Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 1

Capítulo 2: A Insistência de Harashima Miyagi ③

Me dirigi ao clube de jornalismo. Ao bater na porta e a abrir, me deparei com o local mais limpo do que na primeira vez. Em vez disso, os alunos conversavam tranquilamente em suas cadeiras. Havia várias pilhagens de folhas de jornal no chão da sala.

Quando apareci pela porta aqueles alunos me olharam surpresos e foram me cumprimentar.

— Ah, parabéns pelo trabalho! Sua redação ficou incrível! — disse uma garota caloura com uma tiara vermelha no longo cabelo escuro.

— Não esperava que alguém seria melhor do que a Yonagi Kaede nesta escola! Foi uma disputa incrível! –— comentou um aluno de óculos.

Todos ali exceto a presidente do clube me bajularam por ter vencido Yonagi. Parecia que ainda limpavam a sala a julgar pelos resquícios de papéis soltos pelo chão aqui e ali.

Olhei de relance para aquelas folhas e fitei as de dentro da lata de lixo.

A presidente Senjou Hana continuou sentada com um olhar distante.

— O que deseja? — disse a presidente do clube.

Eu suspirei bem fundo e tornei a falar: — por acaso aquelas pilhagens próximas à parede são das edições dos próximos dias da semana?

Falei apontando para as pilhas de papel no chão amarradas com barbante.

— Sim! Estamos quase terminando as edições dos próximos dias! E saiba que todos nós estamos gostando das suas redações! — disse uma garota de cabelo violeta com tranças.

Decidi primeiro tirar as minhas dúvidas.

— Vocês são todos do segundo ano tirando a Senjou?

— Há apenas três alunos do primeiro ano como a garota de tiara e aquele menino tímido de óculos e cabelo claro... — explicou a garota com tranças. — Oh, parece que nós nos esquecemos também de nos apresentar! Onde estávamos com a cabeça?

Apesar da reação de surpresa da garota não demonstrei interesse naquilo. Por outro lado, Senjou Hana e os alunos do primeiro ano permaneceram quietos.

— Sou Todo Himura, do segundo ano B... — O garoto de óculos e cabelos rasos que falou comigo antes se apresentou. Ele exala uma aura arrogante.

— Higusa Amari. Segundo ano B... — disse a garota de cabelos curtos. Seu sorriso cínico fazia parecer que qualquer coisa que ela diga seja deboche.

— Ichika Yari. Segundo ano D... — respondeu a garota de longos cabelos castanhos.

Certo, todos aqueles que me encararam da outra vez são do segundo ano. Não preciso agir com formalidades por sermos do mesmo ano. A garota de tranças parecia que também iria se apresentar, mas Senjou a chamou de canto para discutir alguns tópicos.

Após saber mais sobre eles suspirei novamente. Levantei meu rosto e os fitei com uma expressão séria em meu rosto.

— Imagino que como ganhei a competição tenho o direito de pedir uma recompensa, certo?

Minhas palavras deixaram a todos confusos.

— Ah, entendo o que quer dizer! — exclamou Himura, arrancando risadas das duas garotas do segundo ano em rápidas piscadelas. — É normal querer pedir uma recompensa, não é? Trabalho duro tem que ser reconhecido mesmo, não é?!

— Mas querer uma recompensa não é algo grande demais? — debochou Amari.

— Sim, sim. Veja, aluno transferido. Pedir uma recompensa é algo legal, mas não sei se algo assim esteja em nosso alcance...

Esse cara está fazendo barulho demais, mas decidi entrar no jogo.

— Sim, isso mesmo. Mas como vocês também são do segundo ano não é algo que fuja do seu controle, então podem ficar tranquilos.

— Hum? E o que seria essa recompensa que você quer?

— Eu diria que é mais um pedido do que uma recompensa.

— Oh? Então é isso! Tivesse dito antes! Um pedido é algo que não há problema em cumprir, certo?!

Ele brandou a voz para as outras duas que se controlavam para não rirem. Aquele cara quis fazer algum número de stand-up, por acaso? Seus braços e corpo se moviam como um boneco inflável de posto de gasolina...

Mas todos caíram do jeito que eu queria.

— Então, refaçam essa porcaria de jornal... — proferi apontando para todas aquelas pilhas amarradas.

Aquela resposta gerou confusão em seus rostos. Eles se afastaram de mim como se tivessem descoberto que eu era alguma coisa radioativa, fala sério.

— Ei... do que está falando? Não podemos fazer isso... — murmurou Himura.

— Ora? É simples. Coloquem a redação de Yonagi que está naquela pilha na cesta de lixo. Acharam que eu não veria?

Eu não li a versão final da redação de Yonagi, mas sua letra caprichosa era algo que dava para se reconhecer depois que você a visse uma vez, pelo menos.

— Ei, não vem com essa... — questionou Amari, incrédula. — Não vai dar tempo... e... não fica se achando só porque ganhou da Yonagi, seu metido!

Aquela reação dela chegou a ser engraçada para mim.

— Ei, Amari. Se acalme... — Senjou Hana ouviu nossa discussão e tentava controlar Amari completamente enfurecida.

— Então basta arrancar as páginas que estão os textos. É mais fácil assim, não? — continuei a falar e assumi uma postura mais confiante. — Talvez essa edição do jornal fique até mais interessante.

— De onde você tirou isso? Porque está agindo assim? — exclamou Ichika, acuada.

A atmosfera daquele lugar ficou ainda mais pesada. Os alunos do primeiro ano ficaram reclusos em um canto da sala sem falarem nada.

— Por que não quer que continuamos a publicar seus textos? Foi você que venceu, não foi? Isso não faz sentido... — indagou Senjou. — Além disso, não devia estar feliz?

Eu me virei para ela de costas e a encarei. Sempre me diziam que com minhas olheiras viro um autêntico zumbi e acho que encarar um realmente pode assustar alguém. Notei o quão desconfortável a deixei quando a fitei seriamente.

— Tem certeza? Acha que não faz sentido uma pessoa se dedicar a produzir algo bem feito, refazer aquilo várias vezes e entregar magnificamente no prazo de entrega para ser a escolhida? Se realmente não acha isso, então vocês devem ser os piores tipos de trabalhadores neste mundo e não deveriam estar em uma escola como esta. Estão tomando o lugar de pessoas que pudessem ser mais interessantes do que vocês.

— O que está querendo dizer? — questionou a presidente, se encolhendo.

— Estou dizendo que não deveriam colocar algo trivial como sentimentos pessoais em uma disputa justa em pessoas que não têm nada a ver com isso. Hoje em dia, os padrões de inteligência e aparência são o que mais contam em uma competição. Neste caso, seria estranho uma pessoa que tem essas duas coisas perder, certo?

Após descarregar essas palavras notei que os alunos do segundo ano exalaram sua frustração externamente. Era como se emitissem um miasma tenebroso. Seriam eles seguidores da seita de alguma bruxa? De qualquer forma todos presentes ficaram irritados comigo, exceto os calouros.

— “Trivial”? Quem é você para dizer algo assim!? — retrucou a garota de cabelos trançados.

— Não importa o que sou já que qualquer um poderia chegar na mesma conclusão. — A encarei. — Era claramente óbvio que poderiam causar reclamações com os textos de Yonagi por não se entenderem, mas ao menos se esperava que agissem como quem entende do assunto e escolhessem a melhor opção.

Apontei novamente para o cesto de lixo.

— Fazer tal ação só prova que vocês não passam de incompetentes que não sabem diferenciar algo sério de uma brincadeira. É patético.

Os alunos do segundo ano se contorceram e Senjou Hana permaneceu cabisbaixa.

— Ou vocês não foram espertos o bastante para saber que ninguém desconfiaria que um completo estranho como eu conseguiria vencer uma estudante conhecida e que tem algum grau de popularidade? É só perguntarem pra qualquer um!

— E o que ganha se agindo como uma vítima?! — indagou Ichika. — Vai querer que todos achem que é um simples coitado, por acaso?

— Que golpe baixo... — enojou Amari.

— Você é simplesmente... desprezível... — disse Himura. — Se fizer com que a escola fique contra nós, vai se arrepender!

— Vocês me fazem rir desse jeito... — respondi. — Não são ameaças como essa que vão inibir o que fizeram.

— Nós não fizemos nada... — insistiu a garota de tranças. — É você que está dizendo tudo isso, nos alegando de algo que surgiu em sua cabeça.

— Você é um maluco! — grunhiu Ichika.

Não sabia dizer se foram as minhas palavras ou a personalidade daqueles presentes que deixaram aquele lugar pútrido. No entanto, era melhor não causar mais animosidade com o que iria dizer.

— Bom, não é como se não tivesse me dedicado. Essas olheiras não são algo de nascença e realmente passei noites sem dormir para poder entregar tudo. Tenho meu mérito por ter me esforçado, mas receber um mérito por algo injusto não é algo que quero!

Em seguida, apontei para a presidente do clube.

— Aliás, acho que o voto democrático é uma das melhores formas de se definir uma eleição. Mas quando a razão é algo catastrófica a culpa se torna de todos que votaram. Façam o favor de não envolver a minoria, eles também são importantes.

Dito isso me retirei da sala e fui para o corredor. Minhas mãos formigavam e por ainda estar nervoso. Decididamente resolvi voltar para casa depois de todas aquelas discussões.

Enquanto cruzava os corredores vi uma professora apressada seguindo em minha direção, ou melhor, em direção para o clube de jornalismo. Era a professora Harashima que aparentava estar aflita. Quando me viu ficou surpresa.

— O que veio fazer aqui, Shiroyama?

— Bem... vim tirar uma satisfação por conta do resultado... — disse sem rodeios. — Acho que eles não foram muito justos na decisão, sabe.

Ela suspirou aliviada, arfou seu peito devagar para conter sua correria.

— Então é isso... bem, obrigada. Era exatamente o que ia fazer... — respondeu exibindo um rosto de alívio. — Bom, já que você agiu da maneira pacífica, não tenho escolha senão agir da maneira mais severa...

De repente, o sorriso aliviado da professora se transformou em um sorriso sedento por sangue. Ela era algum tipo de assassina?

Soltei um suspiro caminhando em direção à saída. Ao passar pela professora, ela se virou para mim e disse: — Hum, você não vai para a biblioteca hoje?

— Já fui. A Yonagi está ocupada tendo que lidar com o caso da falsidade da redação. Ninguém aceitou o fato de ela não ter sido escolhida... — Ao falar aquelas palavras entaladas na garganta para alguém, no entanto, me deixou um pouco mais leve.

— Sei... — murmurou a professora.

— Além disso... — continuei a falar, me virando para ela mais aliviado. — ...aqueles desinformados nem ao menos conheciam meu rosto para notarem que era o próprio presente e só queriam saber da Yonagi. Não tem como ganhar algum status com isso, certo?

A professora começou a rir na mesma hora. Minha expressão debochada deve ter sido bem cômica mesmo. Sinceramente, fiquei irritado e aliviado ao mesmo tempo.

— Bem, e o que você irá fazer agora?

— Hein? Eu...? — indaguei confuso. — O que você quer que eu faça?

— Não. Não é o que eu quero que você faça. E sim, o que você acha que deve fazer. Aliás, o que você acha que irá acontecer agora?

Enquanto fitava o rosto da professora fiquei pensativo naquele instante.

— Bem, pensando nos eventos que aconteceram e do resultado... suponho que se os próprios alunos não gostaram do que foi decidido, então o jornal será refeito, certo?

— E pelo que estou vendo você está junto com a maioria de que isso que deve ser feito, então.

— Bem, mas é claro... — disse desconfortável. — Até mesmo eu sei quando perco justamente. Por mais que Yonagi não admita, ela se dedicou tanto quanto eu e ficou triste por não terem visto suas qualidades.

— Oh... então conseguiu ver através da personalidade orgulhosa dela... — analisou a professora, exibindo um sorriso satisfeito.

Eu podia estar pensando demais, mas parecia estar feliz por ter dito aquilo.

— Talvez seja melhor para que eu não me...

— Quem disse que era para tomar uma decisão evasiva? Eu não vou permitir! — interveio a professora, apontando para o meu rosto. Foi tão súbito que quase me engasguei e recuei alguns passos.

— Ora... não consigo ver outra solução senão essa... — disse, suando frio. — Se eles não tiverem outra pessoa para competir com a Yonagi não terão escolha senão escolherem as redações que ela fizer.

— Shiroyama... o problema é muito maior do que isso.

— Maior?

— Sugiro que vá para casa e pense melhor nisso. Se as relações sociais fossem assim tão simples não teríamos tantos problemas relacionados a corrupção e a conflitos de opiniões e gêneros.

Aceitei sua decisão apesar de não entender, apenas me despedi e segui meu caminho. Porém, antes mesmo de chegar em casa já descobri aquela resposta, o que me fez sentir um estranho gosto amargo na minha boca.

Como alguém desconhecido tinha que se meter em um problema desse? Certamente tem algo muito errado com a posição de cada um. Eles me chamaram de maluco, agindo com tanta presunção quanto deter a popularidade de Yonagi usando um qualquer.

Era claro como água que havia algo muito mais profundo do que aquela situação superficial. Assim como a professora disse, Yonagi era orgulhosa a ponto de ficar triste por não terem reconhecido seu esforço.

Vendo isso por fora não havia um motivo para devesse continuar a me envolver. Poderia usar aquela confusão para sair do clube e me isentar de qualquer tipo de responsabilidade.

Mas sabia o tipo de pessoa que eu era. Aquilo se tornou minha responsabilidade no exato momento em que me usaram como bode expiatório para infligir dano em uma pessoa de alto nível como a Yonagi e relevei os termos. Era frustrante admitir aquilo para mim mesmo.

— Não usem as minhas únicas qualidades para magoar os outros, seus malditos...

***



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