Volume 1
Epílogo: Depois de tudo, Retornamos para aquela Sala ②
Depois que minha mãe foi embora, a professora voltou a falar comigo: — Por ora, o clube de literatura vai continuar com suas atividades normais... não se esqueça que terão que preparar uma antologia até o Festival Cultural, certo?
— Ah, sim. Eu entendi... — peguei as minhas coisas e decidi ir para a biblioteca. Antes disso ela me fez uma última pergunta: — Ah, Shiroyama... o que passou na sua cabeça quando decidiu agir da forma que agiu? Isso não era exatamente da sua conta.
— Bem, eu... — fiquei pensativo durante alguns segundos. — ...acho que foi por ter vários motivos pra seguir em frente. Não que me importasse com quem sairia vitorioso, mesmo.
— Sei... uma resposta neutra, como sempre.
Apenas cocei o queixo tentando conter um sorriso sarcástico, mas ela me deixou ir, o que me deixou aliviado.
Não sabia mais o que deveria dizer se continuasse a insistir naquela conversa...
— Me manter neutro em qualquer situação —, era o meu lema de vida. E eu tentarei viver daquele jeito para não sofrer por coisas desnecessárias e nem por terceiros.
Desde que havia me matriculado naquela escola, viver deste jeito estava cada vez mais se tornando um desafio. Afinal, o motivo que eu dei à minha mãe e a professora havia sido algo falado da boca para fora.
Já que...
Eu estava querendo um novo começo e tinha um objetivo.
Havia muitas coisas naquela escola que tinha me interessado. O sistema, aqueles estranhos testes especiais e os alunos transferidos. Além do fato de ter conhecido alguém como eu. Estava interessado em me aprofundar sobre conhecer muito mais sobre todas essas coisas e pessoas. Poderia ser que a minha visão de mundo fosse alterada conforme adentrasse cada vez mais naquela realidade?
Ao me dirigir para o corredor, já estava pensando nas toneladas de redações que teria de escrever... sinceramente, queria ir embora para casa, mas as coisas não seriam tão simples assim.
Talvez poderia ganhar um tempo para relaxar ou algo assim se eu passasse despercebido.
Porém, assim que abri a porta para entrar no corredor me deparei com Yonagi que parecia estar me esperando.
Ela pareceu ignorar minha expressão de surpresa e se virou para outro lado dizendo: — Hora de ir para o clube.
***
Era algo estranho andar junto de Yonagi Kaede na escola, já que tal coisa não havia acontecido em nenhum momento desde que a conhecera. Por isso, acabei fitando-a por mais tempo vendo seus cabelos escuros se balançarem conforme andava e observava sua postura impecável sob seu olhar gélido.
— Eu...
Ouvi sua voz sair de sua boca em um murmúrio, então me virei em sua direção para prestar atenção no que estava prestes a dizer: — Eu só queria dizer...
Me mantive em silêncio, observando-a.
— Queria te dizer que estou aliviada pelas coisas terem se resolvido, apesar de isso tudo não ter sido da sua conta.
Arrogante e severa, como sempre...
Ao ter certeza disso sobre Yonagi Kaede, suspirei.
— Não precisa disso, mesmo ainda não conseguir entender o motivo da Kumiko te odiar tanto. Se bem que isso pouco importa, agora ela me odeia mais do que qualquer coisa deste mundo.
— Está tudo bem para você ser odiado desta forma?
— Não é como se isso fosse mudar o tipo de pessoa que eu seja. O meu modo de viver não é baseado no que os outros pensam de mim. Além disso, eu não me importo com ela, que não passa de um ser humano e não mudará nada em minha vida...
Yonagi pareceu estar olhando distante até que disse: — Kumiko... era uma pessoa próxima dos outros. Sempre se destacava por ser alguém muito sociável.
— Ah, lembrei que Takahashi me disse que eles estudavam juntos no ensino fundamental, mas que não eram tão próximos assim...
— Isso tudo deve ser por culpa minha — expressou Yonagi, com um sorriso congelado em seu rosto.
— Hum?
— Eu fui uma aluna transferida durante o ensino fundamental. Quando apareci parece que a atmosfera da classe se alterou, chamei atenção de todos por minhas habilidades e por sempre ser reservada. Devo ter tomado a posição de Kumiko Horie ou algo assim.
— Ela deve ter se iludido disso, então — disse indiferente. Yonagi ficou surpresa. — Ninguém tem posição nenhuma em uma classe, fora o representante. E mesmo assim, é uma função medíocre comparado com a vida profissional que teremos no futuro. Isso não passa de uma simples birra infantil para mim.
Por um momento podia jurar que Yonagi estava rindo, mas ela apenas exibiu um sorriso sincero.
— Concordo. Nunca pensei que iria concordar com alguém como você tantas vezes em tão pouco tempo. Deve ser algum recorde.
Bufei pela resposta, mas acabei concordando também.
— Mas, queria te fazer uma pergunta — expressou Yonagi atraindo toda a minha atenção. — Por que quis se expor daquele jeito?
Ponderei sobre aquela questão e respondi: — Porque você estava sendo o alvo de toda a escola. Durante um curto tempo você se tornou um pico que todos queriam derrubar... e não a vejo desta forma. Você é uma pessoa que faz com que os outros queiram te superar e, por isso, troquei a atenção negativas deles para mim para contornar esta situação.
Yonagi ficou paralisada com aquela resposta. Ficou parada no meio do corredor durante alguns segundos.
— Por que... fazer algo assim?
— Bom... eu quero te superar também e não quero que seja com um ambiente desse — disse nervoso. — Bem... pode-se dizer que foi algo como um acaso de acontecimentos. Isso aconteceu e quis evitar que continuasse!
— Um acaso...
— Isso, acaso! E... falando nisso... — Eu virei meus olhos para ela. — Onde estamos?
Apesar de estarmos dentro do prédio especial, não estávamos indo em direção à biblioteca. Nós dois estávamos em um corredor vazio na direção oposta onde deveríamos ir.
— Estamos apenas pegando o caminho mais longo para lá — respondeu Yonagi. — Antes de irmos até lá, tenho algo a falar com você.
— Hein? Comigo?!
Ah, não. Espera, espera! Não é o que você deve estar pensando! Não deve ser o que eu esteja pensando! Esta cena não deveria ser aquela em que um casal se encontra sozinhos e dizem o que sentem um para o outro?!
Mesmo as circunstâncias indicando que poderia ser aquilo mesmo...
— Eu...
Yonagi começou a falar pausadamente com uma voz doce enquanto ficava cada vez mais nervoso: — Eu quero... que tire essa máscara.
— Minha... minha máscara?
Não podia ser... por que aquilo? Por qual razão ela queria trazer aquilo à tona novamente?!
Não conseguia raciocinar naquele momento.
De qualquer jeito, não estava psicologicamente preparado...
— Isso. Você agiu como se quisesse passar por cima de mim e de Kumiko naquele seu discurso ridículo na biblioteca. Você tentou me enganar para resolver aquela situação e precisa assumir alguma responsabilidade por isso, ou achou que não perceberia?
— Responsabilidade? Que tipo de responsabilidade? Como assim?
— Desde que você entrou nesta escola nunca mostrou o seu rosto para ninguém, exceto a mim. Eu sei quem você é de verdade, Shiroyama Hideo. Então, tire essa máscara.
Por que ela queria que eu tomasse aquela decisão?
Por um lado, meu coração se acalmou por ter me equivocado..., mas parando para pensar, aquilo era uma piada sem graça.
— Mas... e o nosso acordo? Não éramos para mantermos nosso segredo?
— Por que acho que desta forma estaremos quites, de algum jeito.
— ...
— Já lhe disse isso antes. O seu rosto não é algo que deve ser vulnerável para você.
— Ah...
Agora eu tinha entendido as razões de Yonagi. Por ser alguém popular, ninguém tinha visto o seu lado vulnerável. E durante vários momentos pude presenciar aquilo e a compreender.
Soltei um longo suspiro, pois o que estava prestes a acontecer era algo que não queria que acontecesse.
Não queria mostrar o meu rosto para ninguém.
Antes que eu percebesse Yonagi tocou nas alças da minha máscara e as tirou delicadamente.
Meu rosto deformado estava descoberto novamente.
— Você não disse que não se importa com a aparência? Isso só lhe trará mais dor em algum momento se não lidar com isto agora.
Não conseguia olhar em seus olhos, meu rosto estava quente e sentia uma forte vontade de sair dali correndo.
Eu entendia suas razões, mas não era algo que poderia fazer com tanta facilidade.
— Neste caso...
Algo veio em minha mente, algo que nunca cogitaria em fazer em nenhum momento em minha vida.
— Se for assim... quando estivermos a sós tirarei minha máscara. Por isso, vou repetir isso com os outros que tiverem esta mesma confiança. Está bom assim, não?
— Hein? Ah... É que... Tudo bem, mas..., você tem tanta confiança assim em mim?
E ali estava o seu lado vulnerável, seu rosto corado. Aquela expressão comovida era tão sincera que estava quase derretendo o meu coração. Meu peito bateu mais forte enquanto lutava contra o meu nervosismo interior.
— Sim, confio. Por favor, confie em mim também, Yonagi.
Mesmo assim, nunca havia conhecido ninguém como ela.
Certamente, o que estava sentindo não era a mesma coisa de quando conheci Kirisaki. Por isso sentia minha mente confusa, mas ainda poderia sentir a diferença.
Subitamente, algo veio em minha mente e quis colocar em palavras.
— Quero vencê-la, Yonagi... como te disse, antes. Mas, também... eu queria que...
— De jeito nenhum — retrucou Yonagi.
— ...ficássemos mais próximos. —, era o que ia dizer. Ela realmente sabia ler a mente dos outros! Que assustadora! Me arrependo de ter cogitado dizer aquilo, apesar de não ter dito de qualquer forma...
Mas era justamente o que aquele clima estava indicando que poderia acontecer! Como ela conseguia ficar fria em momentos decisivos tipo aquele?!
— Neste momento apenas penso em ser melhor do que você. Se isso pode ser considerado alguma coisa, é apenas uma rivalidade — dizendo isso, estendeu sua mão para mim. — Mas, fico feliz que tenha confiança em mim. Posso dizer que sentirei o mesmo.
Era assim que as coisas seriam, no fim de tudo.
Coloquei a minha máscara e apertei sua mão.
Éramos duas pessoas que sabiam dos segredos um do outro e se apoiavam enquanto nutriam uma rivalidade, engolindo qualquer sentimentalismo.
— Há! Vou concordar com você, vou tirar o seu status de ser a melhor, seja nas redações ou na média da escola. Ao menos, você me parece ser o tipo de pessoa que vale a pena de fazer isso.
— Digo o mesmo de você. Afinal, nada é coincidência, não é mesmo? Somente acasos existem.
— Você tem razão. Era como queria ter dito antes... já que não existem coincidências.
Esta era o nosso tipo de relação, afinal. Éramos alunos de uma escola de elite e tínhamos que competir para ver quem seria o melhor no final.
E desta forma nós encerramos nossa conversa até a biblioteca, em que estávamos com expressões determinadas de um vencer o outro.
***