Volume 1
SS: Entrevista com Shiroyama Hideo
Uma semana antes da cerimônia de entrada...
Às 8h em ponto me encontrava em frente à porta da sala dos professores. Ela se abriu e uma mulher que desconhecia surgiu, se apresentando:
— Bom dia. Eu sou a vice-diretora Madarame Kirisa — A mulher de cabelos castanhos curtos usava roupas justas, mexendo em seus óculos. — Você deve ser Shiroyama Hideo, certo? Pode entrar.
Acenei e a segui em silêncio ao adentrarmos o recinto. Sentamos um na frente do outro em poltronas e na mesa de centro se encontrava várias pastas empilhadas. Ela pegou uma delas e a folheou.
— Bem, vamos lá. Shiroyama Hideo, ex-aluno da Jimbocchi. Você veio de uma escola estadual, sem ter aditivos curriculares ou quaisquer outras atividades extras. Estou correta?
— Isso mesmo.
— Você... fez algum cursinho intensivo? Suas notas estão acima da média dos alunos da Jimbocchi...
Mantive a postura indiferente.
— Não fiz nada de diferente dos outros alunos. Sou como qualquer outro.
— Está resfriado? Por isso está usando máscara?
Cerrei meus olhos e a encarei, irritado.
— ...estou.
— Nem está com a voz embargada... bom, que seja — Madarame clicou em uma lapiseira e fez anotações. — Dizem que gripes ou resfriados duram por uma semana. Tenho certeza que quando as aulas começarem estará saudável novamente.
— Hum... se você diz...
— ...ou você se intitula como alguém que se dedica demais estudando e negligencia a própria saúde? Agora fiquei curiosa...
Cocei a perna, sem entender o intuito daquela pergunta.
— Não... geralmente sou bem saudável e quase nunca adoeço, na verdade. Apenas prefiro estar de máscara...
— Ué, mas você não disse que estava resfriado antes?
— ...isso é algum tipo de teste?
Voltei a encará-la, frustrado. O que aquelas dúvidas dela tinham a ver com as minhas notas, afinal?
— Fazer esse tipo de triagem é essencial para identificarmos possíveis alunos problemáticos! — Ela mexeu em seus óculos. — Saber como os prováveis estudantes inconsistentes agem é importante para que os professores comentem entre si as melhores abordagens.
— Então... você está fazendo tudo isso por fofoca?
...
O tempo pareceu congelar durante vários segundos, porque a vice-diretora ficou complemente paralisada. Até olhei pelos lados para ver se encontrava o Doutor Estranho usando o Olho de Agamoto, mas não encontrei sinal de outras pessoas dentro da sala.
— I-Isso... isso... não é fofoca... não é pra fofocar! — Madarame gaguejou tanto que parecia estar tremendo em uma cadeira de massagem. — É apenas uma coleta de dados! Isso mesmo, entendeu?!
Ela estava confirmando ou pedindo minha afirmação?
— De qualquer forma... já vi que apesar das suas notas, seu temperamento é um tanto complicado de se lidar...
— É complicado lidar com fatos sendo verdadeiros? — indaguei. — Se essa for a hora de levantar os braços e pedir perdão por te fazer passar vergonha, então eu faço...
— Pare com isso! Abaixe esses braços, não estou com vergonha! Abaixa logo esses braços! — Ela ficou tão agitada que movia os próprios braços como se fosse um DJ.
— Então, estou liberado? Se minhas notas são boas e estou de acordo com as normas da escola, já sou considerado aceito, certo?
— Ei, se você não está doente tire essa máscara! E volte a se sentar! Ainda não terminamos a entrevista!
Porque aquela mulher estava tão alvoroçada? Ela arfava tanto que parecia ter corrido uma maratona antes de vir pra cá...
— Não quero tirar a máscara.
— E se eu disser que não estou pedindo?
— Não tenho mais nada a dizer, é isso — cruzei os braços. — O que estava esperando que eu dissesse, algum podre da minha vida?
— O que há com esse garoto? Nas aulas de psicologia, foi dito que jovens se sentem acuados com pessoas mais velhas a ponto de dizerem qualquer coisa quando pressionados!
— Eu consegui escutar tudo, sabia? Não é a abordagem mais correta de querer instigar alguém a se abrir com outra pessoa que nem conhece querendo saber de fofocas... isso já começou errado.
— E como eu saberia? Garotos ficam vulneráveis quando mulheres adultas falam com eles, não é?! Não quero saber de complexos de inferioridade ou qualquer outra coisa do tipo!
— Então, a única coisa que tem interesse é do que pode usar como fofoca? Você está se sentindo tão solitária assim, por acaso?
— Não é nada disso! Eu só fiquei um pouco sentimental por causa do dorama que assisti ontem a noite e me deixou extasiada! Entender a mente das pessoas é complicado, sabia?!
— Por isso estuda psicologia? Pra tentar suprir a frustração de não estar em um relacionamento? Vou adivinhar... quer escrever livros de autoajuda conseguir um partido emocionalmente abalado?
— Como... como descobriu?! Ah, não...!
Que mulher assustadora era aquela! Estudantes de psicologia realmente chegariam a tal ponto?!
— Ah... tentei interrogar o estudante e eu que falei demais...! — Ela cobriu o rosto com as mãos.
— Bem... acho que vou indo, então...
— Espera aí! Não posso te deixar ir depois de tudo isso! — exclamou ela, envergonhada.
Fiquei alguns segundos pensativo, até que me virei e disse:
— Vice-diretora, eu vim barganhar.
— Barganhar?
— Isso mesmo. Se me deixar permanecer de máscara, prometo que nunca direi o que houve nessa sala. Ah... acho que até esqueci, sabe.
— Não, mas isso...
— Opa, parece que estou voltando a me lembrar...
— Tudo bem! Eu entendi, certo?! Nada foi dito e fique de máscara! — Ela pegou uma folha e me entregou. — Apenas faça seu relatório de entrada e entregue no dia da cerimônia!
Dito isso, ela guardou rapidamente suas coisas e saiu apressada da sala. Cocei a nuca, enquanto visualizava aquela folha para preencher.
— ...
Que lugar estranho. Meus dias como estudante naquela escola estavam prestes a começar e não sabia o que realmente me esperaria em um recinto tão excêntrico.
— Que tipo de primeira impressão foi essa, hein?