Os Raios de Lost Sun Brasileira

Autor(a): Gil Amorim


Volume 1

Capítulo 7: Ladrão que rouba ladrão merece perdão?

Whitegrass. Dias atuais.

 

Escorpião-Sorrateiro! O maldito atirou em mim! Agora eu lembro de tudo! Ele e os caçadores atacaram minha cidade aquele dia! Mas, por quê?

Whitegrass tornou-se um cenário desolado à semelhança de Hodie.

Eu mereço. Eu fiz por merecer... Droga! Desculpe-me senhor Lawrence! Lígia, a mulher mais simpática que conheci nesta cidade e que me acolheu super bem quando cheguei. Herman, meu ajudante. Wallace, Jerome, Anne, Mary, Victor, Archie, Duncan, Arthur, Victoria, Helena...

Não restou uma alma viva para contar a história.

Cof! Cof!

Ouvi um barulho não muito longe dali. Alguém ainda mantinha-se vivo.

Corri em direção aos sons. Era uma mulher. Estava virada de barriga pra baixo com um furo de bala no abdômen.

— A-ajuda.... ajuda... — Ela dizia com dificuldade.

Virei-a rápido para ver o seu rosto.

— Julia?! Julia, acalme-se, eu vou te ajudar!

— O xerife...xerife... está vivo também... — Ela apontou em direção a uma drogaria. Havia um corpo lá.

— Xerife? Julia, sou eu!

— Não sei... não sei q-quem é... quem é você...

— Como não! Sou eu, Kenny! Kenny Ryan!

A moça cessou de responder-me.

— Julia?! Julia, fala comigo! — Sacudi-a com força.

Tentei ressuscitá-la com uma massagem cardíaca, mas não havia mais sinal de vida.

Droga!

Fitei-me no corpo que Julia apontou.

Dirigi-me a ele.

Hesitei em virá-lo de frente para mim, uma sensação ruim consumia o meu ser. Por fim, tomei coragem e virei o corpo para ver o rosto.

— O-o que significa isso? — Dei três passos para trás e caí de bunda no chão em estado catatônico.

Sou eu?! Aquele homem tem o meu rosto?!

Reparei no reflexo no vidro da porta da farmácia. O lenço que costumava cobrir o meu rosto estava abaixado. Aquela aparência no espelho não parecia-se comigo.

D-de quem é esse rosto? Este não é o meu corpo! Aquele caído no chão o é! Mas como?

— Largue esse homem, caçador! Veio aqui para terminar o serviço?

Fui encurralado novamente.

Era mais um daqueles homens de branco. O Indivíduo estava todo ensanguentado e com um dos olhos fechados. Tinha a pele negra, olhos verdes e usava um sobretudo com detalhes nas costuras em um dourado brilhante.

— Pode parecer loucura, mas esse corpo aí no chão é meu!

— Ele é a sua cabeça-prêmio, não é?

— Não, é literalmente o meu corpo.

— Como?

— É loucura, eu disse...

— Não brinque comigo caçador...

— É verdade! — disse um outro homem que saiu de dentro de uma das casas e fez um sinal com o chapéu. — Olá, novamente, Coiote-do-Deserto, ou melhor, Kenny Ryan!

— Escorpião-Sorrateiro? — falei assustado.

— Você! — disse o homem de branco. — Foi você que atirou nele! E também matou dois de meus companheiros! Não permitirei que escape dessa!

Eu sabia! Aquelas lembranças... Mas... como? Como eu estou lá e aqui...? E esse corpo diferente...

Acalme-se, amigos — Escorpião-Sorrateiro guardou a pistola no coldre e levantou as mãos — só desejo conversar!

— Não existe conversa com fantasmas! — O homem de branco apontou o revólver para Escorpião-Sorrateiro.

— Ouça, Coiote-do-Deserto! Você não é mais o Kenny Ryan! É apenas um fantasma em um corpo falso! Viu esse homem que parece contigo caído no chão? É o seu antigo corpo que foi morto por Lost Sun! Você era uma das cabeças-prêmios!

— Você! Foi você quem me matou! Eu me lembro de tudo!

— Foi uma troca!

— O quê?

— Você me matou também! Matou minha mulher e meus filhos! Apenas retribui o favor....

Enquanto falava, Escorpião-Sorrateiro levou um tiro no ombro do homem de branco.

O caçador começou a gritar loucamente de dor.

— Não invente histórias, fantasma maldito! — falou o Solarius.

— O-ouça, Coiote-do-Deserto — disse Escorpião-Sorrateiro. — Você sabe que o que eu te digo é verdade...

— Quando foi que eu te matei, maldito? — falei.

Elizabeth McDonald era a minha mulher!

Prudence?

V-você era o chefe dos capangas da fazenda do Touro Amarelo...?

— Sim... Uma troca justa, não? — O caçador esboçou um sorriso.

Escorpião-Sorrateiro jogou o diário em minha direção.

Estava Tudo lá. Meu nome, ilustrações com o meu rosto e os detalhes sobre a minha transferência.

— Um belo circo de horrores arquitetado magistralmente... Sabe, o xerife me contou que você seria o responsável pela minha morte e pela desgraça da minha família. Tudo o que eu pedi em troca foi... — Discretamente, Escorpião-Sorrateiro sacou a arma. — Que me oferecesse uma vingança!

Bang! Bang! Bang!

 

De volta a Lost Sun! Escorpião-Sorrateiro...! Atirou em mim covardemente...!

Apalpei o meu corpo. Percebi que desta vez eu não estava nu.

— Preciso voltar logo para Whitegrass! Droga! Droga! Droga!

Porém... Lost Sun não é uma seita de matadores, muito menos um órgão do governo! É uma cidade Fantasma, e eu... Estou morto!

Senti um volume maior no bolso do sobretudo preto. Havia um outro diário além do que eu ganhei do xerife. Era a agenda de Escorpião-Sorrateiro.

Há uma página solta no fim. Tem uma letra diferente...

— “Não desperdice a chance que te dei. Pode ser a última!”

O que significa...

— Bastardo! — dei um leve sorriso. — Todo aquele papinho de vingança para me enviar novamente a Lost Sun? Mas como eu vou enfrentar sozinho um bando de fantasmas matadores?

Uma luz movia-se em meio à névoa. Era o ajudante do xerife. Estava com uma cara mais séria que a usual.

— O xerife deseja vê-lo! Rápido!



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