Volume 1
Capítulo 3: A Gentileza de Himegi Kyouko ②
Quando os alunos se preparavam para ir embora após a última aula fiz o mesmo, mas parei de andar no corredor. Minha mente teve um turbilhão de pensamentos naquele instante. Após dizer aquelas palavras à Takahashi tomei uma decisão. O problema são as várias vertentes pendentes que dificultariam em seguir uma direção com clareza.
Enquanto pensava notei que havia algumas pessoas olhando o mural de informações da escola. Me esgueirei e vi folhas de anotações penduradas ali, duas garotas escreveram alguma coisa nelas e foram embora.
Movido pela curiosidade fui olhar o que era. As folhas de anotações tinham a mesma escrita, dizendo: — Somos do Clube de Jornalismo, e precisamos da ajuda de todos vocês! Para todos irem bem nas provas de História, estamos aceitando sugestões de referenciais históricos para que possamos obter o melhor conteúdo possível para todos! Kumiko Horie, Segundo Ano Classe D.
Eu cerrei os punhos, incrédulo com o que eu li...
— Essa garota... está querendo agir como uma democrata, afinal?
Ou era o que tentava transmitir aos outros como uma tal de Umbridge... será que deseja tomar a diretoria da escola usando as próprias regras? Enfim, aquilo não entrou em questão naquele momento. O conteúdo daquele bilhete certamente era algo ruim e não fazia importância por onde eu via, aquele método iria prejudicar Yonagi de qualquer maneira.
Kumiko Horie... deve ter sido aquela garota de tranças no cabelo do Clube de Jornalismo... isso está pior do que eu...
— Ah. Você ainda está aqui?
Uma voz conhecida tirou a minha atenção do mural. Era Yonagi, carregando sua bolsa e segurava uma chave em uma das mãos.
— Ah...
Não soube o que responder. Havia algum tempo que não a via, então me prendi em seus detalhes novamente. Aquele péssimo hábito parecia um Charizard que saía da Pokébola sem permissão...
— ...fui devolver a chave da biblioteca para a Sala dos Professores — completou Yonagi, como se tivesse lido a minha mente.
— O que houve? Ainda é cedo para ir embora... — disse surpreso.
— Não estou muito bem. Ando tendo dores de cabeça por ficar pensando demais. Bom, pensei em te avisar isso caso cogitasse ir para a biblioteca... se bem que realmente não precisa que vá de qualquer jeito.
Aquelas palavras de Yonagi me tiraram daquele transe irritante. A julgar pelas suas olheiras aquilo não foi apenas por falta de uma noite de sono... espera, havia me tornado um especialista em analisar olheiras?
— Você tem certeza de que realmente não preciso ir?
Eu a confrontei de frente. Não seria efetivo se não fizesse de outra forma. Ela me encarou seriamente com seus olhos frios antes que começasse a falar: — Perfeitamente. Está tudo sob controle. Ao contrário de você, durmo bem todas as noites.
— Não é sobre isso. Você entende o que eu estou dizendo, certo? Julgando por isso aqui... — apontei para aquele formulário de sugestões. – ...em breve você terá que enfrentar a escola inteira. Isso não está muito unilateral demais?
— Isso apenas deixa as coisas mais empolgantes... — respondeu Yonagi com um sorriso triunfante. Mas conseguia ver que havia traços de cansaço em qualquer movimento que ela fazia. — Isso apenas mostra o quão incrível eu sou.
— Ora, vamos! — retruquei. — Você não precisa provar nada para ninguém, certo? Você é incrível mesmo, então toda essa disputa não tem sentido algum!
— De uma coisa está certa, não há sentido algum em tudo isso... — concordou Yonagi sorrindo de volta. Algo naquele sorriso me fez desistir de continuar a argumentar, me paralisando por completo mesmo quando ela disse: — tenho que entregar a chave agora, então estou indo... — e passou por mim com aquele mesmo sorriso estampado.
Não consegui reagir de maneira alguma.
Soquei a parede com toda a força. Uma onda de frustração me percorreu totalmente. Não foi simplesmente raiva, mas um sentimento do qual eu entendia. Era algo que as pessoas faziam para manter a relação mútua em um estado estável.
Aquele era um sorriso de tristeza.
***
Decidido a fazer algo, havia uma coisa da qual precisava saber. Em uma guerra a coisa mais valiosa para se ganhar do inimigo era a coleta de informações. Um lado bem-informado pode ganhar qualquer tipo de disputa sem precisar sujar suas mãos.
Diante disso, agora que compreendia a posição de Yonagi naquela situação faltava reconhecer o lado inimigo por completo. Este tipo de análise só pode ser feito por alguém por dentro das razões e neutro de qualquer lado da disputa.
E esta pessoa era eu.
O prazo final para a entrega das redações para o jornal era até naquele final de semana. Não tinha muito tempo, então pensei em tudo o que deveria fazer durante as aulas para conseguir alguma informação importante naquele dia mesmo.
Primeiro, o Clube de Jornalismo: Senjou Hana é a presidente do clube, mas não possui muita influência sobre ele apesar de estar no terceiro ano. Kumiko Horie está tomando as rédeas da situação, tornando-a o problema principal da história. Para me organizar, escrevi tudo aquilo no caderno. Para se resolver um problema principal precisava-se de uma solução, mas antes, tenho que saber primeiro uma coisa fundamental.
O motivo.
Por qual razão Kumiko Horie chegaria tão longe por apenas um lugar no jornal? Não, não foi por aquilo. Era algo muito mais profundo e a publicação do jornal se tornou o campo de batalha. Não tinha certeza, mas, pode também ter sido a causa desta intriga entre os clubes. Ela pode ter desencadeado essa competição sem sentido apenas para gerar algum tipo de vingança contra Yonagi caso ganhasse.
E foi como essa situação se apresentou ao meu ver, julgando pelas atitudes exageradas daquela garota em conseguir apoio de continuar as publicações.
Partindo deste ponto, era realmente uma possibilidade péssima. Se essa Kumiko fosse uma jogadora de xadrez, certamente seria uma das melhores. Agiu exatamente como uma rainha... ou melhor, como um mero peão para assumir o posto de rainha, apenas esperando a melhor chance de acabar com os inimigos. Por agora ser uma das peças mais fortes do jogo, Kumiko Horie se tornou crucial para que o jornal continuasse.
Aquele é o tipo de cenário que mais detesto. Por me concentrar nesses detalhes, não prestei atenção nas aulas vindouras. Um calafrio percorreu por todo o meu corpo.
— Droga! Desse jeito vou ficar sem dormir direito de novo de tanta lição pra fazer!
Comecei a copiar a lição rapidamente até que um caderno surgiu em minha linha de visão. Virei minha cabeça e me deparei com a figura de Takahashi em pé ao meu lado.
— Quer as anotações? Você está com uma cara horrível, achei até que cogitou voltar para casa e se internar em estado vegetativo.
— Obrigado pelas anotações, mas não acho que eu não esteja tão péssimo assim para entrar em estado vegetativo. Não sou um cacto.
Não, espere. Cactos são plantas solitárias nos desertos em que não precisavam de muita água para sobreviver e vivem majestosamente com seus espinhos, resistindo contra o forte calor. São isoladas das outras plantas, ou seja, os cactos eram o símbolo dos solitários!
Takahashi ignorou a minha pose triunfante e me disse: — Parece que está tendo muito trabalho, hein? Você parece um zumbi completo agora.
— Agradeço a preocupação, mas realmente fiquei com medo de perder as lições. Por outro lado, estou tendo muitas coisas em mente agora. É mais como...se estivesse quase compreendendo o que foi que aconteceu para as coisas estarem desse jeito.
Após aquela resposta vaga esperei que Takahashi fosse embora para copiar a lição rapidamente, o que de fato aconteceu. Como odeio lição de casa!
Minha cabeça e minha mão ferveram de tanto trabalho assim para exercer.
Porém, depois daquela aparição dele comecei a raciocinar sobre algo que não notei desde o começo. Fiz a minha mente trabalhar enquanto copiava a lição aflito.
Após algum tempo, conseguir finalizar todas as atividades perdidas antes que o intervalo chegasse para me focar no que iria fazer. Eu tinha que procurar os membros do clube de jornalismo, mas havia um grande problema.
Eu não os conhecia e geralmente não os via nos intervalos. Então a busca para encontrá-los será mais complicado do que o esperado. Os outros membros pertencentes do segundo ano são todos arrogantes e não iriam cooperar. Aqueles dois calouros podem me denunciar para Kumiko caso se sentissem intimidados... mesmo assim, ainda tenho uma carta na manga da qual posso usá-la ao meu favor: Himegi Kyouko, a caloura que se juntou ao clube e era a única que poderia facilmente achar em um curto espaço de tempo.
— Alunos do primeiro ano tendem a se empolgar demais a tudo o que acontece. Tomando exemplo dos intervalos, eles adoram se juntar e discutir as novidades.
Não era nada novo ali já que alunos de todas as séries fazem isso, mas os do primeiro ano são muito mais animados. De todo jeito, acabei encontrando Himegi conversando com suas amigas no refeitório da escola, o que me gerou alívio e ao mesmo tempo calafrios. Não queria ter de chama-la diante do seu círculo de amigos.
Acho que seria melhor dizer que não quero que me vissem chamando-a...
Mas, por felicidade do destino não precisei chegar a isso pois ela mesma me viu e pediu licença aos seus amigos, vindo até mim. Incrível como soube atender às pessoas sem gerar conflitos, deve ser algum tipo de gênio!
— Shiro... o que houve? Estava olhando muito para lá.
— Ah... eu preciso falar com você...
Entendi... então a causa dela ter me notado foi de ter assustado a todos com os meus olhos de zumbi... maldita ilusão! Me devolva a imagem dos sonhos que tive dela!
Nós nos afastamos do refeitório e paramos no corredor. Eu soltei um pigarro e comecei a falar: — Bem... como está o seu clube?
— Ah, bom... espera, você sabe qual é o meu clube?! — exclamou Himegi, assustada. — Sério, agora você pareceu muito assustador, sabia?!
Eu a olhei com desdém. O pior sentimento de todos era uma garota mais nova achar que você é um perseguidor...
— Deixando isso de lado... soube disso porque já havia visto o clube antes. Senjou Hana é a presidente, certo?
— Ué? Então...
— Eu sou do clube de literatura. Bom, acho que agora estou afastado das atividades dele, mas estou por dentro da situação.
Após dizer aquilo, a expressão do rosto de Himegi mudou. Ela puxou o meu braço e me conduziu para longe do refeitório. Eu ofeguei por um momento... não faça isso sem avisar! Meu coração quase palpitou!
— Shiro, você pode nos ajudar? — suplicou Himegi, aflita. — As coisas não estão indo bem para a presidente e... tem aquela garota do clube que...
— Não se preocupe. Já estou sabendo dela também. Primeiro, eu preciso que você me dê informações. Temos que saber as razões dela de estar levando isso tão adiante.
— O que você irá fazer, Shiro? — continuou a garota. — Talvez se alguém de fora como você pudesse opinar alguma coisa...
— Não, eu estou envolvido nisso tanto quanto você... — expressei. Aquela situação se complicou mais do que imaginei, já que parece que Himegi não ficou exatamente preocupada com o resultado dos textos para as provas. — Mas, você pode me ajudar?
— Ajudo! Ajudo sim, mas...
Himegi me encarou agoniada. Seus olhos se umedeceram, quase escorrendo em lágrimas. Fiquei sem reação, não me preparei para uma reação do tipo.
— ...não quero que ninguém saia ferido nesta história. A Senjou está sofrendo muito tendo que lidar com as atitudes da Kumiko e é doloroso de se ver. Não pude fazer nada até agora porque não tenho influência, mas... eu quero ajudar. Se tiver ao menos uma coisa que eu possa fazer para ajudá-la, farei! Mas não quero causar sofrimento aos outros, então...
— Ah...
Não precisava terminar aquela frase. Ela disse o que era necessário naquele momento. Ao ver aquela expressão aflita à minha frente não deixei de me sentir desconfortável. Ver aquela dor me deixou angustiado também... não façam garotas fofas sofrerem!
Não se deve achar que sabe o fundo de lago até o momento em que você mesmo mergulhe para vê-lo. O sentimento das pessoas era igual e nunca podia esperar o quão profundo as pessoas se sentem próximas as outras.
— Ah, fala sério... você é mesmo uma pessoa gentil demais... — disse nervoso. Himegi acabou rindo envergonhada e abaixou sua cabeça.
— Não, eu... não sou tão gentil assim...
Eu suspirei rapidamente para me recompor e resolvi agir. As coisas não saíram como planejei, mas...
— Está certo. Temos que pensar em uma solução que não acabe ferindo ninguém. Mas, Himegi, deixa te esclarecer uma coisa...
Ela levantou a cabeça e me olhou profundamente em meus olhos. Ah, não faça isso de repente! Vou acabar ficando sem jeito para falar!
— ...é impossível não magoar as pessoas. Ninguém consegue ficar ileso de uma discussão ou briga. Esteja ciente disso.
— Eu... eu sei, mas...
— Só que... — continuei a falar enquanto sorria triunfante. — Em vez disso, podemos evitar uma mágoa direta. Quanto a isso, deixe comigo.
Himegi não pareceu entender o que quis dizer, mas não esperei que ela me perguntasse. Eu terei que ser mais direto para obter as respostas que preciso e aquela garota me deu uma pista importante para solucionar aquele problema.
***