Volume 5

Capítulo 8: Sobre o Futuro à Seguir

“Você está bem?” — Perguntei baixinho.

   As lágrimas de Charlotte-san começaram a diminuir, sua respiração estava mais estável agora. Ela assentiu levemente e eu gentilmente limpei suas bochechas com o lenço que segurava.

“Obrigada, Akihito-kun.” — Murmurou ela.

“Não, é natural como seu namorado.” — Respondi, com a voz afetuosa.

   Ela balançou a cabeça levemente.

(Sophia) “Não por isso. Por apoiar tanto a Lottie. O motivo pelo qual ela está tão feliz agora é porque você estava lá por ela.”

   Suas palavras me pegaram de surpresa. Não parecia certo aceitar todo o crédito. — “Isso parece um pouco estranho.”— Admiti. — “Eu também tenho recebido muito apoio da Charlotte-san. Não de forma unilateral, mas sim por nós dois nos apoiarmos um no outro. É isso que me faz feliz.”

“Graças à Charlotte-san, consegui seguir em frente.” — Continuei. — “Só tê-la ao meu lado me traz alegria.”

   As bochechas de Charlotte-san coraram e ela olhou para baixo, claramente envergonhada. Mas seus dedos apertaram a manga da minha camisa — um sinal discreto de que ela estava satisfeita.

“Hehe, que relacionamento adorável.” — Interrompeu Sophia-san, com um tom leve. — “Bem, então, antes que a Kanon-chan chegue, devo compartilhar mais uma coisa importante? O motivo pelo qual me apressei para unir vocês dois, mesmo usando métodos forçados... Akihito-kun, eu sei que você estava curioso sobre isso.”

   Ela estava certa. Eu não havia expressado, mas a pergunta estava me incomodando. Sophia-san parecia tê-la percebido no fluxo da nossa conversa.

“Como esperado, havia um motivo para você ter se apressado, não é?” — Perguntei, com um palpite já se formando em minha mente. A questão do noivado.

“Sim, foi esse o começo de tudo.” — Confirmou Sophia-san, seu olhar se voltando para o teto com um ar nostálgico. — “Para ser sincera, Akihito-kun, me sinto mal, mas eu estava planejando confiar você à Kanon-chan.”

   Suas palavras me fizeram lembrar de algo. Eu tinha encontrado Kanon-san no parque, chutando uma bola de futebol que minha irmã mais velha tinha me dado. Era o dia seguinte à minha irmã ter saído do Japão. Kanon-san se aproximou de mim, toda sorridente, como se fosse por acaso. Eu não tinha questionado na época, mas agora me dei conta — ela tinha sido enviada para preencher o vazio.

“Fui eu quem te apresentou à Kanon-chan.” Continuou Sophia-san. — “Quando eu tive que deixar o Japão, não queria te deixar sozinho. Então pedi à Kanon-chan, que na época queria um irmão mais novo, para cuidar de você.”

   Eu não tinha percebido que tudo era orquestrado. — “Dito isso.” — Ela continuou. — “Eu não pretendia deixar tudo para a Kanon-chan para sempre. Meu plano era voltar para buscá-lo quando você fosse mais velho e fluente em inglês. Mas, vendo os relatos felizes de Kanon-chan sobre você, pensei que seria uma pena levá-lo embora.”

   Quando eu me tornei fluente em inglês? Não conseguia precisar, mas no ensino fundamental, conversas diárias não eram problema, graças à ajuda de Kanon-san e Kaguya-san. Elas até prepararam materiais de estudo para mim na instituição. Eu pensava que era uma série de coincidências, mas agora eu via a verdade: tudo era guiado. Muitas coincidências, como dizem, apontam para a inevitabilidade.

“Sinto muito por quebrar minha promessa.” — Disse Sophia-san suavemente. — “Mas para mim, a Kanon-chan também é como uma filha.”

“Como uma filha…” — Repeti. Sua expressão enquanto falava de Kanon-san era inconfundivelmente maternal. Kanon-san era apenas um ano mais velha que Charlotte-san e eu, mas Sophia-san a conhecia desde a infância, o que explicava o vínculo.

“Bem, pela conversa, deduzo que a Kanon-san é uma conhecida de infância.” — Eu disse. — “Mas isso significa que a família Bennett tinha laços com a família Himeragi?”

“Sim, desde que eu era jovem.” — Respondeu Sophia-san.

“...Eu não tinha laços...” — Charlotte-san murmurou, com a voz carregada de insatisfação. Era estranho, considerando essas conexões, que ela e Kanon-san só tivessem se conhecido recentemente.

“Não há muito que eu possa dizer, exceto que muita coisa aconteceu.” — Disse Sophia-san vagamente. — “Para começar, a Lottie nem sabia que eu era presidente de uma empresa, certo?”

“Hum... Eu não sabia até recentemente.” — Admitiu Charlotte-san. “Mas semana passada, no hotel, ouvi pessoas te chamando de presidente, então descobri...”

   Na semana passada, ela conheceu Kanon-san no hotel. Kanon-san ou Kaguya-san devem ter se referido a Sophia-san como Presidente Bennett. O fato de Charlotte-san não saber até então significava que Sophia-san havia escondido isso da própria filha.

“Parece muita coisa complicada.” — Resmunguei.

“Pode-se dizer que a situação atual nasceu de um emaranhado de várias coisas.” — Disse Sophia-san com um sorriso irônico. Parecia que tudo estava profundamente interligado. — “Já que você provavelmente vai perguntar, vou dizer primeiro: não contei para a Lottie porque não tenho intenção de nomeá-la presidente. Não importa como você veja, ela não serve para isso.”

“Ela é uma menina honesta e boa, afinal.” — Concordei. Charlotte-san fez beicinho com as palavras da mãe, mas eu não pude argumentar. Ela tinha um talento especial para unir as pessoas e era adorada por seus subordinados, mas seria facilmente explorada. Num mundo onde alguns ascendem explorando os outros, sua natureza confiante a tornaria vulnerável.

“Além disso, eu queria que a Lottie fizesse livremente o que ama.” — Acrescentou Sophia-san.

“Então, você estava planejando confiar isso a um parente?” — Perguntei. Talvez Emma-chan, embora sua natureza de espírito livre e coração reservado a fizessem parecer ainda menos adequada.

“Não, não há parentes.” — Disse Sophia-san. — “A empresa é maior que a do conglomerado Himeragi, mas nossa família não teve a bênção de ter muitos filhos. Até eu fui adotada.”

   A revelação me atingiu como uma onda de choque. Os olhos de Charlotte-san se arregalaram, refletindo minha própria surpresa. Talvez Sophia-san tivesse me acolhido porque viu seu próprio passado em mim.

“Conversaremos sobre isso mais tarde.” — Disse ela, acariciando a cabeça de Charlotte-san com um sorriso relutante. — “Por enquanto, é sobre o Akihito-kun.”

   Um tópico intrigante, mas para outra hora. Nesse momento, uma batida suave — três vezes — soou na porta.

“Posso entrar?” — Chamou uma voz clara.

“Claro, entre, Kanon-chan.” — Respondeu Sophia-san.

   A porta se abriu lentamente. Kaguya-san segurou a maçaneta, enquanto Kanon-san permaneceu no centro, curvando-se graciosamente. — “Até onde vocês já conversaram?” — Perguntou ela, deslizando para dentro com passos elegantes e acomodando-se no sofá, com o olhar fixo em Sophia-san.

“Desviamos um pouco do assunto, mas já abordei a maior parte.” — Disse Sophia-san. — “Embora ainda não tenhamos conversado sobre aquele assunto.”

“Entendo. Então eu mesma explicarei. É o mais adequado.” — Disse Kanon-san, com um tom resoluto.

“Sim, por favor.” — Disse Sophia-san. — “Correu bem na parte de vocês?”

“Sim, em grande parte conforme o planejado. Graças a você, Onee-sama.” — respondeu Kanon-san.

   A expressão de Charlotte-san mudou sutilmente, provavelmente irritada por sua mãe ser chamada de Onee-sama por uma garota da sua idade. Eu poderia imaginar que ela se sentiria da mesma forma se fosse minha mãe.

“Akihito, Charlotte-san.” — Começou Kanon-san, virando-se para nós e curvando-se profundamente. — “Primeiro, deixe-me pedir desculpas. Sinto muito por arrastá-los para nossos desejos egoístas.”

   Seu pedido de desculpas surgiu do nada, embora parecesse ter antecipado a direção da conversa. Charlotte-san acenou com as mãos freneticamente.

“N-não, hum...! Por favor, não se desculpe...!”

“Por favor, levante a cabeça, Kanon-san.” — Acrescentei. — “Tanto a Charlotte-san quanto eu entendemos que você estava fazendo isso por nós.”

“Obrigada a vocês dois.” — Disse Kanon-san, com um sorriso brilhante e tingido de alívio. Apesar de sua postura afiada e culta, ela era apenas um ano mais velha que nós, carregando suas próprias ansiedades sob a superfície.

“Por onde começar...” — Ela refletiu, depois se endireitou. — “Já que você já ouviu a maior parte, serei breve. Tudo começou há alguns meses, quando surgiu a ideia de encontrar uma noiva para o Akihito.”

   Momento perfeito — ela estava abordando exatamente o assunto que estávamos discutindo. — “Eu não aprovava.” — Ela continuou. — “Então procurei a ajuda da Onee-sama.”

“Ouvi falar do assunto do noivado do Presidente Himeragi recentemente.” — Eu disse. — “Mas por que surgiu de repente?”

   Se surgiu há apenas alguns meses, o momento parecia inadequado. Eu nem sequer havia sido reconhecido como parte do conglomerado Himeragi ainda. E, a julgar pelo olhar de Charlotte-san, percebi que tinha esquecido de mencionar isso a ela. Mesmo assim, ela provavelmente sabia que o assunto havia sido anulado após minha conversa com o Presidente Himeragi.

“A Charlotte-san sabe sobre a cota imposta a você?” — Perguntou Kanon-san.

“Mencionei brevemente que precisava de uma recomendação especial para uma determinada universidade.” — Eu disse.

“Que bom. Eu não tinha certeza se você compartilharia algo assim.” — Disse Kanon-san, com um tom provocador na voz.

“Ugh...” — Fiz uma careta. Se eu admitisse que não contei a Charlotte-san até recentemente, ela ficaria chateada?

“Por que essa recomendação especial foi imposta como condição?” — Perguntou Charlotte-san hesitante, com a curiosidade aguçada.

   Olhei para Kanon-san, que assentiu com um sorriso, sinalizando que não havia problema em explicar. — “Essa recomendação só é dada a alunos com notas excepcionais em uma escola específica.” — Eu disse. — “Disseram que, se eu fosse excepcional o suficiente para merecê-la, me reconheceriam como parte do conglomerado Himeragi.”

   Era um requisito exaustivo — apenas um aluno a cada poucos anos a conseguia. Mesmo depois de perder a esperança de cumprir minha promessa com Onee-san, eu estudei incansavelmente, movido pela necessidade de expiar a mágoa que sofri com Kanon-san no ensino fundamental e de provar meu valor a ela.

“Eles não precisavam te testar desse jeito…” — Disse Charlotte-san, baixando os olhos com compaixão.

“Não havia como evitar.” — Eu disse. — “Aquele presidente não aceitaria facilmente um órfão como eu.”

“No entanto,” — interrompeu Kanon-san — “suas notas neste verão provaram sua competência. Você obteve uma colocação de um dígito no simulado nacional, e as avaliações dos professores foram brilhantes. Seu histórico no ensino fundamental já era conhecido e suas chances de obter a recomendação eram altas. Então, eles começaram a se preparar para recebê-lo.”

   Surpreendentemente, embora o Presidente Himeragi alegasse não ter me reconhecido, ele reconheceu meu potencial nos bastidores. Sua postura era para me manter afiado ou era sua política reter o reconhecimento até que os resultados fossem finais? De qualquer forma, não importava agora.

“E é aí que o noivado entra?” — Perguntei.

“Sim.” — Disse Kanon-san. — “Casamentos políticos são uma maneira eficaz de fortalecer uma família. Como a família só tinha filhas, eles provavelmente viam um filho como você como uma oportunidade que não podiam deixar passar.”

   Sua frase me incomodava. Pelo que eu sabia, Kanon-san era filha única. Por que especificar “filhas”? Talvez fosse só para esclarecer.

“Só para confirmar.” — Eu disse. — “Minha noiva ainda está sendo procurada e ainda não foi decidida, certo?”

   Se não fosse finalizado, cancelar seria simples. Mas se fosse definido, poderia envolver uma terceira pessoa, complicando as coisas. Afinal, a questão do noivado de Kanon-san tinha sido complicada.

“Isso mesmo.” — Disse Kanon-san. — “Bem, a candidata mais provável era a Charlotte-san.”

““...O quê!?”” — Charlotte-san e eu dissemos em uníssono, nossos olhares se encontrando em choque.

   As palavras de Kanon-san, proferidas com um sorriso brincalhão, nos pegaram desprevenidos. Sophia-san também estava segurando uma risada, claramente se divertindo.

“Eu pensei que alguém tão esperto quanto o Akihito já teria descoberto.” — Provocou Kanon-san, com o sorriso se alargando. — “Mas você não percebeu?”

     ...Espere, para que serviram todos os nossos esforços?

“O-o que isso significa...?” — Gaguejou Charlotte-san.

“Para simplificar,” — Disse Kanon-san “o verdadeiro motivo pelo qual você, Charlotte-san, veio ao Japão, foi para se tornar noiva do Akihito.”

   Então Kanon-san havia providenciado tudo, provavelmente em coordenação com Sophia-san, e não diretamente com Charlotte-san. Ela havia mencionado pedir ajuda a Sophia-san antes. Mas então…

“É natural ficar confusa.” — Disse Kanon-san, com o tom sério agora. — “Quando surgiu a conversa sobre encontrar uma noiva para o Akihito, recorri à Onee-sama. Para impedir que meu pai agisse como bem entendesse e para proteger a liberdade do Akihito.”

   Sua sinceridade era inconfundível. — “O motivo pelo qual você não revelou que ela era candidata a noiva foi porque ainda não estava finalizado... certo?” Perguntei.

“Não, não é isso.” — Disse Kanon-san, balançando a cabeça. — “Se esse fosse o único motivo, eu teria dito que ela era candidata. O verdadeiro motivo era que queríamos que vocês dois se aproximassem sem a nossa interferência. Queríamos que se apaixonassem por vontade própria e tivessem o casamento que ambos desejassem.”

   Então esse era o plano delas. Graças a ele, eu estava namorando Charlotte-san e não podia reclamar. Na verdade, eu as devia gratidão.

“Posso imaginar por que a Charlotte-san era a principal candidata.” — Eu disse. — “Mas não foi o Presidente Himeragi quem não finalizou a negociação?”

   Como isso foi antes de Charlotte-san chegar ao Japão, a conversa sobre noivado deve ter ocorrido há pelo menos quatro meses. Com Kanon-san e Sophia-san de acordo, só o Presidente Himeragi poderia ter protelado.

“Como você disse, Akihito.” — Confirmou Kanon-san. — “Depois de vir ao Japão, a Onee-sama propôs ao meu pai que a Charlotte-san fosse sua noiva, mas ele não concordou.”

“Por quê?” — Perguntei. — “Um casamento político com uma família proeminente é o que o Presidente Himeragi quer, certo?”

“Ele estava cauteloso.” — Explicou Kanon-san. — “Meu pai conhece a Onee-sama há muito tempo e sabe que ela é perspicaz e capaz. Ele não acreditava que ela ofereceria a filha em casamento político, então ficou profundamente desconfiado. Além disso, a empresa da Onee-sama é maior.”

   Fazia sentido. Com o destino de sua empresa em jogo, Sophia-san não aceitaria um acordo com intenções pouco claras, especialmente de um parceiro menos poderoso.

“Mas, por esse motivo, ele não podia recusar categoricamente.” — Continuou Kanon-san. — “Ela é uma importante parceira de negócios de longo prazo, e nós  estaríamos em apuros se o acordo fracassasse.”

   Lembrei-me de Kanon-san sussurrando durante meu confronto com o Presidente Himeragi que o conglomerado Himeragi estava em uma posição mais fraca. Isso explicava por que a conversa sobre o noivado havia parado.

O Presidente Himeragi, apesar de mais velho, não conseguia controlar Sophia-san, uma prova de sua influência.

“Se tivéssemos ficado quietos, eu poderia ter convivido com a Charlotte-san sem problemas...?” — Perguntei-me em voz alta, sentindo que minhas ações poderiam ter sido desnecessárias.

   Mas Kanon-san balançou a cabeça. — “Não, mesmo que tudo corresse como planejado, havia uma grande chance de você se tornar um fantoche do meu pai. Além disso, eles poderiam ter escolhido outra candidata além da Charlotte-san. Suas ações foram corretas. É por isso que a Onee-sama e eu demos nosso apoio.”

   De fato, se eu estivesse enganado, Kanon-san teria intervido. Enquanto Charlotte-san apoiava todos os meus movimentos, Kanon-san intervinha se achasse que eu estava errado. Elas eram parecidas, mas distintas — Charlotte-san como minha namorada, Kanon-san como irmã.

“Obrigado…” — Eu disse suavemente.

“Não precisa me agradecer.” — Respondeu Kanon-san. — “É porque você trabalhou duro, Akihito. Sério... inclusive com Charlotte-san, você se saiu bem.”

   Seus olhos, calorosos e orgulhosos, me fizeram sentir como um irmão mais novo sob seu olhar. Foi um pouco constrangedor.

“Agora, já conversamos sobre muita coisa.” — Disse ela, enxugando os olhos com um lenço. — “Mas Akihito, o que você quer fazer de agora em diante?”

“O que eu quero...?” — Repita.

“Já que meu pai não está mais envolvido, você está livre.” — Disse ela. — “Chega de vigilância, e você pode se juntar à família Himeragi se quiser, ou viver livremente se não quiser. O conglomerado Himeragi te sustentará financeiramente até você conseguir um emprego. É o mínimo que lhe devemos.”

   Então eu tinha a opção de não me juntar ao conglomerado Himeragi — ou entrar sem atingir a cota. Mas algo que ela disse me chamou a atenção.

“Eu estava sendo vigiado...?” — Perguntei, com a voz tensa.

“Ah, bem, vamos deixar isso de lado.” — Disse Kanon-san, sorrindo nervosamente.

“Desde quando eu estava sendo vigiado...?” — Insisti, com suor frio se formando. Eu nunca havia notado nenhuma vigilância. Há quanto tempo faziam isso e o que eles tinham visto?

“Bem, desde o começo.” — Admitiu ela, desviando o olhar.

[Almeranto: Nós também estamos te vigiando o tempo todo. Uuuuuuh. Kkkkkk.]

“Desde o começo...?” — Repiti. — “Você quer dizer desde que comecei o ensino médio?”

“Não, desde que você começou a morar comigo.”

   A sala ficou em silêncio. Todo mundo tem segredos que prefere manter escondidos, e eu não era exceção. A ideia de que tudo isso — cada momento privado, até mesmo meus encontros com Charlotte-san — tivesse sido observado e relatado a Kanon-san me encheu de pavor.

“Eles pararam agora, certo...?” — Perguntei, agarrando-me à esperança.

“Claro que vamos impedir.” — Disse Kanon-san. — “Acho desnecessário, e privacidade é importante.”

   Se isso fosse verdade, talvez eu estivesse seguro. Por pouco. Eu tinha que acreditar que eles não haviam invadido minha casa. — “T-tá.” — Gaguejei. — “Vamos lidar com isso depois...”

   Me forcei a seguir em frente, desesperado para não me aprofundar mais. — “Para responder à sua pergunta anterior, antes de entrar ou não para o conglomerado Himeragi, quero ficar com a Charlotte-san para sempre de agora em diante.”

“Ah, Akihito-kun...!” — O rosto de Charlotte-san se iluminou, seu rubor se intensificando enquanto ela gentilmente pegava minha mão, claramente radiante.

“Hehe, que maravilha.” — Disse Kanon-san.

“Estamos torcendo por vocês dois.” — Acrescentou Sophia-san, ambas nos observando com sorrisos calorosos e satisfeitos. Não sobrou ninguém para nos separar.

“Quanto a entrar para o conglomerado Himeragi,” — eu disse — “você poderia primeiro me dizer o que pensa, Kanon-san?”

   Minha decisão não havia vacilado, mas eu queria a perspectiva dela. Kanon-san olhou para Sophia-san, que assentiu encorajadoramente, reforçando sua determinação.

“Quero que você se junte oficialmente à família Himeragi e se torne meu irmão mais novo.” — Disse ela, com o olhar firme.

   Nossos sentimentos se alinharam. — “Eu também quero entrar para o conglomerado Himeragi para ser útil para você, Kanon-san,” — Eu disse. — “Mudar meu sobrenome agora complicaria as coisas, então, por favor, me deixe fazer isso depois da formatura.”

   Curvei-me profundamente, revelando minha sinceridade. Kanon-san estendeu a mão, lágrimas de alegria brilhando em seus olhos. — “Finalmente... poderemos ser irmãos de verdade...”

   Ela me abraçou com força, seu calor me envolvendo. Ao meu lado, Charlotte-san congelou, e do outro lado da sala, o olhar penetrante de Kaguya-san me atingiu, mas eu tinha certeza de que não tinha feito nada de errado.

“Hum, Kanon-san... na frente de todo mundo...” — Murmurei, abafado.

“Não precisa ser tímido... bem, eu não posso dizer isso.” — Ela provocou, recuando. — “Você tem uma namorada.”

   Kanon-san deve ter percebido a reação de Charlotte-san.

   Com um sorriso sem graça, ela soltou minha mão gentilmente. O olhar de Charlotte-san vagou entre nossas mãos unidas e meu rosto, sua expressão presa em uma luta silenciosa. Foi um pouco constrangedor, mas...

“Não precisa se conter.,” — Eu disse suavemente.

“Ah—”

Um hálito quente escapou dos lábios de Charlotte-san enquanto eu a puxava para mais perto.

“Minha nossa.” — Provocou Kanon-san.

“Que ousadia.” — Acrescentou Sophia-san com um sorriso.

   Ter os olhos delas em nós — minha irmã e sua mãe — fez minhas bochechas arderem, mas eu já vinha colocando Charlotte-san em estresse emocional suficiente ultimamente. Até aí eu conseguia lidar. Os sorrisos delas só incentivavam, afinal.

“Devemos ir embora se estivermos no caminho?” — Perguntou Kanon-san, brincando.

“N-não, você não precisa ir tão longe...!” — Gaguejei, soltando Charlotte-san. Ela me lançou um olhar relutante, quase solitário, mas silenciosamente prometi mimá-la bastante quando chegássemos em casa.

“Então vamos continuar a conversa.” — Disse Kanon-san com um sorriso travesso. — “Para que a Charlotte-san possa se agarrar ao Akihito mais cedo.”

—!?” — O rosto de Charlotte-san ficou vermelho, como se um efeito sonoro de estrondo tivesse sido disparado, e ela abaixou a cabeça. Kanon-san realmente adorava suas provocações...

“Há uma coisa que eu gostaria de mencionar, se não se importar.” — Eu disse, mudando o clima. Até então, Sophia-san e Kanon-san haviam liderado a discussão, mas havia algo que eu precisava confirmar.

“Claro.” — Respondeu Sophia-san. — “O que é?”

“A Charlotte-san e eu já estamos namorando, e o problema com o Presidente Himeragi está resolvido. Então, Sophia-san, você vai voltar para casa de vez a partir de agora, certo?” — Eu entendia por que ela tinha se mantido afastada e, pelo que eu ouvira, não havia motivo para ela continuar se distanciando. Isso significaria o fim da minha coabitação com Charlotte-san, mas morar com a mãe delas era melhor para ela e Emma-chan.

“Claro.” — Disse Sophia-san. — “Pretendo voltar de agora em diante.”

“Obrigado.” — Era assim que deveria ser. Morando ao lado, eu podia ver Charlotte-san e Emma-chan a qualquer momento. Ou assim eu pensava...

“Então, aqui está a minha sugestão.” — continuou Sophia-san. — “Akihito-kun, por que você não mora conosco?”

   Pisquei, atordoado. — “V-você está falando sério...?”

“Se eu voltar, sua vivência com a Lottie terminará, o que seria uma pena. Além disso, quero cumprir a promessa que fiz a você há muito tempo.” — Ela falou tão casualmente sobre saber como vivíamos, mas eu deixei passar. Ela estava genuinamente considerando que eu morasse com elas. Mas... seria aceitável depender tanto assim?

“De qualquer forma.” — Interveio Kanon-san. — “O Akihito é oficialmente meu irmão agora, então vou morar com ele.”

“O quê!?” — Suas palavras atingiram como uma bomba, proferidas com o mesmo sorriso fácil. Mesmo sendo irmãos de verdade, não tínhamos laços de sangue. Morar sob o mesmo teto... erros podiam acontecer. Isso era permitido? Sophia-san, enquanto isso, sorria radiante.

“N-não, Akihito-kun, você não pode...!” — Charlotte-san puxou minhas roupas, com os olhos marejados de ciúmes. — “Morar sozinho com ela não está certo...!” — Ela devia estar com medo de que Kanon-san me roubasse. Se Kanon-san se mudasse, Kaguya-san certamente a seguiria, mas Charlotte-san não sabia disso.

(Charlotte) “Por favor, more conosco...!” — Implorou ela, com os olhos brilhando. — “Já que somos amantes, não deve haver problema algum...!”

   Kanon-san não estava brincando. Se ela decidisse morar comigo, ela faria acontecer, não importa o que acontecesse. Isso só deixaria Charlotte-san tensa e geraria mal-entendidos desnecessários. Acima de tudo, eu não queria desistir de morar com Charlotte-san.

“Então... Sophia-san,” — eu disse — “aceito sua oferta.”

   E assim, decidi morar com a família Bennett — e Kanon-san.

“Sim, acho que é melhor assim.” — concordou Sophia-san.

“Isso resolve.” — Disse Kanon-san. — “A casa já está pronta, então vamos nos mudar amanhã.”

“...Espere, vamos nos mudar?” — Suas palavras casuais me pegaram de surpresa, e não pude deixar de perguntar.

“O apartamento em que você está morando não acomoda tanta gente, certo? Preparei uma casa aqui perto, então você vai se mudar para lá.” — Por “preparei,” ela não queria dizer que a construíram do zero — isso teria sido impossível com o tempo. Provavelmente compraram uma casa vazia.

“Espere, o apartamento em que estamos morando...”

“Sim, é propriedade do conglomerado Himeragi.” — Explicou Kanon-san. — “O aluguel original era cômodo por cômodo, então combinamos para você e a Onee-sama morarem lá.”

   Entendo... isso explicava como colocaram Charlotte-san na casa ao lado. Eu simplesmente me mudei para onde Kanon-san me disse, sem nunca questionar.

“Uma casa significa que poderemos ter um gato, certo?” — Acrescentou Kanon-san.

   O quanto ela sabia? Seu sorriso estava começando a me aborrecer.

“Um gato seria legal...” — Murmurou Charlotte-san, com o rosto corado e sonhador. — “A Emma ficaria emocionada...” — Essa menina amava gatos também. Eu estava feliz com a ideia de um gato, então não tinha objeções. Emma-chan ficaria radiante.

“Além disso, a mudança não é apenas uma questão de espaço.” — Continuou Kanon-san. — “É também para garantir a sua segurança e a da Charlotte-san.”

“Ah...” — Ela estava certa. O problema com o Presidente Himeragi estava resolvido, mas ao custo de perder minha proteção contra a reação pública. Mesmo que algo acontecesse, eu planejava enfrentar com Charlotte-san. Mas nossa segurança não estava garantida. Kanon-san provavelmente tinha segurança de primeira linha, então eu deveria aceitar a ajuda dela.

“Você tem razão, Kanon-san.” — Eu disse. — “Podemos deixar isso com você?”

“Está resolvido. Charlotte-san, algum problema?”

“N-não...!” — Charlotte-san respondeu, com a voz animada. — “Contanto que eu possa ficar com o Akihito-kun, estou encantada...!”

“Hehe, ótimo.” — Disse Kanon-san. “Preparei uma cama king-size, para que vocês três possam dormir juntos, como de costume.”

     King-size... Eu nunca tinha ouvido falar disso.

“O quarto é grande o suficiente para vocês dois usarem confortavelmente, então não se preocupem.” — Acrescentou Sophia-san com um sorriso radiante. “Quando quiserem dormir sozinhos ou se aconchegarem, eu cuido da Emma.” — Até ela dizia coisas constrangedoras tão casualmente. Eu me perguntava se Sophia-san realmente queria dormir com a Emma-chan, mas como as irmãs costumavam dormir juntas, ela poderia se sentir sozinha sem ela. Dependia da vontade de Emma-chan, mas eu preferia que dormíssemos como três.

“Em um quarto vazio... só eu e o Akihito-kun...” — Charlotte-san murmurou, segurando as bochechas, com as orelhas vermelhas. O que ela estava imaginando?

“Obrigado por tudo.” — Eu disse. Parecia que estavam nos preparando para o casamento, mas suas bênçãos eram claras. Acima de tudo, eles estavam fazendo isso pensando nos nossos melhores interesses, e eu estava grato. Mas...

“Ah, certo.” — Disse Sophia-san. — “Há uma condição para morarmos juntos.”

   Parecia que as coisas não seriam tão simples. Considerando tudo o que elas tinham feito, eu me preparei para algo ultrajante.

“Qual é a condição?” — Perguntei.

“Tornar-se noivo da Lottie.” — Disse ela. — “Essa é a nossa condição.”

[Almeranto: “Você faria esse acordo? Eu faria esse acordo.”]

“Noivo...!?” — Meu rosto se aqueceu quando me virei para Charlotte-san. Seus olhos encontraram os meus, suas bochechas coraram enquanto ela timidamente puxava minha manga. Eu entendi suas palavras não ditas instantaneamente. Juntos, encaramos Sophia-san e Kanon-san.

“Sim, com prazer.” — Eu disse.

   E assim, Charlotte-san e eu ficamos noivos.

 

 

◆◆◆

 

 

“—Finalmente podemos relaxar, hein?” — Murmurei, sentado na cama de Kanon-san, meu olhar se suavizando ao observar a respiração suave de Emma-chan enquanto ela dormia. Charlotte-san, ao meu lado, descansou a cabeça em meu ombro, seus dedos apertando os meus enquanto ela se agarrava a mim.

   Kanon-san e Sophia-san se desculparam depois que nos acomodamos, dizendo que tinham assuntos a tratar. Provavelmente, estavam resolvendo as coisas com o Presidente Himeragi.

“Quando cheguei aqui, estava tão ansiosa com o que poderia acontecer...” — Disse Charlotte-san, com a voz leve de alívio.

“Mas para mim, acabou da melhor maneira possível.”

“Você quer dizer porque ficamos noivos?” — Provoquei gentilmente.

“Akihito-kun, isso é maldade...” — Ela estufou as bochechas, me encarando com um olhar brincalhão.

“Eu não estava tentando te provocar.” — Eu disse, rindo.

“Mas dizer isso em voz alta de novo é tão constrangedor...” — Seu protesto tinha um tom familiar, como se dissesse: “Você sabe disso.”

   Não se tratava apenas de nos tornarmos noivos, é claro. O fato de podermos continuar morando juntos e, acima de tudo, a percepção de que sua mãe não a odiava, deve ter tirado um peso enorme do seu coração.

“Estamos felizes, não estamos? Rodeados por pessoas tão boas.” — Eu disse, com minha voz carregada de gratidão. Pessoas como Kanon-san e Sophia-san eram raras neste mundo, e tínhamos sorte de contar com seus cuidados vigilantes.

“Sim, eu também acho.” — Concordou Charlotte-san, assentindo. Então, uma leve hesitação surgiu em sua voz. — “Mas...”

“Mas?” — Questionei, inclinando a cabeça.

“Eu gostaria que elas tivessem conversado mais conosco...”

“É... você tem razão.” — Kanon-san e Sophia-san haviam orquestrado boa parte disso pelas nossas costas, e era compreensível que sentisse que poderiam ter compartilhado mais. Dada a natureza gentil de Charlotte-san, eu entendia por que elas mantinham as coisas em segredo para nos aproximar, mas deveriam pelo menos ter sido francas sobre o pai dela. O silêncio delas levou Charlotte-san a interpretar mal os sentimentos da mãe, aumentando sua ansiedade. Ainda assim, a tendência de Charlotte-san de reprimir as coisas talvez tenha dificultado que Sophia-san percebesse.

“Mas também não fomos exatamente abertos uns com os outros.” — Admiti, esfregando a nuca. — “Não podemos reclamar. Vamos garantir que não guardemos segredos de agora em diante.”

“Sim, eu também vou falar direito.” — Disse ela, com sinceridade. — “É mais reconfortante assim.” — Não era exatamente aprender com os erros delas, mas cuidar um do outra significava conversar sobre tudo. Assim, poderíamos evitar mal-entendidos desnecessários e talvez até encontrar soluções que não tínhamos considerado. Toda essa provação provavelmente fortaleceu nosso vínculo.

“Ainda assim, fiquei surpresa.” — Disse Charlotte-san após uma breve pausa, mudando o tom de voz. — “Pensar que a pessoa de quem você falou era minha mãe.”

   Ri baixinho. — “Eu também fiquei chocado. Achei você parecida, mas nunca imaginei que fosse filha da Onee-san.” — Naquela época, Sophia-san não parecia ter idade suficiente para ter filhos, e eu nunca tinha ouvido falar que ela fosse casada ou tivesse filhos.

“Há uma coisa que me deixa curiosa...” — A voz de Charlotte-san tornou-se hesitante, seus olhos brilhando de inquietação.

“Hm?”

“Você não se apaixonou por mim porque eu pareço com minha mãe... certo...?” — Sua pergunta veio hesitante, como se ela temesse a resposta. Ela deve ter percebido meus comentários anteriores sobre meus sentimentos especiais pela Onee-san, e agora se preocupava se eu realmente a via. Ninguém quer se sentir como uma substituta.

“...Vou ser sincero.” — Comecei, encontrando seu olhar. — “Quando te vi pela primeira vez, pensei que você fosse minha garota ideal.”

   Seus olhos se arregalaram, um pequeno suspiro escapou de seus lábios. A admissão claramente a abalou. Eu poderia ter suavizado a verdade ou evitado a pergunta para poupá-la dos sentimentos, mas tínhamos prometido não esconder segredos. Além disso, ela provavelmente perceberia qualquer mentira. Então, escolhi expor tudo.

“Mas achar que você era minha garota ideal não significa que eu estivesse vendo a Onee-san em você,” — Continuei, com a voz firme. Sim, minha admiração por Sophia-san havia moldado meu tipo ideal, mas isso não significava que eu estivesse perseguindo a sombra dela. — “Você é mesmo filha da Onee-san, mas a Sophia-san é a Sophia-san, e você, Charlotte-san, é a Charlotte-san. Você não é uma substituta. Estou namorando você porque me sinto atraído pela sua gentileza, pela sua beleza — por sua causa. Preciso que entenda que não estou com você só porque você se parece com a Onee-san.”

   Sua aparência e voz chamaram minha atenção, sem dúvida. Mas foram suas qualidades interiores que me fizeram me apaixonar por ela. Eu não queria que ela me entendesse mal. — Embora, para ser sincero, eu tenha me apaixonado por ela à primeira vista, então sua aparência desempenhou um papel importante... Mas escolher estar com ela tinha a ver com quem ela era por dentro. Essa é a verdade.

“É mesmo...?” — Charlotte-san murmurou, com a voz trêmula de alívio. — “Fico feliz...” — Ela pressionou o rosto contra meu peito, seu calor me invadindo. Ela devia estar genuinamente preocupada.

“Desculpe por fazer você me entender mal.” — Eu disse suavemente, passando a mão pelos cabelos dela.

“Está tudo bem... Contanto que você esteja realmente me vendo, já basta.” — Sua voz ficou mais baixa, mais vulnerável. — “Eu só estava com medo de que, se você estivesse buscando minha mãe em mim, depois que se reunisse com ela, eu me tornasse... desnecessária.”

   Ela era tão negativa em relação ao amor, apesar de seu rosto encantador e personalidade que cativavam a todos. A falta de confiança dela mexia com meu coração.

“Isso nunca aconteceria.” — Eu disse com firmeza. — “Você é a pessoa mais importante para mim. Só ter você ao meu lado já basta.” — Eu já tinha dito isso antes, mas valia a pena repetir. Não importava quais dificuldades surgissem, contanto que ela estivesse lá, eu conseguiria enfrentá-las. Isso demonstrava o quanto ela me curava e me apoiava.

“Então... promete que nunca vai me abandonar...?” — Sua voz era baixa, quase suplicante.

“Estou mais preocupado com você me largando.” — Provoquei, tentando aliviar o clima.

“De jeito nenhum eu iria querer terminar com você.” — Disse ela, com as bochechas coradas. — “Mesmo estando separados por um tempinho, me sinto bastante solitária... Você me tornou completamente incapaz de viver sem você...” — Envergonhada, ela virou o rosto, suas palavras tão sinceras que certamente seriam mal interpretadas se alguém mais as ouvisse. Felizmente, Emma-chan estava dormindo profundamente e não entendia japonês, então estávamos seguros.

   Após um momento de silêncio, Charlotte-san começou a se mexer, lançando olhares furtivos para o meu rosto. Eu podia sentir o que estava por vir.

“Quer sentar no meu colo?” — Perguntei, com um sorriso cúmplice repuxando meus lábios.

   Ela assentiu ansiosamente, com os olhos brilhando. Como esperado, ela estava esperando pelo convite.

“Venha aqui.” — Eu disse, abrindo os braços. Normalmente, ela se sentaria de lado, mas desta vez, ela me encarou diretamente, nossos olhares se encontraram. A proximidade era... intensa, e um rubor subiu pelo meu pescoço.

[Almeranto: O sinistro se aproxima…]

“O que foi?” — Perguntei, tentando manter a voz firme.

“Achei que isso seria legal para variar um pouco...” — Ela murmurou, com as bochechas rosadas. Ela só queria experimentar algo novo.

   Por um momento, seus olhos se voltaram para a forma adormecida de Emma-chan, depois para a porta, examinando o quarto inquieto. Então...

“A-Akihito-kun, feche os olhos...” — Sua voz tremeu, seu rosto ficou vermelho enquanto fazia seu pedido.

   Eu sabia onde isso ia dar. Obedientemente, fechei os olhos. Um calor suave roçou meus lábios, gentil e familiar. —“Mm... mwah...” — Mas então, algo quente e macio passou por mim, entrando pela minha boca, movendo-se contra a minha língua. Uma sensação provocante e delicada — chocante e nova.

   Meus olhos se abriram de repente e encontrei Charlotte-san me encarando, seus olhos brilhantes e febris. Será que ela previu que eu abriria os olhos ou manteve os dela abertos o tempo todo? Antes que eu pudesse processar, ela fechou os olhos e aprofundou o beijo, sua língua entrelaçando-se à minha. Eu estava totalmente à sua mercê.

“—Pwah!” — Quando respirar ficou difícil demais, ela se afastou. Um fino fio de saliva se estendeu entre nós, sugestivo e fugaz, antes de se romper. Seu rosto permaneceu corado, seus olhos ainda brilhando intensamente, como se ela estivesse queimando de febre.

“C-Charlotte-san...” — Gaguejei, com o coração acelerado.

“Mais uma vez...” Ela sussurrou, suas mãos segurando meu rosto enquanto se inclinava novamente, lenta e deliberadamente.

   Seu interruptor estava totalmente acionado e eu estava perdendo o controle. “Ei, isso é demais...!” — Agarrei seus ombros, interrompendo seu avanço.

“Huh...?” Seus olhos, agora tingidos de tristeza, encontraram os meus.

   Eu queria deixá-la fazer o que quisesse, mas Sophia-san e Kanon-san poderiam retornar a qualquer momento. Um simples beijo poderia ser interrompido rapidamente, mas isso... isso era muito intenso. Seus beijos profundos eram avassaladores.

“O-olha, a Emma-chan pode acordar, e a Sophia-san e as outras podem voltar...” — Eu disse, tentando acalmar sua decepção.

   Ela ficou em silêncio, com a expressão desanimada. Ela provavelmente havia reunido imensa coragem para isso, e agora pensava que eu a estava rejeitando.

“Não é que eu não tenha gostado, okay?” — Apressai-me em explicar. — “Quando estivermos sozinhos, farei o quanto você quiser. Por favor, não fique tão triste...”

“Sim... me desculpe...” — Sua voz era quase um sussurro, e minhas palavras não pareciam alcançá-la.

“Sério, não é bem assim.” — Puxei-a para perto, acariciando sua nuca suavemente. Ela relaxou contra mim, sua tensão diminuindo um pouco.

“Achei que talvez estivesse tudo bem beijar assim agora…” — Ela murmurou, esfregando a bochecha no meu peito. — “Eu me empolguei... Ficarmos noivos me deixou tão feliz que não consegui me conter...”

“Fiquei feliz que você fez isso,” assegurei a ela. — “Só não é a hora nem o lugar certo. Vamos fazer de novo quando estivermos em casa.” — Eu não estava descontente — longe disso. Fiquei emocionado, mas o momento me forçou a me conter — Embora eu me sentisse um pouco patético por isso. Charlotte-san se movia com tanta ousadia.

“Quero ir para casa logo...” — Disse ela, com a voz carregada de desejo. Com o interruptor totalmente ligado, sua impaciência era compreensível.

   Continuei a acalmá-la e, depois de uns dez minutos, sua excitação desapareceu, substituída por uma onda de constrangimento.

“Se houvesse um buraco, eu pularia nele agora mesmo…” — Resmungou ela, pressionando o rosto contra meu peito, contorcendo-se de vergonha.

“Eu fiquei realmente feliz, sabe?” — Eu disse, tentando aliviar seu desconforto.

“Mas agora você acha que eu sou uma garota sem vergonha...” — Murmurou ela.

   Não ‘sem vergonha’, talvez... um pouco ousada?

Engoli o pensamento, sabendo que só a deixaria mais perturbada. — “Só eu sei, então você não precisa se preocupar.”

“Eu não quero que você pense isso acima de tudo...” — Protestou ela, com a voz abafada.

   Isso estava além do meu controle. Talvez ela se sentisse melhor se aceitasse? “Acho esse seu lado lindo e charmoso.” Eu disse gentilmente. — “Não é ótimo?”

“...Sério...?” — Ela me olhou, seus olhos marejados não mais febris, mas cheios de vergonha.

“Claro. Eu amo todas as suas versões.” — A frase era constrangedoramente melosa, mas eu falava sério. Se a acalmasse um pouco, já teria valido a pena.

“Se você disser isso, eu não vou conseguir parar...” — Ela murmurou, com a voz trêmula.

“Ah, bem, eu agradeceria se você parasse...” — Eu disse, coçando a bochecha. — “Não porque eu não goste, mas por causa dos outros assistindo.” — Eu não queria ser aquele casal, exibindo afeto sem se importar com o ambiente. ...Embora outros já pudessem nos ver dessa forma. Ainda assim, algum controle era necessário.

“Eu não tenho confiança...” — Ela admitiu, com a voz baixa.

“Você não tem, huh...” — Eu não podia argumentar contra isso.

“Eu te amo demais... Eu quero você inteiro...” — Suas palavras ecoaram o que Shimizu-san e Riku haviam dito — Charlotte-san me adorava profundamente. Nenhum cara poderia ficar infeliz sendo desejado assim, mas se Kanon-san ou Sophia-san nos vissem, nosso plano de morar juntos poderia ruir. ...Espera aí, somos noivos, então está tudo bem, né? Eu não tinha ideia de como reagiriam, nunca tendo estado nessa situação antes.

“Akihito-kun...” — A voz de Charlotte-san me tirou dos meus pensamentos. Ela se remexeu, os dedos indicadores pressionados nervosamente.

“Hum, o que foi?” — Eu me preparei, meio que esperando outro pedido de beijo.

“Já que somos noivos agora... quero que você me chame só pelo meu primeiro nome...” — Seu pedido me pegou de surpresa, mas fazia sentido. Ainda assim, chamá-la só pelo primeiro nome...

“Não gosto muito de chamar as pessoas só pelo primeiro nome,” — Admiti. — “Tudo bem continuar assim?”

“Mas você chama a Karin-chan só pelo primeiro nome...” — Ela apontou, com um tom insistente.

   Bem, sim, mas... — “Ela é minha irmãzinha.”

“Mesmo para uma irmã, você poderia usar ‘-chan’, mas não usa...” — Charlotte-san não recuava. Ela realmente queria isso.

“Hmm...” — Hesitei, ponderando o pedido dela. Talvez, como minha namorada, ela quisesse se sentir especial? Eu chamava as demais Kanon-san, Sophia-san e Kaguya-san pelos primeiros nomes com ‘-san’. Ela queria se destacar entre elas? Mas chamá-la pelo primeiro nome se sobreporia a Karin...

“Então, você vai me chamar só pelo meu primeiro nome também?” — Sugeri. Se ela queria essa mudança, parecia justo que fizesse o mesmo.

“E-eu também...?” — Seus olhos se arregalaram, claramente pega de surpresa.

“Sim, eu adoraria.”

“...” Ela parecia perturbada, com seu olhar percorrendo tudo. Então, balançando a cabeça, disse: “Eu não posso...”

“Mas é assim que me sinto.” — Eu disse gentilmente. — “Eu também não posso te chamar pelo primeiro nome.”

“Ugh...” — Seus olhos se encheram de lágrimas novamente. Ela queria tanto isso. Eu quebrei a cabeça em busca de uma solução — algo que não fosse o primeiro nome dela, mas que a satisfizesse.

Um apelido, talvez?

Emma-chan a chamava de Lottie, mas isso não seria especial o suficiente. Então me dei conta. Em um mangá que lemos juntos, havia uma personagem chamada Charlotte.

“Ei, Charlotte-san.” — Eu disse, chamando sua atenção.

“Sim...?” — Ela olhou para mim, com os olhos ainda marejados.

“Que tal... Charl?”

—!?

Sua expressão resignada se transformou em pura alegria. — “Charl...!” — Ela repetiu, com a voz transbordando de entusiasmo.

“Pode ser?” — Perguntei, sorrindo.

“Sim...! Charl é maravilhoso...!” — Sua alegria era contagiante.

“Então, Charl,” — eu disse, testando o novo nome “quero que você me chame por um apelido também.” — Eu gostava de ser chamada de Akihito-kun, mas já que estávamos fazendo isso, eu queria algo especial dela — algo que só ela usasse.

“Um apelido para Akihito-kun...” — Charl levou a mão à boca, sua expressão adoravelmente séria enquanto ponderava. Observei seu rosto fofo e pensativo, esperando pacientemente. Então...

“Que tal... A-kun...?” — Ela sugeriu, corando timidamente. Ela se curvou ligeiramente, olhando para mim com aqueles olhos irresistíveis.

     ...Fofa demais.

“Se você, Charl, quiser me chamar assim, tudo bem,” — Eu disse, com as bochechas corando. Era constrangedor, mas ela havia pensado tanto nisso. Eu queria homenagear seu esforço. Além disso, ela havia escolhido porque queria usar.

“Hehe... A-kun, A-kun.” — Ela falou em tom meloso, seu humor se elevando enquanto murmurava o apelido. Sua felicidade era contagiante, aquecendo meu coração.

“Bem, então, prazer em te conhecer novamente, Charl—mm.” — Incapaz de resistir à sua fofura avassaladora, inclinei-me para um beijo rápido. Segurar demais parecia errado, e isso deveria estar bom.

[Almeranto: Vish… Colocou lenha na fogueira.]

   —De uma perspectiva de terceiros, meu julgamento foi um completo erro.

“A-kun, isso é injusto... Mais um...” — Meu beijo a agitou novamente, seus olhos suplicantes. Já que eu o havia iniciado, não podia recusar — e foi então que Kanon-san e Sophia-san retornaram, nos pegando em flagrante no meio do nosso beijo.

 

Traduzido por Moonlight Valley

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