Volume 1

Capítulo 4: A Protagonista e a Vilã

Bem, várias semanas se passaram desde a cerimonia de entrada. Já tinha me acostumado com o estilo de vida da academia e, nesse meio tempo, não aconteceu nada de especial para um figurante como eu.

A protagonista já teria conhecido todos os personagens namoráveis se aquele fosse o jogo. Completada essa parte, seria a hora de começar a ficar mais próxima deles. Também existia a possibilidade de que a menina fosse mais espertinha naquele mundo, então será que ela já tinha escolhido em que alvo focaria?

Se fosse isso mesmo, não iria demorar muito para a vilã aparecer gritando: — Saiba o seu lugar. — Não conseguia me lembrar muito bem dos detalhes já que joguei pulando qualquer texto que apareciam para poder zerar mais rápido. De qualquer forma, eu iria deixar a história continuar rolando sem me envolver.

O pessoal já tinha se acostumado com a vida nos dormitórios e estavam começando a formar seus ciclos de amizade. O Daniel e o Raymond faziam parte do meu. O motivo disso era que, além de sentarmos perto durante as aulas, viemos de situações familiares muito parecidas. Por isso era fácil puxar conversa com eles.

Nós 3 estávamos sentados em um banco no pátio da academia, a gente conversava sobre o que planejávamos para a cerimônia do chá que teríamos que fazer em maio.

— Então, o que fazer primeiro? Talvez seja melhor pensar em quem convidar, não é?

Durante o feriado de maio, as garotas teriam uma folga, no entanto, era diferente para os homens. Aquele era o momento em que poderíamos convidar as meninas para uma cerimônia do chá, com o objetivo de nos tornarmos mais próximos.

Não era o tipo de evento onde uma pessoa podia sair por aí convidando todo mundo como um playboy faria. A parceira deveria ser uma mulher adequada, isso significa que ela tinha que vir de uma casa do mesmo ranque que a do garoto. Caso aceitasse, teríamos que preparar uma cerimônia apropriada e tomar cuidado para não fazer nada que desagradasse a convidada.

Aquilo já havia se tornado um evento não oficial na academia... Bem, os meninos tinham aulas que ensinavam sobre como receber uma mulher como um cavalheiro, dessa forma poderíamos tentar chamar a atenção delas durante o feriado de maio.

Raymond ficou com um pouco de raiva quando ouviu que aquela era a preocupação de Daniel.

— A gente tem a mesada que recebemos de casa, mas não é o suficiente para fazer nada incrível. Qualquer garota está boa para mim desde que aceite meu convite.

Ficar na academia custava dinheiro, não havia custos de moradia e alimentação, mas os meninos não tinham escolha a não ser gastar muito enquanto estivesse lá.

Eu tinha bastante dinheiro guardado, porém, isso não era motivo para sair torrando tudo. Queria usar o mínimo necessário para fazer aquilo. Por que gastaria tanto só para agradar uma mulher?

O único problema era que... se um homem não fizesse a cerimônia do chá, as garotas iriam começar a espalhar rumores ruins sobre ele, isso acabaria com a sua reputação, tornado a busca por uma noiva ainda mais difícil.

Mesmo que não tivéssemos interesse na convidada, havia a necessidade de fazer um bom evento. Assim como nós, garotos, possuíamos nossa própria rede de informações, as meninas tinham a delas. Se tornar inimigo das mulhers era o mesmo que pedir para ser excluído.

Isso só mostrava como os homens estavam em desvantagem. Não havia muitos problemas se uma mulher mais velha nunca tivesse se casado, por isso ficávamos a mercê delas.

E tinha mais um problema. Minhas conquistas acabaram se espalhando por todo o reino. As pessoas da academia sabiam que eu tinha conseguido um tesouro durante minhas aventuras e me viam como alguém rico por conta disso.

— Vou ter que mesmo torrar uma grana pra fazer um bom evento? Parece que não tenho escolha. Ah, como eu queria poder fugir dessa.

Enquanto nós 3 ficavamos depressivos por conta da cerimônia do chá, vimos o Julius, uma pessoa que só podia ser descrito como o vencedor na vida, caminhando com seus seguidores e um monte de mulheres o acompanhando.

Ao lado do príncipe estava seu melhor amigo, o guarda costas que cresceu com ele e era herdeiro de uma casa de viscondes — Jilk Fia Memoria. Um garoto com um cabelo verde escuro e comprido que fazia as pessoas duvidarem se era mesmo natural. Seus olhos verdes e calmos contrastavam com o olhar afiado do Julius.

Mesmo que viesse de uma família de viscondes, o menino era tão próximo ao príncipe que as pessoas os consideravam irmãos. Então era óbvio que, no futuro, seria dada uma posição de grande importância a ele.

As garotas que conversavam com os dois pareciam ter corações nos olhos. Os garotos que serviam e seguiam eles, vinham de condados importantes espalhados por todo o reino.

— Sua Alteza está pensando em preparam uma cerimônia do chá em maio?

— Eu queria muito ir.

— E-eu também!

Olhar para aquelas meninas tentando ser convidadas para a cerimônia do príncipe como cachorrinhos balançando o rabo, nos fez aceitar a realidade.

— Vai ser ainda mais difícil já que sua Alteza e outros grandes nobres estão matriculados esse ano... — disse Raymond, cobrindo o rosto com as mãos.

— Me desculpe por falar isso, mas a gente nem se compara a eles. — Daniel também parecia ter perdido as esperanças.

Havia uma garota que viu aquela cena de dar inveja e começou a ir em direção ao príncipe. Tinha vários seguidores atrás dela, então estava claro que seu status era alto...

Aquela era a filha de uma casa de duques — Angelica Rapha Redgrave. Uma menina com uma pele branca e bem cuidada, cabelos loiros que parecia brilhar enrolados em um coque. Contudo, o que mais chamava a atenção eram os seus olhos vermelhos. Aquele olhar penetrante dava uma forte primeira impressão nas pessoas, fazia elas sentirem que havia algo de especial nela. Era a mesma coisa com o príncipe.

Eu comecei me perguntar se a protagonista também era assim. Não havia dúvidas de que as pessoas veriam algo de diferente depois de conversarem um pouco. Senão o príncipe herdeiro, e os outros personagens namoráveis, nunca teriam se interessado por ela. Então mesmo que parecesse normal à primeira vista, aquela menina, a protagonista, devia ter uma aura única ao redor dela.

— Aquela não é a noiva de Sua Alteza Real?

As garotas que estavam cercando o Julius e o Jilk se afastaram o mais rápido possível. Pelo visto não era um grupo de idiotas que tentaria conseguir um convite na frente da noiva do príncipe. Na verdade, ninguém ousou abrir a boca, os olhos da Angelica ficaram um pouco afiados ao ver aquilo.

— Sua Alteza Real, gostaria de falar um pouco sobre a cerimônia do chá que acontecerá em maio. Teria um momento para conversarmos sobre isso?

Dentro da academia, diziam que ninguém deveria abusar da influência ou posição que sua família tinha, contudo era impossível que essa regra funcionasse no mundo real.

— Angelica, você está coagindo as pessoas ao nosso redor. Aqui é a academia — suspirou Julius

— Sim, sei disso. Porém... achei que a multidão estava barulhenta demais hoje, Sua Alteza Real.

Não tinha nenhum idiota que iria enfrentar a filha de uma família de duques, mesmo na academia. As garotas ao redor desviaram o olhar com vergonha.

— Acho que essa é mesmo a rival da protagonista. Dá para ver que ela será um inimigo difícil.

Enquanto eu falava sozinho, percebi que uma garota estava se aproximando daquele grupo. Cerrei os olhos quando percebi quem era. Se disséssemos que a Angelica era uma mulher linda, então essa seria considera uma menina fofa.

Ela tinha cabelos loiros, olhos azuis e era a filha de uma família de viscondes. Seu nome era Marie Fou Lafan. Uma pessoa que eu queria evitar qualquer contato se fosse possível. Ficava irritado só de olhar para a cara dela. Mesmo assim, esse sentimento não era de ódio, era algo mais complexo... não consigo colocar em palavras.

Jilk percebeu que a garota estava olhando para eles e avisou o príncipe.

— Sua Alteza.

? Ah, é a Marie. Ótimo, estava te procurando. Vem aqui rapidinho.

O príncipe sorria enquanto olhava para ela. As sobrancelhas de Angelica se levantaram ao ver aquilo. Quando um dos seguidores explicou quem aquela menina era em seu ouvido, a filha do duque não conseguiu esconder sua surpresa. A Marie foi em direção ao Julius, já que foi chamada, e o clima ficou ainda mais tenso.

— Posso ir para casa? — Parecia que o Daniel, com as mãos no estomago, queria sair correndo para longe de lá.

Uma discussão estava começando do nosso lado, entretanto, iriamos nos destacar muito se levantássemos naquele momento.

Raymond balançou a cabeça e disse: — Não. É melhor ficar parado até tudo acabar. Mas mudando de assunto, será que aquela é a garota dos rumores.

Que rumores?

— Você conhece ela, Raymond?

Fiquei curioso porque não tinha ouvido muito sobre a Marie antes, mas parecia que ela tinha ficado famosa.

— Você não sabia, Leon? O pessoal não para de falar dela. Essa foi a menina que deu um tapa em Sua Alteza.

Daniel ficou chocado ao ouvir aquilo

— Isso tem que ser mentira... não é? Falaram para mim que ela foi jantar com um grande nobre, pediu um bife e quase engoliu tudo de uma vez. 

Dessa vez foi o Raymond que se surpreendeu.

? Isso aconteceu mesmo? Não tinha ouvido esse rumor. Mas disseram que a Sua Alteza a perdoou pelo tapa com um sorriso no rosto.

Do nada eles começaram a conversar sobre como o príncipe era gentil. Mas essa garota não conhece o futuro líder do seu próprio país? E comer um bife inteiro como se estivesse morrendo de fome... Hein?

— Tapa... bife?

Acho que já vi isso em algum lugar, mas não conseguia lembrar o que era.

Foi então que a Marie falou com uma voz doce: — Você me chamou, Sua Alteza?

— É que, no mês de maio, os meninos costumam preparar cerimônias do chá. Como não quero fazer nada muito grande, meu plano é convidar apenas amigos próximos. Então gostaria muito que você fosse.

Ao ouvir isso, Angelica mostrou sua desaprovação. — Sua Alteza Real, também existem algumas regras para a cerimônia do chá. Não precisa ser nada muito grande, mas deve ter um tamanho adequado para...

Contudo, Julius não escutou. A situação me fez lembrar de uma cena especifica. Isso não é um evento obrigatório do jogo? Porém eu não conseguia ver a protagonista na área. Quando comecei a olhar ao redor tentando encontrá-la, o Raymond viu e ficou curioso.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não, é que eu ‘tô tentando encontrar uma pessoa... vocês viram a estudante bolsista por aqui?

Raymond também deu uma olhada no local e então balançou a cabeça.

— Parece que ela não está aqui. Em primeiro lugar, a estudante bolsista deve evitar esse lugar cheio de nobres. Bem, agora fica quieto. Espera essa tempestade passar antes de se preocupar com isso.

A gente não podia fugir. Vi alguns alunos andando em direção a aquele pátio, no entanto, todos saiam correndo quando percebiam que o clima estava estranho. Que inveja.

— Para com isso, Angelica. Aqui é a academia. Sou apenas um estudante nesse local. Você pode ser minha noiva, mas não há necessidade ficar interferindo na minha vida. — disse o príncipe, parecendo um pouco irritado com aquela discussão.

Ouvir aquilo deixou a Angelica sem palavras.

— Com licença...

Após dizer isso, ela deu uma última olhada na Maria antes de se retirar. Seus seguidores também encararam aquela menina com frieza enquanto saiam.

— Minhas desculpas, Marie, não queria que você tivesse passado por isso.

— N-não foi nada. Mas... está mesmo tudo bem se eu for?

Jilk levantou os ombros e disse com um sorriso: — Sua Alteza nunca gostou de formalidades. Ele deseja um evento mais casual. É obvio que queremos que você vá, Marie. Além do mais, nunca vi a Sua Alteza tão animada para convidar uma garota antes.

O príncipe ficou envergonhado ao ouvir aquilo.

— D-de qualquer forma, quero muito te ver lá. Bem, já está hora de irmos, Jilk.

Quando os dois começaram a sair, seus seguidores os acompanharam. Entretanto eles olhavam para Marie de uma forma estranha.

Daniel e Raymond começaram a relaxar quando aquilo finalmente acabou, mas continuei focado na expressão daquela menina. Talvez por ter achado que ninguém estava vendo, ela acabou deixando escapar por um instante. Foi mesmo muito rápido... porém, um sorriso sinistro se formou no rosto dela.

Decidi parar de olhar para aquela cena e fui embora junto com meus amigos.

***

Estávamos na aula de etiqueta para cerimônia do chá. O professor era um cavalheiro com um belo bigode, usava terno chique sobre seu corpo esquio e sua postura era elegante.

Uma mesa foi colocada na sala, havia doces e chá em cima dela. A lição daquele dia devia ser sobre como usar os utensílios de forma correta.

— Quando convidarem uma dama para o evento, lembrem-se de tomar cuidado com a maneira que se portam, entendido? Prestem atenção como falam e agem, pois a parceira conseguirá observar tudo isso. No entanto, aqueles que agirem corretamente, receberão muitos elogios da garota.

Os garotos sentavam em silencio, escutando o professor falar. Meu pai disse que ele também teve aulas com esse bigodudo, mas que esqueceu tudo quando se formou.

Bem, eu entendia a importância agir de maneira adequada em um evento formal, no entanto, será que as meninas daquela academia prestavam mesmo atenção nesses detalhes? As mulheres que iriamos convidar sempre andavam acompanhadas de escravos demi-humanos, seus amantes, para ficarem se exibindo. Eram elas que deviam prestar mais atenção na maneira com que se portavam.

— Ei, senhor Leon! Por favor leve essa aula mais a sério!

— O-ok!

Depois de responder o aviso, escutei algumas pessoas rindo da situação. Eram os herdeiros de casas nobres ricas ou daquelas que serviam a corte real.

— Ele é só um caipira mesmo.

— Fica se achando só porque teve um pouco de sorte em uma viajem.

— Esse tipo de bruto deve servir para ser um aventureiro, mas não para este lugar.

O professor ergueu os ombros e continuou com a aula.

— Um fator muito importante em uma cerimônia do chá é a atmosfera. Primeiro vocês devem preparar as ferramentas adequadas, nem pensem em fazer uma cerimônia em um quarto vazio! Sejam minuciosos na hora de escolher cada utensílio, só então convide a dama para a sala onde o evento irá ocorrer. Mas lembrem-se, a cerimônia será apenas algo de terceira categorias se não colocarem todo o seu coração na hora de preparar cada detalhe.

Essa lição tem algum sentido? Fiquei imaginado como aquilo seria inútil depois da formatura.

— Senhor Leon... acho que você ainda não entendeu. Então que tal descer aqui para que eu possa mostrar na pratica.

O bigodudo pareceu ter percebido o que passava pela minha cabeça. Como fui chamado, me levantei e fui em direção ao professor para atuar como um convidado. Não era nada demais. Eu, que não tinha o mínimo interesse naquele tipo de coisa, estava querendo saber o porquê das pessoas desperdiçarem tanto dinheiro em folhas de chá caras. Para mim era tudo igual.

Bem, para não causar mais problemas, achei que seria melhor guardar esses pensamentos para mim mesmo e fingir estar interessado.

Uau, mal posso esperar.

Talvez o professor tenha ficado motivado, arrumou a gravata e disse com um sorriso: — Espero que aproveite.

Então ele começou se vangloriando dos doces e das folhas caras. Continuei fingindo estar impressionado enquanto ria por dentro.

Realmente pensei que não seria nada demais...

***

A aula tinha acabado de terminar. Quando vi o professor sair da sala, corri atrás dele para poder falar o que senti.

Sensei1! Eu fiquei profundamente comovido!

Com a cabeça levantada, ele olhou para trás enquanto arrumava o bigode com orgulho. Que espetáculo. Até de costas era um cavalheiro perfeito.

— Senhor Leon, parece que você conseguiu entender.

Estou com vergonha de mim mesmo.

— Sim! Eu não conhecia a grandeza do chá. Não, isso não é desculpa. Estou envergonhado por ter sido tão tolo. Só agora consegui entender o seu valor. Sensei, um dia quero poder fazer a cerimônia do chá perfeita assim como você!

O professor acenou com um sorriso no rosto.

— Que ótimo. No entanto, você está errado.

?

Ele se virou, ficando de frente para mim, e então colocou uma mão no peito. Cada movimento daquele homem era elegante.

— A coisa mais importante é recebê-los com todo o coração. Estou apenas na metade desse caminho. Até o dia de hoje eu ainda não fui capaz de providenciar uma hospitalidade verdadeiramente satisfatória.

— N-ão acredito. Então isso quer dizer que nem o sensei é perfeito?

O professor concordou com a cabeça.

— Sim. Meu objetivo sempre foi atingir a melhor hospitalidade possível, mas ainda falta muito para chegar lá. Porém, eu ainda posso ensinar o básico. Senhor Leon, você gostaria de me acompanhar nessa jornada?

— Claro! Sensei... ou melhor, shishou2!

Enquanto o professor... quero dizer, meu mestre falava com um sorriso, era possível ouvir as vozes de Daniel e Raymond atrás de nós.

— Será que o Leon bateu a cabeça?

— Quem sabe? Bem, desde que ele não pire muito nisso, deve ficar tudo bem, não é?

***

Maio havia chegado. A pessoa que chamei confirmou presença, então reservei um quarto para o evento. Era uma das várias salas privadas que a academia preparou para os alunos usarem, a maioria dos homens faziam a cerimônia do chá nelas. Queria ter alugado um salão de festa inteiro, mas todos já estavam reservados quando fui atrás, então tive que me contentar com um local menor.

Comprei um conjunto completo de utensílios, chá e doces, seguindo as recomendações do mestre. Já tinha terminado a limpeza e o local já estava pronto para receber a convidada, então só faltava a garota chegar.

O Luxion flutuava no centro do quarto, observando o meu trabalho.

— Parece que você se esforçou bastante. Nunca imaginei que meu mestre, a mesma pessoa que pensou em contratar um profissional para fazer tudo a algumas semanas atrás, faria algo assim.

— Para de encher meu saco. E me avisa se encontrar alguma coisa fora do lugar.

Depois de dar uma última checada em tudo, tirei o meu relógio de bolso para ver quanto tempo faltava. A menina deveria chegar em menos de 10 minutos. Convidei a segunda filha de uma casa de barões.

— Não consigo entender esse mundo. Não seria mais fácil escolher quem tem a melhor informação genética para servir de parceiro?

— Isso é impossível por enquanto, já que ainda não temos a tecnologia para ver os genes.

— Então não tenho mais nada a dizer.

Assim que o Luxion terminou de falar, alguém bateu na porta.

— Oi~!

— Obrigado por... vir?

A garota chegou com uma atitude amigável. Não foi aquilo que me surpreendeu, o problema era que, atrás dela, tinha duas estranhas que eu não tinha convidado.

Ah, elas são minhas amigas. Viemos matar um pouco de tempo aqui. Sabe~, fomos convidadas para uma cerimônia do chá enorme que o herdeiro de um conde fronteiriço preparou, mas ainda não está na hora de ir.

Uma cerimônia do chá preparada por uma nobre influente seria basicamente uma grande festa. Pelo visto, essas garotas iriam ficar me enchendo o saco até que a carruagem estivesse pronta para levá-las.

— E-entendi. Bem, então quanto tempo vocês têm?

— Vamos sair em 30 minutos. A gente não tinha nada para fazer até lá, foi então que lembrei que um nobre tinha me mandado um convite e eu aceitei.

As outras duas se sentaram sem nem olhar na minha cara e começaram a comer os doces que eu tinha comprado

Ah, já pode ir preparando o chá.

As 3 ocuparam todo o espaço da mesa, não tive escolha a não ser ficar em pé. Elas tiveram uma conversa animada sobre a festa que iria acontecer mais tarde enquanto me mandavam preparar mais chá e doces como se eu fosse um servo.

Quando chegou a hora, o grupinho saiu sem nem agradecer e, para piorar, deixaram um monte de comida espalhada em cima da mesa.

— Nossa, cansei~. Os doces estavam gostosos, mas as garotas não vão ficar felizes se você não comprar os mais caros, preste mais atenção nisso na próxima vez.

A garota deu esse conselho e saiu agindo como se tivesse feito uma coisa boa no final. O trio estava bem animado enquanto ia em direção a cerimônia do chá que elas consideravam mais importante.

Deixei meus ombros caírem e sussurrei: — Esses doces foram preparados hoje de manhã na loja. Gastei um bom dinheiro neles, mas essa menina está dizendo para eu pagar ainda mais... — Quando vi a mesa toda suja por causa da comida espalhas, eu olhei para o teto. — Shishou... o caminho do chá é mais longo e difícil do que imaginei.

Enquanto limpava me sentindo frustrado, ouvi uma voz vindo do lado de fora. Parecia ser uma briga entre alunas.

— Saiba o seu lugar!

— M-mas, meu convite...

— Ninguém quer você lá, plebeia!

Escutei os passos de várias pessoas. As garotas estavam dizendo: — Vamos logo, a carruagem já está saindo. — Enquanto andavam.

Dei uma olhada no corredor porque pensei que aquela “plebeia” seria a protagonista. Estava esperando ver alguém com muita presença, uma pessoa que poderia competir com a Angelica... no entanto a jovem caída no chão traiu as minhas expectativas. Aquela era apenas uma menina sem nada de especial.

Um cabelo castanho claro cortado acima dos ombros, olhos verde azulados que davam uma impressão gentil, o completo oposto da vilã. Porém, mesmo que fosse bonita, continuava sendo apenas uma garota normal.

— Será que ela é do tipo que só brilha depois de ser polida? Mesmo assim, essa menina parece bem mais simples do que imaginei.

No meio do corredor está um convite rasgado. Luxion, que tinha fingido ser um enfeite até o momento, flutuou acima do meu ombro para checar a situação.

Hm... Isso é o que chamam de bullying? Deve ser porque ela entrou na academia sem ser uma nobre. Vários estudantes não conseguem aceitar o fato de que há uma plebeia dentro da escola.

— Bem, é basicamente isso. Mas... ela parece muito normal.

Quando vi àquela garota entristecida recolhendo os pedaços do convite rasgado, me fez olhar para o que sobrou no quarto. — Será que tem o suficiente para mais uma pessoa? — disse isso enquanto contava os doces e as folhas de chá que restavam. Não conseguiria ignorar aquela cena na minha frente.

— Ei, você ai! Gostaria de uma xicara de chá?

Tentei chamá-la de uma forma amigável, assim como um playboy faria. A garota, a protagonista do jogo, levantou a cabeça e fez uma expressão de surpresa quando me viu.

***

Diferente da última vez, eu consegui fazer uma verdadeira cerimônia do chá para a nova convidada.

Hm... então você também foi convidada pelo herdeiro daquele condado.

— Sim. Ele disse que não seria ruim ter uma conversa com a estudante bolsista. Mas as pessoas falaram que não pertenço àquele lugar e não deixaram eu ir...

A fragrância do chá combinava muito com os doces que comprei. A protagonista tentou se segurar quando ofereci, no entanto, não demorou muito para a mão dela timidamente começar a pegar alguns.

Um sorriso apareceu naquele rosto triste quando o primeiro doce entrou em sua boca. Diferente das garotas de antes, fiquei feliz em vê-la comer. Aquela cena tinha feito todo o trabalho para monta a cerimônia valer a pena.

A protagonista ficou assustada quando viu o chá que preparei.

— E-essa não é uma folha bem cara? Eu posso mesmo beber isso?

Nossa, adoro essa menina... Quem foi o idiota que falou que a protagonista era espertinha? Não deu para ver que ela é só um doce de pessoa?

— Isso é muito para uma pessoa, então ter alguém para beber comigo vai ajudar bastante. Mas voltando assunto, parece que as coisas têm sido difíceis para você.

Não queria me envolver demais, porém, eu queria saber com qual personagem ela estava. Seria interessante saber a rota que a protagonista iria escolher... Além disso, senti que alguma coisa estranha estava acontecendo.

— Fiquei feliz quando fui convidada e estava bem animada para ir... mas parece que não tem jeito mesmo. — Um sorriso triste se formou no rosto dela.

O herdeiro do conde fronteiriço — aquele que estava fazendo a enorme cerimônia do chá — era provavelmente o Brad Fou Field. Um narcisista rico com um longo cabelo roxo. A família dele tinha grandes lotes de terra, muito mais do que a maioria dos senhores feudais. Em outras palavras, ele era uma daqueles grandes nobres. O tipo de pessoa que nunca iria se envolver com uma casa pequena como a minha

Brad era do tipo que pensava muito antes de fazer um movimento. Acho que podemos considerá-lo um bom estrategista, uma pessoa que se daria bem comandando um exército. Mas para mim aquele cara era só um narcisista bom em magia. Mesmo que fosse ótimo para batalhas de logo alcance, era um inútil em combate corpo-a-corpo. E isso parecia incomodar muito ele no jogo.

Senhores feudais tinham uma forte tendência de se gabar sobre suas habilidades marciais, ainda mais que em magia... Era quase como os cavaleiros que se vangloriavam sobre a quantidade de armadura que conseguem suportar.

O Brad ficava muito incomodado com isso, já que era o herdeiro de um conde, e sempre ficava nervoso quando alguém tocava no assunto. Simplificando, esse cara era um pé no saco. Espera um pouco, agora que pensei direito, todos os personagens namoráveis eram assim.

— Seria melhor se eu não tivesse vindo para essa escola, não é? Estou dando o meu melhor para aguentar, mas parece que todo mundo fica incomodado com a minha presença... não sei porque permitiram a minha matricula. — A protagonista do jogo, Olivia, disse essas palavras enquanto olhava para baixo.

Parando para pensar, no começo, as estatísticas dela eram baixas, o que fazia a parte da academia um pouco difícil. Julius e os outros deveriam estar lá para apoiá-la, mas, por algum motivo, Oliva daquele momento ainda estava sozinha...

Aquela situação era muito estranha. Mesmo que a maioria dos alunos estivessem excluindo a menina, os personagens namoráveis deveriam estar conversando com ela. Será que essa realidade é mesmo diferente da do jogo?

Já que tentei não me envolver com a história e como tínhamos aulas diferentes. Pensei que tudo estava indo de acordo com o jogo. Não precisava ser a rota de Sua Alteza, qualquer uma já estaria boa.

Mas, pelo que entendi naquela conversa, a garota tinha ficado sozinha por mais de um mês. Não consegui deixa de me sentir mal por ela. Uma vida escolar sem nenhuma parceira para o casamento já era ruim, imagina sem nem um amigo.

Bem, do ponto de vista dos garotos da turma avançada, ela não era uma noiva adequada. O status social dela era muito baixo. Nós, que estávamos freneticamente tentando encontrar uma parceira, não tínhamos tempo para nos associarmos com uma plebeia. Os personagens namoráveis já tinham noivas, por isso que possuíam tempo livre para poder conversar com a protagonista... Que inveja.

Já as garotas não conseguiam aceitar o fato de que uma menina com uma posição tão baixa estava estudando sob o mesmo teto elas. Achavam a própria existência dela algo repugnante... esse era o motivo do bullying.

Contudo, tinha algo estranho. Já era maio, então a Olivia já deveria ter se encontrado com todos os alvos. E teve aquele evento forcado de antes. Foi então que me lembrei, me lembrei da Marie e daquele sorriso sinistro no rosto dela.

Hm...

Por algum motivo o rosto da Olivia ficou vermelho, deve ser porque eu fiquei muito tempo em silêncio pensando. Talvez ela tenha achado que fez algo de errado. Como seria bom se aquelas garotas egoístas aprendessem um pouco com essa deusa.

Quem foi o cuzão que chamou a protagonista de espertinha? Vou quebrar o cara na porrada.

— Só estava pensando um pouco. Bem, é a primeira vez que uma estudante bolsista entra na academia, as pessoas ainda não se acostumaram com isso, então não leve as palavras delas a sério.

— Entendi, acho que você está certo. — disse Olivia enquanto acenava com a cabeça.

Meu conselho não pareceu ter convencido ela. Bem, era impossível para alguém como eu melhorar o humor de uma pessoa com apenas algumas palavras. Não tinha muita experiência de vida e, mesmo que tivesse sido um adulto na minha vida passada, nunca fiz nada que pudesse impressionar os outros.

— Acha mesmo que posso ficar aqui?

? Mas é claro que sim — respondi no mesmo instante.

Afinal, você é a protagonista desse mundo. Não que eu me importe sobre suas relações atuais. Não... De jeito nenhum. Mas... se quiser falar sobre isso, não ligaria também.

— P-porque você acha isso? Todos os dias eu escuto as pessoas falarem que não pertenço a este lugar.

Aquilo parecia algo obvio para mim, no entanto, a Olivia não conseguia aceitar. Então tive que inventar uma desculpa para tentar convencê-la.

— Bem, é que... Isso mesmo! A sua matricula foi uma decisão conjunta da academia e do palácio real! Você não pode reclamar da posição que foi colocada e nenhum aluno tem o direito de julgar se você pode ou não ficar aqui.

Os olhos da protagonista tremeram freneticamente.

— M-mas as pessoas vão...

— Se não aguentar, pode sair por vontade própria. Mas esses alunos que ficam falando para você sair não podem fazer nada, quem decide isso é o pessoal lá de cima. Quando alguém vier te encher o saco, é só mandá-lo ir reclamar para eles. Tenho certeza de que a maioria vai calar a boca quando ouvir isso.

E mesmo que continuem incomodando, os personagens namoráveis com certeza iram protegê-la, então tudo ficaria bem. Sim... provavelmente.

Contudo, aquela conversa tinha me deixado um pouco preocupado. Será que a situação continuaria igual a do jogo mesmo ela não tendo se encontrado com nenhum alvo até o momento?

Olivia abriu a boca bem devagar e começou a falar: — Eu... quero aprender mais sobre a magia. Mas não entendo muito bem como a academia funciona e não conheço nada sobre os costumes dos nobres...  Até mesmo estudar está sendo difícil, as pessoas ficam escondendo e rabiscando os meus materiais.

Existiam várias regras implícitas que os garotos seguiam, então devia ser o mesmo para as garotas... Não, elas com certeza tinham punições mais graves e regras mais difíceis de entender. Não as conhecê-las iria trazer muitos problemas para a vida escolar da pessoa.

Parando para pensar, no jogo, havia uma cena onde a vilã criticava a protagonista por ser uma ignorante nesse assunto. Naquele momento os personagens namoráveis estavam lá para ajudá-la, entretanto... a Olivia que estava na minha frente não tinha ninguém para ficar do lado dela. Eu não podia ficar parado e deixar ela naquela situação, então tive que pensar em como resolver aquilo.

— Também não conheço muito bem os costumes das meninas... Ah, parando para pensar, conheço alguém que talvez possa ajudar.

— Sério?! — Um sorriso brilhante se formou no rosto da Olivia.

Pelo bem dessa menina, decidi chamar a minha irmã, a segunda filha. Seria um problema se eu não conseguisse usá-la de vez em quando, já que aquele escravo não foi barato... Bem, finalmente encontrei uma forma dela pagar parte do que me deve. E aquela mulher sempre se mexia quando o assunto era dinheiro, então ela iria explicar tudo, mesmo que não quisesse.

***

Preparei um pouco de chá para a Jenna. Queria muito usar uma folha barata ou colocar alguma coisa nojenta no meio, no entanto, me contive quando imaginei o rosto do meu mestre. Meu coração ficaria partido caso fizesse esse tipo de coisa em uma cerimônia do chá.

Aquela era a irmã irritante. Atrás dela estava um escravo alto com orelhas de gato cruzando os braços.

— É bem raro você me chamar, irmãozinho idiota.

Eu dei uma risada de desprezo.

— Te dou meus parabéns por ter respondido mesmo sabendo o motivo. Ok então, agora ensine os costumes das garotas para ela.

Me sentei enquanto falava para a Oliva não se preocupar.

Minha irmã colocou a mão na cabeça e disse: — Eu não ligo de ensinar isso, mas... o que você ganha por ajudar a estudante bolsista?

Não tinha nenhum benefício direto para mim, porém, a felicidade da Olivia iria ajudar a salvar esse país no futuro. Não havia nenhum mal em fazê-la ficar endividada comigo e, acima de tudo, esse era o mínimo que eu podia fazer por ter pegado o Luxion, algo que iria pertencer a ela.

— É por isso que odeio pessoas que só pensam em sair ganhando. Que tal fazer uma boa ação de vez em quando?

A Jenna estalou a língua quando ouviu aquilo. Foi graças a mim que a minha irmã conseguiu comprar um escravo bonitão para ser o seu amante. Sabendo muito bem que eu também não tinha ganhado nada com aquilo, ela começou a explicar para a protagonista.

— Entre as garotas da sua sala... você ao menos se apresentou para aquela com o maior status?

Olivia balançou a cabeça e disse: — Não consegui nem chegar perto dela.

— Então comece enviando uma carta adequada para ela. E também é um costume preparar um presente quando for fazer isso. Se muitos seguidores acompanharem essa pessoa, peça para um deles ser o intermediário. Escolha alguém que tenha uma posição alta no grupo e lhe de a carta junto com o presente. Ah, lembre-se de investigar o que essa menina gosta antes de comprá-lo.

Quando ouvi o que minha irmã falou um pensamento surgiu na minha cabeça.

— Isso não é só suborno?!

— Você é muito barulhento. É assim que as coisas funcionam por aqui. De qualquer forma, nem pense em enviar dinheiro ou algo barato. Isso só iria piorar a situação. Doces ou chás de lojas famosas são as escolhas mais seguras. Mas tenha certeza de investigar antes para não acabar comprando algo que ela não gosta.

A mão da Olivia, que estava anotando tudo aquilo, parou de repente.

— E-eu não tenho dinheiro o suficiente para is...

— É só fazer esse meu irmãozinho idiota pagar por tudo. Ele já se deu ao trabalho de me chamar até aqui, então fazer isso não vai ser nada — disse Jenna virando seu olhar para mim.

Fiquei surpreso quando ouvi aquilo. Estava quieto, pensando que aquela conversa já não tinha nada a ver comigo, e, de repente, ela me vem com essa.

— E-espera um pouco...

— Se a receber uma resposta dizendo que ela quer te encontrar pessoalmente ou te agradecer pelo presente, significa que deu certo. Tudo o que você precisará fazer a partir daí é ficar quieta na sua e então poderá se formar sem mais problemas. — Continuou Jenna, ignorando minha reação.

Olivia olhou para minha com os olhos cheios de lágrimas.

— Não se preocupe... eu vou pagar por tudo.

— Muito obrigada mesmo. Definitivamente irei retribuir esse favor!

Ver a protagonista dizendo aquelas palavras de agradecimento, me fez pensar em como as garotas daquela academia deveriam aprender a ser gentis como ela. Mas lembrei que aquilo era impossível quando olhei para a minha irmã sentada comendo os doces como se fosse a dona do lugar.

Quando eu estava prestes a mandá-la embora, ela mandou um sinal para o seu escravo. O bastardo com orelhas de gatos começou a vir em minha direção, então sai correndo o mais rápido possível daquele lugar. Tentar ganhar de um homem-fera no quesito força era algo que só um idiota faria.

***

Alguns dias depois, a Angelica chamou a Olivia. Ela bebia o um chá preto de forma elegante enquanto a protagonista assistia sem saber o que fazer. Ambos, a xícara e o conteúdo, eram coisa que o Leon tinha preparado.

Angelica colocou a xícara na mesa, agindo como se aquilo fosse apenas um objeto comum, enquanto envia um olhar penetrante para a Olivia.

— Não sei quem explicou isso, mas irei elogiá-la por ter feito uma apresentação adequada. Essa foi a atitude correta a se tomar para poder encontrar alguém com uma posição superior. A academia não é lugar para pessoas como você. Porém, saiba que irei aturar a sua existência caso você continue quieta no seu canto.

A academia era local estranho, isolado do resto do mundo. Havia algumas regras implícitas que só existiam lá. A “apresentação” que a Olivia fez era um exemplo disso. Ninguém forçou ela a fazer aquilo, no entanto, a partir daquele momento, a vida escolar dela seria mais fácil.

A protagonista não tinha nenhuma influência ou alguém para apoiá-la. Era a pessoa com a posição mais baixa na academia inteira.

— E-então... isso quer dizer que você me permite continuar na academia?

Quando ouviu as palavras preocupas da Oliva, Angelica fez uma cara de surpresa, como se tivesse acabado de lembrar de algo. Havia várias seguidoras que estavam na sala, mas a filha do duque fez um sinal para que todas saíssem. Quando as duas ficaram sozinhas, ela começou a falar com um tom muito mais gentil que o anterior.

— Você só devia ter acenado com a cabeça, bebido o chá e voltado para o seu quarto. Isso era tudo que precisava fazer... Agora que você fez uma pergunta as coisas se tornaram um pouco mais complicadas.

Hein?

Angelica soltou um suspiro e, por algum motivo, uma expressão cansada apareceu em seu rosto.

— Você realmente achou que eu iria tentar te expulsar? Me desculpe por dizer isso, mas sendo honesta, nunca me interessei pelo assunto da estudante bolsista e não tenho tempo livre para ficar me envolvendo com isso.

A Angelica acabou falando algumas coisas a mais quando viu a Olivia preocupada.

— Prefiro muito mais você aqui do que aquela mulher que continua tentando ficar mais próxima da Sua Alteza Real.

— D-desculpa... o que disse?

Ah, não foi nada.

Angelica mostrou um pequeno sorriso para a Olivia. Aquela expressão era mais apropriada para alguém da idade dela.

Uma pessoa ambiciosa e difícil de irritar, essa era a imagem que a Olivia tinha de Angelica. No entanto, ela já se descontrolou e a acabou gritando várias vezes na academia.

— Estudante bolsista, quem foi que te ensinou sobre a apresentação? Ah, não me leve a mal, não tem nenhum problema em ele ter feito isso. Só estou curiosa para saber quem ajudaria a estudante bolsista, já que a maioria dos alunos prefere não se envolver com você. Estou mesmo interessada em saber quem foi.

Os garotos estavam muito ocupados procurando noivas e quase não tinham tempo livre enquanto as meninas não gostavam dela. A Angelica queria apenas descobrir quem foi que ajudou a garota.

A Olivia ficou um pouco preocupada, mas acabou falando o nome do Leon e contou que ele chamou sua irmã mais velha para explicar tudo.

— O terceiro filho dos Bartfort? Ele é excêntrico mesmo. Bem, eu gostei dessa atitude dele.

— Já tinha ouvido falar dele antes?

Angelica fez um pequeno sorriso.

— Você não sabia? Esse menino é um dos cavaleiros mais promissores da atualidade. Não vou mentir, fiquei chocada quando ouvi que ele tinha conquistado sozinho o título de barão. Não há dúvidas de que essa pessoa alcançou o sucesso que todo aventureiro sempre almejou. Ele é realmente incrível. E mesmo assim, parece que a sua personalidade não é ruim. Talvez seja uma boa ideia criar uma oportunidade para que a Sua Alteza Real possa conhecê-lo. 

Olivia teve uma sensação estranha quando viu a Angelica sorrir depois de dizer aquilo.


Notas:

1Sensei quer dizer professor em japonês.

2Shishou quer dizer mestre em japonês.



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