru estavam falando tão alto que não pude escutar direito. Himegi os repreendia para que não se exaltassem pelos corredores.
— O que você disse?
— ... — Ela virou o rosto. — ...disse que ficar em dívida com você não me deixa nem um pouco calma.
— Não precisa ser assim, Yonagin. Não é tão ruim assim ficar em dívida com ele.
— Ei...Yonagin? Himegi, não precisa defender este ser deplorável. E por favor, não me chame assim.
— Mas eu acho legal! Por favor, Yonagin!
Enquanto as duas discutiam aquilo inutilmente resolvi passar por elas e ir logo embora pelo constrangimento, mas estava com tanto sono que não vi seus pés e tropecei neles. Houve um estrondo e quando dei por mim, estava sob as duas que me olhavam incrédulas.
Ah, deixa para lá. Estava com tanto sono que dormi ali mesmo.
Que droga, se isso for mesmo uma comédia romântica apenas me avise. É sério, enquanto elas me batiam na cabeça com toda a fúria do mundo, apenas me confirmava de uma coisa.
Essa comédia romântica é mesmo uma droga. Eu sou apenas uma pessoa buscando seu próprio lugar naquela sociedade, afinal.