Volume 1
Capítulo 6: Interlúdio
Três meses atrás. San Felipe, Colorado.
— Droga! — Lancei um copo de porcelana na parede!
Clank!
— O-o que foi, chefe?
— Você leu essa carta, Desmond? Os malditos querem me ferrar!
— Deixa eu ver. “Carta de transferência do Senhor Kennedy Vincent Ryan”. Diz que você será realocado para Whitegrass, Novo México... Mandarão um inútil como você para as terras sem lei?
— Ei! Olha como fala! Eu ainda sou seu chefe!
— Pelo menos agora você terá trabalho.
— Não estou com humor para as suas gracinhas, Desmond! Isso é bastante sério!
— Dizem que preguiçosos são inteligentes porque usam bastante a cabeça com o intuito de trabalhar menos... talvez encontre uma saída. Há! Há! Há! Há!
Dois meses atrás. Whitegrass, Novo México.
Logo após deixar a estação de trem, aluguei um cavalo e dirigi-me a Whitegrass. Ouvi relatos de que o lugar era apenas uma cidadezinha insignificante, mas que fora tomada de assalto recentemente por vagabundos da pior estirpe. Soube também que os últimos três xerifes morreram, assassinados, e nada impedia que o mesmo destino trágico me abraçasse.
Encontrei-me no caminho com várias caravanas que deixavam a cidade. Relatavam que demônios haviam tomado o lugar. Outros falavam de fantasmas.
Uma cidade fantasma.
No primeiro mês de trabalho eu consegui me virar dando cabo nas papeladas e documentos jurídicos empacados.
Prendi meia dúzia de peixes pequenos que se diziam integrantes de um bando chamado “Piolhos”. No mural principal da delegacia estava exposto o cartaz do procurado mais valioso daquelas bandas, o líder dos “piolhos”, o Piolho-Maldito.
Que apelido mais estranho e asqueroso!
Era um homem feio. Tão feio quanto seu nome. Para o bem da minha sanidade, deveria dar um fim nesse tal “Piolho-Maldito”.
Gostaria de um pouco de paz...
Era uma sexta-feira tranquila. Uma paz que aterrorizava a minha alma. A paz que eu almejava não se parecia com aquela quietude bizarra. A cidade parecia morta.
Bang! Bang! Bang!
— Xerife, estamos sendo atacados! Bandidos assaltaram o banco e estão atirando em tudo que se move!
Meu assistente caiu após alertar-me.
Também fora atingido.
Refugiei-me atrás da mesa do escritório e atirava desesperadamente contra a porta.
Alguns dos bandidos foram atingidos e morreram.
Saí da delegacia com cuidado, mas os tiros continuavam. Eram vários homens vestidos de preto, com um lenço cobrindo o rosto, montados a cavalos.
— Escorpião-Sorrateiro, olha lá o xerife que você está procurando!
Escorpião-Sorrateiro?!
Corri pela minha vida. Atirei sem olhar para trás, mas os bandidos montados eram mais rápidos que minha pernas.
Senti um golpe nas costas e cai com o nariz no chão. Fiquei tonto a ponto de não conseguir levantar-me.
— Kenny Ryan! — disse Escorpião-Sorrateiro.
— Q-quem é você?
— Um velho amigo...
— E-eu não te conheço!
— Não se preocupe. Irá conhecer!
Bang!
Estou morto?
Meus olhos desatavam-se com relutância. Aparentavam estar fechados por dias a fio, colados por aquela estranha secreção produzida por nossos corpos decrépitos.
Areia?!
Minha cara encontrava-se enfiada no chão em meio ao nada.
Levantei-me um pouco tonto.
Quando me pus de pé, cambaleei.
Meus olhos piscavam lentamente.
Desloquei-me para frente em busca de um norte, mas não enxergava nada. Uma neblina espessa cobria meu campo de visão. Meu norte veio com uma pancada que dei na placa da cidade. A cabeça, agora, doía dobrado. A única coisa que via era uma placa.
“Bem-vindo a Lost Sun”.