Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 1

Capítulo 3: A Gentileza de Himegi Kyouko ②

Quando os alunos se preparavam para ir embora após a última aula fiz o mesmo, mas parei de andar no corredor. Minha mente estava tendo um turbilhão de pensamentos naquele instante. Após ter dito aquelas palavras à Takahashi havia tomado uma decisão. O problema era as várias vertentes pendentes que dificultariam em seguir uma direção com clareza.

Enquanto pensava notei que havia algumas pessoas olhando o mural de informações da escola. Me esgueirei e vi folhas de anotações penduradas ali, duas garotas estavam escrevendo alguma coisa nelas e foram embora.

Movido pela curiosidade fui olhar o que era. As folhas de anotações tinham a mesma escrita, dizendo: — Somos do Clube de Jornalismo, e precisamos da ajuda de todos vocês! Para todos irem bem nas provas de História, estamos aceitando sugestões de referenciais históricos para que possamos obter o melhor conteúdo possível para todos! Kumiko Horie, Segundo Ano Classe D.

Eu cerrei os punhos, incrédulo com o que estava lendo...

— Essa garota... está querendo agir como uma democrata, afinal?

Ou era o que tentava transmitir aos outros como uma tal de Umbridge... será que tentaria tomar a diretoria da escola usando as próprias regras? Enfim, aquilo não entrava em questão naquele momento. O conteúdo daquele bilhete certamente era algo ruim e não fazia importância por onde eu via, aquele método iria prejudicar Yonagi de qualquer maneira.

Kumiko Horie... deve ter sido aquela garota de tranças no cabelo do Clube de Jornalismo... isso está pior do que eu...

— Ah. Você ainda está aqui?

Uma voz conhecida tirou a minha atenção do mural. Era Yonagi, que estava carregando sua bolsa e segurava uma chave em uma das mãos.

— Ah...

Não sabia o que responder de volta. Havia algum tempo que não a via, então me prendi em seus detalhes novamente. Aquele péssimo hábito parecia um Charizard que saía da Pokébola sem permissão...

— ...estava devolvendo a chave da biblioteca para a Sala dos Professores – completou Yonagi, como se tivesse lido a minha mente.

— O que houve? Ainda é cedo para ir embora... — disse surpreso.

— Não estou muito bem. Ando tendo dores de cabeça por ficar pensando demais. Bom, pensei em te avisar isso caso cogitasse ir para a biblioteca... se bem que realmente não precisa que vá de qualquer jeito.

Aquelas palavras de Yonagi me tiraram daquele transe irritante. A julgar pelas suas olheiras aquilo não tinha sido apenas por falta de uma noite de sono... espera, havia me tornado um especialista em analisar olheiras?

— Você tem certeza de que realmente não preciso ir?

Eu a confrontei de frente. Não seria efetivo se não fizesse de outra forma. Ela me encarou seriamente com seus olhos frios antes que começasse a falar: — Perfeitamente. Está tudo sob controle. Ao contrário de você, durmo bem todas as noites.

— Não é sobre isso. Você entende o que eu estou dizendo, certo? Julgando por isso aqui... — apontei para aquele formulário de sugestões. – ... em breve você terá que enfrentar a escola inteira. Isso não está muito unilateral demais?

— Isso apenas deixa as coisas mais empolgantes — respondeu Yonagi com um sorriso triunfante. Mas conseguia ver que havia traços de cansaço em qualquer movimento que ela fazia. — Isso apenas mostra o quão incrível eu sou.

— Ora, vamos! — retruquei. — Você não precisa provar nada para ninguém, certo? Você é incrível mesmo, então toda essa disputa não tem sentido algum!

— De uma coisa está certa, não há sentido algum em tudo isso — concordou Yonagi sorrindo de volta. Algo naquele sorriso me fez desistir de continuar a argumentar. Aquilo havia me paralisado por completo e mesmo quando ela disse: — tenho que entregar a chave agora, então estou indo — e passou por mim com aquele mesmo sorriso estampado não consegui reagir de maneira alguma.

Soquei a parede com toda a força. Uma onda de frustração me percorreu totalmente. Não era uma simples raiva, era um sentimento do qual eu entendia. Era algo que as pessoas faziam para manter a relação mútua em um estado estável.

Aquele era um sorriso de tristeza.

***

Decidido a fazer algo, havia uma coisa da qual precisava saber. Em uma guerra a coisa mais valiosa para se ganhar do inimigo era a coleta de informações. Um lado bem-informado poderia ganhar qualquer tipo de disputa sem precisar sujar suas mãos.

Diante disso, agora que compreendia a posição de Yonagi naquela situação faltava reconhecer o lado inimigo por completo. Este tipo de análise só poderia ser feito para uma pessoa que está por dentro das razões e neutro de qualquer lado da disputa.

E essa pessoa era eu.

O prazo final para a entrega das redações para o jornal era até naquele final de semana. Não tinha muito tempo, então tinha que pensar em tudo o que deveria fazer durante as aulas para conseguir alguma informação importante naquele dia mesmo.

Primeiro, o Clube de Jornalismo: Senjou Hana é a presidente do clube, mas não possui muita influência sobre ele apesar de estar no terceiro ano. Kumiko Horie está tomando as rédeas da situação, tornando-a o problema principal da história. Para me organizar, escrevi tudo aquilo no caderno. Para se resolver um problema principal precisava-se de uma solução, mas antes, teria que saber primeiro uma coisa fundamental.

O motivo.

Por qual razão Kumiko Horie iria chegar tão longe por apenas um lugar no jornal? Não, não era por aquilo. Era algo muito mais profundo e a publicação do jornal se tornou o campo de batalha. Não tinha certeza, mas, poderia também ter sido a causa desta intriga entre os clubes. Ela pode ter desencadeado essa competição sem sentido apenas para gerar algum tipo de vingança contra Yonagi caso ganhasse.

E era o que aquela situação parecia ser mesmo a julgar pelas atitudes exageradas dela em conseguir apoio para continuar com as publicações.

Partindo deste ponto, era realmente uma possibilidade péssima. Se ela fosse uma jogadora de xadrez seria uma das melhores. Ela é como uma rainha... ou melhor, agiu como um mero peão para assumir o posto de rainha, apenas esperando a melhor chance de acabar com os inimigos. Por agora ser uma das peças mais fortes do jogo, Kumiko Horie era crucial para que o jornal continuasse.

Senti um gosto amargo na boca. Aquele era o tipo de cenário que mais odiava. Por pensar em tudo aquilo, não tinha prestado atenção nas aulas. Por isso me gerou um calafrio por todo o meu corpo.

— Droga! Desse jeito vou ficar sem dormir direito de novo!

Comecei a copiar a lição rapidamente até que um caderno surgiu em minha linha de visão. Virei minha cabeça e me deparei com a figura de Takahashi em pé ao meu lado.

— Quer as anotações? Você estava com uma cara horrível, achei que estava cogitando voltar para casa e se internar em estado vegetativo.

— Obrigado pelas anotações, mas não acho que eu não esteja tão péssimo assim para entrar em estado vegetativo. Não sou um cacto.

Não, espere. Cactos eram plantas solitárias nos desertos em que não precisavam de muita água para sobreviver e viviam majestosamente com seus espinhos, resistindo contra o forte calor. Eram isoladas das outras plantas, ou seja, os cactos eram o símbolo dos solitários!

Takahashi ignorou a minha pose triunfante e me disse: — Parece que está tendo muito trabalho, hein? Você parece um zumbi completo agora.

— Agradeço a preocupação, mas estava realmente com medo de perder as lições. Por outro lado, estou tendo muitas coisas em mente agora. É mais como...se estivesse quase compreendendo o que foi que aconteceu para as coisas estarem desse jeito.

Após aquela resposta vaga esperava que Takahashi fosse embora para que pudesse copiar a lição rapidamente, o que de fato aconteceu. Como odeio lição de casa!

Minha cabeça e minha mão ficaram fervendo de ter tanto trabalho assim para exercer.

Porém, depois daquela aparição dele comecei a raciocinar sobre algo que não havia notado desde o começo. Fiz a minha mente trabalhar enquanto copiava a lição aflito.

Após algum tempo copiando conseguir finalizar antes que o intervalo chegasse para me focar no que iria fazer. Eu tinha que procurar os membros do clube de jornalismo, mas havia um grande problema.

Eu não os conhecia e geralmente não os via nos intervalos. Então a busca para encontrá-los seria mais complicado do que o esperado. Os outros membros pertencentes do segundo ano eram todos arrogantes e não iriam cooperar. Aqueles dois calouros poderiam me denunciar para Kumiko caso se sentissem intimidados... mesmo assim, ainda tinha uma carta na manga da qual poderia usá-la ao meu favor: Himegi Kyouko, a caloura que havia se juntado ao clube e era a única que poderia facilmente achar em um curto espaço de tempo.

— Alunos do primeiro ano tendem a se empolgar demais a tudo o que acontece. Tomando exemplo dos intervalos, eles adoram se juntar e discutir as novidades.

Não era nada novo ali já que alunos de todas as séries faziam isso, mas os do primeiro ano eram muito mais animados. De todo jeito, acabei encontrando Himegi conversando com suas amigas no refeitório da escola, o que me gerou alívio e ao mesmo tempo me deu calafrios. Não queria ter de chama-la diante do seu círculo de amigos.

Acho que seria melhor dizer que não queria que me vissem chamando-a...

Mas, por felicidade do destino não precisei chegar a isso pois ela mesma me viu e pediu licença aos seus amigos, saindo de onde estava. Incrível como ela soube como atender as pessoas sem gerar conflitos, deveria ser algum tipo de gênio!

— Shiro... o que houve? Estava olhando muito para lá.

— Ah... eu preciso falar com você...

Entendi... então a causa dela ter me notado era que estava assustando a todos com os meus olhos de zumbi... maldita ilusão! Me devolva a imagem dos sonhos que estava tendo dela!

Nós nos afastamos do refeitório e paramos no corredor. Eu soltei um pigarro e comecei a falar: — Bem... como está o seu clube?

— Ah, bom... espera, você sabe qual é o meu clube?! — exclamou Himegi, assustada. — Sério, agora você pareceu muito assustador, sabia?!

Eu a olhei com desdém. O pior sentimento de todos era uma garota mais nova achar que você é um perseguidor...

— Deixando isso de lado... soube disso porque já havia visto o clube antes. Senjou Hana é a presidente, certo?

— Ué? Então...

— Eu sou do clube de literatura. Bom, acho que agora estou afastado das atividades dele, mas estou por dentro da situação.

Após dizer aquilo, a expressão do rosto de Himegi mudou. Ela puxou o meu braço e me conduziu para longe do refeitório. Eu ofeguei por um momento... não faça isso sem avisar! Meu coração quase ficou palpitando.

— Shiro, você pode nos ajudar? — suplicou Himegi, aflita. — As coisas não estão indo bem para a presidente e... tem aquela garota do clube que...

— Não se preocupe. Já estou sabendo dela também. Primeiro, eu preciso que você me dê informações. Temos que saber as razões dela de estar levando isso tão adiante.

— O que você irá fazer, Shiro? — continuou a garota. — Talvez se alguém de fora como você pudesse opinar alguma coisa...

— Não, eu estou envolvido nisso tanto quanto você — expressei. Aquela situação estava mais complicada do que imaginava já que parecia que Himegi não estava exatamente preocupada com o resultado dos textos para as provas. — Mas, você pode me ajudar?

— Ajudo! Ajudo sim, mas...

Himegi me encarou agoniada. Seus olhos estavam molhados, quase chorando. Eu fiquei sem reação, não havia me preparado para uma situação daquelas.

— ...não quero que ninguém saia ferido nesta história. A Senjou está sofrendo muito tendo que lidar com as atitudes da Kumiko e é doloroso de se ver. Não pude fazer nada até agora porque não tenho influência, mas... eu quero ajudar. Se tiver ao menos uma coisa que eu possa fazer para ajudá-la, farei! Mas não quero causar sofrimento aos outros, então...

 — Ah...

Não precisava terminar aquela frase. Ela havia dito tudo o que era necessário naquele momento. Ao ver aquela expressão aflita à minha frente não deixei de me sentir desconfortável. Ver aquela dor me deixava angustiado também... não façam garotas fofas sofrerem!

Não se deve achar que sabe o fundo de lago até o momento em que você mesmo mergulhe para vê-lo. O sentimento das pessoas era igual e nunca podia esperar o quão profundo as pessoas se sentem próximas as outras.

— Ah, fala sério... você é mesmo uma pessoa gentil demais — disse nervoso. Himegi acabou rindo envergonhada e abaixou sua cabeça.

— Não, eu... não sou tão gentil assim...

Eu suspirei rapidamente para me recompor e resolvi agir. As coisas não estavam indo como planejava, mas...

— Está certo. Temos que pensar em uma solução que não acabe ferindo ninguém. Mas, Himegi, deixa te esclarecer uma coisa...

Ela levantou a cabeça e me olhou profundamente em meus olhos. Ah, não faça isso de repente! Vou acabar ficando sem jeito para falar!

— ...é impossível não magoar as pessoas. Ninguém consegue ficar ileso de uma discussão ou briga. Esteja ciente disso.

— Eu... eu sei, mas...

— Só que... — continuei a falar enquanto sorria triunfante. — Em vez disso, podemos evitar uma mágoa direta. Quanto a isso, deixe comigo.

Himegi não pareceu entender o que tinha dito, mas não esperei para que ela me perguntasse. Eu teria que ser mais direto para obter as respostas que preciso e aquela garota havia me dado uma pista importante para poder solucionar aquele problema.

***



Comentários