Volume 1

Capítulo 1: Razões para Lutar

Já se passaram 10 anos desde que recuperei as minhas memórias e agora estava nos meus 15. Quando percebi que o cenário malfeito daquele otomege tinha se tornado realidade, não consegui controlar minha raiva. Bem, ficar nervoso era a única coisa que eu podia fazer. Embora não gostasse desse mundo, ainda precisava me preocupar com o meu sustento.

Mesmo que fosse um nobre, era pobre e morava no interior. Quando estava em casa, ficava na maior parte do tempo trabalhando como fazendeiro para ajudar nas finanças da casa.

Isso fortaleceu o meu corpo com o passar dos anos. Meu rosto acabou ficando bem mais robusto se comparado ao da minha vida passada. Mas ainda mantinha o cabelo preto e olhos escuros.

Não consideraria meu rosto como bonito ou feio, mas, nesse mundo estranho criado para garotas, os caras bonitões estavam em toda a parte. ‘Tá impossível ter alguma característica que me destaque! Nada chamaria atenção, não passo de um figurante aqui.

Tinha uma boa relação com o meu segundo irmão, ele estava no continente, estudando na academia do reino, vivendo em seus dormitórios. O quarto que costumávamos compartilhar agora era usado por mim e pelo o meu irmão caçula 6 anos mais novo, Colin, o quarto filho. Eu estava lendo uma carta enviada por Nicks, nela estava escrito: Está difícil encontrar uma noiva

Nesse mundo era considerado um problema se um homem não casasse antes de sair da academia. Se continuassem solteiros até os 20 seriam considerados produtos defeituosos. Era ainda pior para nobres. Plebeus teriam menos problemas, mas no nosso caso, se não achássemos alguém até os vinte, seríamos excluídos da sociedade.

Era um mundo estupidamente difícil para homens. Podia apenas rezar para que meu irmão encontrasse logo uma parceira.

Não ser casado teria efeito na sua carreira profissional e tiraria as suas chances de crescer na vida. A maioria dos nobres seriam expulsos de suas famílias, nenhum em toda a linha de sucessão podia escapar disso. Se o primeiro não pudesse suceder, um deles seria o substituto. Os produtos defeituosos eram sempre descartados.

E piorava, os filhos que não herdassem o título já teriam poucas opções de emprego no futuro. A maioria iria para o exército ou viraria um funcionário público. Alguns, os mais sonhadores, tentavam medicina ou coisa parecida. Era sempre bom achar algo que fosse bom para sociedade e sua população. Caso o contrário poderiam ser excluídos.

Os que não conseguissem uma esposa seriam tratados como servos ou no exército ou no governo. Não poderiam nem sonhar em ter sucesso e nunca conseguiriam achar um trabalho melhor. Sua reputação só pioraria com o passar do tempo.

Nesse mundo, casamento era algo de extrema importância para homens.

— Mesmo se ignorar isso, continua sendo um mundo muito difícil de viver.

Guerras, piratas aéreos, monstros… haviam batalhas por todos os lados, fazendo a mortalidade de cavaleiros e soldados ser alta. Os casais costumavam ter muitos filhos porque sabiam que vários iriam morrer.

Contudo eram os homens que deveriam lutar quando a hora chegasse. Mesmo assim, as mulheres eram aquelas com mais poder… Homens lutavam correndo risco de vida, a mortalidade era alta, mas éramos tratados de forma bem precária.

— Esse mundo é muito bonzinho com as mulheres.

Sentia que a situação era distorcida por causa do cenário daquele otomege. Um lugar ótimo para mulheres, ainda melhor para filhas de nobres com o ranque de barão ou superior.

— Será que a situação só melhora para caras bonitos e com boas famílias como os personagens namoráveis?

Queria chorar se o motivo para as mulheres serem superiores foi por conta de um cenário mal escrito.

Porque tive que reencarnar logo nesse mundo? Essa pergunta aparecia todo o dia em minha cabeça… minto, pensava nisso só de vez em quando. Em primeiro lugar, minha vida tinha sido bem ocupada, já não me importava muito com isso, faziam 10 anos desde que recuperei a memória… estava acostumado com a situação.

Dentro do quarto, Colin estava deitado na cama, dormindo. Seu rosto era inocente.

Se colocássemos de uma forma mais pessimista. Nós, os filhos que não herdariam o título, éramos apenas substitutos.

Quando entrássemos na academia seríamos apenas figurantes, dois dos vários personagens que serviam de apoio. No melhor dos casos, teríamos uma ou duas falas. Figurantes A e B, esses eram nossos papeis. Nunca havia ouvido falar do nome Bartfort no jogo.

— Um figurante… acho que é a melhor forma para me descrever.

Não queria admitir, contudo, sou do tipo que aceita a realidade. Além disso eu não estava cheio de ambição para fazer algo grande ou crescer na vida. Já que sou um figurante, vou simplesmente aceitar isso.

Mudando de assunto, entrarei na academia a partir do ano que vem. Uma vantagem que tinha nesse mundo era que os nobres podiam se matricular nela. Senti um pouco de receio quando pensei que estava apenas seguindo as configurações daquele jogo, mas ainda era grato por ter a chance de virar um militar ou funcionário público.

Era a melhor oportunidade para sair deste território à procura de uma noiva, a academia ajudava muito nobres como eu. Se não saísse desta ilha, meu destino seria um casamento forçado.

Não me preocuparia se fosse alguém da minha geração, até mesmo alguém nos seus 20, no entanto, a chance de isso acontecer era quase nula, se continuasse aqui acabaria me tornando o marido-de-fachada para uma senhora com 30 ou 40 anos

— Quando penso nisso fico muito grato pela chance de entrar na academia.

Olhar para o meu irmãozinho Colin que dormia profundamente me fazia sentir que no final tudo daria certo.

***

— En-entrevista de casamento? O que quer dizer com isso?

Tinha sido logo após o café da manhã. Perdi a calma quando descobri o porquê de ser chamado para o escritório da mansão. O motivo era a esposa oficial, Zola Fia Baultfault, que estava sentada no sofá com um papo de entrevista de casamento. Meu pai, sentado na cadeira como sempre fazia, tinha um rosto que mostrava seu desconforto.

Não consegui me controlar quando recebi os documentos que continham a foto da possível noiva junto a seus antecedentes. Meu pai também parecia incomodado, mas depois de olhar para Zola, ele tentou esconder os seus sentimentos e se virou para mim.

— Zola trouxe uma proposta de casamento. Parece que uma conhecida dela está procurando um marido-de-fachada.

A esposa oficial começou a reclamar depois de beber o chá mais caro que tínhamos. Ela disse: — Coisa baratas não servem para meu paladar refinado.

— Não, não posso aceitar isso! — falei para Balcus, enquanto ignorava as reclamações.

O problema era que tinham escolhido a pior parceira possível. Era a filha de uma casa de barões — com mais de 50 anos — a mulher já tinha passado por 7 casamentos e ainda tinha filhos, todos mais velhos do que eu.

Zola bateu a xícara na mesa e olhou para mim. Podia ver que ela estava irritada.

— Você deveria me agradecer. Ela é filha de nobres da corte real e sua família tem um longo histórico de serviço para o reino. O que lhe deixou insatisfeito?

O que me deixava insatisfeito? Tinha que fazer a pergunta inversa, era estupidez pensar que havia algo que me satisfizesse nessa situação. Espera, talvez essa mulher fosse apenas retardada. Em primeiro lugar, quem continuaria usando o título de filha aos cinquenta anos!?

— Porque trouxe essa conversa de casamento sendo que nem entrei na academia?

Era uma regra não falada de que nobres se casariam depois da graduação. Devia ser dessa forma por causa do jogo, mas continuava sendo um costume. Essa era, provavelmente, a razão de metade dos alunos não se formar.

As únicas exceções eram casamentos por motivos políticos e outros casos específicos. Mas mesmo nessas duas situações, geralmente, o casal teria apenas um noivado durante seus anos na academia.  

Uma entrevista de casamento não era um caso específico. A candidata era filha de uma casa de barões, contudo, ela não tinha nenhuma herança. Para ser mais especifico, ela era a sobrinha da família principal, o que a tornava apenas um relativo distante.

Esse seria seu oitavo casamento… era óbvio que tinha alguma coisa errada com essa entrevista.

Zola ficou mais nervosa, o tom da sua voz aumentou.

— Posso permitir que o segundo filho entre na academia. No entanto, não há necessidade de mandar o terceiro. Mesmo que a matrícula fosse gratuita, existem várias coisas que irão precisar de dinheiro durante sua estadia.

Eu encarava essa mulher enquanto meu pai se desculpava.

— Sinto muito que isso esteja acontecendo com você. É verdade o fato de termos pouco dinheiro. Mas temos como nos manter com você indo ou não para a academia — disse ele, olhando apenas de relance para Zola.

Não importa o que disserem, não irei aceitar isso.

— Mesmo que vá para a academia, não irá conseguir um emprego. O certo será se casar para o bem da família. Seja grato por conseguir um. Até consegui uma vaga como soldado no exército só para você, espero que dê o seu melhor — explicou Zola se inclinando no sofá.

Foi aí que percebi… essa mulher estava querendo que eu morresse no campo de batalha. Quando soldados morriam lutando pelo bem do país, suas famílias receberiam uma compensação. Para plebeus o pagamento era feito apenas uma vez, mas era um pouco diferente para nobres. A casa seria honrada por ter lutado pelo seu país e, para piorar a situação, a compensação era anual. A única coisa que a Zola queria era o dinheiro e a reputação que ganharia com minha morte.

Os documentos diziam que todos os seus maridos antigos tiveram uma “morte honrosa”. Nem ao menos tentaram esconder isso de mim. Que tipo de idiota iria aceitar o casamento depois de perceber isso

— Não. Eu me recuso.

Zola bateu as mãos na mesa e levantou depois de ter ouvido minha resposta.

— Silêncio! Você é apenas o terceiro filho! Se for um homem é melhor que trabalhe para sua família.

Essa mulher… Vinda de uma família que vivia na capital do reino, a “capital real”. Diferente dos senhores feudais, a casa dela era de nobres da corte real que trabalhavam para o palácio. Já que ela não queria abandonar os luxos da cidade grande, meu pai tinha que ser o responsável pela sua residência e arcar com os custos de vida dessa vadia.

Tínhamos que mandar dinheiro para ela mesmo com a nossa renda sendo baixa, mas essa mulher não se importava com isso e continuava a agir de forma arrogante.

Mesmo assim Balcus não podia se separar, isso arruinaria sua reputação e iríamos ofender a família dela. Se isso ocorresse nossa situação ficaria ainda pior. Por isso que tínhamos que aturá-la.

Usei cada neurônio do meu cérebro para tentar descobrir como resolver aquela situação. Foi então que me lembrei. Eu conhecia tudo sobre o jogo — tudo sobre esse mundo — e já estava ficando cansado daquela vida depois de 15 anos, não seria essa a melhor hora de usar essas informações?!

— Então… estaria tudo bem se tivéssemos dinheiro?

— Oh? Não é algo que esperaria ouvir de um inútil que não pode fazer nem um único centavo.

Já se olhou no espelho? A parasita da família Bartfort que aproveitava a vida na capital me chamou de inútil?

— Seria rude recusar uma entrevista de casamento. É melhor parar se acha que apenas conseguir dinheiro para as despesas será o suficiente — disse Zola.

Não entendendo o que se passava na minha cabeça, meu pai também mostrou sua desaprovação. Entretanto, as suas palavras não foram muito convincentes.

— Leon, você ainda é jovem. Se apressar e fazer algo assim é…

— Silêncio! Homens com mais de vinte anos nunca irão encontrar uma parceira! Além de não agradecer por eu ter encontrado uma esposa tão rápido, você ainda reclama… É por isso que odeio moleques do interior.

Era meio absurdo colocar a culpa no interior. Antes que eu pudesse falar algo meu pai tentou me defender.

— Tente pensar em como essa criança se sente. É claro que recusaria se casar com alguém em seus cinquentas. A diferença de idade é quase 40 anos.

Se tornar o marido-de-fachada de uma mulher que tinha filhos mais velhos do que eu. Era óbvio que não aceitaria essa situação. Até mesmo para um mundo em que as mulheres dominavam, essa entrevista de casamento, que Zola dizia ser irrecusável, era algo que qualquer um acharia estranho.

Uma família onde minha esposa e meus filhos seriam vários anos mais velhos do que eu… sentia um frio na espinha só de pensar.

— Se ele conseguir o dinheiro… será possível parar com essa conversa de casamento, não é? — suspirou Balcus.

— Oh? Não pensava que você tinha os meios para fazê-lo. Se isso for verdade, preferiria que aumentasse a quantidade que enviam para mim — disse Zola, se sentando violentamente e cruzando as pernas.

Não generalizaria dizendo que todas as mulheres desse mundo eram como essa pessoa. Contudo, sentia nojo dessa vadia só de olhar para ela. Nesse mundo a imagem das mulheres, principalmente das nobres, não poderia ser pior.

Balcus colocou uma mão na cabeça. Um tempo depois olhou para baixo e falou com receio: — Nos dê um pouco de tempo. Vou achar uma forma de conseguir o dinheiro.

Doía no meu coração ver meu pai desanimado daquele jeito enquanto tentava fazer o impossível.  Esse mundo era mesmo cruel.

***

Quando Zola foi embora, apenas eu e Balcus ficamos no quarto.

— Aquela mulher nos fez preparar um navio apenas para isso. Também tivemos que fazer as preparações para sua estadia, me sinto mal só de pensar nos custos. Pai, porque teve que casar logo com ela?

Já que ela vivia na capital, tínhamos que fazer as preparações necessárias quando essa mulher vinha. Além da aeronave, tínhamos que arcar com os custos de sua estadia e alimentação. Também tínhamos que cobrir seus gastos durante a viajem.

Meu pai podia parecer patético por aceitar essas condições, mas havia motivos para termos que suportar isso.

— Não fique bravo. Esse casamento foi algo necessário. É o meu relacionamento com Zola que nos permite viver pacificamente. Não há saída para essa situação.

Balcus pensava que devia ser grato por sua esposa ter aceitado se casar com o senhor feudal de uma ilha remota. Na maioria das vezes as filhas de nobres procuravam parceiros que viviam em cidades grandes. Claro que existem exceções, mas a maioria competia entre si pelos homens com melhores condições.

O pai teve que se casar com Zola por causa do status social dela. Por isso que era bom trazê-la para a família. Se um barão não tivesse uma esposa apropriada, seria o mesmo que dizer que sua casa não deveria ter um ranque elevado. Perderíamos toda a influência no mundo dos nobres e alguns usariam isso como desculpa para nos atacar. Parariam de se associar com a nossa casa fazendo o título de barão se tornar vazio. Colocando de forma mais simples, sofreríamos ostracismo1

— Então, como planeja conseguir o dinheiro? — perguntei, mas já tinha uma ideia de qual seria a resposta pela expressão dele.

— Sendo honesto, vai ser difícil conseguir alguma coisa. A casa já está endividada, se pegarmos ainda mais dinheiro emprestado será impossível nos recuperarmos. Mas ainda me pergunto porque ela trouxe essa conversa logo agora? — disse Balcus, tentando entender o motivo por trás daquilo.

— Porque… porque ela trouxe o casamento para mim e não para o aniki?

O pai parecia ainda mais confuso depois de escutar o que eu disse.

— A diferença de idade seria quase a mesma se fosse o Nicks, no entanto… é estranho. É como se ela não quisesse que você entre na academia.

Não havia muita informação em casa, talvez meu irmão saiba a resposta, vou mandar uma carta para ele mais tarde.

A resposta era algo que eu nunca teria imaginado.

***

Havia passado uma semana, estava no armazém da mansão. Fui lá para pegar algumas armas que não estavam sendo usadas. Geralmente fazer isso sem permissão deixaria meus pais bravos, mas ninguém iria se importar com isso naquele momento.

Encontrei um rifle antigo, com entrada para 5 balas no cartucho, estava em boas condições, só precisava de alguns cuidados. Também peguei uma espada ornamentada que parecia funcional e algumas ferramentas de sobrevivência. Meu pai olhava preocupado para mim.

— E-ei, o que está planejando?

Tinha pensando em como usar o conhecimento do jogo para fazer dinheiro, sabia que era mais fácil falar do que fazer. Mas quando li a resposta do meu irmão decidi arriscar.

— Preciso fazer dinheiro de qualquer jeito ou serei vendido para uma velha tarada! Não quero esse tipo de vida de jeito nenhum!

Os olhos da minha mãe se enchiam de lágrimas atrás do meu pai. Descobrimos que a noiva para quem eu seria vendido tinha uma reputação ainda pior que o esperado.

Havia uma associação chamada de Floresta das Damas. Era um grupo de mulheres que achavam que homens eram seres inferiores, “homens são escravos então nós devemos tratá-los como tal“ era o que diziam.

Gostavam de usar e abusar dos homens. Lixo humano era uma boa forma de defini-las. Os rumores diziam que apenas as nobres de alto status podiam entrar e que os inúteis seriam enviados para o campo de batalha, assim elas poderiam lucrar com suas mortes.

O que piorava a situação era que… Zola estava envolvida nisso. Não era uma das mulheres que se reunia na associação, mas sim uma das que lucrava com a venda de nós, filhos que não herdariam o título de nobreza.

Um grupo de pessoas que nenhum ser humano decente gostaria de se envolver, que até a maioria das mulheres preferiria distância.

Descobri o motivo pelo qual o casamento não tinha vindo para meu irmão mais velho e o porquê de Zola querer evitar minha matrícula. A associação ia atrás de jovens que não sabiam nada sobre a situação, assim como eu, por serem alvos mais fáceis. Era assim que a Floresta das Damas funcionava.

Seria muito mais difícil convencer alguém da academia porque lá a sua infâmia já era conhecida. Por isso que Zola trouxe essa conversa de casamento antes da minha matrícula.

— Por que um figurante como eu teve que se envolver com esse bando de degeneradas! Só queria ter uma vida pacífica e sem dificuldades!

— Querido, não consigo entender o que o Leon está falando — falou Luce, preocupada com o que se passava na cabeça de seu filho.

— Eu também não consegui entender. O que será que esse moleque está planejando fazer com essas armas? Não me diga que ele quer ir para a capital matar aquela mulher? E-ei não se precipite!

Meu pai parecia preocupado quando me viu desmontar o rifle para manutenção. Por mais que quisesse ir para lá quebrar tudo, seria impossível fazer algo na minha situação atual. Se chegasse perto daquelas senhoras, seus servos demi-humanos iriam me neutralizar na mesma hora, eles tinham corpos bem fortes, o que tornava qualquer atentado mais difícil.

— Virar um aventureiro é o melhor jeito de conseguir dinheiro.

Meus pais ficaram surpresos depois de escutar minhas palavras.

Esse era um emprego respeitado nesse mundo. Uma profissão muito importante para o reino, pois os nobres eram descendentes de aventureiros.

No cenário do jogo, nobres eram aqueles que descobriram um pedaço de terra em explorações e obtiveram o direito de governá-la, os que conseguiram grandes fortunas também obtiveram esse direito.

Essa era a desculpa do jogo para fazer os estudantes serem aventureiros durante seus anos na academia. As dungeons2 davam oportunidades para a protagonista aumentar o medidor de amor. Mas podia usá-las para conseguir sair dessa situação.

— Não faça isso. Ir sozinho para uma dungeon é muito perigoso e levará muito tempo para juntar dinheiro o suficiente — falou Balcus, desaprovando a ideia.

— E-é verdade. Além do mais, é difícil descobrir uma nova ilha nos dias de hoje. A chance de não conseguir achar nada é alta — complementou Luce, concordando com meu pai.

Quando ilhas flutuantes de colonização ou exploração eram descobertas, se tornariam propriedade do aventureiro. Se a pessoa quisesse, era possível transformar o território em seu próprio feudo, no entanto… não haviam mais ilhas adequadas perto desse continente. Mas eu conhecia uma.

— Desculpa, eu já me decidi. Tenho que fazer isso.

Se a situação só me afetasse, fugir seria a melhor opção, entretanto Colin podia ser a próxima vítima, não quero que uma criança de nove anos seja vendida para aquelas pervertidas.

— Você precisa de alguma coisa? — perguntou Balcus, entendendo minha motivação.

Não me segurei e disse tudo que precisava para meu pai. Isso traria ainda mais despesas, mas precisava disso para ter alguma chance de sobreviver. Se não fizesse nada iria acabar me tornando o brinquedo de uma velha pervertida. Seria perigoso, as chances de morrer eram altas, no entanto era melhor arriscar do que aceitar ser vendido.

— Qualquer tipo de aeronave iria ajudar. E também algumas balas encantadas para este rifle.

— O que você está planejando? Vai enfrentar alguma dungeon específica? Se for o caso, um navio comercial já estaria bom — falou Balcus, parecendo confuso.

— Vou ir para um lugar fora da rota de navios comerciais.

Terminei a manutenção do rifle. A presença de armas de fogo em um mundo de espadas e magia podia parecer estranha, mas existiam navios voadores que usavam canhões nesse mundo. Então rifles eram algo normal. Quando apertei o gatilho consegui ouvir um clique metálico, estava funcionado normalmente.

Tinha vivido de forma simples depois de reencarnar nesse mundo. Aquilo era o suficiente para mim, por isso não precisei usar as informações do jogo para nada. No entanto parece que nem mesmo os personagens de fundo podiam viver em paz. Não aceitaria virar um brinquedo para ser abusado. Por isso irei lutar, mostrarei a força de vontade dos figurantes para elas.

— Entendi. Vou preparar tudo o mais rápido possível. Só uma coisa, você tem que voltar a salvo. Se não puder me prometer isso irei te parar aqui mesmo.

Tinha a intenção de voltar, mas sabia que teria que enfrentar situações de vida ou morte, então… tive que mentir.

— Eu com certeza vou voltar…

Queria proteger a minha vida, salvar meu irmão e acabar com os planos da Zola. Um dia me vingaria dessa vadia que tentou me vender. Enquanto pensava nisso, continuei com minhas preparações para a minha saída.

***

— Essa é a primeira vez que trabalho com tanta seriedade.

Mesmo que fosse de um otomege ainda era o mundo de um jogo. Não foi só uma ou duas vezes que pensei em usar o conhecimento que tinha para me tornar invencível.

Entretanto, minha motivação tinha desaparecido por conta da exaustão do meu dia a dia. Comia comidas simples. Recebia o treinamento do meu pai pela manhã e trabalhava nas plantações depois. Já era de noite quando terminava e tinha que estudar quando voltava para casa.

Nesse mundo, Barões de ilhas isoladas eram pobres quando comparados aqueles que viviam nas cidades do continente, e por causa de mulheres como a Zola tinham que gastar ainda mais.

Ascender nos ranques… Havia vários nobres que reclamavam sobre como a vida era melhor antes da promoção, quando eram apenas baronetes. Claro, existiam barões ricos e algumas casas conseguiram crescer muito quando comparadas à antiga geração.

No nosso caso, se nos mantivéssemos como baronetes, os impostos necessários para nos manter seriam muito melhores e não teríamos que lidar com uma esposa de alto status como a Zola, diminuindo ainda mais os nossos custos. A situação seria muito melhor se nosso ranque não tivesse sido elevado.

Preparei meu rifle indo em direção à beira da ilha flutuante e apertei o gatilho mirando em um estranho peixe voador que encontrei. Era uma das criaturas chamadas de monstros, os inimigos desse mundo com o cenário merda.

Não me senti culpado depois de matá-lo, uma criatura que só existia para trazer desgraça, era até refrescante se livrar dela. O fato de não deixarem corpos também ajudava a não sentir receio. Era melhor matar essas coisas já que atacariam qualquer humano que encontrassem e você ganhava um prêmio pela vitória, algo que era invisível para os olhos, os “pontos de experiência”

— Merda! Ele desviou.

Recarreguei a arma o mais rápido possível e mirei com cuidado. Meu oponente já tinha descoberto minha posição e vinha em minha direção. Tinha por volta de um metro de comprimento. Era mais fácil mirar a curta distância, contudo, se errasse, viraria um combate corpo a corpo, isso aumentaria minhas chances de morrer.

Monstros não podiam ser subestimados. Só ataquei porque o rifle me dava vantagem, mas balas não eram de graça e eu tinha poucas. Tinha que fazer cada uma valer. O monstro abriu a boca pronto para me morder quando chegasse perto, os dentes afiados contornavam a boca da criatura formando uma cena assustadora.

— Se não conseguir vencer nem esse inimigo… não vou ter nenhuma chance de sobreviver mais adiante.

Já havia pensado várias vezes em tentar seguir esse tipo de vida. Me tornaria um aventureiro, descobriria uma ilha e a exploraria, ganharia muito dinheiro… sim, iria fazer isso “algum dia”. Sempre tinha pensado sobre isso, mas nunca fiz nada. No entanto, nessa situação da qual não poderia fugir, não havia outra escolha a não ser seguir em frente.

Quando pressionei o gatilho, a bala entrou na boca do monstro e perfurou todo caminho até suas costas. Com tamanho ferimento ele parou e começou a cair na minha frente, uma fumaça negra o cobriu e, antes que pudesse tocar no chão, o corpo desapareceu.

— Será que ganhei pontos de experiência com isso?

Fiquei parado por um tempo, mas não percebi nada de diferente acontecer. Talvez alguns aspectos do jogo não podiam ser transformados em realidade? Bem, não ganhar experiência não era motivo para parar a jornada. Pelo menos tinha conseguido treinar minha mira.

Chegar ao meu objetivo era difícil, seria impossível alcançá-lo sem um barco voador. O item mais apelão do jogo estava lá. Era algo que só poderia ser obtido através de microtransações, se conseguisse adquiri-lo, os meus problemas iriam acabar. O que me preocupava era a possibilidade de ele não existir nesse mundo.

Já que era um item do jogo, era algo feito para a protagonista, me sinto mal por ela, mas minha vida estava em jogo e essa era a única chance para me salvar.

— Terei que sacrificar a protagonista pela minha felicidade. Mas está tudo bem. De acordo com o calendário vou estar no mesmo ano que ela. Darei um jeito de pagar por esse favor.

Apertei o rifle em minhas mãos. Sentia culpa pelo que estava fazendo, entretanto, o medo de ser vendido para uma velha degenerada era maior. Minha virgindade estava em jogo.

— Será que é assim que as mulheres se sentiam quando eram vendidas para velhos pervertidos? Porra! Por que esse mundo é assim?

Tinha pouco tempo em minhas mãos.

— Ah… deveria ter ido atrás do item antes desse problema aparecer.

Continuei procurando por monstros nos arredores enquanto me sentia arrependido.

***

A jornada continuou por um mês.

O barco era melhor que o esperado, o motor com uma hélice acoplada era fácil de operar. Estava deitado nele, coloquei um manto para proteger meu corpo do sol. Ao meu redor estava a comida, água e armas que tinham sido preparados para a viagem. Era mais que suficiente para apenas uma pessoa.

— Parece que meus pais fizeram o impossível para me ajudar.

Além de preparar um navio, me deram uma espada, um rifle, mantimentos e várias outras coisas para ajudar na viagem. Apenas agradecer não seria o suficiente.

Nossa casa iria passar por um aperto por terem gastado tanto comigo. O barco sozinho já era algo que nobres pobres como nós não conseguiriam comprar.

— Parando para pensar. Que tipo de mundo de fantasia tem gás e eletricidade?

Sentei enquanto segurava o rifle, peguei o binóculo e comecei a olhar os arredores. Tirei o mapa da bolsa e tentei descobrir minha posição usando a bússola.

— Acho que situações como essa que fazem desse lugar um mundo de fantasia.

A bússola ajuda os navegadores a saber onde estão e para que direção deveriam ir. Tinha uma agulha que sempre apontava para o norte e uma que sempre apontaria para o destino. Esse tipo de bússola era comum aqui, só precisava definir o local previamente, esse tipo de ferramenta facilitava muito a viagem.

A maioria das minhas memórias sobre o jogo haviam desaparecido já que faziam 10 anos desde que zerei ele, no entanto, logo após recuperá-las, tinha escrito as coordenadas junto a várias informações que pudesse usar no futuro. Bom trabalho, antigo eu!

Naquela época, pensei que conseguiria usar aquele conhecimento para me tornar um ser invencível, mas nunca fui capaz de fazer nada por causa da vida trabalhosa que tinha.

— Teria sido muito mais fácil se eu me esforçasse mais naquele tempo.

Mesmo que tivessem um objetivo era normal que os humanos não colocassem esforço o suficiente para alcançá-lo. Eu tinha feito exatamente isso. Podia só reclamar, arrependido por nunca ter me mexido, por só ter começado a fazer alguma coisa quando minha vida estava em risco.

No entanto não fiz nada porque era um vagabundo preguiçoso, a vida aqui era bem mais difícil que a minha antiga. Acordava ao nascer do sol, estudava até tarde da noite… para ajudar, o trabalho nas plantações era muito pesado. Não era estranho desmaiar de cansaço assim que chegasse em casa. Estando exausto todo o dia, não sobrava energia para fazer treinamento extra e eu não tinha nenhuma habilidade especial.

Um personagem apelão cheio de bônus por causa da reencarnação? Não estaria passando por tantos problemas se esse fosse eu. Ganhar dinheiro com o conhecimento que trouxe da terra? Esse mundo não era muito atrasado e eu não tinha os detalhes para construir produtos que ainda não existiam aqui.

— Apenas o azul do céu e do mar… tem o branco das nuvens também… estou ficando cansado de ver isso o tempo todo.

Era o mesmo cenário se repetindo todo o dia, de vez em quando era possível ver algumas rochas voando. Apertei o rifle em minhas mãos, me controlando para não perder a sanidade.

Eu, que sabia da existência de outro mundo, pensei que seria melhor cometer suicídio com aquele rifle, talvez uma vida melhor o esperasse se o fizesse… chacoalhei a cabeça para esquecer a ideia.

— Morrer aqui não resolverá nada. Só estaria fazendo Colin se tornar uma vítima daquelas pervertidas.

O sol estava forte. Pensei várias vezes que seria melhor abandonar tudo e fugir. Entretanto esse mundo também era muito mais perigoso que o Japão. Por causa de monstros e ladrões as chances de morrer eram muito altas.

Naquele momento eu voava sozinho com pouquíssimas formas de me proteger. Sentia tanta falta do Japão. Estava ficando cansado dessa situação onde não havia como me proteger.

— Esse mundo é duro para figurantes.

Acabei obtendo o hábito de falar sozinho, mas não esquentei muito a cabeça com isso.

Estaria acabado se encontrasse piratas aéreos naquela situação. Pensando comecei a prestar mais atenção aos meus arredores. De repente surgiu uma forte rajada de vento, o mapa começou a balançar, coloquei a bússola sobre ele para que não voasse, mas quando olhei bem, vi que a agulha que apontava para o objetivo estava girando.

— O que?!

Quando levantei o vento ficou ainda mais forte, tive que me segurar nas bordas do barco para não sair voando. Olhei a minha volta, mas não havia nem sinal de terra. As nuvens também estavam normais, não parecia clima para uma tempestade ou vendaval. O barco continuou em frente quando, do nada, uma sombra o cobriu.

— Tem alguma coisa lá em cima?

Olhei para cima, tinha uma nuvem lá, uma nuvem gigante. Cerrei os punhos ao ver aquilo. Olhei para baixo e percebi que o mar soltava um brilho verde. Comecei a rolar pelo barco por conta da felicidade, parei só quando bati a cabeça.

— É isso, consegui, é aqui que aquela coisa está! Apareceu por causa das microtransações? Ou isso sempre esteve aqui? Bem, isso não importa… finalmente, depois de tantos problemas, cheguei aqui! — gritei enquanto levantava meu corpo e as mãos para o alto.

Graças a Deus que isso existe. Havia a possibilidade de ser algo que só existia no jogo. Vim aqui só porque era minha última esperança, mas parece que acertei em cheio.

— Opa, não posso comemorar agora, ainda tenho que fazer aquilo ser meu.

Acalmei minhas emoções e fui para a parte traseira do barco controlar a hélice. Descia em direção ao oceano. Tentando chegar ao local de onde a luz saia, o barco começou a tremer quando me aproximei. Abaixei meu corpo e segurei firme.

— Coopera comigo, por favor.

Eu não tinha feito nada, mas o barco começou a subir descontroladamente. A aceleração era tão grande que não conseguia me levantar, podia apenas ficar deitado no chão vendo a nave perder o controle.

O navio entrou com tudo na nuvem, havia apenas a cor branca ao redor de mim. Meu corpo esfriou, minhas roupas ficaram molhadas. Protegi meu rifle colocando-o dentro do meu manto e tentei controlar o barco sem conseguir ver nada.

Havia algo me puxando junto com as nuvens em sua direção, não sabia aonde aquilo iria ir então tentei mover o barco na direção contrária. Senti como se estivesse lutando contra as correntezas de um rio. Bem, nunca tive essa experiência, mas não devia ser muito diferente disso.

O motor devia estar fazendo um som alto já que eu estava exigindo muito dele. Contudo, até esse barulho tinha sido engolido pelo rugido do vento, mesmo com o motor estando ao meu lado.

As duas agulhas da bússola não paravam de girar, não havia forma de usá-la, por causa disso não sabia nem onde estava. Mas não tinha outra escolha a não ser continuar indo contra a corrente.

Antes de perceber, meu corpo ficou encharcado. Minhas roupas, cheias de água, eram pesadas. E era muito frio naquela altitude.

Pelo menos consegui me mover na direção que eu queria. Mas me perguntava se deveria mesmo ir para lá. Continuei enfrentando a tempestade sozinho.

— Por favor, me dá só uma chance.

Vários minutos passaram, ou foram horas? De qualquer forma, depois de trabalhar por tanto tempo, o motor pegou fogo.

— Espera! Não vai quebrar agora! Se pararmos aqui vai ser um desast…

Antes que pudesse terminar, o motor explodiu e a hélice saiu voando enquanto pegava fogo. As chamas se espalharam pelo barco e, enquanto pensava em uma forma de apagar as chamas, ele começou a vibrar ainda mais.

O navio caiu, perfurando as nuvens e, quando sai do meio delas, ela apareceu — uma ilha flutuante coberta pelas nuvens — tinha pensado que aquele seria meu fim, mas, quando vi aquela cena, algo que tinha visto várias vezes no jogo, todo o medo tinha sido engolido por admiração.

Era enorme, naturalmente coberta pelo verde, as imensas árvores tinham raízes que saíam do outro lado da ilha formando uma imagem surreal.

— Que incrível…

Me aproximava cada vez mais daquele cenário. Na verdade, meu barco caia em sua direção. Fiquei em pânico, tentei arrumar uma solução, mas não podia fazer nada sem o motor. Além disso, o navio estava pegando fogo, o que era perigoso.

— ‘Tá falando sério!

Continuava me aproximando da ilha. Segurei minha mala, calculei o melhor momento para escapar e pulei do navio.

Quando atingi o chão não consegui segurar os equipamentos, soltei tudo e comecei a rolar parando apenas quando bati minhas costas na raiz de uma árvore. O barco foi destruído pelo impacto e minha bagagem tinha aberto, espalhando meus suprimentos pelo caminho.

— Ah, isso foi perigoso. Foi arriscado fazer isso em um veículo tão pequeno — falei, enquanto levantava sentido dores em todo o corpo e suando frio.

Não teria que passar por isso se tivesse uma aeronave maior, mas não tínhamos como comprar uma. Na verdade, não tínhamos dinheiro nem para pagar nossos empréstimos.

 — Pelo menos consegui chegar até aqui.

Minha visão estava embaçada e me sentia tonto, tentei pegar os itens que estavam espalhados enquanto segurava minha cabeça dolorida. Parte da bagagem tinha sido queimada, mas isso não seria problema naquele momento. Juntei tudo em um local e peguei madeira do barco destruído.

Tinha chegado ao meu destino, no entanto perdi meu único meio de transporte, agora não tinha mais volta. Isso não seria um problema se conseguisse “aquilo” que dorme a anos nesse local, contudo se “aquilo” não estivesse aqui, nunca seria capaz de sair.

Sentei para respirar um pouco e, antes de perceber, já era de noite. Tirei um pouco de comida e água da minha mala, comi algo parecido com uma bolacha e tomei muita água para encher o estômago. Era uma refeição feita para satisfazer a fome, quase não tinha gosto.

— Se depois de tudo não tiver nada aqui só vou poder chorar.

Vou começar a busca amanhã. Acendi uma fogueira usando a madeira para aquecer meu corpo. Fiz a manutenção do rifle e vi se os outros equipamentos estavam funcionando.

— Não parece que tem nada quebrado… se considerarmos tudo que passei, é surpreendente que esteja tudo ok.

Usado a fogueira como fonte de luz, contei as balas e as coloquei nos cartuchos. Essas eram munições especiais, o que as diferenciava era a marca de um trovão inscrito em sua superfície.

Se usássemos o iene como base, cada bala normal custaria entre 3000 e 5000 ienes3. Contudo, essas munições eram especiais porque usavam magia. Eram balas que poderiam queimar o alvo, congelá-lo ou ter outros encantamentos. Por conta disso o preço de cada tiro ultrapassava 10.000 ienes4. Podia apenas agradecer aos meus pais por conseguirem um bom número delas para mim.

— Acho que nunca vou conseguir pagar o que devo aos meus pais… parando para pensar, não paguei tributos aos meus pais em minha vida passada.

Parece que eu fui o filho ingrato que morreu antes dos pais, sem nunca conseguir agradecê-los por terem me criado.

— O será que aconteceu com a minha irmã? Ia ficar feliz se ela estivesse aqui pra me encher o saco.

Ainda me lembrava do dia em que acordei neste mundo, ou melhor, o dia em que recuperei minhas memórias.

Sentia saudades até de jogar o otomege para minha irmã. Talvez eu devesse mostrar um pouco de gratidão para ela? Sem aquilo eu não teria encontrado essa ilha. Porém, se ela não tivesse me forçado a jogar, provavelmente não teria morrido.

Guardei o rifle e as balas depois de terminar as preparações para o dia seguinte e descansei as costas na raiz de uma enorme árvore. Fiquei muito tempo dormindo no barco, fazia tempo que não dormia em terra firme.

— Porque reencarnei no mundo de um jogo otome? Porque não foi um mundo de espadas e magia mais clichê. Não, espera, seria melhor se fosse meu antigo mundo, ainda melhor se fosse no Japão.

Lembrei sobre minha vida passada, tive muita sorte de ter nascido lá, um lugar onde monstros e piratas não existiam. O sono tomou conta de mim enquanto eu pensava nessas coisas.

— Vou ter que… dar o meu melhor amanhã…

A maior aposta da minha vida me esperava.


Notas:

1 – Ostracismo: ação de excluir alguém, geralmente, de um ofício, cargo, grupo ou local; afastamento ou expulsão.

2 – Masmorras, em jogos são áreas fechadas hostis das quais o jogador encontra inimigos, podem ser castelos, cavernas, fortalezas e etc.

3 – 150 e 250 reais respectivamente, mas lembrando que 3000 ienes no Japão seriam como 30 reais para a gente.

4 – 500 reais.



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