Volume 1
Capítulo 14: Escória
Uma medonha presença parecia emanar do Paladino Imperial que estava diante dos Caça-contratos. Sequer se preocupou com a desvantagem numérica, seu olhar transmitia uma total confiança nas próprias habilidades. Não demonstrava intimidação, pelo contrário, sob um de seus pés parecia brincar com a cabeça decapitada de Harter, morto por suas mãos.
— Venham me pegar! — Ele chutou a cabeça do Demônio na direção ao grupo.
Os dois colegas seguraram Barock, que respondeu com a voz repleta de ódio:
— Desgraçado! Você pagará pelo que fez! Capacho do império — alegou, enquanto se recordava do passado, quando ainda era fraco e ingênuo.
— Parece que não podemos correr, camarada. — Teslan forçou um sorriso no rosto, como se risse do perigo. Sabia a dimensão da ameaça que aquele indivíduo representava aos três, mas não pretendia fugir tão precocemente dali, com seus poderes.
Egoístas, violentos, impulsivos, baderneiros, assassinos. Todas qualidades capazes de definir os Demônios. No entanto, dentre tantos aspectos que formavam sua visão deturpada, havia um traço que esboçava uma gota de moral em seu caráter incorrigível. Não fugiriam. Afinal, não existia uma desonra maior para um Demônio do que fugir de uma batalha. O desejo de lutar corria por suas veias, mostrando que nada impede que até o mais vil dos vermes possa às vezes demonstrar uma centelha de glória.
— Vamos acabar rápido com isso. — A espada do Paladino passou a ser envolta por uma corrente de ar.
O adversário, impulsionado por seu poder de manipular o ar, se moveu com uma velocidade sobre-humana, mas foi repelido momentaneamente por uma sequência de pequenas explosões negras que mudavam de trajetória conforme Teslan manuseava seus orbes corrosivos.
— Preparem-se! — O controlador de maldições distribuiu dezenas de marcadores pelo ambiente.
Os três entraram em formação defensiva.
O guerreiro imperial olhou para cima, intrigado com as estranhas marcações.
— Parece que verei alguns truques interessantes.
O Paladino respondeu aos preparativos do Caça-contrato. Com um movimento de sua espada, desferiu uma rajada de ar que desceu como uma bomba sobre o trio, mas, antes do impacto, Teslan conseguiu manipular alguns papéis adornados com maldições negras que ao entrarem em contato com os poderes do soldado imperial, resultaram em uma eclosão que ecoou pela galeria.
— Estão bem?! Qual é o plano? — Cão olhava aflito para os companheiros.
— Lá vem!
O avanço do oponente foi sucedido por múltiplos ataques do usuário de maldições. Formidavelmente os evitou com relativa facilidade, já próximo ao grupo deu vida, de forma sobrenatural, a uma grande e sólida foice de vento que, ao descer, apenas não os atingiu porque Teslan teletransportou o trio até o outro lado do ambiente.
Barock disparou um tiro que se perdeu contra o turbilhão de ar que envolvia o Paladino.
— O que faremos?!
— Não acho que sejamos capazes de derrotar esse monstro, porém ainda estamos em missão. Fiquem juntos caso tenhamos que sair corridos daqui.
— Explode logo esse infeliz — disse Cão, que apontava para o manto vermelho.
— Seja prudente e mantenha o foco… — comentou Teslan. — Talvez eu seja obrigado a pôr em prática algo que tenho em mente, mas antes disso peguem isso. — O Demônio entregou um pequeno papel quadricular com escritos vermelhos para cada colega. — São marcadores que anulam poderes, tentem usá-los, se puderem.
O Paladino avançou novamente, atacando o terreno para ocultar sua exata localização com uma nuvem de poeira. Segundos depois, o sopro de uma forte brisa logo se tornou um violento turbilhão de ar, quase capaz de cortar as maçãs do rosto e o vinco dos dedos dos Caça-contratos que tentavam, sem sucesso, se agarrar no que podiam, enquanto eram separados em meio à desordem.
Teslan ainda buscava o paradeiro dos aliados, quando foi surpreendido pelos pés pesados que romperam a nuvem de poeira e derraparam sobre as pedras soltas, ao seu lado. Antes de ser atacado, conseguiu lançar um orbe prateado, mas este foi evitado pelo manto vermelho, com um giro no ar. Brecha para Cão surgir já puxando o colega para um ponto mais denso.
Desagradado com a sincronia da dupla, o Paladino avançou sem grandes preocupações, detendo as ações de Teslan e destruindo seus marcadores. Cão o interceptou, seria morto em um embate franco, porém a distração permitiu uma brecha para o veterano lançar outro orbe prateado.
De início, o espadachim o evitou, contudo não esperava que, após desviar, a esfera mudasse subitamente de trajetória, devido a um dos marcadores do usuário de maldições espalhados pelo ambiente. Às pressas, se protegeu como pôde ao se envolver em uma espiral de ar e detritos, mesmo assim a ação foi seguida por um grito de agonia. Apenas a brisa ácida da esfera foi capaz de lhe causar pequenas, mas dolorosas queimaduras em um dos braços e no lado esquerdo do rosto.
— Seus vermes asquerosos! Vou estraçalhar vocês!
O manto vermelho sentiu uma presença no sentido oposto e se virou.
Um fleche se destacou na nuvem de poeira e a silhueta de Barock ganhou forma quando um tiro rompeu a paisagem turva, afugentando o inimigo por algum tempo. Assim pensaram, porém, mais adiante, uma tímida espiral logo cedeu espaço para um grande redemoinho de detritos que dançava desordeiramente em busca dos forasteiros.
Barock recarregava a arma, quando o Paladino lançou uma segunda lâmina de ar, a qual somente não o atingiu porque Cão se atirou sobre o companheiro.
— Chega de jogos, contemplem as verdadeiras extensões de meu poder. — Uma aura negra e sombria pairou sobre o corpo do soldado imperial, quase sufocando o trio com uma presença horripilante. A partir desse momento, passou a manifestar o controle das sombras e desferir poderosos ataques intercalados oriundos dos atributos trevas e vento, que tornaram o local uma grande nuvem de detritos com a ferocidade dos golpes que ressoavam como trovões sobre as delicadas estruturas subterrâneas.
— Barock, cuidado! — alertou Cão, ao ver um rochedo despencar perto do Demônio.
— Como ele pode dominar dois atributos? — perguntou Teslan, que canalizava a próxima esfera.
O Paladino percebeu que Cão era o elo mais fraco e também como suas intervenções davam a liberdade para as investidas dos aliados. Em virtude disso, o guerreiro envolveu o campo de batalha em sombras turvas e investiu sua fúria contra o novato.
— Desapareça!
Com dificuldade, o Caça-contrato recebeu o golpe com a espada, o que fez seus braços latejarem e ser empurrado para trás. O agressor forjou uma segunda lâmina e aplicou uma nova ofensiva contra o Meio-sangue, que foi retardada mais uma vez.
— Seu destino já está selado. — O Paladino desferiu um poderoso chute que o arremessou longe, até chocar-se contra uma das paredes subterrâneas.
O corpo do Meio-sangue doía intensamente, estava atordoado e com escoriações. Ao fundo ouviam-se os gritos dos companheiros. A cada segundo que passava entravam em uma situação ainda mais crítica. Em meio a um turbilhão de sentimentos e o perigo iminente de morte, começaram a surgir manchas escuras em sua pele, as quais desta vez ficaram totalmente visíveis. Eram nomes, centenas, daqueles que havia ceifado a vida e de muitos outros de que sequer se recordava, marcas macabras de um tortuoso passado que aos poucos revelava as primeiras peças de um quebra-cabeça. Um enorme poder aflorava de sua presença.
Ao ver uma nova ameaça nascer, o guerreiro imperial, impulsionado por seus poderes, se lançou como uma flecha sedenta.
— Morra, Caça-contrato!
Com uma força e agilidade sobre-humana, Cão conseguiu amortecer a espada do oponente com a própria lâmina e contra-atacou, afastando-o. Seus movimentos elásticos e esguios, agora se tornavam mais rápidos e explosivos, suas investidas adotaram uma postura mais feroz e foi capaz de trocar alguns golpes com o Paladino, sem grandes dificuldades. Todos ficaram surpresos, porém, a reviravolta que o novato esperava não ocorreu como tinha em mente.
O terreno aberto não o beneficiava e seu adversário possuía habilidades versáteis que tornavam seus movimentos imprevisíveis. Sozinho, apenas se aproximar já seria um grande martírio, mas, com a cobertura dos aliados, o repique de aço marcou o início de um pequeno duelo.
O membro do esquadrão da morte estava habituado a encarar situações adversas para obter sucesso em suas incursões. Suas feições alvas expressaram uma aparente determinação quando decidiu usar todo seu poder em prol de manter escondido a natureza das atividades realizadas no local, demonstrando que até entre os assassinos existe alguma lealdade. Seus olhos começaram a adotar uma tonalidade amarela e sua pele tornou-se mais pálida, começava a manifestar de maneira súbita marcas características da febre do demônio, porém, em vez de sofrer os sintomas da enfermidade, era tomado por uma enorme força que varia o trabalho em conjunto dos três para longe, abalando as estruturas do recinto. Tal ação fez algumas das rochas presas ao teto virem abaixo.
A destruição estava estampada por toda parte, assim como no estado lastimável dos três Caça-contratos. Teslan, após um longo suspiro, passou a caminhar em frente, decidido a mostrar para todos as verdadeiras extensões de suas habilidades, envolvendo-se em uma espiral de marcadores negros, que o protegiam. O casaco negro do manipulador de maldições passou a tremular intensamente no ar com a energia que crescia dentro de si, seus cabelos também esvoaçavam e seus olhos profundos ganharam um laranjado vivo. Os detritos ao redor flutuavam devido a atmosfera formada. Mostrava a real força de um sangue nobre.
— Chega de jogos! Você já causou problemas demais, monstrinho. Agora se prepare, porque vou chutar sua bunda para longe daqui. Não tem nenhum problema com isso, não é? Acredito que será capaz de me entreter, pelo menos um pouco. — Teslan afastou o Paladino com seus orbes negros, na sequência, alguns de seus marcadores se prenderam nos pedregulhos soltos pelo ambiente, tomando o controle dos rochedos que começaram a levitar, os quais logo os arremessou contra o inimigo.
Com toda sua destreza, o manto vermelho desviava na medida do possível dos múltiplos ataques desferidos por Teslan. As paredes rugiam e explosões negras tomavam conta do ambiente transformando um simples embate em um grande campo de guerra, nos confins de Vespaguem.
— Maldito inseto, você nem tem a ideia de como está sendo tolo em lutar contra nossa causa. — Ele lançou um poderoso ataque de vento que, ao entrar em contato com uma barreira de marcadores do Caça-contrato, provocou um novo princípio de desmoronamento.
Tudo que Barock e Cão podiam fazer era acompanhar, de um ponto distante, as ações do aliado, para não serem engolidos pela frenética luta que alimentava uma densa nuvem de poeira no ambiente que ruía.
O Paladino Vermelho e Teslan flutuavam e trocavam violentos golpes, enquanto deslocavam-se velozmente com o desenrolar do confronto. Explosões e projéteis negros ganhavam espaço à medida que o cenário ficava cada vez mais caótico.
— Aceite seu fim, sabe que não pode me vencer.
Uma nova leva de marcadores se prendeu nos rochedos que desta vez também foram tomados por uma coloração negra.
— Domínio restringido — disse o Caça-contrato ao lançar centenas de escombros, que cada vez caíam de maneira mais acelerada, ao redor do guerreiro, esmagando-o dentro de uma grande esfera de rochas que crescia vertiginosamente.
Com dificuldade, o inimigo, sujo e com as roupas desalinhadas, conseguiu se esgueirar para fora, a base de violentos golpes que abriram caminho entre as pedras. Quando voltou a encarar o Caça-contrato, viu uma listra de sangue nascer de seu nariz. Os efeitos colaterais de tamanha medida começavam a se manifestar.
O guerreiro imperial apontou a espada para o oponente.
— Não serei derrotado por um Caça-contrato.
Os ataques de Teslan provocaram uma sequência de eclosões negras que, somadas com os vestígios de destruição, deixam o ambiente ainda mais turvo. Nessa oportunidade, o manto vermelho, com uma apurada precisão, condensou um imenso chicote trançado a partir de suas sombras, acertando o Caça-contrato que caiu brutalmente contra o solo, já desacordado.
— Se arrependa no além por cruzar nosso caminho.
O guerreiro, ofegante, ergueu a espada pronto para o ataque derradeiro, contudo, entre os escombros, não percebeu a aproximação de uma esfera ovalada e metálica que explodiu, dando origem a uma cortina de fumaça. Em seguida, Barock surgiu na direção oposta, com um movimento sedento de sua densa barra de ferro, a mesma com que treinava no pátio da unidade, dias antes. Ela cortou a paisagem turva e explodiu contra o Paladino.
Ainda atordoado, o soldado imperial soltou um grito esganiçado, franziu a testa, se envolveu mais uma vez em sombras e disparou golpes a esmo para afugentá-los. Barock e Cão recuaram carregando o companheiro, na tentativa de se distanciarem do agressor e repensarem suas possibilidades, assim que possível.
— Resistir é inútil! — Mesmo desorientado, um de seus ataques atingiu parcialmente a dupla que debandava.
— Pessoal, onde vocês estão? — chamou Cão, em busca dos companheiros, diante do cenário em ruínas.
Sua busca logo cessou ao pressentir a aproximação do Paladino pelo ambiente turvo. Os dois passaram a trocar violentos golpes de espada que marcavam, a cada encontro, um reflexo reluzente na paisagem opaca.
— Desista, Caça-contrato — disse o guerreiro imperial, no controle do embate.
— Para o chão! — gritou Barock para Cão, quando surgiu nas costas do manto vermelho, com sua arma em mãos.
Cão não recuou e desferiu um corte horizontal com sua lâmina. Foi um movimento calculado, a espada do Caça-contrato voou para longe, mas, na sequência, sacou uma pequena arma de fogo que ganhou de Barock, enquanto carregavam Teslan, e atirou na direção do Paladino.
O Demônio usou seus poderes em si mesmo para aumentar a própria velocidade e desviar, porém não foi o suficiente para sair ileso. O soldado imperial soltou um grito agonizante, quando uma das balas arrancou metade de sua orelha direita, que rodopiou no ar, deixando uma baforada quente e um zunido agudo e contínuo em sua cabeça.
— Seus insetos, vou dar cabo de vocês aqui e agora! Pagarão com a vida por atrapalharem nossa causa e interferirem nos interesses do credo. — A intensa ventania que não cessava se propagou em um tornado que passou a envolver o corpo do Demônio e abalar as estruturas do recinto.
Em uma última tentativa, Cão o provocou:
— O que pretende com tudo isso? Por acaso perdeu toda aquela confiança? — O guerreiro respondeu se aproximando com uma rapidez absurda e preparou um grande ataque a queima roupa. — Volte para seu castelo, seu verme! — Com o descuido do inimigo, Cão ativou o marcador vermelho que ganhou de Teslan, capaz de inutilizar poderes. Ao anular o ataque, gerou o colapso de uma grande explosão que marcou o início do desmoronamento do complexo, em um processo lento e gradual.
As paredes vibravam e os pilares ruíam. Em meio a um iminente soterramento, Barock surgiu da névoa, exibindo seus dentes amarelos. Gotas de suor banhavam seu rosto e uma careta se revelou em sua face assassina quando acionou o compartimento escondido da mochila de ferro.
— Morra, desgraçado! — Barock, ao acionar um alçapão oculto em sua mochila de ferro, disparou uma grande explosão flamejante, acompanhada por numerosos projéteis incandescentes, compostos por balas, moedas e lâminas envenenadas feitas do aço godafer, causando um zunido estridente em meio a uma rajada de chamas ardentes. Ativava um de seus trunfos, sua arma, Meia-noite.
Apesar da ferida nas costelas e das várias escoriações, o Paladino novamente avançou, em uma marcha cambaleante, envolto por um vendaval de vento que tomava conta do ambiente.
“Como ele ainda está vivo?”, pensou Barock.
— Malditos! Miseráveis! Seus Demônios de classe baixa. — Com um chute no estômago, derrubou o Caça-contrato e voltou a golpeá-lo com seus pés pesados. — Vou quebrar cada osso do seu corpo, seu infeliz.
Barock pouco podia fazer, seus punhos queimavam como brasas após o disparo de sua arma, porém em seu olhar ainda se mantinha viva a ira de um verdadeiro guerreiro, recusava-se a desistir.
— Quero ver se continuará com esses olhos depois disto. — Em meio aos gritos, o manto vermelho lentamente torceu o braço direito de Barock, o estalar de ossos acompanhava como seu membro alcançava uma posição cada vez mais inatural.
A dor tomava conta de seu corpo, respirar se tornava mais difícil. Sabia que era necessário colocar tudo em jogo para terem uma chance de escaparem. Ao engolir uma espécie de pílula e fazer o gesto do louco, Barock resolveu usar sua cartada final.
Em uma medida imprudente, o veterano passou a devorar as sombras que envolviam o Paladino, usando sua habilidade, consumir. Um de seus olhos ganhou a tonalidade negra, assim como as manchas que passaram a florescer em sua pele morena.
Tomado por um enorme poder, Barock começou uma luta que percorria toda galeria e abalava as delicadas estruturas, acelerando o desmoronamento. Conseguiu reforçar seu braço que ganhou uma tonalidade mais escura e também adquiriu a capacidade de sintetizar armas através das sombras que engoliu. Os golpes dos dois ressoavam pela galeria de túneis à medida que poderes eram lançados e armas físicas produzidas a partir das sombras que colidiam umas com as outras.
— Descanse para sempre nessa caverna — falou o Paladino Imperial, quando o encurralou contra um dos paredões de pedra, pronto para dar um fim a batalha.
No último segundo, Teslan, agora desperto, surgiu da poeira e teletransportou o aliado que reapareceu ao lado do inimigo.
Com a brecha, Barock desferiu, em um movimento raivoso, um corte diagonal com sua espada negra, feita de sombras, que se partiu ao explodir contra o guerreiro imperial.
Ele ainda cambaleava quando, com um ataque em conjunto, os dois veteranos desferiram um poderoso ataque formado da combinação de seus poderes. O soco sincronizado da dupla, com seus punhos envoltos por um vórtex negro, eliminou o Paladino com um impacto similar ao de uma bomba contra o chão. A energia resultante ganhou a forma de um redemoinho negro e causou uma grande cratera, acelerando o colapso total da galeria.
Após o ataque, Barock caiu de joelhos, sem dizer nada, estava ofegante e sentindo os efeitos colaterais da pílula que ingeriu. Ele olhou para a palma das mãos enquanto se recordava de eventos que ocorreram pouco antes de entrar na ordem.
Cão perguntava-se o que seria aquele sentimento que tomava seu corpo, intrigado com os momentos que mais pareceram horas com a sofrida vitória diante da longa batalha. Exaurido fisicamente, via o teto e toda galeria de túneis desabarem em sua direção.
Quando tudo parecia fadado a um triste fim, com o colapso do complexo de túneis, Teslan tossiu um pouco de sangue antes de se levantar com dificuldade. Estava no limite, mas fez um último esforço para enfim tirá-los da galeria.
Conforme os escritos negros de Teslan cobriam seu corpo, Cão sentia os tremores gradualmente reduzirem. Ao olhar para trás, pensou nos mistérios que permaneceriam em segredo com o gigantesco desmoronamento e também, após sua visão, se de alguma forma o episódio, envolvendo os desaparecimentos ao longo da cidade, poderia estar relacionado com seu passado.