Volume 1
Capítulo 5: Shiroyama Hideo é Podre, no Fim das Contas ⑤
Ecoei minha voz pela biblioteca e a porta se abriu novamente. Desta vez, apareceram Takahashi e seu grupo que estavam com expressões sérias em seus rostos.
— Takahashi? Nishimura? O que estão fazendo aqui? — Exclamou Kumiko, confusa e assustada. — Ei, Shiroyama! O que você pretende fazer chamando-os aqui? Eles não têm nada a ver com essa história!
— Será mesmo? — questionei suas palavras de maneira imutável e arrogante, o que a irritou ainda mais.
— Veja isso, Kumiko — disse Takahashi ao pegar seu celular, acionando um áudio em que soou a voz dela dizendo todas aquelas coisas de mais cedo. Isso a fez congelar e seus olhos começaram tremiam.
— Mas..., mas o que é isso? Por quê... por quê?
— Além disso, temos fotos que mostram você usando notícias falsas para incriminar Yonagi injustamente.
— É o quê?!
Ela me fitou assustada, que ao ver meu semblante arrogante a fez estremecer. Agora, era o momento do toque final: — Assim como você me usou e a Yonagi para se vangloriar, farei o mesmo com você. — Minha voz ecoou por toda a biblioteca. — Se eu tirar vocês duas do meu caminho, terei todo os louros dos esforços que tive para fazer aquelas redações. Yonagi nunca se importou com isso e sua saúde está recuperada, Senjou terá sua recomendação e seu plano irá por água abaixo. Fim da história.
— Sabe muito bem como funciona aqui, certo? — Takahashi se direcionou a ela. — Quis abalar o sistema da escola com esse plano e falhou. Você terá as consequências, Kumiko.
— Não, espera...!
— Você deixou de ser nossa amiga e quis arquitetar esse plano todo... — comentou Nana, desviando o olhar. — Você mudou, Horie.
— Não! Eu não mudei! Eu só... eu apenas queria ser vista por todos! Se alguém me abandonou, foram vocês!
— De jeito nenhum — interveio Takahashi. — Apesar de termos ficado em salas diferentes, ainda queríamos ficar todos juntos. Mas você foi a única que se iludiu que isso não iria acontecer e não falou mais conosco.
— Mas...! Não pode ser!
— Não imponha suas suposições em cima de nós, Kumiko! Não somos esses monstros que esteja achando!
— Diante de toda essa situação, realmente mereceu ser manipulada por Shiroyama em seu plano... — concluiu Takahashi.
As pernas de Kumiko tremiam e se segurava para não cambalear, seus olhos estavam tão desesperados a ponto de lacrimejar.
— Agora eu tenho álibi e provas para me livrar de todas essas acusações — proferi, assumindo a conversa. — Não fique se achando, sua estúpida. Se até mesmo uma pessoa como eu pôde desmascarar o seu plano, então não foi nada demais. Não fique se achando em ser alguém especial apenas porque pisou nos esforços dos outros. Eu não precisei de nada disso e aqui estou, intacto. Não é desta forma que você se tornará alguém de elite, tampouco especial!
Ela me olhou de outra forma. Desta vez não demonstrava raiva e sim, me fitava com um olhar de medo e repulsa.
— Seu... seu... — Kumiko lacrimejava de raiva, desestabilizada de vez no chão sob a vista de todos ali presentes.
Pude ouvir passos se aproximando da biblioteca, então acenei para Takahashi, que entendeu o meu sinal.
— Kumiko, não queremos te dedurar. Por que não desiste de tudo isso e vamos recomeçar?
— Sim, nós fizemos isso para te impedir que faça algo pior! É assim que os amigos de verdade fazem para ajudar uns aos outros, certo? — completou Nana.
— Pessoal... — Kumiko não conteve suas lágrimas, emocionada.
— Podemos ter lhe feito algo ruim, mas estamos aqui dispostos a esquecer tudo isso para que sejamos amigos de novo. Podemos te ajudar e te fazer ganhar status novamente. Mais do que tudo queremos ficar todos juntos!
Nesse mesmo instante, a porta da sala se abriu e mais três pessoas entraram: Himegi, professora Harashima e Yonagi.
— Mas o que está acontecendo aqui? — questionou a professora.
— A Himegi nos chamou para cá porque queria nos mostrar uma coisa, mas... não estou entendendo toda essa cena... — comentou Yonagi.
— Me desculpa pela demora, Senjou! Disse a você que iríamos embora juntas, mas tinha que fazer isso primeiro! — exclamou Himegi, ofegante. Parece que ela havia percorrido a escola inteira para chamar as duas, como havia pedido.
— Estou vendo que a situação entre esses dois clubes tomou um rumo pior do que imaginava... — expressou Harashima.
— Professora... — murmurou Kumiko.
— Mais importante do que isso... fui informada que todas as acusações contra Yonagi foram falsas, e eu acredito nela — A professora apontou para Kumiko, dizendo: — Você foi uma das responsáveis por erguer o clube de jornalismo e eu apoiei essa decisão. Porém, desde que isso aconteceu só apareceram problemas!
Sua voz ecoou por todo recinto, demonstrando o peso e intensidade de suas palavras. Kumiko a encarava inerte, sem saber como reagir.
— Eu...
— Vocês, estudantes do 2°C! Se estão aqui, é porque alguém reuniu provas sobre o verdadeiro culpado! Estou certa? — Sua voz foi tão branda que até mesmo o orgulhoso Takahashi franziu o cenho e foi dobrado. — Se são testemunhas, digam quem é!
— ...Kumiko — proferiu Takahashi, rouco.
O restante do pessoal ali presente acenou com a cabeça, deixando a garota incrédula. Sob tão intensidade daquele júri, a réu tremeu diante do julgamento.
— Já possuía algumas provas, mas precisava de uma confirmação para firmar minha decisão... — exalou a professora. — Com todos esses problemas das últimas semanas irei fechar o clube de jornalismo permanentemente!
Kumiko Horie ficou sem reação. Até mesmo Himegi e Senjou ficaram chocadas com aquela notícia.
— Isso é... terrível — disse Kirisaki.
— Mas, visto que Senjou Hana fez uma pesquisa extraordinária com Kirisaki Touka, sua recomendação ainda está de pé. Por isso, apenas irei fechar o clube e dar a suspensão para Kumiko Horie, a outra responsável.
— Eu... eu... — Ela balbuciou, mas conseguiu forças para se levantar e gritou com toda a força dos seus pulmões. — Mas foi o Shiroyama que arquitetou tudo isso! Ele é quem queria todo o reconhecimento, todos os elogios e pra conseguir isso quis até passar por cima da Yonagi, que... mesmo que seja fria com todos ainda escreveu coisas incríveis...
E então, se pôs a chorar. A cena até era comovente, mas seus grunhidos eram de pura raiva. Meus colegas se aproximaram, enquanto Himegi e as outras não sabiam como reagir. Até mesmo Yonagi se sentiu abalada.
— Kumiko...
— Isso é verdade, Shiroyama? — entoou a professora, enquanto apenas dei de ombros e suspirei indiferente.
— Achei que conseguiria fazer isso, mas parece que isso foi mais longe do que imaginei.
— ... — Yonagi me encarou em silêncio.
Todos ficaram chocados, mas apenas a professora Harashima não reagiu. Apenas fechou os olhos e suspirou profundamente.
— Está certo. Mesmo que todos tenham sido usados, ainda tenho que aplicar uma punição. Kumiko e Shiroyama, vocês terão que fazer trabalhos extras e não quero ouvir desculpas. Não foi algo direto, então ninguém será suspenso.
Ninguém emitiu nada como resposta.
— Quanta gentileza da sua parte querer agir nas sombras, Shiroyama. Sua punição será mais severa que a de Kumiko. Portanto, venha comigo agora.
Dito isso, ela deu meia-volta e saiu da biblioteca. Sem ter escolha coloquei as mãos no bolso e segui em sua direção.
Ao passar por Kumiko pude ouvir o que murmurou num tom em que apenas eu ouvisse: — Eu te odeio. Mais do que todas as pessoas aqui da escola, muito mais do que a Yonagi. Nunca vou te perdoar por isso... eu te odeio!
Apenas acenei de volta, sorrindo.
Takahashi e seus amigos se aglomeraram ao redor dela, que se consolou em seus braços, chorando e soluçando.
Senjou Hana ainda estava determinada segurando seu trabalho com afinco e chorava baixinho. Kirisaki a abraçava.
Himegi e Yonagi estavam na porta e ao passar por elas, notei que a caloura me fitava chocada.
— Sem mágoas... certo? — disse próximo dela, assumindo a postura mais tranquila que podia fazer antes que me virasse e fosse pela mesma direção da professora pelo corredor.
Yonagi me fitou em silêncio mesmo quando passei e pude sentir seus olhos gélidos me encarando apesar de estar de costas.
— ...idiota.
E com isso havia completado o meu plano. Eu estava orgulhoso de mim mesmo apesar de ter sido visto como um vilão. Oras, eu sei mais do que ninguém o que aconteceu. Então, o resto não importa, certo?
Ao chegar na sala dos professores, a professora me deu um peteleco repentino em minha testa que quase me fez cair no chão pela força dela. Ela era da raça dos Saiyajins?!
— Você é mesmo um imbecil, hein?
— Bem... agradeço por ter atuado em ter acreditado — comentei, massageando o nariz.
Ela suspirou profundamente e se sentou na cadeira.
— E eu pensando que você era apenas um garoto com a mente distorcida... você não apenas distorceu a mente da Kumiko, como também toda essa situação.
— Você... já planejava desfazer o clube de jornalismo, não é?
— Sim — expressou a professora. — Desde o início, vi que estava acontecendo uma disputa que não era nada saudável..., mas pelas habilidades de Yonagi acreditei que poderia lidar com essa situação sem ter qualquer problema. O fato dela ter adoecido me provou o quanto estava errada e, me sentia pronta para tomar uma atitude. Mas parece que você, o ser mais podre de todos, tirou essa posição dela e de mim.
— É meio cruel uma professora chamar um aluno de podre, mesmo que tenha exagerado um pouco...
— Um pouco? Não seja modesto, seu delinquente! — Ela me fez uma chave de braço tão forte que quase não consegui respirar por estar de máscara. Após o golpe especial repentino fiquei ofegante... só restava ela me trucidar com um Kamehameha.
— Porém, foi exatamente por isso que confiou isso a mim. Não foi?
Ela não respondeu de imediato.
— Lidar com questões sociais é algo complicado. Às vezes, é preciso ter pessoas com ideais extremos para mover a situação, pois a repreensão se torna algo mais ameno e aceito por todos. Sendo assim, como as coisas aconteceram.
— E agora? Ainda tem a questão do Conselho Estudantil que não se manifestou e...
— Agora está preocupado com isso? — indagou ela, ignorante. — O Conselho Estudantil não fará nada, pois já os comuniquei sobre o ocorrido. Tinha que fazer com que vocês dois percebessem a quão errada eram suas ações! Se já soubessem que não haveria danos, não surtiria efeito!
Aquela professora certamente era bem ardilosa...
— Espera... os dois? O que eu fiz foi colaborar para que esse plano desse certo!
— Sim, você realmente ajudou. Mas, entenda... — Ela me encarou. — Fazer algo do tipo é errado, Shiroyama. Compreenda que esse tipo de atitude não deve acontecer novamente, pense nisso como uma lição de vida.
— Entendi... — suspirei, exausto. — E então? Além de fazer nós dois trabalharmos a mais e de graça, o que irá fazer com os outros membros do clube de jornalismo?
— Eu tenho algo em mente já que alguns foram arrastados nessa confusão sem saberem do contexto.
— Só tem uma coisa que eu não entendi nessa situação toda — expressei, fitando a mesa de centro por nada em especial. — A raiva de Kumiko Horie estava centrada em Yonagi. E claro, depois desta conclusão me odeia mais do que a ela. Mas, não sei por que há esse ódio todo.
— Hum, tenho os meus palpites..., mas não vou opinar em nada. — comentou a professora.
Nós nos encaramos e rimos juntos. Se bem que no meu caso, estava rindo de nervoso.
Trabalho a mais... lá se vão minhas noites de sono. Esta foi a única coisa da qual não havia considerado em todo o meu plano.