Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 1

Epílogo: Depois de tudo, Retornamos para aquela Sala ①

Resolver um problema pendente com longa duração no meio da semana realmente deixava as coisas estranhas. Naquela quarta-feira tudo havia mudado. A professora Harashima havia ido em todas as classes e esclarecido o mal-entendido que Kumiko Horie havia dito ao meu respeito e a de Yonagi. Ainda havia muitas pessoas me olhando torto durante o dia, mas aquilo já era normal para mim.

Quanto à Takahashi e aos outros, voltaram a ter contato com Kumiko após o término das primeiras provas. Felizmente, todos conseguiram receber o conteúdo das pesquisas e ninguém teve dificuldades. Aquele grupo barulhento marcava vários encontros com Kumiko entre os intervalos, combinando viagens e coisas do tipo. É, tudo havia retornado ao monótono ano letivo em que tinha começado.

Os outros alunos do segundo ano do clube de jornalismo haviam recebido algum tipo de punição, pelo que soube da professora. Eles sabiam dos planos de Kumiko de derrubar Yonagi e Senjou. Não soube qual havia sido a punição, mas não foram suspensos.

Depois de tudo o que aconteceu, achei que o clube de literatura seria dissolvido também, mas para a minha surpresa não tinha acontecido.

— Diferente do clube de jornalismo, o clube de literatura tem um retorno enorme para a escola. Sem contar que faz parte da ementa, então não pode ser dissolvido — explicou a professora.

Assenti como resposta, o que me fez lembrar que por causa daquela confusão toda, eu e Yonagi estávamos fazendo redações todo dia e aquilo tinha atrapalhado noites de sono e rendimento escolar.

Aquele problema pode ter passado, mas o apelido de “zumbi escritor” não e, havia se tornado algo como meu nome do meio. Ei, pelo menos poderiam tirar a parte de zumbi, certo? Shiroyama Writter Hideo parece ser legal, mas se trocar por Zombie, fica muito mais estranho...

— Ei... quer dizer que... vamos voltar a fazer aquelas redações com aqueles temas chatos? Me dá um tempo... — arrisquei a perguntar para a professora, correndo o risco de perder os dentes se recebesse outro soco dela.

Além disso, por conta da punição que ela havia me dado, teria que fazer relatórios toda noite durante um mês inteiro. Estava tão cansado por ter dormido pouco que mal conseguia manter meus olhos abertos.

— Não chame temas didáticos de chatos! — retrucou a professora, me dando um tapa na cabeça. — Isso é o que você deveria merecer por ter causado mais problemas do que já tinha em mãos! Minha cabeça ainda está doendo depois de tudo o que aconteceu.

— Talvez seja a sua consciência, por ter permitido uma desmiolada como Kumiko Horie de criar um clube fora da ementa da escola e... ai!

Ela havia me dado outra tapa, quase fui a nocaute.

— O próximo vai ser no estômago... — suspirou a professora, exalando uma aura demoníaca. Se houver uma sacerdotisa por perto, por favor, exorcize essa mulher!

Eu levantei as mãos pedindo trégua e ela se sentou novamente. Fiquei aliviado por não receber um golpe de direita na boca do estômago logo após o intervalo...

— Antes de te aplicar os temas das redações como punição, tenho que te explicar algo sobre essa escola.

— Preciso saber de algo antes, professora. — Decidi mudar de assunto. — Ela está aqui, não está?

A professora ponderou um pouco sobre a minha pergunta e disse: — Sim.

Eu me referia a supervisora, entrando de imediato na sala dos professores ao nosso encontro.

— Ora, ora. Não pude nem fazer uma apresentação triunfal, hein?

Eu a encarei sem me alterar, visto que era a responsável por me incomodar durante todo aquele tempo indiretamente e não queria dar aquele gosto a tal.

A supervisora tinha um longo cabelo escuro em um rabo de cavalo, usava roupas pretas e me encarava com olhos ferozes sobre os óculos escuros: — Sou Mitsuhara Kobune, a supervisora da escola Daiichi. Esta belíssima escola de elite!

— Sou Shiroyama Hideo, muito prazer.

Nós apertamos nossas mãos e ela se juntou ao lado da professora Harashima para continuar a conversa.

— Suponho que já deva estar sabendo de tudo o que aconteceu, não é?

— Naturalmente. Você fez um alarde e tanto, garoto.

Por mais que a supervisora estivesse à vontade, sentia uma forte pressão vindo dela que me fez encolher no sofá, imóvel.

— Eu diria que uma baita dor de cabeça, supervisora... — murmurou a professora, massageando suas têmporas.

Ei, não piore as coisas...

— Imagino que a esta altura já deva saber da minha posição, certo?

— No mínimo, como juíza — Mitsuhara Kobune soltou uma gargalhada. —  Você tem uma personalidade forte apesar de esconder seu rosto com esta máscara! Assim como Harashima me disse!

Como esperado, as duas trocaram informações sobre mim.

— Melhor irmos direto ao ponto, então — pigarreou a professora.

— Kumiko Horie que pediu para formarem o clube de jornalismo e foi você que fez a aprovação, certo? — perguntei à supervisora.

— Isso mesmo. Sou eu que recebo todos os pedidos e os encaminho a diretoria. Me considero um filtro ambulante, mas é assim que as coisas funcionam.

Fiquei ponderando sobre aquela informação durante uns segundos até que: — Mas chega deste papo! Vamos falar sobre você, um dos alunos transferidos deste ano!

— Falando assim, você coloca como se eu fosse o aluno transferido que mais chamou atenção...

— Você já sabe esta resposta, mas pode-se considerar como tal. Na verdade, a cada seis meses nós abrimos vagas para novos alunos transferidos. Agora, uma pergunta valendo dez pontos: você sabe a razão para esperarmos seis meses além da virada de semestre?

Diante daquela resposta não tinha muitas informações sobre os anos anteriores. Na verdade, não tinha nenhuma informação a respeito dos alunos transferidos na qual Senjou Hana citou.

— Eu te darei cinco minutos para responder esta questão. Se acertar receberá uma recompensa.

Após entoar aquelas palavras, Mitsuhara Kobune começou a mexer em seu celular.

Esperar seis meses para aceitar novos alunos transferidos... não poderia ser considerado como um novo ano letivo pela entrada de novos alunos, então só poderia imaginar que deveria haver alguma coisa a cada seis meses que ocasionaria em novas vagas para alunos... espera.

Se partisse deste ponto de que precisaria haver novas vagas, então seria certo assumir que todas as classes teriam de haver o mesmo número de alunos. Como isso era algo organizado para todo começo de ano letivo, logo toda sala nova começava com a mesma quantidade de alunos, a menos que alguma não tivesse com esta quantidade específica. Todas as classes tinham 40 alunos. A única resposta seria...

— ...a cada seis meses para determinar se há alguma expulsão de alunos, não importando a classe.

Mitsuhara Kobune tirou os olhos do celular e riu novamente.

— Você não cansa de surpreender. Como dito, lhe direi mais do que a sua própria resposta: você está certo quanto ao teste a cada seis meses. Nós realizamos um teste especial para todos os anos para avaliar o nível de todos os alunos. Os que não estiverem de acordo com o nível que queremos...

Engoli em seco ao saber aquela resposta...

— ...serão expulsos e substituídos por alunos transferidos. Se um aluno comete atrocidades sérias sofrerá suspensão ou expulsão. Não será este caso, mas quero que tenha isto em mente. Não é incomum que haja expulsões por disputas por interesses ou erros graves cometidos.

Naquele momento notei o quanto nossas ações poderiam nos custar caro. Uma suspensão poderia te deixar no fundo do poço por conta de status, por isso Takahashi agiu daquela forma. Como era o meu objetivo ganhar reconhecimento ali, teria que evitar de receber uma punição daquelas a qualquer custo.

Ei! Isto era uma informação valiosa! Por que não disse aquilo mais cedo?! Eu corri o risco de ser suspenso sem saber daquilo!

— É uma política desta escola formar salas com 40 alunos no total — continuou Mitsuhara Kobune. — Se no terceiro ano isso acabar não ocorrendo, não há o que se fazer. Mas nesse caso, a sala acaba sofrendo por isso.

Eu estava suando frio ao saber de tudo aquilo. Aquela situação era algo que havia superado tudo o que esperava. Se estava recebendo aquela informação daquela forma...

— ...os alunos de todos os anos, inclusive os do primeiro ano já sabem sobre isso, certo?

— De certo modo, sim. Não explicamos sobre a parte dos alunos transferidos já que isso não os ajudará em nada. Ao contrário de você, sendo o caso em si.

Senti como se estivesse em um Reality Show e tivesse que fazer uma dança constrangedora ao vivo.

— Esta escola é de elite. E você entrou baseado na prova de admissão e nas suas notas pelo boletim escolar. Todos os alunos que estudam aqui devem ter em mente isso e que devem sempre almejar o topo. Por isso, erros severos não serão perdoados. Mas, não sabemos se você está apto para conseguir se adaptar ao ritmo da escola estando no segundo ano. Por isso, que haverá um teste especial para você.

Havia tantas coisas em minha mente que não sabia o que deveria falar naquele momento.

— ...e devo dizer que você passou muito bem.

— Hein?

...

Ei.

Ei, ei, ei!

O que está acontecendo?! Como assim o teste especial já tinha acontecido?!

— Supervisora... não entendi o que você disse. Eu não fiz nada.

— Ora, que modesto da sua parte. Não acredito que resolver o problema de dois clubes problemáticos fosse algo tão simples para você...

Ei, o que está acontecendo?

Olhei aflito para a professora, que apenas deu de ombros com uma cara travessa.

— A supervisora é conhecida pelas suas ações imprevisíveis...

— Isso é um elogio para mim, mas irei explicar — Mitsuhara Kobune guardou seu celular. — Desde sempre houve pedidos para abrir novos clubes, sendo um grande problema. Devemos ter em mente que para assegurar um ensino de qualidade, temos que saber usar com sabedoria todos os recursos que temos. Mas, é algo que nem sempre pode ser aplicado na teoria.

— Então... você quis aceitar a proposta de Kumiko de criar um novo clube para servir como um exemplo?

— Isso mesmo, seu espertinho.

Era como se ela me dissesse que o clube estava fadado a dar errado no final, então aquela situação foi prevista nos mínimos detalhes. E eu havia sido a pessoa que tinha exposto todos esses problemas...

— Além disso, quando se aplica uma teoria na prática a coisa se complica cada vez mais. No entanto, não esperava que o aluno transferido iria se destacar nas áreas dos dois clubes e se uniria de fato a um deles. Estava previsto para que você realizasse um teste especial na mesma época e tal possiblidade saiu totalmente para fora da curva.

Ou seja, Mitsuhara Kobune não esperava que fosse me unir a rixa dos dois clubes, em prol de dar uma lição nos alunos de não subestimarem a existência da decisão dos superiores. Acabei escapando de ter de fazer um teste complicado, ao menos.

Não sei se deveria ficar aliviado por aquilo ou ainda mais nervoso.

— Por mais que você tenha de ser punido pelas suas ações, conseguiu resolver toda a situação e fez com que os alunos percebessem valores muito importantes. Todos saíram aprendendo algo no fim.

— Além disso... — A professora Harashima interviu. — Foi decidido que essa confusão foi uma exposição muito grande para você e deixaram para que o teste especial seja realizado mais para frente.

— Devo dizer que você está a salvo por enquanto, viu. Esse teste foi realizado pelos outros alunos transferidos para testar seu rendimento inicial — completou Mitsuhara Kobune. — Mas, não se esqueça. A cada seis meses haverá um teste especial para todos os transferidos e, o próximo teste geral será no meio de junho. A professora Harashima iria te dar todas estas informações antes deste mês acabar para que pudesse se preparar, mas como as coisas estavam complicadas só deu para te contar desta forma. Sinto muito.

Eu cocei a nuca pelo nervosismo, mas tentei manter minha expressão neutra.

— Agradeço a explicação no fim, apesar de tudo. Acredito que tenho a maior probabilidade de falhar, certo?

— Sim! Então fique esperto para não ser expulso, certo? — Mitsuhara Kobune soltou uma risada desdenhada e apenas soltei um sorriso nervoso. Ela estava realmente à vontade para dizer aquilo com tranquilidade, não é? Não é?!

— Mas... — proferi. — Porque somente os estudantes transferidos precisarão fazer estes testes especiais?

A supervisora se levantou e me encarou.

— Por que um teste semestral é o mínimo que os transferidos precisarão lidar em suportar o equivalente a um ano de estudo daqui. E pode ter certeza, em breve entenderá o quanto isso é uma colher de chá...

Sob aquele aviso, seus olhos me intimidaram. Ela fez um aceno de despedida e desapareceu pelos corredores.

— Ela nunca muda... — murmurou a professora.

A julgar pela tensão que estava sentindo antes acho que o desfecho havia sido melhor do que esperava, apesar de todos os desafios que virão a seguir.

Suspirei de alívio e desconforto ao saber daquilo. Como a minha punição não seria séria a tal ponto, poderia até relaxar um pouco.

— Certo... vamos ao próximo caso, então — continuou a professora.

Além disso, por conta de ter assumido o papel de culpado naquele assunto todo, minha mãe foi chamada pela escola para ouvir tudo o que tinha acontecido. Até aqui, não havia contado nada sobre a minha família, mas...

— Shiroyama! O que houve?! Implicaram com você por causa da sua aparência? E que história é essa de que você foi o precursor da situação?

— Ei, contaram para ela que eu que iniciei a confusão?! Isso é injusto! Apesar de tido culpa mesmo...

— Fiquei preocupada que os outros alunos pudessem ser ruins com você por querer estar sempre de máscara...

— Não fale assim, mãe! Não precisa entrar em detalhes com isso!

Estava muito nervoso e isso a fez continuar a falar. Ainda por cima a professora me olhava torto: — E pensar que você tenha sido um dos responsáveis por todo esse problema...

— Não consigo parar de pensar que tenha se metido em uma confusão dessas sem ter sido por conta do seu rosto... — continuou minha mãe.

— Ei, não sou um delinquente! Não olhe assim para mim, por favor!

Foi desta forma que minha mãe me encarou e eu implorei o seu perdão me curvando no meio da sala dos professores... que tristeza.

— Você tem esse olhar degenerado e ainda quer que ela não te olhe de outra forma, Shiroyama? — murmurou a professora, massageando suas têmporas. — Então, realmente há algo em seu rosto... bom, ao menos não é algo como uma síndrome...

Eu tentei pensar em algo para a responder, mas ela tinha razão. Acho que tinha o pior tipo de olhar do mundo..., mas era melhor do que uma síndrome, mesmo.

Minha mãe suspirou e olhou para ela.

— Eu sou a mãe dele, Shiroyama Hisako. Eu realmente peço desculpas pelo comportamento do meu filho! Apesar da sua expressão totalmente relaxada, ele é muito esforçado. Implorou para mim que iria vir todo dia de máscara, apesar de não estar doente...

Após me dar aquele sermão se virou constrangida para a professora, que apenas tentou acalmar a situação balançando as mãos: — Calma... vamos nos sentar, primeiro.

Todos nós nos sentamos, e então a reunião começou.

— Eu sei que você já ouviu toda a história do que aconteceu, mas a verdade é que Shiroyama também foi o responsável por resolver o problema, mesmo que tenha sido do pior jeito possível.

— Ei...

— Ah, agora entendi! Oh, meu filho tem um jeito complicado de querer cuidar dos problemas...

Ei, por que estão falando deste jeito como se não estivesse presente? Parem, por favor. Isso é constrangedor. Mãe, você tem que me ajudar!

— Apesar do seu senso distorcido, eu o agradeço pela ajuda. Mas por conta do seu comportamento preciso lhe aplicar uma punição. Então, espero que entenda.

Assim como já havíamos conversado a sós sobre isso antes, havia aceitado as condições.

Desta forma a justiça estava prevalecida e meu juízo estaria mais protegido, também.

Minha mãe assentiu a tudo o que foi dito, então a reunião avançou sem problemas.

— Nesse caso, espero que algo assim não aconteça mais. Ele acabou de chegar aqui, então estou torcendo que possa se estabelecer e evoluir cada vez mais.

— Eu concordo — assentiu a professora. — Sei que é indelicado de perguntar isso, mas por qual razão ele se transferiu de escola se quer manter seu rosto oculto?

Por mais que fosse algo óbvio de se ter dúvida, realmente não havia especificado por qual razão me transferi de escola quando escrevi aquele relatório. Isso poderia repercutir de forma ambígua, o que não poderia ser bom.

— Bem... — decidi falar. — Como posso dizer... queria mudar minha vida e me encontrar... algo do tipo.

— Hein? Só isso?! — exclamou a professora, chocada.

O que mais poderia dizer naquele momento? A minha prioridade era reduzir mais minha péssima impressão daquela mulher, então disse a primeira coisa que me veio à mente.

— Sinceramente, foi a mesma coisa que ele me disse quando pediu para trocar de escola — comentou minha mãe. — Se fosse para colocar em outras palavras, seria que ele estava querendo procurar um local avançado para poder estudar.

Como o que minha mãe tinha dito fazia sentido, apenas assenti.

De repente, a professora Harashima havia mudado de postura completamente. Sua aura séria havia se amolecido para uma cara abobalhada: — Ah... eu sei que nossa escola é incrível! Vocês realmente são bons com palavras!

Se soubesse que agradá-la fosse tão fácil, teria feito isso há muito tempo...

***



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