Volume I – Arco I
Capítulo 9: A Máscara, ato I
A “cura” que nosso povo procura é apenas uma palavra bonita para “ressurreição”. Muitos esperam que o poder do Messias devolva milagrosamente os mortos à vida, pois é isso que a doutrina promete.
Seria um pecado se eu dissesse que não acredito nisso?
Enquanto minha mãe se contorcia no leito da câmara de isolamento, definhando nos estágios terminais da doença do ouro, eu ouvia seus gemidos por trás da porta vedada. Ela sofria tanto. Não parava de sofrer.
Não pude entrar, nem abraçá-la uma última vez, pois arriscaria ser infectado. O simples fato de eu estar ali, no lugar onde levavam os pacientes desenganados, já era uma imprudência.
Ela não resistiria àquela noite. E não havia como trazê-la de volta, nem mesmo implorando a um deus. Reverter a condição do ouro apenas a faria ressurgir como um cadáver — nada além disso.
Eu era o futuro rei de Angerona, o príncipe Achilles. Nasci com o propósito de ser o nobre herói que subiria a Torre dos Filósofos e salvaria a todos.
Desde que me entendo por gente, me ensinaram que, enquanto eu fosse fraco, continuaria perdendo tudo o que me era importante. Então, pelo bem de proteger minha pessoa mais preciosa, eu me tornei forte.
✤ Fugiens I, “MATERIAE ACHILLES” ✤
— Achilles, este pequeno se chama Patroclus. — Meu pai segurou o ombro de um menino de pele e cabelos marrons, empurrando-o em minha direção. — A partir de hoje, ele pertence a você.
— ... Pertence a mim? Esse menino?
— Ele recebeu esse nome para estar em suas mãos. Lembre-se dele a todo momento, e você será forte. O herói entre os heróis. Com o tempo, vocês falarão a mesma língua e serão como um só.
Mais tarde, ao retornarmos ao palácio, entendi o que papai quis dizer com “falar a mesma língua”. O mundo daquele garoto de olhos verdes era silencioso. Ele não ouvia, e também não aprendeu a falar.
Embora sua leitura labial fosse excepcional, sua única forma de comunicação era através de sinais com as mãos. Aos poucos, habituei-me a eles e passei a me expressar do mesmo modo.
Essa passou a ser a nossa língua. O nosso mundo silencioso.
Só de tê-lo comigo, os longos corredores do palácio pareciam menos vazios. Eu já não precisava sentir tanta saudade das pessoas que costumavam passar por eles.
Na companhia um do outro, líamos, jogávamos enigmas, treinávamos com a espada e cavalgávamos pelos campos preservados de Angerona — uma vastidão gramada, cercada por muralhas altíssimas.
De vez em quando, seu olhar triste se fixava nelas.
Tudo o que conhecíamos do mundo exterior era o que narravam os livros e pinturas da antiguidade: céus espelhados nos rios, o soprar dos ventos nas pradarias, pequenos animais pelos bosques e pássaros cantando.
Um dia, viajaríamos além dos muros. Mas, antes disso, tínhamos uma responsabilidade a cumprir. Nos tornamos guerreiros capazes de valer por mil homens, e o continente inteiro testemunhou o quão poderosos éramos diante dos maiores desafios.
— Achilles! Achilles! Achilles! — bradava a plateia quando saímos vitoriosos de uma batalha de bigas contra homens do dobro do nosso tamanho. Com árduo treinamento, aprendemos a complementar o estilo de luta um do outro, e o fruto disso era nossa sinergia invencível.
Alegre, voltei-me para ele e segurei sua mão. Quem dera um dia ele também pudesse escutar aqueles gritos, então saberia o quanto éramos especiais. Eu queria que ele visse que, juntos, podíamos realizar qualquer feito.
Achilles! Achilles! Achilles!
As aclamações ecoavam com o trote dos cavalos. Um nome só meu e de mais ninguém, assim como Patroclus era só meu e de mais ninguém. O que eu precisava conquistar para que ele pudesse ouvir o meu nome?
O que eu poderia fazer para dar-lhe audição?
Ao pesquisar, descobri algo que tornaria isso possível: a alquimia. No passado, ela fora usada para feitos mirabolantes, mas, na atualidade, sua prática era estritamente proibida e considerada a pior das heresias.
Nos mercados ilegais — os mesmos onde perambulavam traidores da humanidade —, vendiam-se artefatos baseados nos princípios alquímicos do corpo humano. Um deles, um aparelho auditivo prototípico, prometia devolver a audição enquanto fosse usado.
A ideia me soou tentadora, mas a descartei. Eu tinha apenas doze sóis, e aquilo mancharia meu título. ... Eu tinha que me conformar. As coisas estavam boas do jeito que estavam. Enquanto seus olhos refletissem apenas a minha imagem, nós ficaríamos bem.
Mas, houve vezes em que fomos separados. E essas eram as piores.
Sábios do ministério vinham me visitar e me faziam perguntas difíceis, como se quisessem avaliar algo em minha personalidade. Eles me pediam para dizer o que eram uns desenhos estranhos, e nunca explicavam nada.
Eu os empurrava e os mandava embora. Cheguei a ameaçá-los de morte caso não devolvessem Patroclus para mim. Certa vez, realmente estrangulei um deles — e só não o matei porque fui detido aos choros e gritos.
Permaneci trancafiado até voltar a agir como um príncipe.
Durante um jantar com os líderes da cidade vizinha, Quirinus, um velho qualquer ocupou o assento ao meu lado. O que começou como uma discussão sobre pactos econômicos terminou na quebra do meu fingimento.
Arranquei a toalha da mesa, derrubando pratos e taças ao chão. O anfitrião e as visitas me lançaram olhares horrorizados, como se eu fosse um animal selvagem.
Mas os animais eram eles. Quem esses porcos pensavam que eram? Eles fingiam que nada estava acontecendo. Para eles, não fazia diferença se Patroclus estava lá ou não. Mas para mim... para mim...!!
Aquela sensação, de novo.
Quando longe dele, era como se minha pele queimasse e derretesse em uma poça de cera. Como se o Sol incinerasse cada partícula minha até eu não conseguir respirar um ar que não fosse o dele.
Mesmo chorando e tentando destruir tudo ao meu redor, essa sensação desesperadora não passou. Não até uma semana depois, quando meu pai o trouxe de volta.
Por detrás dos mantos exuberantes, ele veio para o meu abraço. Só então me tranquilizei, segurando seu corpo franzino sobre a cama e enchendo-o de beijinhos até dormirmos. Seu ombro ficou ensopado de lágrimas.
Por causa dele, eu era eu. E por minha causa, ele era ele.
Então, por que todos queriam me maltratar, fazendo-nos passar tanto tempo separados? Estavam me torturando? Estavam torturando Patroclus?
Eu só queria que ele ficasse comigo para sempre. Não podia deixá-lo ir embora. Não como a mamãe.
Ainda havia um sonho que precisávamos realizar: correr em nossos cavalos pelas colinas além das muralhas. Isto é, quando as terras fossem purificadas da ruína e da doença.
Então, poderíamos viver em um lugar distante, uma casinha simples no meio do nada, bem longe do castelo e da realeza. Eu dedicaria o resto da minha vida a cuidar dele e protegê-lo.
Quando fizemos dezoito sóis, fomos escolhidos como líderes do exército de Angerona. Sendo o único membro da família real, minha posição era natural. Mas Patroclus também recebeu uma coroa de louros igual à minha, porque eu quis assim.
Além de nós, havia cerca de trinta jovens, todos igualmente dignos e determinados a servir-nos. Dizia-se que essa era uma das maiores frotas de heróis enviadas por uma cidade, ficando atrás apenas de Juno e Salacia.
Angerona não era tão desenvolvida quanto as outras duas, mas possuía um diferencial.
O governo de meu pai mantinha um pacto de longa data com Quirinus. Em troca de recursos e alimentos durante a escassez, os heróis de lá eram entregues a nós e admitidos como cidadãos angeronianos legítimos.
Quarenta e oito vitórias. Quarenta e nove vitórias. Cinquenta.
Como prêmio por minha postura exemplar como campeão, construíram uma estátua minha em tamanho real. Contudo, durante o festejo em que foi alocada, apenas Patroclus — a pessoa por quem eu mais esperava — não compareceu.
Ao término da celebração, encontrei-o em nosso quarto, resolvendo um jogo de tabuleiro sozinho. Eu o abracei, como sempre fazia, mas não pude evitar me perguntar por que ele não demonstrava entusiasmo.
Eu o avisei várias vezes de que aquele era um grande dia.
Naquela noite, senti um aperto sufocante no peito e saí. Tomado por um impulso incompreensível — como se um espírito se apossasse do meu corpo —, roubei um longo martelo de ferro do arsenal e esmaguei a cabeça da estátua.
Aquela coisa imprestável, que não servia para nada.
Quando amanheceu, contei a papai que um dos empregados fizera aquilo. Como o tal empregado era um imigrante de Quirinus, foi fácil convencer a todos de que ele era um insurgente, condenando-o a um apedrejamento público.
Ele desonrou minha imagem e não me deu o devido valor. Era natural que fosse punido.
Uma multidão se reuniu. Do alto, onde a cena se desenrolava, eu ri. Senti-me tão estranho. Do que exatamente eu achava graça?
Foi então que Patroclus rompeu a multidão e abraçou o homem, tomando as pedradas junto com ele. Só naquele momento assimilei a real gravidade dos meus atos.
Ele também nasceu em Quirinus. Ele teve uma vida antes de me conhecer, antes de ser vendido e naturalizado em Angerona. Todas as vezes em que o empregado era chamado de “aberração”, a ofensa recaía sobre ele também.
O verdadeiro culpado de tudo aquilo era eu. Eu quebrei a mim mesmo. Para manter a máscara de um guerreiro que colocava a justiça acima de tudo, acusei falsamente um inocente, e no processo, condenei Patroclus.
Imediatamente, ordenei que parassem e fiz um discurso. O tumulto se dissipou, e apoiei meu parceiro no ombro. Ele estava todo machucado. Soube que alguns cidadãos resgataram o empregado, levando-o em uma maca.
No caminho de volta, uma pedra rolou perto do meu pé.
Ela fora atirada por um menino de uns dez ou onze anos, vestindo farrapos. Já o vira várias vezes pedindo moedas no comércio.
— Aberração! — exclamou.
Ele não entendia o que estava fazendo. Apenas reproduzia o comportamento que observava. Algo nele se parecia comigo. No entanto, uma ordem minha tinha o mesmo peso que a do rei. E quem a violasse estaria sujeito à punição.
No dia seguinte, os panfletos noticiaram que essa mesma criança foi encontrada nos esgotos, morta a espadadas. Como era época do carnaval das máscaras, a cidade estava em festa. Logo, ninguém deu muita atenção ao caso.
Eu cometi um crime irredimível e não paguei por isso. Patroclus sabia. Ele sabia de tudo e nada fez para me entregar. Mas eu não era ingênuo a ponto de não perceber que, um dia, poderia ser abandonado por termos estilos distintos de pensamento.
O que me esperava dali em diante? Talvez eu desse cabo de mim mesmo. Para o monstro disfarçado que me tornei, esse era o final mais adequado. E, embora a ideia de levá-lo comigo me passasse pela cabeça, eu não teria coragem.
Um ano se passou, e ninguém descobriu nada.
A grande caravana de Angerona, completamente cortinada e movida a muitos cavalos, ficou pronta para partirmos. Meu pai não se despediu de mim, não que isso fosse um problema. A presença de Patroclus me bastava.
Finalmente veríamos o mundo exterior, o lugar que um dia faríamos nosso lar.
Os portões se abriram, e ventos empoeirados bateram em meu rosto. Do lado de lá, não havia nada bonito. Através de pequenas fendas nas cortinas que envolviam o transporte, protegendo-nos do miasma, eu tinha vislumbres de coisas horríveis.
Florestas murchas de ouro, pântanos fétidos e terras ressecadas sob tempestades de areia. Pessoas e animais petrificados. Carretas naufragadas, com mais gente jogada pelos cantos.
Tendo nascido em outra cidade, Patroclus já havia visto aquele horror no passado. Pela primeira vez, o vi abalado o suficiente para chorar, e tentei consolá-lo, sem sucesso. A angústia expressa em seu rosto também era minha.
Arcadia morreu. Tudo era feio e mórbido. A verdade é que a vida só perdurava dentro das muralhas.
Somente no recanto confortável dos aposentos do castelo havia “beleza”. Isto é, a beleza dele. Numa vida como essa, em que não éramos diferentes de gado, só tocá-lo e ser acariciado por seus dedos era bom. Nada mais.
As primeiras baixas não demoraram. Alguns dos nossos desistiram e desceram da caravana para voltar a pé, mas obviamente nunca chegaram vivos. De vinte e dois heróis, restaram seis.
Eu não me importava. Não me importava com nenhum deles. Por mais que caíssem um por um, o meu mais precioso ainda estava ali. Além disso, ao chegarmos ao Anfiteatro da Eterna Sabedoria, eu pretendia lhe dar um presente.
Era um aparelho auditivo. Mandei fabricar uma versão personalizada em troca de uma grande quantia de dinheiro. Fora até enfeitado com joias. Prendendo-o na orelha esquerda, Patroclus poderia ouvir minha voz.
Esse tesouro secreto simbolizava minha adoração. Eu depositei ali tudo o que Patroclus significava para mim e tinha esperanças de que esses sentimentos fossem recíprocos.
Por ele, eu não me importava em quebrar leis ou desafiar o destino. Seu valor ia além de todas as futilidades desta vida, e eu tinha minha espada para derrubar qualquer um que se opusesse a mim.
Tudo o que eu precisava representar, ao menos aos olhos do nosso povo, era o herói que defendia a justiça. Essa era a máscara de ouro por trás da qual eu escondia meu “eu” terrível.
“Devíamos parar com isso”, gesticulei com sinais, enquanto ele me dava um pouco de ração com condimento em uma colher.
“Parar com o quê?”
“Com a busca por Messias.”
“Por quê?”
“Eu não preciso disso. Este mundo já está acabado. Tudo o que quero é ficar com você em nosso quarto enquanto ainda temos tempo.”
Ele pôs a colher e o pote sobre a mesa e franziu o cenho.
“Você mentiu durante o juramento”, alertou, e eu assenti. “Isso será um escândalo. Se você não o alcançar, quem irá?”
“Não me importo quem”, respondi. “Patroclus é tudo para mim.”
“Não diga bobagens.”
“Eu falo sério. Você é tudo para mim. Só preciso de você comigo neste mundo, Patroclus. Assim que chegarmos lá, vamos deixar o Messias para outra pessoa. Me prometa isso. Não, na verdade, isso é uma ordem.”
Ele obedeceu, mas pareceu inquieto com algo até o fim da jornada.
Ao adentrarmos a torre, labirintos monstruosos nos assolavam, e a masmorra subindo em espiral não parecia ter fim. Animais grandes e perigosos, além de criaturas mecânicas armadas, vitimaram dois dos nossos.
Patroclus, o mais inteligente e sábio entre nós, era quem nos guiava. Ele resolvia os desafios dos calabouços com facilidade. Graças a isso, desbravamos cerca de trinta andares em menos de duas semanas.
Tínhamos comida de sobra e leitos para dormir. Em maior número, eliminamos um grupo perdido com facilidade e saqueamos uma pilha de recursos, estocando o suficiente para mais uma semana.
Tudo ia bem, até que um paredão espesso se ergueu atrás de nós. Assim que me virei e vi dois que não eram Patroclus, meus olhos se arregalaram.
Não sabíamos o que fazer. Tentamos procurá-lo, mas nos perdemos e voltamos para o início do quadragésimo andar inúmeras vezes.
Eu nunca me arrependi tanto por postergar o presente. Se eu tivesse lhe dado o aparelho antes, ele poderia nos ouvir chamando-o. Reunirmo-nos seria muito mais fácil. O que eu estava pensando que enfrentaríamos neste inferno?
Meus companheiros me forçavam a desistir e seguir em frente. Pelo visto, eles não se davam conta da nossa situação. Sem ele, nunca chegaríamos ao topo, e eu não aceitaria nenhum deles ocupando o lugar que deveria ser dele.
Amedrontados diante da minha cólera, fugiram antes que eu os caçasse.
Sozinho, andei em círculos, assolado pelo fogo ardendo em mim. Passei por cadáveres de heróis de outras terras, temendo encontrá-lo como um deles. Após um tempo, fiquei com tanta fome e sede que meus pensamentos se embaralharam.
... Talvez eu não fosse digno de verdade. Por isso fui castigado pelo destino e separado de quem amava. Meus objetivos nunca seriam realizados. Querendo ou não, eu nunca alcançaria Messias.
Eu era o ser humano mais hipócrita do mundo inteiro. Um assassino. Nem sequer podia ser considerado humano. “Achilles” não passava de uma mentira contada para dar esperança a alguém.
Patroclus nunca quis ser um herói. Ele não gostava de lutar. Seu papel como desafiante era uma fachada. O motivo pelo qual meu pai o comprou foi para que se tornasse uma peça capaz de me motivar, aliviando minha tristeza e solidão.
Eu só era o herói dos heróis com ele ao meu lado. Sem ele, eu não era nada.
Ha... Hahaha... Como fui burro por não perceber. Meu desejo nunca foi livrar o mundo do Declínio, mas sim salvar Patroclus. Era para torná-lo eterno.
Estar sozinho me fazia sofrer demais. Eu não era forte o suficiente para suportar a ideia de ficar para trás. Foi assim quando minha mãe morreu. Eu não tinha mais ninguém que dissesse que me amava.
Então, eu precisava que ao menos ele durasse para sempre. Porque, tirando ele e aquela máscara imaginária grudada à minha face, eu era completamente vazio. Oco. Uma casca sem nada dentro.
De súbito, um feixe circular de luz veio até mim.
Uma porta se abriu para um salão com mesas fartas de carnes e frutos. Desabei, colocando na boca qualquer coisa que parecesse comestível. Eu nem me lembrava que comida tinha gosto.
Dentre as plantas trepadeiras, a fonte com a estátua do Ícaro Messiânico e o monumento sagrado com os nomes dos heróis agraciados pelo Anfiteatro. Em segundo lugar, estava o nome dele.
Você chegou antes de mim.
Como esperado, Patroclus. Você era um gênio. Sempre foi.
Eu fui perdoado pelos meus pecados. Haha. Eu sobrevivi à Torre dos Filósofos. Eu não estava sonhando. Era real, mais real do que tudo o que senti nos últimos dias. Essa era a minha chance de reencontrá-lo.
Ao dizer as palavras-chave e gravar meu nome, ouvi uma ressoada:
— O comprometido é o vencedor do primeiro combate! Patroclus de Angerona está oficialmente desclassificado da Corte dos Heróis!
... Huh?
O nome de Patroclus foi apagado e o meu surgiu. Afaguei o rosto, na esperança de que fosse apenas uma alucinação, mas não era. Impossível. Quais as chances? Que tipo de coincidência cruel era essa?
Isso não podia estar acontecendo, não com ele. Não agora.
Saí em disparada para algum lugar, qualquer lugar onde ele pudesse estar. Subi as escadarias e puxei as maçanetas do templo e, num piscar de olhos, minha vestimenta se transformou em um uniforme branco e preto.
As grades da arena se ergueram. Por detrás das plumas carregadas pelo vento, estava ele, com as bochechas rígidas e geladas.
Eu ordenei que não lutássemos, e, mesmo assim, você desafiou o comprometido e perdeu. ... Por quê? Por que descumpriu a promessa, Patroclus?
Foi porque revelei não precisar de Messias? Por isso você tomou o peso para si, comprometendo-se a vencer sem nem saber se eu chegaria vivo ou não? Era essa a sua forma de me fazer assumir a culpa?
Não. Isso estava longe de ser da sua natureza. Minha alma gêmea era dotada de um coração puro e gentil, incapaz de guardar remorso. Era alguém que se dispunha a assumir fardos só para que outro não precisasse fazê-lo.
Como uma lágrima dispersa, sua safira padparadscha — o símbolo da ressurreição em vida eterna — havia tombado. Novamente, o mundo arrancara mais alguém de mim.
Um lugar sujo desses não precisava de salvação. No que me diz respeito, Patroclus era a minha salvação. Ele era meu, e nada, nem ninguém, tinha o direito de tirar de mim o que me pertencia.
Hector de Vertumnus era como o garoto de rua que atirou a pedra. Uma criança tola que se achava no direito de nos ultrajar, sem saber o quão caro pagaria por seu erro vil.
Era hora de colocá-lo no devido lugar. Se o Messias me daria a força que faltava, eu me revestiria das chamas escaldantes do Sol e banharia esta espada com sangue mais uma vez.
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EMBLEMA XXIX
Assim como a Salamandra vive no fogo, também vive a Pedra.
“Onde a Salamandra vive mais poderosa é no fogo ardente.
Ela não teme as armadilhas de Vulcano.
Da mesma forma, a Pedra não rejeita as chamas cruéis,
pois nascera no fogo permanente.
Àquele que é frio, o calor extingue e liberta.
Mas este é quente, e o calor ajuda-o.”
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