Sonhos Cruéis Brasileira

Autor(a): Andrei Issler


Volume 1

Capítulo 10: Desafortunados

Após muito esperar na estrada principal do esquadrão, Teslan surgiu, dizendo:

— Hoje faremos compras para abastecer o estoque da irmandade. — Nesse momento, uma carruagem parou em frente aos portões da unidade.

Sua tarefa consistia basicamente em segui-lo durante as compras das provisões para os membros da unidade. Cão ficou pensativo com a situação, já que não via a necessidade de um componente com tanta influência dentro do círculo realizar uma atividade tão recorrente, ainda mais requisitando sua ajuda sendo que outros Demônios poderiam escoltá-lo com maior segurança.

O responsável pelas compras era Teslan, enquanto o novato apenas o acompanhava e levava as mais variadas mercadorias até a carruagem.

Assim que viu uma brecha, Cão aproveitou a oportunidade para realizar algumas aquisições, já que não teve como explorar o  Fosso desde que ingressou na irmandade.

Apesar de sua posição, ainda era um Caça-contrato e recebeu, mesmo que de forma desigual, uma respectiva quantia, quando aceito na ordem. Nesse meio tempo em que Teslan terminava a tarefa, Cão adquiriu roupas de couro de um marrom escuro, que substituíram suas vestes que começavam a entrar em um estado deplorável. Contrastaram bem com seu cabelo preto e fisionomia esguia. Também comprou uma série de alimentos para seu consumo próprio, mesmo sabendo que estes últimos eram fornecidos gratuitamente para todos, claro que de forma precária para uma parcela em específico dos integrantes.

— Gosto de explorar o Fosso, mas esse não é o motivo pelo qual eu o trouxe até aqui. Pensei em ter uma conversa longe dos olhos de todos — disse Teslan que terminava às compras.

— Sobre o que pretende falar?

— Não precisamos ter tanta pressa. Por acaso Esfer encheu sua cabeça com ideias erradas sobre nós?

— Esfer é um Impuro e chegou há pouco tempo na unidade. Ainda desconfia de tudo e de todos, entendo o lado dele… É sempre bom estar com os olhos bem abertos. Também não confio muito em você inclusive.

— Quanta consideração… mas não os culpo. Também sempre procuro ver à frente.

— Onde quer chegar com isso? — perguntou Cão averiguando as próprias compras.

— Primeiro, me ouça um pouco. Como sabe, as propriedades dos poderes dos Demônios não seguem uma regra, porém costumam ser passados de acordo com sua linhagem. Contudo, existem algumas anomalias.

— Estou ciente disso, mas a que anomalias se refere?

— Já ouviu sobre os Maculados? — rebateu Teslan. 

“Outra vez esse assunto? Melhor eu ficar calado”, pensou.

— Não, isso é algo que eu deveria saber?

Ele olhou para os lados antes de continuar. 

— É como chamam Demônios que possuem habilidades únicas, essas exceções geralmente são muito poderosas.

— Poderes com particularidades… — murmurou Cão.

— Meus poderes estão vinculados a maldições, uma habilidade muito versátil. Alguns até nos consideram verdadeiros Maculados. Assim como eu, existem seres com particularidades únicas, vendo você, acredito que seu caso seja algo similar, apesar de não poder ajudar muito.

— Parece que sou uma causa perdida.

— Não fique assim… — Teslan mexeu e pegou algo da cesta que carregava. — Veja isso, é carne, algo valioso como sabe. — Ele jogou para o novato um pequeno papel quadricular com um símbolo estranho e negro. — Se conseguir quebrar essa maldição, ela será sua.

Cão tentou algumas vezes, ouvindo os conselhos do veterano, porém não obteve sucesso. O Demônio, apesar de desapontado, decidiu presenteá-lo de qualquer maneira. Com isso, os dois embarcaram mais uma vez na carruagem e regressaram para a sede do esquadrão.

Em frente da unidade, Cão se despediu. Neste momento, finalmente encontrou uma brecha e partiu rumo ao Covil das Feiticeiras, algo impossível devido aos acontecimentos que perturbaram seu dia até então.

 

☼☼☼☼

 

Mais tarde, depois de uma longa viagem pelas sinuosas e apertadas passagens do Fosso e pelos extensos percursos realizados pelos precários elevadores que interligavam o subterrâneo à superfície, Cão chegou ao seu destino. Uma imponente construção de paredes cinzas e janelas pretas, localizada diante de uma das principais ruas que levavam ao centro, a área nobre da cidade, também chamada dê as Casas Centrais, as quais preenchiam as cercanias do palácio de Vespaguem.

Embora imenso, o Covil das Feiticeiras demonstrava as marcas do tempo. O ambiente era movimentado, assim como no lado de fora, sendo frequentado por diferentes públicos que vinham em buscas de respostas para seus dilemas. O movimento acelerado dificultava o atendimento, fato que fez Cão aguardar mais que o esperado.

Aproveitou o tempo para analisar com mais cuidado o espaço. Era perceptível que internamente a situação de algumas atendentes se contrastavam, tendo em vista que poucas esbanjavam luxo, o que salientou que o drama dos Impuros, na ordem dos Caça-contratos, não era um caso isolado. Algumas inclusive davam indícios que realizavam os mais variados “serviços”.

A voz de uma Demônia alta e esbelta pôs fim em sua angustiante espera. Ela possuía longos cabelos castanhos e trajava um longo vestido marrom que já havia visto dias melhores.

— Que horror, você está podre! Saia daqui antes que afugente todos os nossos clientes — afirmou Fira, uma das atendentes do estabelecimento.

— Como assim?! Eu estou limpo!

— Essas maldições… — As narinas da Demônia ardiam e seus olhos lacrimejavam. — Essa maldita nuvem negra que paira sobre você está empesteando esse lugar feito um ovo podre. Você é uma desgraça ambulante. — Ela cobriu o nariz com uma das mãos e sua voz ficou anasalada. — O que diabos o trouxe aqui?

“Como assim? Quero bater nessa doida”.

Cão olhou torto para a segurança do local que impunha respeito e respirou fundo para manter a calma.

— Você irá me atender? Estou mofando aqui.

— Não é de menos, você é fedido. Além de tudo, tem cara e jeito de pobre — afirmou com um ranço no olhar. — Esse cabelo bagunçado e esse casaco marrom, aliás até parece novo, não sabe nem se arrumar.

“Quando é que essa desgraça de saia vai parar de falar?”

— Eu sou pobre — disse quase espumando de raiva. — Disso eu sei faz tempo. Só vim aqui para ouvir sobre maldições e a habilidade de manipular sombras.

— Vou ver o que posso fazer, fique aqui, volto em um instante — disse ela ao sair, abanando com uma das mãos o ar à sua volta.

— Ficarei aqui…

Foi um longo instante. Cão, que ainda aguardava, observou que um grande burburinho espalhava-se entre os clientes enquanto amarrava o cadarço de sua bota, que se soltou. Incomodado, refletiu sobre a aglomeração na ala de entrada que atrasou seu atendimento.

“Tanta demora não pode ser algo comum, certamente existe um motivo para todo esse atraso”.

Fira enfim retornou.

— Muito bem, me acompanhe, mas não toque ou olhe nada.

— Está bem. — Cão levou uma das mãos ao rosto, consternado.

Os dois adentraram mais profundo no estabelecimento. À medida que perambulavam, Cão percebeu que era o único cliente no interior da construção, situação que contrastava com a recepção.

A caminhada acabou ao chegarem diante da porta de um quarto onde uma linda funcionária o arrumava. Ela chamava-se Liprian. Seu cabelo era curto e loiro, tinha estatura mediana e assim como a amiga usava um longo vestido.

— Gostaria de falar sobre… — Ele foi interrompido por uma tosse forçada de Fira.

— Sim, Fira me pediu um quarto para atendê-lo — explicou Liprian.

— Ela? — Cão deu uma olhada de cima a baixo na atendente, a qual logo perdeu o sorriso que mantinha no rosto.

— Sim, ela.

— Como assim? O que você pensou de mim? — Fira colocou as mãos na cintura, incomodada.

— Você não parece ser muito… sábia — alegou o Caça-contrato com um tom de indiferença.

— Saiba que nós do Covil somos muito conhecidas por sermos eximíeis detentoras de conhecimentos, dispomos de luxos e glamour.

— É verdade? — perguntou, incrédulo. 

— Cuidado, amiga, não vá causar problemas.

— Sou uma usuária de espíritos e especialistas em maldições. — Fira começou a conjurar um feitiço para afrontar a insubordinação do cliente, enquanto ignorava completamente as palavras da colega.

Um círculo verde repleto de escrituras negras passou a cobrir o piso e brilhar ao redor de Fira. Lentamente surgiu uma pequena e horrenda criatura perto dela, verde como suas maldições.

Cão e Liprian viam a cena, apreensivos.

— Eu o amaldiçoou a ser nocauteado com um golpe na cabeça! — Um instante de silêncio antecedeu qualquer reação.

— Não… amiga… — lamentou Liprian.

A Feiticeira olhava para Cão, que após entender a situação, tentava esconder as risadas, sem sucesso.

— Achou engraçado?! Pois agora eu o amaldiçoo a perder seu emprego, ou melhor, será picado por uma víbora peçonhenta! — disse Fira proferindo seu mau agouro. Nervosa, nem percebeu que acidentalmente lançava as duas lástimas sobre o Caça-contrato.

Cão começou a rir de forma desenfreada. Já Liprian estava no chão, de joelhos, com as mãos cobrindo o rosto, desolada pela cena e envergonhada por causa da amiga.

— Por que está jogando maldições tão toscas? — perguntou o cliente que fingia tirar um cisco dos olhos para disfarçar as risadas.

— Elas são acompanhadas por penalidades para o usuário, quanto mais agressiva a maldição, maior serão os efeitos colaterais. No meu caso, sou afetada por energias negativas, mas elas são devoradas pelo meu familiar. — Fira acariciava a criatura enquanto uma veia se dilatava em sua testa.

Cão se recordava dos familiares de Calisto e Olfiel, não estava impressionado, ainda mais ao ver como a criatura que obedecia às ordens de Fira era tão feia.

— É o segundo que vejo hoje, já desconfiava que eles não eram lá grande coisa. — O Caça-contrato imaginou que a atendente costumava jogar muitas maldições, já que a pequena fera estava um pouco acima do peso.

— Desgraçado! Vou te socar até não sobrar nada que você possa chamar de cara.

— Desculpe — disse Cão recuperando o fôlego. — Aqui está bem mais quieto. O que está acontecendo? — Pensava novamente sobre o motivo da aglomeração na área de entrada, fato que causou uma longa espera até ser atendido, sendo que no interior do estabelecimento era o único cliente.

Liprian explicou enquanto ignorava a amiga:

— É que lá dentro com a mestra Tabata está um dos Sete Guardiões que servem diretamente Turcarian, senhora de Vespaguem. A chegada deste Demônio causou grande alarme, então decidimos deixá-los a sós. Encaminhamos os demais clientes para os ambientes mais afastados para evitar qualquer intervenção. Como tudo ocorreu às pressas, atendemos primeiro os visitantes mais promissores, por isso o nosso atraso em atendê-lo.

— Mas eu tenho dinheiro, aliás, se esse é o caso, eu não devia estar lá fora também?

— Sim, mas essa cabeça de vento…

— Não tenho culpa se você parece estar quebrado, até é difícil pensar no contrário — disse Fira desviando da afirmação da colega.

— Parece que eu perdi a viagem — comentou, pronto para sair.

— Ah! Ah! Ah! Até parece que nossa mestra iria atendê-lo — rebateu Fira.

— Sim… porém eu esperava por um atendimento melhor, vejam, tenho dinheiro.

O Caça-contrato mostrou para as duas uma considerável quantia de moedas. Elas ficaram interessadas.

— O que ele diz é verdade. — Liprian olhou fixamente para a amiga.

Fira pareceu compreender suas intenções.

— Ele também tem carne — falou, ao se agarrar na sacola do cliente como se a tivesse farejado.

— Por que está carregando tudo isso? — perguntou Liprian.

As duas o encaravam, surpresas.

— Bem, tive um dia agitado… e temos que nos alimentar.

— Verdade — concordou Fira.

— Certamente. — Liprian tomou a sacola de moedas do cliente com a velocidade de um raio.

Ela avançou para outro ambiente. Fira seguiu seu rastro, levando Cão a empurrões.

Cheio de perguntas e sem nenhuma resposta, o cliente se perguntou:

“Onde está o luxo e o glamour que ouvi há poucos instantes?”.

Não demorou para os três alcançarem um novo espaço.

— Bem-vindo a nossa cozinha. Não seremos incomodados aqui.

— Nos alimentar é algo importante. — Fira ainda irritada, procurava alfinetar as palavras do visitante, enquanto abria uma janela para arejar o ambiente.

— Entendi, agora me devolva minhas moedas — disse Cão, ao recuperar o saco das mãos de Liprian, avaliando a quantia e o peso.

— Bem, já que estamos aqui, não há mais a necessidade de enrolar.

Liprian se apoiou na mesa e começou a desabafar, sem esconder falsas aparências.

— Como pode ver, não fazemos parte do alto círculo daqui. Estamos na mesma situação de outras que foram acolhidas, realizamos diversos serviços e atendemos normalmente os menos afortunados que vêm para cá.

Cão começou a entender a situação enquanto encarava as duas.

 

 

Por um segundo, Cão chegou a ter um pouco de pena da dupla, já que viviam um dilema similar ao seu, mas logo percebeu que não era motivo para engolir tais desaforos calado. Com essa ideia na cabeça, suas palavras voltaram a semear espinhos.

— Agora percebo o que se passa. Fira, com esse tipo de maldições você deve ter uma vida dura — comentou, ao revidar os comentários ácidos da funcionária.

Ela avançou contra Cão, mas foi contida por Liprian, que estava claramente constrangida com a situação.

Fira ajeitou seus longos cabelos castanhos que transpareciam em cada madeixa seu temperamento tempestuoso.

— Isso não são maneiras de tratar uma dama, não presto este tipo de serviço que está insinuando, que seja… — disse Fira recuperando a postura. — Agora vamos continuar do ponto em que paramos. As maldições necessitam de uma troca equivalente, para usá-las a seu favor você deve assinar um contrato, porém como deve imaginar isso varia de Demônio para Demônio. No seu caso, nem consigo imaginar como um Feiticeiro fez um trabalho tão medonho. Certamente sua condição deve atrair muitas energias negativas. — Ela apoiou uma das mãos no peito de Cão. — Sua maldição é como um novelo cego. — Em seguida, ela limpou a mão na própria roupa, com uma cara de nojo.

— Acha que pode resolver isso?

Ela se afastou e se apoiou no balcão, despreocupada.

— Imagino que já saiba sobre sua afinidade com as artes negras, talvez possa se tornar até um Feiticeiro. Se quer mesmo se livrar dessa maldição, primeiro é necessário descobrir o gatilho de ativação. Tem alguma ideia?

— Bem… Nenhuma.

— Ah! Ah! Ah! E você falando de mim — alegou com um tom depreciativo.

Liprian apenas assistia enquanto preparava a mesa. Em apoio a sua amiga, o afrontou com uma cara de nojo, desproporcional a situação.

— Chega de deboche e me diga o que fazer — pediu, quase implorando.

— Comece se livrando dessas energias negativas. Sugiro que encontre um Feiticeiro e aprenda a controlar essas maldições, assim não terá tanto azar.

— Tenho a impressão que isso será uma dor de cabeça — respondeu balançando a cabeça de um lado para outro.

— Qual é o seu nome afinal? — perguntou Fira.

Cão a ignorou.

— É falta de educação não responder — alertou Liprian, com olhos curiosos.

— É … é apenas Cão…

Fira entrou em histeria de risos ao ouvir a resposta do Caça-contrato.

— Melhor, totó… — Liprian levou o dorso de uma das mãos à boca.

As duas soltavam gargalhadas, debochando mais uma vez do cliente. Cão, desolado, não sabia como escapar da situação.

— Ele ficou nervoso, amiga — alegou Fira.

— Amiga, parece que você tem razão.

As duas ficaram frente a frente com as mãos dadas, como se uma fosse a imagem da perfeição para outra e vice-versa.

Cão rangeu seus dentes de ferro. Aquela troca de palavras só o deixava ainda mais deslocado na conversa. Decidiu descontar propositalmente na carne que agora aparentava estar pronta. Como resposta, as duas se posicionaram para não ficarem para trás, se servindo na mesa sortida com tudo que o cliente havia comprado mais cedo.

— Ei! Não coma tudo — pediu Fira, com uma voz melosa.

— Você já passou do limite, não tem mais como eu sentir pena de uma criatura tão vil.

Guardas! — gritou Fira com uma voz estridente.

Ela nem teve tempo de terminar a primeira palavra, porque Cão cobriu sua boca com uma das mãos.

— Pare já com isso, sua louca!

Liprian ajudou sua amiga com uma das mãos enquanto com a outra cortava com a faca seu pedaço de carne. Cão, percebendo o risco que corria, tomou muito cuidado para não ser esfaqueado até o enrosco acabar.

O cliente já se preparava para soltá-la, quando foi surpreendido por uma mordida.

— Sua víbora peçonhenta — disse com uma voz fina, segurando uma lágrima.

— Temos que ser meninas precavidas, nunca se sabe quando um louco pode nos apunhalar. — Fira arrumava o cabelo como se sua afirmação soasse como a coisa mais natural do mundo.

A partir desse ponto, Cão pensou que apunhalá-la era uma possibilidade, de qualquer modo resolveu voltar a comer antes que seus prejuízos voltassem a crescer. Pouco depois, já não havia mais nada na mesa e todos ficaram fartos. O desafortunado cliente em meio aos adjetivos pejorativos que lhe eram atribuídos se preparava para sacar sua espada e trucidar as duas, tendo a convicção que alguma espécie de poder oculto estava prestes a despertar de suas entranhas. Mas, como um passe de mágica, uma estranha agitação o fez desviar sua atenção, abortando tamanha barbárie.

Eram as presenças de Tabata, a sábia dona do estabelecimento, e Vedrak, membro dos Sete Guardiões. Os dois saíam juntos do Covil das Feiticeiras, enquanto atiçavam os olhares dos clientes.

Fira aproveitou a deixa e arrancou parte do dinheiro de Cão como pagamento. Os três partiram por uma saída secundária, para evitar o incômodo de passar pelo grupo de curiosos que se formou.

— Volte sempre.

— Aguardamos seu retorno — falou Fira, balançando uma lamparina com uma vela aromática, como se expulsasse uma presença maligna.

— Vou pensar no assunto… — respondeu, sem nem olhar para trás. Tudo que Cão queria era se afastar daquelas larapias traiçoeiras e nunca mais retornar ao estabelecimento, como se adivinhasse que algo estava para acontecer.

No instante seguinte, foi covardemente golpeado na cabeça por um estranho encapuzado. A segunda maldição de Fira se cumpria.

Uma hora depois, com fortes dores de cabeça e ainda sonolento, Cão acordou em um beco nas redondezas, jogado em meio ao lixo. Um de seus dentes de ferro estava quebrado e seu dinheiro havia sumido, com exceção de algumas moedas que havia escondido nas botas, quando notou que sua passagem no estabelecimento poderia ser conturbada.

Era possível ver ao fundo o Covil das Feiticeiras. Com a cabeça latejando e cheio de dúvidas, partiu com uma única certeza, guardaria terríveis lembranças daquele local.



Comentários