Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 1

Capítulo 3: A Gentileza de Himegi Kyouko ①

Levantei-me naquela quarta-feira com uma dor de cabeça latente. Passei todas as aulas fazendo o mínimo possível apenas para não chamar atenção dos professores. Estava incomodado com aquela atmosfera movimentada dos alunos dentro da classe, então no intervalo me refugiei em um lugar vazio para almoçar.

Aquele dia estava nublado, então uma ventania forte rodeava os arredores do pátio central externo. Todos estavam evitando ficar muito tempo no lado de fora, menos eu. Estava totalmente confortável com aquela ação da natureza pela tamanha perturbação que me encontrava.

O som do vento era realmente muito melhor de se ouvir do que a voz de multidões. Aquela ventania toda resultava por ter uma praia próxima da escola e como a primavera estava quase terminando para dar lugar ao verão aqueles momentos eram oportunidades raras para se aproveitar, logo o tempo estaria tão quente que ninguém conseguiria suportar o calor e correria para a praia, menos eu.

Ao lembrar sobre o que havia acontecido no dia anterior senti um gosto amargo na boca. Tive que comprar um cappuccino diante do sono e da dor de cabeça.

— Eu não quero — foi o que eu respondi para o clube de jornalismo. Aquela garota me questionou de ter negado e apenas disse que não estava mais participar daquilo.

Na verdade, ainda ponderava sobre o assunto. Se havia sido chamado para fazer parte de uma nova aba do jornal através deles e não do clube de literatura o que deveria fazer? Se não tenho atividades em um clube o melhor seria sair dele, não é?

Apesar de tudo não queria tomar aquela decisão. Ao menos, não antes que aquele problema fosse resolvido. A professora Harashima não tinha vindo falar comigo sobre o seu plano e Yonagi estava reservada de não querer me contar mais nada.

Além disso, aquela conversa incompleta com Senjou Hana também me incomodava. Com o que tinha dito explicava o fato de a supervisora ainda não ter aparecido mesmo com os avisos da professora. Neste caso, tinha duas escolhas: tentar voltar a falar com Senjou ou interrogar a Harashima. Provavelmente teria mais chances desta vez com a última já que ir para o clube de jornalismo era sempre algo complicado e chamar justo a presidente para conversar a sós era algo fora da minha capacidade.

Isto apenas deixou minha boca ainda mais amarga. Não gostava de estar naquela situação. Apenas suspirei exaustivamente por estar pensando demais. Me levantei e decidi deixar aquele lugar silencioso onde até mesmo o som do vento tornava a me incomodar.

***

Enquanto caminhava de volta para a classe, torcendo para não ter muita gente no local e aproveitar o restinho do intervalo me deparei com uma garota que estava arrumando o almoxarifado. Ela tinha cabelos castanhos curtos e era bem energética. Ao olhar bem notei que já a tinha visto antes.

Era a Himegi Kyouko, do primeiro ano.

Ela parecia estar com problemas para conseguir organizar as caixas no lugar. Havia um amontoado delas e corria o risco de cair a qualquer momento.

— Hum, você precisa de ajuda? — disse ao pegar uma daquelas caixas antes que caísse no chão.

— Ah, obrigada... ei, é você! — exclamou Himegi. — O garoto de máscara pessimista do segundo ano!

Ah, você está certa. Sim, sou eu. O garoto pessimista de máscara. Não sei qual daqueles apelidos iria me fazer chorar como um condenado. Espera, já fui condenado?

— Bem... sim. Sou Shiroyama, não garoto pessimista – murmurei com uma cara aborrecida. Himegi soltou uma risada envergonhada como resposta.

— Certo! Vou te chamar de Shiro então, que tal? — disse a garota no tom mais gentil que alguém teve comigo antes. — Você poderia me ajudar? Você não está doente com esta máscara, não é?

Ei, não aja tão gentil assim. Isso foi o bastante para aquecer o meu coração nesse dia nublado com uma ventania cruel.

E parecia que toda atenção de alguém que atrairia iria pensar que estava doente por causa da máscara... paciência, né.

— Claro. Você precisa colocar isso de volta, certo?

Eu a ajudei a colocar o restante das caixas de volta para o almoxarifado. Ela fechou a porta por conta de a ventania não levar embora o amontoado de papéis que estava coletando.

— Estou procurando por registros históricos da cidade em antologias feitas pelos alunos. Está realmente difícil achar tudo sozinha.

— Hum, antologias hein? Parece um trabalho complicado... — expressei. Antologias eram coletâneas de histórias feitas por vários alunos, então você iria encontrar muitas ideias diversas e algumas até contraditórias. Olhando bem para os exemplares que ela estava pegando eram modelos antigos de pelo menos uns dez anos atrás, o que deixava a procura mais exaustiva ainda.

— Um pouco — murmurou a garota, sem jeito. – Ser uma novata de clube é ruim por deixarem esse tipo de trabalho com você.

— Ah, eu entendo. Fui jogado em um clube em que tive que fazer muitas coisas todos os dias. Fala sério, foi realmente exaustivo — concordei balançando a cabeça.

— É ruim não saber das coisas, já que não temos como discutir a respeito — continuou Himegi e ao abrir uma caixa velha expeliu muito pó, isso a fez espirrar de imediato. Meu Deus, isso foi bem fofo.

— Bem... acho que está certa. Trabalho terciário é o tipo de coisa que ninguém gosta de fazer, mas é o jeito mais efetivo e econômico que as empresas têm para não falirem de vez com suas reformas e transações.

Eu acabei soltando um espirro exagerado, o que gerou um eco bizarro na sala.

— Isso só me deixa pior do que eu estava por estar fazendo isso. Me sinto uma idiota — expressou Himegi fazendo um muxoxo. Soltou um suspiro cansado de desânimo e se sentou em uma das caixas empoleiradas.

— Não fique assim. Eles sempre fazem isso com o pessoal do primeiro ano, não se preocupe — disse tentando fazê-la se sentir melhor que pareceu não funcionar, mas ao menos fez um sorriso sarcástico.

— Isso não te coloca na mesma posição que eu? Que estranho.

O comentário me fez rir de nervoso, recordando-me algumas lembranças desagradáveis... quando estava no ensino fundamental tive que ajudar em vários preparativos e nunca sabia como fazer eles direito, resultando com que tomasse bronca por isso. O Festival Cultural na época foi uma das ocasiões menos sofridas por sempre querer participar de um clube de ciências, fazendo alguns experimentos simples.

Apenas rimos juntos das nossas vidas miseráveis e continuamos a procurar pelas antologias. Então, uma dúvida me apareceu em mente: — Hum, Himegi. Em qual clube você está?

— Ah, eu estou no clube de... — Ela se interrompeu quando ouviu batidas na porta do almoxarifado.

— Himegi! Está tudo bem? Precisa de ajuda?

Uma voz ecoou do outro lado da porta e soube de quem era aquela voz. Um calafrio percorreu minha espinha ao ver Himegi abrir a porta e aparecer Senjou Hana, a presidente do clube de jornalismo.

— Ah, presidente. Eu estava recebendo ajuda do... ué? Onde ele está?

Himegi havia se virado em minha direção para me apresentar à presidente, mas eu instintivamente havia me escondido entre a prateleira para não ser visto. Senjou pareceu não escutar o que Himegi tinha lhe dito, pois a puxou pelo braço para fora do almoxarifado.

— Deixando isso de lado, parece que você encontrou antologias o suficiente. Precisamos de ajuda com o levantamento da quantidade de papel para as cópias.

— Ah, entendi!

Antes que elas me vissem saí de fininho até poder virar o corredor e corri dali o mais rápido que pude. Apesar de tudo, uma nova alternativa surgiu diante de mim por causa daquilo.

***

Durante a aula seguinte notei que os outros colegas de classe estavam eufóricos. Takahashi se aproximou de mim com os outros colegas de classe e me perguntou: — Você está por dentro dos registros históricos da cidade? Soube que o professor de História vai usar isso na próxima prova e todos estão preocupados.

— Hum, não. Infelizmente estou fora — disse indiferente. Não seria prudente comentar sobre a oferta do clube de jornalismo já que não queria me envolver muito, mesmo que fossem da mesma classe. Eles, no entanto, fizeram uma cara de surpresa. Na verdade, acho que devem ter ficado mais surpresos pela minha reação do que a minha resposta...

— Por que não? O que houve com a Yonagi?

— Ela parece que está resolvendo isso sozinha... acabei isento dessa responsabilidade pela professora Harashima.

— Hum... isso pode ser um problema — expressou Takahashi preocupado.

Foi a primeira vez que o vi daquele jeito e logo supus que alguém como ele era o tipo de pessoa que não ficaria encurralado por problemas, já que sempre tinha uma resposta para tudo.

— O que foi? Parece que o clube de jornalismo está colaborando... bom, não sei ao certo.

— Como não? Você está no meio entre essa parceria, não está?! — retrucou Nana.

Grunhi pela sua resposta estar correta, mas era o que menos tinha conhecimento dentre o ocorrido...

— Bom, Yonagi é o tipo de pessoa que não faria cola para ninguém. Muitos aqui estão querendo cursar a parte de Humanas ano que vem, incluindo eu... pontuar bem é essencial aqui.

Senti um pouco de frustração na fala. Sua apreensão não era em como aquela situação iria terminar e sim em... espera. Algo veio em minha mente.

Se eles usassem estas informações na prova como algo esperado pelos professores não seria exatamente considerado como cola. Porém, tanto Yonagi quanto o clube de jornalismo estavam fazendo por si mesmos. Poderia ser que tivesse variâncias, mas o clube em si não estava preocupado em como isso iria terminar. Afinal, eles poderiam alterar o conteúdo...

Sim, isso acendeu uma fagulha na cabeça. Se eles estavam procurando por antologias antigas significava que poderiam obter mais conteúdo e como consequência gerariam mais resultados ao jornal. Estavam competindo com a Yonagi no quesito de organização de dados.

Yonagi era alguém incrível, mas... naquelas circunstâncias seria vista como uma pessoa ruim por não querer mostrar sua redação antes da prova e ainda seria considerada como alguém inferior ao conteúdo por não estar fazendo em grupo.

— Isso é realmente uma emergência — murmurei para mim mesmo, o que chamou a atenção de todos. Era um péssimo hábito meu falar as coisas em voz alta...

— Bem, o que você fará quanto a isso? — perguntou Takahashi para mim.

— O que eu devo fazer? O que alguém sozinho poderia fazer? Estou sozinho, mas...

Sim, aquela resposta não respondia nada. Não era consistente. Eu estava apenas fugindo. Geralmente não me importava quanto aos outros ao meu redor, mas eles haviam vindo até mim para obter informações. Em outras palavras, havia me tornado uma fonte confiável (?) e isso era o bastante para alguém que agia com palavras como eu.

Resumindo, era apenas um idiota e isso me fez rir de mim mesmo. Exibi um sorriso triunfante e disse com toda a confiança: — ...fui abandonado e decidi não me envolver. Não tenho escolha senão querer reivindicar o meu mérito, não é mesmo?



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