Volume 1
Capítulo 19: Kadiras
Por um momento, Cão se sentiu hipnotizado por Calisto. Sua mera presença parecia sufocá-lo. Sentia-se tão pequeno diante dela que chegou a pensar que a assassina era capaz de controlá-lo, como um brinquedo nas mãos de uma menina travessa.
Cão a empurrou para trás.
— Não brinque comigo! O que você quer dizer com isso!? — Ele enfrentava as dores tentando alcançar a espada.
— Você está fraco. Há quanto tempo não bebe sangue?
— Isso não importa, sei me cuidar.
— Não preciso ser uma Feiticeira para perceber que isso está afetando de alguma forma seus poderes. — Fez uma pausa, pensativa. — Essas maldições são, no mínimo, curiosas. Já se perguntou qual o preço que elas lhe cobram?
— Nunca confiei em nada que sai da sua boca, isso não vai mudar agora.
— Tem certeza? Sou uma grande assassina, em uma ou duas oportunidades, quando me vi em apuros, fui obrigada a recorrer a tais recursos.
O Meio-sangue ouvia cada palavra com atenção. Sabia muito bem que os Demônios-predadores eram assassinos habilidosos, os mais poderosos considerados verdadeiras máquinas de matar, mas até monstros tem seus limites. Durante as missões era comum, entre os mercenários, que alguns carregassem um selo amaldiçoado, que aumentava suas capacidades em troca da energia vital do usuário. Também se recordava das palavras de Teslan. Na ocasião, o manipulador de maldições lhe contou que Calisto provavelmente ficaria dias sem conseguir se mover, após ter usado tamanha medida. Contudo, mantinha-se forte, como se nada tivesse acontecido.
— Devemos fazer o necessário para sobreviver.
Um escrito negro surgiu na mão direita da Demônia. Assim ela conseguiu agarrar as chamas que cobriam a tocha, as quais logo começaram a dançar sobre sua palma e contrastar com as sombras que tremulavam ao fundo.
— Talvez eu saiba mais sobre seus poderes do que você acredita. — Ela estudava as reações de seu pupilo. — Apenas talvez… mas não é por essa questão que eu o chamei.
— Seja mais clara!
Ela fechou o punho e a chama se apagou.
— Muito bem, não farei rodeios. — Em um movimento lento, apoiou a ponta da espada no chão e se inclinou para a frente. — Gostaria de realizar um contrato comigo?
— Um contrato com uma criatura tão traiçoeira me parece uma sentença de morte.
Calisto ignorou o comentário.
— Os pactos de sangue são vínculos invioláveis, nada mais conveniente para um cãozinho sozinho que ter uma poderosa aliada como eu. Penso que você só tende a ganhar com isso.
— Eu sei o que são — respondeu, incomodado pelo fato de Calisto tê-lo na palma da mão. — Aonde quer chegar? Claramente quer algo em troca.
Ela começou a rir. Apoiou o dorso de uma das mãos sobre o rosto antes de continuar.
— Tudo será aclarado em seu devido tempo.
Cão levantou-se e apontou a espada na direção da assassina.
— Eu não me importo com você, nem para o que pensa. Sei que estou sozinho. Fico bem assim.
— Ainda não teve o suficiente? — As chamas voltaram a envolver seu punho, dessa vez estavam mais intensas e revoltas.
Ambos preparavam-se para retomar o embate.
Um projétil foi arremessado entre a dupla, interrompendo o reinício da luta. Ao olharem com mais cuidado, perceberam que o artefato, na verdade, era uma lança feita de ossos. Os dois visitantes voltaram suas atenções para uma terceira figura que entrava em cena. Um Demônio que condensava uma nova arma, a partir de ossos que saiam de seu braço esquerdo, moreno.
— Calisto! Será que pode me dizer o que acha que estão fazendo?
— Korvel, você sempre sabe como ser inconveniente.
O mercenário levou a mão esquerda na espada, em sua cintura.
— Inconveniente? Olhe para o redor! Fizeram uma bagunça no quarteirão.
Ela analisou o cenário e constatou que os estragos que causou foram maiores que o esperado.
— Está sendo exagerado, não chegou a esse ponto. — As palavras de Calisto contrastavam, ao fundo, com a queda da marquise de uma das construções.
— Nos estabelecemos neste fim de mundo para evitarmos chamar a atenção. Meça suas ações, antes que coloque tudo a perder.
— Se tivessem nos recebido, tudo seria diferente.
— O que deu em você? Nunca agiu de uma forma tão inconsequente.
Ela voltou suas atenções para Cão que terminava de tirar do caminho o pedregulho que havia despencado.
— Seja rápido, perdemos tempo demais com distrações. — O novato apenas a respondeu com um olhar de indignação.
O manipulador de ossos levou uma das mãos ao rosto, como se estivesse com dores de cabeça.
— Só me prometam que não causarão mais problemas. — Ele respirou fundo. — Vou tirá-los daqui antes que destruam todo o bairro. — Em seguida, absorveu a haste feita de ossos, que estava presa contra o solo.
— Você ouviu, temos que nos apressar, logo realizaremos nosso pacto.
— Eu ainda não aceitei nenhum tipo de acordo, nem sequer me disse suas condições ou o que tem a ganhar com isso. — Cão sabia que os pactos de sangue não eram simples acordos. Por se tratar de uma arte proibida, os envolvidos firmavam cláusulas que necessitavam ser devidamente aceitas perante um Xamã especializado no trabalho com as artes negras.
— A gente pode ver isso depois. — Ela forçou um sorriso meigo enquanto mantinha um olhar travesso, este último, apesar de contrastar com sua personalidade fervorosa, parecia sincero.
Os dois Demônios começaram a caminhar.
— Até parece… agora é oficial, estou realmente morto. — O Meio-sangue levou as mãos a cabeça, consternado com as possíveis consequências de tal contrato. Seguiu os Demônios mantendo alguns metros de distância.
Durante o trajeto, o Caça-contrato resolveu analisar Korvel com mais calma. Estava claro que a habilidade rara do Demônio-predador o tornava um ser poderoso. Era um verdadeiro guerreiro. Tinha um porte físico musculoso, pele morena e portava uma longa espada prateada. Trajava um manto cinza sobre suas vestes negras que contrastavam com um colar que carregava, o qual estampava o emblema de uma lua. Mantinha um semblante sério no rosto e parecia um soldado disciplinado.
“Ele certamente atende às ordens da associação”, pensou o novato.
Os dois conhecidos continuavam a dialogar.
— Tem qualquer novidade a respeito da investigação de nossos espiões? — perguntou Calisto.
Com a traiçoeira conversa, passaram a medir o tom das palavras. Korvel olhava para os lados enquanto respondia à assassina.
— Desculpe, mas não conseguimos descobrir muita coisa, parece que eles passaram a ser ainda mais cuidadosos.
— O que? Não é possível que isso seja verdade, ninguém pode desaparecer sempre que lhe convém.
— Realmente, porém descobrimos algo interessante. Os Oradores estão realizando negócios no distrito de Armeria. Pelo que fui informado, estabeleceram uma sigilosa sociedade com alguém que desconhecemos. Algo grande ocorrerá por lá, mas, até onde sabemos, não há nada que os ligue a nosso alvo.
Calisto levou suas mãos à cabeça.
— Acho que aquele lugar infernal nunca vai deixar de me atormentar — lamentou, sem ânimo para estender a conversa.
Poucos minutos depois, pararam em um beco estreito, na frente de uma pequena e reforçada porta de ferro que, aos olhos locais, dava acesso a um pequeno complexo de construções acanhadas.
— Finalmente, chegamos! — Calisto assumiu a dianteira.
Do outro lado da porta, o guarda espiou e se assustou, como se tivesse visto uma assombração. Ele desobstruiu o caminho antes que Calisto soltasse a primeira palavra. Cão, ao ver a cena, fechou os olhos. Queria apenas sumir.
Os três visitantes ingressam para o interior da construção. Passagens estreitas, de início, tornaram-se mais largas e aconchegantes. Aos poucos os corredores ganharam um ar de imponência, que contrastava, de propósito, com a simplicidade do lado de fora. Um conjunto habitacional ganhou forma, o qual possuía uma estrutura interior muito melhor que a parte exterior. Os vigias eram poucos, mas habilidosos. Entre eles, havia vários Demônios-predadores. Esta era a sede dos Kadiras.
A Demônia alongava os braços, tentando espantar a sonolência.
— Este fim de mundo parece ficar mais distante a cada vez que venho para cá.
— Então essa é a base da associação.
— Outros Demônios-predadores, que trabalham para Latrev, também se escondem por aqui.
— Se comportem, os dois — disse Korvel. — Não quero problemas para o meu lado.
O Meio-sangue começou a admirar as construções de pedra e madeira que preenchiam o espaço, algumas mais robustas, outras mais simples e delicadas. Em uma delas, para sua surpresa, avistou Baltar apoiado sobre o parapeito de uma sacada. Ao lado de uma mulher, de cabelos negros, preso por um coque e um Demônio pálido, com uma longa cicatriz no braço direito.
Calisto percebeu a curiosidade do colega.
— Baltar é um aficionado por lutas sangrentas, inclusive estava organizando os jogos na torre. Como pode ver, ele é um dos figurões que ditam as regras do Fosso, e também um dos influentes que comanda a associação, autointitulados de Kadiras, mas esse é um assunto para outro dia, antes disso preciso que você venha comigo.
— Tenho até medo de perguntar para onde.
A Demônia estendeu a mão e apontou com o dedo indicador.
— Para lá!
Uma sequência de construções encontrava-se no campo de visão.
— Por mais que eu tente, não consigo te entender.
“Essa criatura ainda vai me matar”, pensou.
— Será que eu sempre tenho que explicar tudo? — Ela empurrou as costas de Cão em direção a uma das construções. Ao vê-la, o Caça-contrato soube que se tratava das instalações de um Xamã.
Korvel continuou a acompanhá-los, pressentia que os dois causariam confusão.
Ao chegarem em frente do casebre de madeira, notaram que as passagens de acesso e janelas estavam todas lacradas ou obstruídas, a única exceção era a entrada principal que possuía duas longas cortinas que impediam a ação das lamparinas que alimentavam a base. Calisto sequer avaliou a hipótese de adiar o encontro. Assim que entrou, foi seguida pelos demais.
O interior do local estava escuro e com pouca mobília, sem nenhum atendente à vista.
— Onde é que a Xamã da associação está? Por acaso ela simplesmente sumiu?
— Talvez ela tenha fugido de você, só com isso já prova que é o ser mais sábio daqui.
Korvel, vendo a inquietação, colocou-se entre os dois, para impedir uma nova confusão.
— Pelo visto eu realmente estava certo em vir vigiá-los.
— Esse inseto me dá nos nervos. — Cão adentrou para um ponto mais profundo da construção, para se distanciar, ficando sozinho. — Enfim… Como é essa mulher?
— Você também não a conhece? Nunca cheguei a encontrar com ela antes.
— Será que esses Xamãs têm sempre que ser uns malditos eremitas.
Nesse momento, passaram a ouvir estranhos estalos de engrenagens. Os sons sugeriam que sua origem vinha do subsolo. Todos passaram a procurar por uma passagem que os conduzisse para baixo. Desse modo, encontraram um estreito alçapão, era deste ponto que provinham os barulhos. Sabiam que alguém, em breve, viria à tona.
As expectativas de um encontro amistoso foram abaladas, quando a comporta se abriu. Primeiro, apontaram braços finos, esguios e pálidos que se deslocavam de forma irregular. Em seguida, surgiu a figura de uma mulher de cabelos negros e longos que cobriam sua face. Ela, ao perceber a presença dos visitantes, rastejou pelas sombras em sua direção, criando uma atmosfera ainda mais perturbadora.
Cão era o mais avançado, nem tentou se mover, tinha a convicção de que essa Demônia não seria pior que Calisto, porém, mesmo assim, a aproximação dela o assustou.
— Oi… fofa… — falou todo atrapalhado. Suas pupilas dilatavam ainda mais conforme inclinava-se para trás. Não pelo breu, mas pelo medo.
A anfitriã lentamente reduziu o ritmo dos passos. Já próxima de Cão, deixou de adotar uma postura quadrúpede e passou a ficar de pé à medida que suas costas estalavam. A face de uma bela mulher de olhos dourados se revelou, sua pele era alva e tinha cabelos longos, pretos e lisos.
— Sejam bem-vindos. No que posso ser útil?
Calisto iluminou o lugar ao ascender sua tocha, fato que incomodou os olhos da moça, os quais já demonstravam uma pequena sensibilidade diante de uma forte fonte de luz.
— Não nos assuste assim! Eu quase resolvi te estraçalhar no instante que a vi.
Ao vê-la de perto, compreenderam que era uma mera Impura que desempenhava o papel de atendente e supuseram que sua estranha postura era resultado de suas particularidades.
— Fico feliz que não fez isso — alegou Korvel, ao desviar o olhar, fingindo também estar incomodado pela claridade.
O tremular das chamas em contraste com a escuridão davam um ar místico ao local.
— Nos leve logo até Cirki.
— Claro, por favor, me acompanhem. Minha mestra ficará feliz em recebê-los. — A atendente indicou a mesma passagem subterrânea pela qual havia chegado.
Ao ver o olhar intimidador de Calisto, Cão simplesmente pulou para dentro da passagem, sem nem usar as escadas de acesso. Pouco depois, a Impura também ingressou pela passagem.
— Olhe só esses lacres e comportas, para que ela precisa de tudo isso? — perguntou Calisto para Korvel.
— Se tivermos sorte, nós vamos descobrir.
— Você tem definições duvidosas para aquilo que chama de sorte. Espera! Desde quando virou um piadista? — Calisto suspirou. — Até que dia terei que aguentar esse martírio? — perguntou para si mesma.
Os quatro adentravam por túneis cada vez mais profundos. Nesses pontos tão ermos, o cenário beirava o completo breu, contando apenas com pequenos cristais espalhados pelo ambiente, que emitiam uma luz muito tênue. Seguindo a atendente, os clientes prosseguiram com cuidado. Calisto iluminava o caminho, tornando um pouco mais fácil transitar pelas passagens estreitas e sinuosas. Assim continuaram até avistarem uma porta entreaberta, que possuía o emblema de uma caveira dourada com olhos azuis. No interior do aposento tomado pelas sombras havia uma quantidade incalculável de frascos, poções, escritos, conservas, ervas e especiarias.
— Mestra Cirki, temos clientes. Querem usufruir de seus ensinamentos.
Uma repentina rajada de ar soprou e a tocha de Calisto se apagou.
— Pensei que não teria que alertá-los que é normal que os sábios criem hábitos peculiares, com o decorrer dos anos — disse uma voz rouca e sombria.
Cirki contornava os convidados em meio à escuridão. Seu deslocamento produzia um som semelhante a caminhada de insetos, parecia rastejar. A sábia evitava mostrar o rosto para os visitantes, ocultando sua presença em curtos intervalos, nada que impedisse as partes de negociarem um acordo.
— Vai afugentar todos os seus clientes, se continuar agindo assim — alertou Calisto.
— Como pode ver não sou muito procurada, exceções surgem apenas quando existe a real necessidade de me chamarem… Me conte sobre você, como lhe posso ajudar?
— Quero realizar um pacto de sangue, imagino que seja capaz de providenciar os preparativos para isso.
Cão, a poucos metros de distância, somente lançou um olhar discreto, procurando localizar as duas no ambiente turvo, ainda receoso sobre as cláusulas do contrato que até o momento não haviam sido acertadas.
— Não é aconselhável agir de maneira tão leviana diante de uma Feiticeira — disse Cirki.
Calisto sequer se alarmou com o aviso, pelo contrário, abriu o punho, libertou as chamas que havia absorvido antes que sua tocha se apagar e produziu uma súbita e intensa claridade que ofuscou a visão dos presentes. A oportunidade permitiu que vissem a figura de Cirki. Uma imagem demoníaca. Seu corpo era como uma criatura metamorfoseada, com longas curvas que se estendiam como um rio caudaloso e revelavam uma espécie de serpente, enquanto a parte superior da Feiticeira se destacava por uma forma feminina, marcada por olhos brancos que realçavam suas pupilas em forma de fenda.
— Está enganada, se acha que pode me intimidar apenas com palavras vazias, jogadas ao vento.
— Que seja! — Uma sombra esguia e revolta, em meio à escuridão, pareceu se inclinar para a serva. — Arrume os preparativos para a arte negra. Rápido!
A serviçal prontamente obedeceu. Instantes depois, ela trouxe um compilado de poções, ervas e especiarias.
Cirki pegou um velho, largo e longo pergaminho. Em seguida, começou a desenhar sinais e escritos incompreensíveis. Uma sombra parecia rodeá-los à medida que a Feiticeira gravava suas runas no papel que era desenrolado no chão, dando forma a um círculo crescente. Novas gravuras cobriram o piso. Uma misteriosa corrente de ar passou a percorrer o ambiente fechado.
— Se aproximem, os dois que farão o contrato.
— Já começou? — perguntou Cão que levava uma das mãos ao rosto para proteger os olhos do vento e da poeira.
— Deixe de cerimônia e ande logo — ordenou Calisto.
A Feiticeira fez uma marca negra e circular na nuca de cada um, depois começou a recitar seu desejo.
— Asas, sombras e espíritos, em nome do primeiro rei e da linhagem dos oráculos originais, obedecendo seus ensinamentos, peço humildemente aos seres do Mundo Inferior que atendam meu pedido e nos concedam as bênçãos das artes negras. — As marcas circulares começaram a brilhar na cor vermelha. — Rápido, digam os termos de seu vínculo.
— Eu lhe emprestarei minha força, serei leal e prometo que o acompanharei até os confins do Mundo Inferior. Demônios, aparições, Sombrios e criaturas da noite. Ninguém será capaz de se opor às nossas vontades.
As gravuras no chão tornavam-se mais brilhantes e a ventania soprava cada vez mais forte.
“O que ela quer dizer com essas palavras?”, pensou.
Com essa dúvida perturbando sua mente, Cão se preparou para transmitir suas cláusulas do contrato.
— Eu exijo que… — O Caça-contrato soltou um uivo agonizante e caiu de joelhos contorcendo-se intensamente, as marcas na sua nuca queimavam e banhavam seu pescoço com uma pequena listra de sangue. Um processo similar afligiu a Demônia, porém, se manteve firme, suportando de maneira contida as consequências que o vínculo lhe aplicava.
A atmosfera, antes caótica, voltava, aos poucos, à normalidade.
— O contrato está feito… — disse a Xamã, curiosa com o ocorrido.
— Que porcaria foi essa? Eu nem disse meus termos. — Seus olhos quase lacrimejavam enquanto ainda lastimava o ferimento.
Cirki franziu a testa.
— Isso é definitivamente impossível.
— Ele deve ter se esquecido, esse verme sujo tem perdido seus dias rolando na imundice. — Calisto sorriu, como se tentasse segurar uma grande gargalhada.
— A única perdida aqui é você. Não fale como se me conhecesse, tenho certeza que nunca concordei com isso.
— Esqueça esse assunto, já perdemos muito tempo aqui, vamos embora.
— Como quiser. Por favor, me sigam. — A Impura mais uma vez guiou os clientes, agora para a saída.
O regresso pelos túneis ocorreu sem imprevistos, logo alcançaram o interior do casebre de Cirki, que agora parecia bem mais acolhedor, se comparado ao verdadeiro covil da sábia.
— Como o contrato foi concluído, você automaticamente passa a ser o mais novo lacaio da associação — afirmou Calisto.
— Meus parabéns — disse Korvel, pouco antes de sair.
— Nem engoli a última e você já chega falando essa nova bomba, como se fosse nada.
— Deixe de moleza. Chega de perder tempo nesse lugar, precisamos voltar. — Calisto também saiu.
Cão olhou para trás e reparou novamente na beleza da atendente que prestava seus serviços para Cirki. Ficou curioso sobre ela, contudo estava sem tempo. Antes de dar os primeiros passos para partir, perguntou:
— Pode me dizer seu nome?
A moça hesitou, parecia receosa.
O Meio-sangue passou as cortinas, que obstruíam a luz das luminárias que alimentavam a sede. Do outro lado, a claridade já banhava sua face, quando obteve sua tão desejada resposta.
— Layrrel.