Os Prelúdios de Ícaro Brasileira

Autor(a): Rafael de O. Rodrigues


Volume I – Arco II

Capítulo 22: O Mundo, ato II (Interlúdio)

Nessa noite, cheguei em casa tão frustrado que mal dei atenção ao meu irmãozinho, Teruki. Eu havia prometido que leríamos As Aventuras do Senhor Kaeru, mas só pendurei a mochila na cadeira e me encolhi na cama.

Em toda escola que eu ia, ganhava a reputação de prodígio. Não à toa, já que eu dava tudo de mim para subir ao topo e receber aprovação dos outros. Porém, isso se tornou um vício. Eu não fazia ideia de como parar.

Certo dia, percebi que meus supostos amigos não queriam minha amizade. Eles só se aproveitavam de mim.

Nesse mesmo passado, eu também me aproveitei de alguém. Usei um amigo que eu presumidamente amava, pensando que, perto dele, eu... me destacava como um aluno exemplar. Não foi isso o que aconteceu?

Foi, não foi? Seja lá quando ou onde, não importa quem fosse essa pessoa cujo nome eu não me lembrava. Eu era uma pessoa horrível. Só me importava comigo mesmo.

Pra dizer a verdade, o que Hector fez não me afetou. Ele não tinha más intenções, tampouco queria me machucar. Algo que ele disse me trouxe memórias ruins, por alguma razão, e eu tive vontade de chorar.

Por ter descontado essas emoções nele, na outra semana descobri que ele havia mudado do clube de baseball para o de esgrima.

Ele era bruto demais, e todo mundo dizia que ele era melhor como o ás das rebatidas. Porém, o período avaliativo terminou. Ficaríamos nos clubes em que nos inscrevemos pelo resto do ano.

— Seu mau humor tá quase me matando, Teru — comentou Thes, enquanto terminávamos de almoçar. 
— Está tão na cara assim?
— Hoje você nem soltou o seu clássico “bom dia!” quando entrou na sala. Você só responde com “hm” e “sim”. Isso pra mim é tipo assistir a um filme de terror. 
— É, o mundo vai mesmo acabar.
— Deixe-me adivinhar. O baseball deu ruim.
— Eu entrei pro clube de literatura.

Quase cuspiu o suco.

— O clube de literatura? Sério?!
— O-O que houve?
— Nada não. É só uma feliz coincidência. Você está no mesmo clube dos meus dois... melhores amigos, digamos. Ou eu deveria dizer amigos com benefícios? Um deles é da 2-A, e a outra, da 3-C. 
— Então é por isso que você some às vezes, safadinho. Hoje vai ser meu primeiro dia, então quem sabe eu os conheça. 
— Poxa vida. Se eu soubesse, teria me inscrito no clube de literatura também, e nós quatro ficaríamos juntos. 
— O atletismo não é o que você gosta mais?
— Costumava ser, mas assim eu vou ser o único de fora. Ah, cara... — Ele deu um sorriso sem graça, coçando a nuca. — Aqui tá cheio, né? Que tal irmos pegar um ventinho no terraço? 

Chegando lá, sentamo-nos nas bancadas de pedra, olhando para o resto da cidade e os carros que passavam nas ruas.

— Sabe, quando você chegou e eu te vi no lugar onde Pirithous costumava sentar, eu achei que aqueles dias alegres voltariam. Eu idealizei um mundo onde você corria junto comigo e tentei te surpreender. Mas isso é errado — disse. — Pirithous é o Pirithous. Teru é o Teru. Por isso, é bom que você faça o que te deixa feliz. 
— Obrigado, Thes. Não sei se posso ser o mesmo que Pirithous, mas espero que a nossa amizade também seja boa pra você. 
— Ela é. Pode ter certeza disso. Na verdade, desde que eu te conheci, eu... Nah, não é nada. Depois da aula, te levo até o clube de literatura! 

Os pássaros levantaram voo.

No primeiro dia de aula, tentei não dar importância aos sinais. Já fui chamado de “Teru”. Já fui próximo de alguém que, assim como Theseus, era baixinho e sentava à minha direita.

Como se arrastado por uma correnteza, eu tinha vislumbres dessa pessoa tão querida. Não foi no passado, mas em outro presente e futuro; em um lugar parecido, mas diferente deste.

A nossa amizade era única. A existência dela era um verdadeiro tesouro pra mim. Eu não queria que nossas mãos se soltassem nunca mais. Ainda assim, a “grande cisão” as separou.

— Teru?

Atentei-me à sua voz, e vi sobrepor à sua figura um garoto de pele clarinha e cabelos negros curtos. Ele tinha óculos redondos e bochechas rosadas.

— Tsuba-...
— Hm? Tsuba? Eu não entendi, Teru. Pode repetir?

Foi uma visão. Era só Theseus ali, e ninguém mais.

— Nada não. Só senti uma tontura.
— É melhor descansar enquanto faz digestão.

No caminho para a sala, passamos pela porta do salão de ginástica rítmica, mas não havia placa, nem marcação.

— Ué. O que aconteceu com o clube?
— Que clube?
— O clube de ginástica rítmica masculina. Ele ficava aqui, não? Será que mudaram para outro lugar?
— Ginástica rítmica masculina? Do que está falando, Teru? A escola só oferece ginástica rítmica para meninas. 
— Eh...?

Ninguém parecia ter percebido a mudança, mas, desde essa manhã, o assento de Ganymede fora ocupado por outra pessoa.

Um rapaz de pele escura e cachos negros, com olhos da cor do citrino. Ele falava bem, levantava a mão mais rápido do que eu para participar das aulas e respondia corretamente às perguntas do professor.

Chamavam-no de Castor. Ele tinha um alter: sua irmã gêmea, Pollux. Pra ser mais exato, eram duas pessoas no mesmo corpo. Quando trocavam o controle de um para o outro, até os uniformes mudavam como mágica.

A preocupação me atiçava.

No toque de saída, quis me certificar de algo, e corri. E o pior: minhas suspeitas se provaram corretas. O clube de kendo, do qual faziam parte Achilles e Patroclus, também havia desaparecido.

— Tem algo de errado? — Thes se aproximava, preocupado.
— Não sei. Acho que estou pensando demais.
— Deve ser coisa de pessoas inteligentes. Tó, pessoa inteligente. Eu trouxe sua bolsa.
— Obrigado. — A peguei, e pendurei no ombro. — Bom, para a biblioteca nós vamos.
— Yaaay! Mas pera aí, você tá se sentindo bem mesmo? Estou achando seu rostinho meio pálido. 
— Eu vou beber um pouco d’água e vai passar!

Estantes móveis recheadas de livros. Escadarias, elevadores e um montão de estátuas de arte renascentista. Essa era a biblioteca da Academia Arcadia. Eu pensei ter morrido e ido parar no paraíso perfeito.

Exemplares de muitas épocas — e em ótimo estado, diga-se de passagem. A cada sessão, eu falava sobre algum que conhecia e ficava ainda mais curioso para dar uma olhada, pois nunca tive a chance de ler as versões físicas.

Quando estava prestes a pegar na maçaneta da porta da sala do clube, ela foi aberta pelo outro lado, e demos de cara com um rapaz alto e esguio, quase idêntico a Hector, mas de cabelos brancos como a neve.

Atrás dele, veio uma moça de madeixas pretas, longas e cacheadas, com olhos de uma cor amarelo-esverdeada.

— Theseus? O que faz aqui? — ela perguntou.
— Vim apresentar o novo integrante do clube! Teru, esses são Kosmo e Circe. Circe e Kosmo, este é Terumichi, da minha sala. Ele não é a coisa mais fofa do mundo? 
— Oh, então você é o Terumichi Kinjō que se inscreveu de última hora. Estávamos esperando por você. Seja muito bem-vindo. Me chamo Circe. Sou presidente do conselho estudantil! — Circe me cumprimentou. Em seguida, o segundanista fez o mesmo. — E este é Kosmo, representante do clube de literatura. 
— É um prazer conhecê-lo.
— O prazer é todo meu!
— Entre e fique à vontade. Nós vamos buscar o projetor na secretaria. 
— Obrigado. Farei isso — assenti.
— E quanto a você, menino Theseus, não ache que vai faltar ao clube de atletismo.
— Aaaah, mas eu queria tanto ficar com vocês...! Não podem abrir uma vaguinha, só hoje? Por favor, por favor, por favooor! — Os olhinhos dele brilhavam. — Brincadeirinha. É a minha hora de ir. Aproveite, Teru. Depois me conte como foi. 

Na despedida, os três se retiraram, conversando tão alto que a senhorinha da biblioteca teve que pedir silêncio. Que fofura. Vendo assim, pareciam bem íntimos.

Eu mal podia esperar pelo dia em que também estaria junto deles daquele jeito. Kosmo e a senhorita Circe soavam como ótimos companheiros. Uma pena não sermos todos da mesma turma.

De todo modo, isso nunca os impediu de estarem próximos.

Outra coisa me instigava a curiosidade: a semelhança gritante entre Kosmo e Hector. Não era coincidência. Eles só podiam ser gêmeos idênticos. E mais: a tinta que Kosmo usava para tingir os cabelos era das boas.

Entrei na sala e sentei na primeira cadeira que encontrei, sem me atentar a quem estava ao meu lado: os famigerados Dióscuros, gêmeos de um corpo só. Oh, pensando bem, até então era só um deles: a senhorita Pollux.

De todos os lugares possíveis, fui escolher logo esse. Dei um longo suspiro. Se eu não mantivesse a calma, ela perceberia minha atitude estranha. Era melhor agir de um jeito natural e respeitoso.

Olhei de relance, e ela tinha em mãos um... tamagotchi. Era um personagem bem famoso entre os mais jovens, o “Senhor Kaeru”, que o Teruki tanto adorava.

Depois de alimentá-lo, ela o guardou. Em seguida, abriu um caderno com capa e adesivos tematizados com rãs, e começou a desenhá-las no canto das páginas, formando uma animação no estilo flipbook. E ela era boa!

Por fim, gravou o resultado com o celular, dando uma risadinha alegre. Sua tela de fundo e bloqueio também tinham artes de rãs.

— Já terminou, Pollux?
— Sim, meu irmão.
— Você e os seus sapos. Sabia que é assustador quando eu acordo e a primeira coisa que vejo são pelúcias com olhões esbugalhados? 
— Não são sapos, são rãs. Criança Apocalíptica da Estrela Anã de Barbara, Luz da Ressurreição de Alcenoterius e Escuridão Absoluta de Hades são muito sensíveis. Elas ficariam tristes se ouvissem o que está dizendo. 
— Elas nem nos entendem.
— Isso é o que você acha.
— Só pode estar brincando. Além do mais, sapos e rãs não são tecnicamente a mesma coisa? 

Espera aí, espera aí, espera aí! Aqueles nomes super complexos eram nomes de rãs? Eram piores do que os nomes que a minha mãe dava para nossos antigos bichinhos de estimação!!

— Essa sua fixação vai acabar afastando nossos colegas. Não vê que todo mundo acha isso esquisito? — perguntou o mais velho. 
— Eu não estou nem aí para “todo mundo”. E você também tem hábitos bem peculiares, eu diria.
— Eu?
— Por vezes, você se esquece de que estamos com as cortinas abertas, e eu não consigo evitar senão espiar. O que são todas aquelas fotos de Hector, do segundo ano, na sua galeria? Você o está perseguindo? 
— E-Ei, shhhh! Fala baixo! São referências. Eu estou escrevendo uma light novel de beisebol, e preciso de referências harmônicas, condizentes com a realidade, para aprimorar minhas descrições. E ele é um bom exemplo. Quero dizer, o melhor exemplo. 
— O melhor exemplo, é? Questionável. Justo agora que ele abandonou os dias de glória no clube de beisebol para virar um fracassado. 
— Não vem ao caso. E fique longe do meu celular. Você tem o seu! E vamos parar já com isso, a palestra vai começar. 
— Tá bom.

Uma conversa vivaz entre irmãos.

A presidente do conselho estudantil e o representante do clube retornaram, iniciando uma apresentação bem fundamentada a respeito da finalidade do clube e de nossas atividades programadas para cada semana e mês.

Iam de discussões à elaboração de nossos próprios projetos. Participaríamos até de uma exposição de contos.

“Ótimo”, pensei. Eu teria a chance de colocar os meus dotes de escrita em prática. Modéstia à parte, o tanto que li também me fez um ótimo escritor — em especial na prosa —, e já recebi elogios dos meus corretores de redação.

Quem sabe esse clube incentivasse minha criatividade, que andava enferrujada por conta do teor técnico da nossa grade curricular. Como fui bobo de não tê-lo escolhido desde o início.

No fim do dia, Thes me convidou para voltarmos para casa juntos. Achei que ele se referia só a nós dois, mas, na calçada do lado de fora da escola, a senhorita Circe e Kosmo tomavam sorvete, aguardando-nos.

Apesar de os trens serem diferentes, o caminho até a estação era o mesmo. Dava tempo de sobra para bater papo.

— Começamos com o clube de literatura no ano passado, quando o Kosmo foi transferido de uma escola internacional na Indonésia — a garota explicava. — Eu fazia parte do clube de química, mas tive alguns problemas com eles no primeiro ano. Bando de nojentos elitistas. 
— A gente se conheceu na secretaria por coincidência. Depois, não nos separamos mais. Ahhh, eu tô tão feliz! Com o Teru, não mais seremos um trisa... digo, um trio, e sim um quarteto! 
— Você perguntou pra ele se está tudo bem com isso...? 
— Por favor, me incluam! — exclamei.
— Que rápido. Não tem medo de fazer parte dos esquisitos?
— Não somos esquisitos. Se me permite dizer, dentre os esquisitos da escola está o seu irmão.
— ... Ele é difícil.
— Querem dizer Hector?
— Você o conhece?!

Falei sobre a experiência no beisebol, e eles se entreolharam, confusos.

— Nós somos gêmeos, mas lidamos com as coisas de maneira bem diferente — explicou Kosmo. — O ponto crucial é que ele é todo carente, mas não assume. Além de não ter um pingo de traquejo social. Chega a dar pena. 
— Ele não tem amigos, e os colegas de classe dele só o admiravam por causa do beisebol. Admiravam, no caso. 
— Isso é mal...
— Kosmo já tentou dialogar, mas, se tem uma coisa que move esses dois irmãos, é a teimosia. 
— Ei! Não me inclua nisso!
— Você tem que aceitar seus defeitos — ela afirmou, e Theseus concordou.
— Nossa relação é complicada, okay?
— Por quê? Vocês não se gostam? — indaguei.
— A verdade é que eles se amam, mas não se entendem e vivem se bicando por besteira. 

No setor de embarque, cada um de nós foi para um lado. Não pude deixar de notar que, quando o grisalho topou com seu irmão, este me lançou uma cara de cachorro arrependido.

Nunca tive a experiência de voltar para casa com tanta gente me acompanhando. Honestamente, não foi nada mal.

Naquela época perdida nos confins do tempo, uma só pessoa vinha comigo — e eu quase me sentia culpado por ter encontrado amigos que me fizessem tão bem quanto ela fez.

Em casa, mal me troquei. Eu tinha uma promessa ainda por cumprir.

Com um monte de brinquedos esparramados pelo tapete do quarto, apaguei as luzes e acendi as lanterninhas coloridas. Botei o Teruki risonho no colo e nos cobri com o lençol.

Nossa noitada de leitura acabava de começar!

— Irmãozão! Eu vou ser o Senhor Kaeru! Eu posso? Posso?!
— Claro, como o Ruki quiser! Então, eu vou ser o Senhor Hikigaeru! Deixa eu ver aqui. Esse é o volume 33, não é? É a batalha decisiva entre eles e a Madame Hebi!
— Sim! Sim, sim!
— Terumichi! — a mamãe chamou, de lá de baixo. — Seu avô quer falar com você!

... O vovô?

— Eu já volto, Ruki. Me espera um pouquinho.
— Tááá!

Deixei os óculos na mesa e desci as escadas. O vovô costumava me ligar de vez em quando para contar as novidades e avisar dos presentes que pretendia me dar. Nossa regra principal era não fazer surpresas.

Eu amava quando ele vinha nos visitar. Passávamos horas conversando sobre livros que ninguém conhecia e mangás antigos, tipo Rosa de Versalhes. Oh, e sobre alquimia e psicologia analítica! Ele adorava Jung!

... Sim. Era ótimo. Ele não era só meu avô — era mais meu amigo. Divertíamo-nos assim com frequência, mas, ao mesmo tempo, era como se não tivéssemos conversado há meses. Eu sentia muita, muita saudade.

— Oi, vovô. Boa noite.
— Boa noite, Terumichi. Como está sendo na nova escola? — indagou, com uma voz nostálgica.
— Huh...? Ah, eu estou bem! Está tudo indo muito bem. Fiquei nervoso no começo, mas foi legal, e eu fiz novos amigos. 
— Está conseguindo acompanhar as matérias? Não é difícil?
— Eu gosto de dificuldade! É um pouco diferente do que eu estava acostumado, mas logo vou pegar o ritmo. ... Só que, assim, tem pessoas muito melhores do que eu lá. Dessa vez, posso não conseguir o primeiro lugar em tudo. 
— Ainda preocupado com isso...?
— E-Eu gosto de me esforçar e fazer por merecer. Ser o “Menino de Ouro” que faz o papai e a mamãe orgulhosos, e o senhor também, não é?
— ... Terumichi, me escute bem. Não importa o que você faça ou deixe de fazer, você sempre será o meu Menino de Ouro.

O tremor nas minhas mãos cessou. Um peso imenso pareceu ter sumido das minhas costas.

— Vovô, eu te amo muito!!
— Eu também amo você, garoto.

Ele se foi, no passado, e no futuro que se aproximava. Nossa despedida soou como um adeus.

Antes do meu terceiro ano acabar, perdi um pedaço da minha felicidade costumeira. Conheci pessoas que passaram por coisas difíceis, e, mesmo que fosse esse o meu papel, eu não tinha o poder para salvá-las.

Impotente como eu era, desejei por uma nova escola, um novo passado e futuro onde eu recriaria tudo. Até onde esse mundo gentil era realidade, e até onde ele era ilusão? Se isso era um sonho, por que eu ainda não acordei?

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