Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 1

Capítulo 1: A Análise de Yonagi Kaede ①

Toda vez que encaro o céu a noite me deparo com uma imensidão que não cabe em meus olhos. As noites poderiam durar para sempre, não? Os seres humanos não se comparam com a vasta luminosidade que os seres celestes emitem por entre os limites do tempo e espaço.

Ao fechar os olhos quando o sono chegou me deparei com uma vista clara dos anéis de saturno e de percorrer o cinturão que circula júpiter. Quando acordei, o som perturbante do despertador me livrou de uma viagem só de ida para o sol...

Toda aquela visão do sonho não saía da cabeça mesmo quando atravessava o aglomerado de atônitos pela estação ou através dos corredores da escola com seus próprios afazeres e preocupações. Aquela amargura de se sentir à parte de qualquer lugar que estivesse era o que me mantinha preso às minhas próprias intuições.

Aquilo era o que reconhecia como — margem da sociedade —.

A escola Daiichi foi condecorada como — escola de elite — após um projeto de implementação de alguns senadores locais de Chiba. A taxa de aprovação era assustadoramente baixa, com uma prova de conhecimentos gerais e específicos muito ampla. Sob intuito de formar alunos totalmente capacitados tanto no meio nacional quanto externo, aqueles que a adentrassem certamente teriam um futuro brilhante.

E assim, após a entrega do relatório meu ano letivo havia começado. A entrada da escola era sempre animada com a admissão dos novos estudantes, os calouros. Se um formigueiro fosse barulhento, com toda certeza seria daquele jeito. O aglomerado de jovens com seus blazers azuis marchava em grupos para o interior do local, como se fossem uma correnteza viva.

Havia se passado exatamente uma semana e estava do mesmo jeito de antes.

Completamente entediado.

— ...prazer em conhecê-los. — Finalizei meu discurso ao entrar na classe sem conseguir me expressar. Poucos me fitaram gaguejando, então permaneci em silêncio durante o decorrer das aulas.

Procurei me organizar da melhor forma pra causar uma boa impressão. Apesar de ser um calouro, ingressar no segundo ano no meio de tantos novos estudantes era um pouco incomum.

Se algo me acusasse de tal, primeiro seria o próprio uniforme. Ornamentos vermelhos eram para os alunos do primeiro ano, azuis para o segundo ano e verdes para o terceiro ano. Em segundo lugar, qualquer um que se afastava de mim pelo fato de estar com máscara.

Se uma pessoa não era inclusa em grupo algum era como se não existisse. Seja usando métodos relativísticos ou em experimentos como o Gato de Schroedinger a resposta seria a mesma. Aquelas relações pessoais entre colegas de classe não eram diferentes entre uma rua movimentada ou um cinturão de asteroides.

Mas não achei isso totalmente ruim.

Claro, não tinha como pedir ajuda com os afazeres e nem mesmo em pedir emprestado as anotações com alguém, mas foi algo que já havia previsto.

Na verdade, aquele era um dos objetivos de estar de máscara.

Uma coisa que as pessoas devem fazer é se preparar para o pior, como se entrassem em contato com zonas de turbulência constantes. O lado pessimista ou otimista era completamente irrelevante, pelo exemplo da Venera 1 enviada para Vênus em 1962 que durou por apenas uma semana sem trazer tantos resultados.

Logo, caso a pessoa se encontra em uma posição da qual não pode contar com ninguém, apenas poderá confiar em si. O que pode ser chamado de ego inflado o chamo de autopreservação, interprete como quiser.

Sem ter muitas pessoas por perto, não tive desfoco de atenção em nenhum momento nas aulas e acompanhei o ritmo da classe em poucos dias sempre prestando atenção nos erros que os outros faziam, corrigindo os meus.

E consegui demonstrar ótimo rendimento sem nem mesmo trocar uma simples palavra.

Apesar de estar em uma escola de elite era de conhecimento geral que as primeiras aulas seriam avaliativas para que os professores conhecessem o grau de cada aluno. Aquele era o momento propício de me adaptar a um sistema que me era desconhecido.

Mesmo com a alta quantidade de deveres notei que a maioria dos alunos lidavam com isso tranquilos, fiz uma anotação mental de que deveria alcançar este estado de costume severo deles se quisesse permanecer naquele ritmo perturbador.

Porém, enquanto me gabava das minhas peritas habilidades de percepção e análise havia chegado o momento em que meu estado sólido de isolação tinha rachado. Um grupo de pessoas da classe se aproximou de mim.

— Você se chama Shiroyama Hideo, certo? — disse um rapaz alto, tinha um porte atlético e um topete bacana. Droga, isso me fez lembrar dos meus braços esqueléticos.

— Ah, sim... olá. — Isso foi tudo o que consegui dizer.

— Sou Takahashi Kuroshima, pode-se juntar a nós se quiser. Nós podemos ajudar com o que puder.

— Sim, teríamos vindo aqui antes falar com você, mas... — disse uma garota de cabelos cinzentos que não parava de rir. Acho que seu nome era Nana. — Você estava parecendo um zumbi desde semana passada e nem se apresentou direito. E com essa máscara parece que está sempre doente!

O comentário fez o grupo todo rir. Até acabei esboçando um riso sem jeito para não parecer tão idiota quanto estava naquele momento. Ah, não tão idiota quanto aquele chamado Kusawabe ali no canto rindo pelos cotovelos...

— Ah... entendi.

Não me entendam mal. Até gostei que haviam ido falar comigo, foi legal. Porém, naquela semana de vivência já compreendia um pouco como aquele grupo se portava com aquele Takahashi como líder. Ele pregava peças em todo mundo e zombava de quaisquer assuntos fosse para ainda nas provas tirar as melhores notas, tinha uma resposta para tudo.

Sentia que aquele cara era uma pessoa que realmente vivenciava as suas experiências o máximo possível assim como todos do grupo. Viviam amontoados e se divertiam a todo instante.

Pensando nele, havia feito uma rápida comparação entre nossas aparências. Não era dependente do meu porte e rosto. Meus cabelos castanhos cresciam muito rápido que quase toda semana tinha que aparar as franjas. Não tinha nem um corpo atlético... em vez de prestar atenção em detalhes do tipo preferia pesquisar qual buraco negro estava mais próximo do nosso sistema solar.

Enquanto aquele grupo de pessoas observava meus padrões e provavelmente zombavam de mim em seus pensamentos a conversa prosseguiu: — nós notamos que você andou prestando atenção em tudo. — Disse Takahashi. — Apesar do que possa parecer te achamos interessante e deixamos de pensar que era apenas um zumbi.

Ora, ora. Parece que o conceito deles sobre mim melhorou um pouco.

— Entendo. Que bom — expressei.                                  

— É incrível ver um aluno transferido aparecer, ainda mais estando no segundo ano — expressou o garoto.

— ?

Fiquei surpreso e intrigado com aquelas palavras. Será que aquela escola não aceitava alunos transferidos com muita frequência? Haver transferências eram ocasiões não tão comuns e mesmo assim era algo considerado muito normal.

Será que estaria sendo considerado como alguém especial?! Não.

A julgar pela reação em seus rostos pude ver que era apenas um tópico novo na manchete de notícias diárias, nada extravagante.

Mesmo assim, aquilo ainda havia me chamado atenção.

— Vamos a atividade! — O professor de literatura se levantou e nos entregou formulários de redação gerando uma pequena comoção na sala de aula.

Parecia que a hora das atividades de classe iriam finalmente começar.

— É agora que as coisas começarão a ficarem chatas... — disse Takahashi sob um sorriso debochado. — Espero que seja interessante a ponto de causar algum tipo de entretenimento como alguém transferido, Shiroyama.

— ...

O que ele pensava que eu era, afinal? Um personagem de outro mundo com uma deusa inútil que faz magias de água?

Uma folha de redação estava à minha frente coberta de tópicos a serem abordados. Pelo canto do olho podia entender como o resto daquela classe ficou emburrada pela atividade, ainda mais depois que o professor estabeleceu um limite de trinta minutos para realizar a tarefa com penalidade de tiragem de pontuação.

Após apenas uma semana já estavam querendo aplicar atividades de grau tão elevado do tipo? Estávamos em um Exame Hunter ou participando de umas das fases da Prova Chuunin, por acaso?

Enquanto brincava com a lapiseira entre os dedos lembrei de quando adormeci preenchendo o relatório de entrada e dei risada. Aquilo poderia ser até a prova da NASA que ainda era o que estava esperando.

— Este é o momento. Hora de realmente falar com as palavras certas!

***

Cerca de uma hora depois me encontrava na sala dos professores embasbacado.

O professor de literatura estava eufórico conversando com a professora Harashima e ainda me fazendo ouvir toda aquela agitação enquanto processava assustado o que havia acontecido.

— ...quando pensei que faria o Takahashi me pagar por conta daquele debate inútil sobre como as pessoas deveriam se portar quando lidassem sobre questões democráticas esse jovem apareceu com uma redação incrível!

— Não diga? — Ela me fitou com um olhar travesso e esboçou um sorriso subjetivo. Ei, pare com isso. Estes tipos de expressões acontecem quando alguém está pensando em algum plano maligno sem contar que podem ser interpretados da forma errada.

O professor foi embora e restaram apenas nós. Olha, tinha a intenção de ganhar status com as minhas habilidades de escrita desde o início... só não pensava que seria de uma forma espalhafatosa como aquela.

Quando o professor comentou aquilo na sala de aula tinha até ficado feliz, mas em seguida todos começaram a me chamar de “zumbi escritor” e a dizer — Você parece que volta à vida quando mexe seus olhos! —. Só restava me dizerem que emito um miasma de bruxa a cada Retorno da Morte!

Quero morrer.

— Eu já devia imaginar que você seria bom com as palavras, mas isso foi bem impressionante. Era este tipo de impressão que queria causar?

— B-Bom, mais ou menos. Não pensei que seria algo barulhento assim, mas... acho que serviu.

A professora se inclinou na cadeira e cruzou os braços.

— Você realmente sabe como se portar e a quanto a responder o que se deve. Tem tudo isso na língua, mas sua comunicação ainda se mantém péssima.

— Bom, não é como se devesse ter uma preocupação encima disso, não é? — disse nervoso.

— Nada disso. É para isso que serve a escola, certo? — suspirou a professora. — Por mais que tenha boas habilidades de escrita, você deve reforçar suas habilidades de comunicação.

— Isso é realmente necessário? — falei descontente. Em vez de um elogio recebi uma aula sobre conduta...

— Você pode dizer o que quiser, mas aqui é uma escola de elite – proferiu ela. — Até mesmo as coisas mais simples devem ser tratadas com seriedade e comunicação é algo muito importante!

Não sei porque ainda insistia em discutir com uma professora de ciências sociais. Me encolhi após receber aquelas palavras como se estivesse sendo obrigado a comer um prato cheio de cenouras. Odeio!

— Além disso, expliquei a sua situação para a supervisora que está atualmente procurando um tempo livre para vir falar com você sobre a sua situação...

Engoli em seco.

— Mas isso é um assunto para outra hora... — Ela subitamente mudou de discussão e olhou para um bloco de folhas na mesinha que estava diante de nós: — Você ainda não se inscreveu em nenhum clube, não é?

— Ah, não. Eu ainda não tive tempo para escolher um...

Diante de tanto dever de casa para fazer e das noites sem sono havia me esquecido completamente daquilo. Se bem que pensava seriamente em não me juntar a nenhum para poder voltar para casa cedo.

— Certo! Vamos resolver as coisas com isto. Sabe, uma coisa que fazemos aqui é incentivar os alunos em suas melhores aptidões. Foi para isso que o professor Miyamura te trouxe aqui.

— Ah, não entendi muito bem, mas...

Honestamente não esperava muito sobre o que iriam fazer. Já havia ganho um prêmio de poesia no ensino fundamental e representei minha escola na época. Então, esperava algo do tipo quando entrasse no ensino médio, professor Miyamura!

Na verdade, era isso o que pretendia que fizessem ao ganhar suas atenções com minhas redações. E acabei recebendo uma comoção mais exagerado do que falar sobre satélites dormindo na classe...

— Apesar de ser um cabeça-dura em tentar parecer complexo gosto da maneira que procura se expressar — continuou a professora. — Você disse que não quer ter relações sociais com pessoas que só pensam na aparência, correto? Venha comigo.

A professora se encaminhou para os corredores e fui obrigado a segui-la. De alguma forma me sentia nervoso, talvez devesse ter desejado com mais intensidade que algo me abduzisse dali...

***



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