Os Prelúdios de Ícaro Brasileira

Autor(a): Rafael de O. Rodrigues


Volume I – Arco II

Capítulo 16: O Banquete, ato II (Interlúdio)

Diferentemente do que eu imaginava, a senhorita Circe não me deu bronca pelo atraso. Isso não era nenhuma obrigação minha, também. Eu só queria ajudá-la em sua pesquisa da forma que eu podia.

Ninguém a recompensava por isso, mas ela continuava dando tudo de si para estudar a alquimia e o Declínio, aproveitando dos recursos oferecidos pelo Anfiteatro para fazer experimentações.

Todo esse esforço não era só para dar continuidade ao legado do avô. Sendo um herói, ela assumiu uma responsabilidade para com o mundo, e eu acreditava que alguém como ela era capaz de mudá-lo.

Assim que demos um intervalo, examinei a pomada que fizemos para tratar de Hector. Pensei em dar algumas melhorias, em especial na sensação gelada que ele tanto detestava.

— Já sei! O segredo está na inter-relação entre essas duas substâncias! — Marquei a página do livro. — Olha, senhorita Circe. São elas que dão a sensação “gelada” do remédio.
— Bom trabalho. Procure algo para neutralizar o efeito e voilà.
— Será que não vai reduzir a eficácia?
— Abra a página cento e noventa e seis — disse, vindo ao meu lado e deixando seus cabelos cacheados caírem próximos ao meu rosto enquanto apontava para a substância em questão. — Essa aqui. Parece a mais apropriada pra isso. Ela é bem leve. Se não servir, desista da hipersensibilidade térmica do seu gato doméstico.
— Ah, faz sentido — assenti, um pouco vermelho. Ela cheirava tão, tão bem. — Eu vou procurá-la entre os frios.
— Porta trinta e cinco. Guichê sete. Está logo na primeira gaveta do congelador.

Ela decorava tudo. Tudinho.

A senhorita Circe era a pessoa mais incrível que já conheci. Estudar, aprender sobre coisas interessantes e ser produtivo, tudo isso ao lado de uma pessoa que dava tanto valor a isso quanto eu, fazia desses momentos uns dos mais divertidos.

No caminho, só fiquei meio encucado com o que senti quando ela se aproximou. Nós éramos bons amigos, e estávamos nos tornando relativamente próximos. Eu não descartei a possibilidade de ser só uma admiração, mas isso me deixou nervoso.

Ah, e eu quase estraguei a fórmula.

— D-Deu certo. Olha, está menos gelado mesmo.
— Já podemos abrir uma farmácia. Você tem talento pra isso, e nós damos uma ótima dupla. Eu te contrataria como meu auxiliar principal.
— Não precisa me bajular assim. Hehehe...
— É a verdade! — sorriu. — Quando isso tudo acabar, vou te levar para conhecer a cidade de Apollodorus e o Ministério das Ciências. Os mestres da farmácia vão te adorar.
— De fato, eu estou acostumado a ser o xodó dos meus mestres em Agartha. Por sinal, eu adoraria. Só fico meio receoso porque será um lugar completamente desconhecido pra mim, e...
— Obrigada, Terumichi.
— Pelo quê?
— Poder trabalhar com alguém que me entende, sem me preocupar com tantas limitações ou em ser desconfiada. Sinto que posso acreditar em você. Obrigada.
— O-Oh... Não há de quê.
— Eu não acho que haja uma cura para o Declínio ao alcance de meros humanos. Isso pode estar fora de cogitação. Mesmo se for o caso...

Ela foi até a estante, e trouxe um saquinho com um laço amarelo.

— Gostaria que ficasse com isso como agradecimento. Não é muito, mas fiz de coração.

O desenlacei, e dentro dele, havia... ração?! Era a ração que eu usava para alimentar as rãs, mas tinha algo de diferente na cor.

— Eu não sabia do que você gostava — continuou —, então fiz algumas melhorias na ração dos seus bichinhos. A antiga tinha uma quantidade inadequada de proteínas. Esses ajustes nutritivos vão ajudá-los a ficarem mais saudáveis. É fácil de preparar. Eu te ensino.

Meus olhos brilharam. Eu não parava de agradecer, segurando o presente como o que havia de mais precioso. Meu coraçãozinho fraco realmente estava dando saltinhos, isso era inegável.

Após nos despedirmos, dei uns tapinhas de leve em meu rosto. Ela claramente não me via dessa forma. Não era nada bom sair confundindo as coisas, só pra se arrepender depois.

Isso só podia ser uma provação. Uma das muitas provações que Psiquê precisou enfrentar após ter instigado a fúria da deusa do amor. Eu precisava ser corajoso a partir de agora.

Depois da princesinha por quem me apaixonei quando criança, nunca mais senti nada por garotas. Daí veio o Tsubasa e eu pensei que eu gostava só de meninos, e que os sentimentos daquela época eram fruto da minha inocência.

Porém, acho que eu realmente gosto de homens e de mulheres. Um pouquinho mais de homens. Também têm os que não se identificam nem como homem e nem como mulher, ou que se identificam como ambos, certo?

No Japão, usam a nomenclatura “x-gênero” para isso.

Eu me relacionaria com um homem, com uma mulher ou com alguém no espectro x-gênero sem problema algum. Isso me fazia o que aqueles folhetos da comunidade LGBTQIA+ chamavam de... bissexual?

Uhh, isso era tão complexo. Em primeiro lugar, é muito difícil não se sentir atraído por alguém quando se está cercado de pessoas belas. Não era minha culpa! E talvez eu nem precisasse dar tanta bola para as classificações.

O problema real era que havia dois Terumichis em meu ombro: um diabinho, que dizia que era tudo um jogo do tipo dating simulator e que eu deveria iniciar um harém; e um anjinho, alertando-me que eu já estava passando dos limites.

Chegou a hora do almoço. A minha barriga roncava. No caminho para o cenáculo, vi Ganymede levando três cestas de roupas para a lavanderia.

— Senhor Ganymede, deixe-me ajudar. — Eu corri e segurei duas das cestas.
— Filho de Trismegistus?! Eu não pedi por ajuda nenhuma! Peço encarecidamente me devolva os cestos.
— Ah... Tá legal.

Que grosseria. Eu só queria ajudar.

No momento que fui devolver as cestas, porém, ele jogou todas em cima de mim e quase fui ao chão.

— Aahh!!!
— Pensando bem, eu aceito a ajuda sim. Siga-me. Essas roupas têm que ficar branquinhas ainda hoje.
— Isso é pesado!
— Foi você quem se ofereceu para ajudar.
— Por que tantas? Isso aqui foi tirado de um guarda-roupa inteiro!
— Digamos que desde minha humilde chegada, eu tenho colocado as roupas para lavar poucas vezes. Elas acumularam.
— ... Sério? Mas por quê?
— Eu não gosto desse lugar. É tudo muito diferente de onde eu morava, e o cheiro que fica nas roupas lavadas é horrível. Mas que escolha eu tenho, não é mesmo?
— Para mim é bem agradável. É uma mistura de ervas, tipo lavanda e hortelã.
— Alguém como você não entenderia o que é o cheiro da realeza.
— Me desculpe por isso.

Despejamos as roupas nas máquinas, apertamos os botões e ficamos aguardando a lavagem. Aproveitando o ensejo, puxei um assunto pendente.

— Senhor Ganymede, eu gostaria de me desculpar pelo outro dia.
— Se desculpar? — Encarando-me, seu cenho deu uma franzida.
— Eu fui insensível. Não imaginava que aquele assunto fosse ser indelicado de se tratar.
— Ah, o facínora do Castor te contou. Esqueça, esqueça isso. Fui eu quem perdeu a razão e descontou a raiva em você. Aceite minhas desculpas no lugar.

Vi-me desacreditado. E pensar que o senhor Castor, uma pessoa que o conhecia há muito mais tempo do que eu, sugeriu que eu nem tentasse.

— Eu aceito — respondi.

Não trocamos mais uma palavra, até que os apitos da lavadeira acionaram para recolhermos as roupas.

Ele não me usou só para levá-las de volta a seus aposentos, mas também para arrumar suas coisas — uma bagunça, diga-se de passagem —, auxiliá-lo em dança com arco e retocar o esmalte de suas unhas.

— Diga-me, por que está fazendo tudo isso por mim? — indagou. — Você quer se tornar o meu servo, ou algo assim? Não se importa de ser o servo de um servo?
— Foi voc-... o senhor que me mandou fazer tudo isso, senhor Ganymede.
— Você poderia ter recusado. Está querendo jogar a responsabilidade para mim? Você já é bem crescido. Deveria aprender a tomar decisões por si mesmo.
— Não acredito que está me dizendo isso.
— Ahá, já entendi. Você está me cobiçando — apontou, com um sorriso sarcástico. — Sinto dizer, mas um aio não pode se apaixonar. Contudo, é perfeitamente compreensível. Minha beleza sempre foi do agrado de pessoas incultas e com cara de fazendeiro, como você.
— Não é isso! Definitivamente não é isso!! E o que está insinuando com “cara de fazendeiro”?!

Sua expressão mudou, repentinamente, para uma mais melancólica.

— Eu odeio isso.
— Huh?
— Eu não me importava em servir à minha senhora Pollux, pois ela é magnífica e bondosa. Ela era como uma irmã mais nova para mim. Mas agora aqueles dois mudaram, e eu não os reconheço mais. E por mais que estejamos em maus termos e eu os ache covardes, eu só tenho um lugar nesta Corte dos Heróis graças a eles, não é?
— Isso não é verdade — disse. — Vocês enfrentaram os perigos da Torre dos Filósofos juntos. Você teve uma parte importantíssima nisso.
— É, tem razão. Sem mim, eles provavelmente não teriam chegado ilesos. Um braço a menos, no mínimo.
— Meu deus...
— Mas esse é o meu dever — continuou. — Se eu não prestasse nem para isso, não haveria mais motivo para alguém como eu existir.
— E-Errado! — exclamei. — ... Senhor Ganymede, vocês são heróis. Eu entendo. Às vezes acontece de sentirmos que não temos outro propósito, e que se trairmos o que temos agora, nada mais faz sentido. Até porque essa foi a nossa vida até agora, certo? Mas, ainda assim, dá pra viver e ter experiências diferentes! Isso serve pra você também!
— Não seja tolo. — Saiu-lhe uma risadinha desajeitada. — Discursos emocionais não vão mudar como as coisas são.
— Que bom que conversou comigo sobre isso. Pude te conhecer melhor.

Posicionou-se com o arco, esticando bem as pernas e braços.

— Você me proporcionou a ótima experiência de ter um servo só pra mim. Está liberado. Nem me pergunte sobre pagamento.
— Como é?! Que absurdo. Eu o servi comida, penteei seus cabelos e até arrumei seu quarto, e você me manda embora assim? Eu nem almocei, sabia?
— É o que os servos fazem, ué. Se está com fome, agora é uma boa hora para ir comer.

Brevemente, ele deu piruetas pelo quarto, até aterrissou à minha frente.

— Se insiste por uma remuneração, terá que fazer muito mais por mim — disse num tom sedutor, fazendo-me arrepiar da cabeça aos pés. — E se for bem obediente, posso pensar em te recompensar com mais. Ah, mas talvez o seu comprometido não goste da ideia.
— Uwaaahh!! Eu não posso! Me desculpe, senhor Ganymede!! — Saí em disparada do quarto, quase tropeçando em meu vestido.
— Hunf. Idiota.

O-O que foi aquilo?! Ele estava dando em cima de mim? Já eram quatro pessoas pelas quais o meu coração pulou uma batidinha, e a lista só crescia.

Na verdade, havia uma explicação científica plausível para isso: hormônios. Os meus deveriam estar à flor da pele, o que fez do meu dia ser um daqueles. Eu tinha que dar um jeito nisso.

Ocupar a minha cabeça com algo, tipo comida. Isso, me alimentar resolveria. Mais tarde, em uma hora adequada, eu poderia fazer aquilo e ficaria tudo bem. Daria tudo certo. Isso aí.

Quando menos esperava, trombei com Theseus.

Ele era tão resistente quanto uma rocha, e não moveu nem um centímetro com o impacto. Pelo contrário, me abraçou por instinto para que eu não voasse com o ricochete.

— Teru! Vai com calma! O que aconteceu?!
— Thes, me salve! Eu estou com fome!
— Fome?! Está com tanta fome que veio correndo! Coitadinho! — Com tamanha facilidade, ele me carregou em suas costas. — Venha, vamos forrar esse estômago!

As máquinas prepararam uma refeição majestosa para nós, mas, por algum motivo, eu não consegui comer quase nada.

— Achei que estivesse com fome, Teru. Você tá só beliscando.
— Eu estou com fome, mas... Não sei. Não estou entendendo mais nada. Acho que estou entrando em pânico, Thes.
— Você veio dos aposentos do Ganymede, não? Ele fez algo ruim a você? Se fez, ele vai se ver comigo.
— Não, não. Relaxe. — Contra a vontade do meu apetite, levei uma colher à boca. — Thes, como funcionam os relacionamentos em Arcadia? Tem um “certo” ou “errado” para se relacionar com alguém?
— Relacionamentos? Está pensando em se relacionar com Ganymede?!
— Não!!
— Ahh, céus. Você me assustou. ... Bem, sobre “certo” e “errado”, na maioria das cidades é proibido um adulto se relacionar com um menor de idade. Boatos de que em Carmenta e Fortuna isso é legalizado, e que eles permitem até casamentos entre membros da família. Em Salacia, pelo menos, isso é uma violação da integridade da natureza humana.
— E quanto um homem gostar de outro homem, ou uma mulher gostar de outra mulher?
— É completamente normal. Por quê? De onde você veio, isso não é permitido?

Mesmo que eu tentasse, não conseguiria explicar tudo numa hora dessas. E conhecendo Theseus, isso o deixaria triste e preocupado comigo.

— Mais ou menos.
— Pelo que ouvi de histórias contadas, Arcadia também já foi bem durona sobre esses assuntos no passado. Hoje nós podemos nos relacionar independentemente do gênero, e até ter vários enamorados ao mesmo tempo!
— Sério?! Não tem problema em gostar de mais de uma pessoa?
— Que nada! Tem gente que gosta de se relacionar com uma só pessoa, é claro, mas isso vai de cada um. — Após beber um copão de suco, ele limpou a boca com um lenço. — Para ser mais exato, ter muitos vínculos amorosos e conúbios remete a virilidade e poder, mas eu não ligo muito pra isso. Pra mim, gostar de alguém por gostar é muito melhor!
— Isso é fofo. Tem pessoas de quem você goste assim?
— Uhum! Deixe-me ver, uma, duas, três — disse, contando nos dedos. — Há três delas! E estão todas aqui no Anfiteatro!
— Três?!
— Desculpem a demora.

Veio uma voz reconhecível da entrada. Olhei para trás, e eram Kosmo e a senhorita Circe.

O menor pulou da cadeira e foi cumprimentá-los com um beijo no nariz, e outro nos lábios. “Boa refeição”, diziam. Tratava-se de um costume de enamorados arcadianos beijar-se carinhosamente antes de comer.

Eles fizeram isso da maneira mais natural possível, e vi-me embasbacado. Eles eram um casal, ou melhor, um tri-... trisal...!!

E calma lá. Se prestei bem atenção, Thes falou que havia três pessoas de quem gostava. Kosmo e Circe somavam dois, então quem era a terceira? Ganymede? Os dióscuros?

Não, os dióscuros eram mais de um, e com Ganymede ele já tinha uns atritos. Quanto a Hector, eu já os vi conversando e treinando juntos na academia, mas estava mais para uma parceria se formando.

Sobrava... eu. O ruivo me lançou uma piscadela. Borboletinhas de uma miríade de cores dançavam dentro de mim.

Vênus era uma deusa malvada. Sua magia era doce, acalorada e cruel.

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— Terumichi, lembra-se de quando visitamos a Galeria de Arte Renascentista, na universidade onde seu pai ministrava aulas?
— Lembro sim, vovô — respondi. — Nossa, já fazem anos.

Perdi-me em uma memória de uns meses atrás, onde desviava minha atenção de um livro sobre a alquimia segundo Carl Gustav Jung.

Eu estava sentado em uma das duas poltronas da casa do meu avô. Eu lia em uma, e ele na outra. Sempre nós dois, de frente para a lareira elétrica.

— Na ida para casa, você passou a viagem contando sobre a história de amor entre Eros e Psiquê. Essa é uma lembrança muito feliz para mim. Penso nela todos os dias.
— Ahh, eu adorava a história deles quando era pequeno. Mas eu não lembro de tê-las lido na escola, então como foi que eu aprendi...? Será que alguém me contou, e eu esqueci?

Com um olhar triste, o vovô se levantou e foi até a mesa. Na volta, ele deu em minhas mãos a versão do mito de Eros e Psiquê escrita por Lúcio Apuleio. Estava em inglês, e tinha uma capa elegante.

— Dê uma olhada neste livro. Certamente irá te interessar.

Segundo Apuleio, Psiquê foi venerada por sua beleza e formosura, sendo nomeada como a “Nova Vênus”.

Levavam-na em procissões sobre um andor enfeitado de flores, e as pessoas passaram a adorá-la ao invés da verdadeira deusa. Por tais heresias, a jovem donzela foi arrebatada e punida.

Vênus tinha plena ciência da própria beleza. Eu a acusava de ser maledicente e invejosa, mas, por mais que achasse suas atitudes contra Psiquê não deixassem de ser inclementes, não teriam as pessoas errado também?

Eles empurraram Psiquê para uma posição em que ela já não era mais considerada uma humana. Fora tornada um ícone — um objeto de contemplação —, assim como o Filho de Trismegistus da história arcadiana.

Eu só li o livro depois da morte do vovô. Nunca pudemos conversar a respeito.

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✤ Museu dos Mistérios da Natureza ✤
Musaeum Mysterium Naturae

Esta semana, a autoridade da Correnteza Eterna convoca o Filho de Trismegistus para uma provação periódica.

Uma lista com perguntas deixadas pelos desafiantes deve ser respondida em até 333 horas para garantir a legitimidade desta Corte dos Heróis do ano 333 pós-Declínio segundo o calendário arcadiano.

Sigamos para analisar os resultados.

Anônimo perguntou: "Por que às vezes aparece um ∞ em cima da sua cabeça? Ah, e eu não fui o único que notou."

Terumichi: E-Eu nunca percebi esse símbolo na minha cabeça! Realmente não sei do que está falando. ... Por que ninguém me avisa quando percebem algo estranho em mim?

Esse aí é o símbolo matemático do infinito. Se ele não aparece sempre, acredito que tenha a ver com o Amaranto. Quando ele reage muito intensamente, eu tenho uma sensação estranhíssima. O meu coração começa a bater muito forte, e eu entro em uma espécie de ressonância com uma... força que não sei como descrever. Vou checar nessas ocasiões.

Agora, se isso acontece até em horas aleatórias, eu já não sei dizer o motivo.

ABSOLUTO OVO CÔNICO DE ARCHIBRAS perguntou: "Se não for muito rude, tem algo que eu gostaria de saber. Você tem irmãos? Como é sua relação com eles?"

Terumichi: Eu tenho um irmãozinho mais novo. É o Teruki. Ele tem 4 anos de idade, mas já se comunica muito bem.

Se eu tivesse que escolher a pessoa de quem eu sinto mais saudade na Terra, digo, em Agartha, eu diria que é ele. Qualquer um que conhecer o Teruki vai se encantar. Até hoje ele me faz chorar de felicidade pelas coisas mais bobas do mundo. Ele é um menininho muito, mas muito especial.

Circe perguntou: "Há um significado por trás do seu nome?"

Terumichi: Terumichi significa "caminho iluminado", e Kinjō "castelo de ouro". Na minha língua materna, o meu nome lido no sentido oriental — Kinjō Terumichi — pode ser entendido como "caminho iluminado que leva ao castelo de ouro".

Anônimo perguntou: "Só por curiosidade, quantos metros medem as asas do seu comprometido?"

Terumichi: Que específico. Por que está perguntando isso pra mim, e não pra ele? Eu acredito que elas devam ter cerca de seis a oito metros de envergadura. Dobradas não aparentam, mas se as esticar bem, verá que são enormes.

Senhor Ganymede perguntou: "Por que o irmão gêmeo do comprometido usa um monóculo quando está na biblioteca? Ele tem algum problema de visão?"

Terumichi: A hipermetropia do Kosmo é leve, mas ele precisa do monóculo quando está lendo ou reparando maquinários. Eu percebo que ele fica frustrado quando não consegue ajeitar algo, vive culpando a própria visão. Esses dias, nós conversamos sobre sua obsessão em consertar tudo.

Ah, e eu acredito que Hector também tenha hipermetropia, mas não diz nada para não nos preocupar.

Anônimo perguntou: "Oi, Teru! Eu não sei bem o que te perguntar, já que posso fazer isso pessoalmente. Vejamos, qual é a sua comida preferida?"

Terumichi: Oi, Thes! Essa é uma pergunta um pouco difícil. Eu não faço muita distinção quando se trata de comida, mas eu adoro carne grelhada!! Toda quarta-feira meu pai costumava preparar um prato chamado "Niku Udon", que mistura o macarrão de udon com bife grelhado, verduras, legumes e ovos, para eu almoçar na escola. Era o meu dia favorito por isso!

Anônimo perguntou: "Se você fosse capaz de fazer algum tipo de mágica, qual seria?"

Terumichi: Eu gostaria de ter uma mágica de cura. Pode parecer bobo, porque o Amaranto já é capaz disso, mas... em Agartha, ele não tinha esse poder.

Desde criança, eu fico triste em ver alguém machucado ou com dor. Parece até que dói em mim. Meus pais queriam que eu cursasse medicina, e eu acatava por causa disso. Eu sonhava em poder curar as pessoas.

E veja só, esse sonho se realizou, embora não da forma que eu esperava. Tenho a impressão de que as capacidades do Amaranto estão ligadas a certos desejos íntimos meus.

Correnteza Eterna perguntou: "Se você pudesse levar algo — seja um objeto ou pessoa — quando fosse embora para Agartha, o que, ou quem você levaria?"

Terumichi:  Tá legal, vou fingir que não sei que é só algum de vocês usando o nome de Correnteza Eterna.

Eu levaria meus amigos, óbvio. Apesar de tê-los conhecido há pouco tempo, estou certo de que eu relutaria muito para me despedir deles. Só de pensar em ir embora, fico numa aflição. Mas, ao mesmo tempo, eu tinha outra vida, né? ... É estranho confessar isso, mas andei tendo dificuldade para pensar no meu futuro.

Se um dia tivermos que nos separar, eu quero ao menos poder me encontrar com eles de vez em quando. Eu preciso de pessoas como eles na minha vida.

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