Orc Eroica Japonesa

Tradução: Tama


Livro 1

Epílogo

Bash estava abrindo caminho pela floresta. Seu destino: Shiwanashi, no país dos elfos.

O lugar era denso e crescido, mas seguiu seu caminho, com os pés firmes como sempre. Confiando na fada para navegar, simplesmente colocou um pé na frente do outro em busca de seu destino.

— A Floresta Shiwanashi está bem perto! Nós estaremos lá daqui a pouco.

— Certo!

Bash e Zell, reunidos. Ambos tinham feito seus nomes na guerra. Como um par, se davam bem. Durante a guerra, sobreviveram a inúmeras batalhas trabalhando juntos. Embora tenha havido algumas derrotas esmagadoras, sempre conseguiram.

Então, por mais que a primeira tentativa dele de caçar esposas tivesse terminado em fracasso, estavam confiantes de que a segunda vez seria melhor. Mesmo se falhassem de novo, outra chance apareceria. Afinal, as coisas sempre foram assim.

Acreditavam que ele encontraria uma noiva lá, e sua jornada poderia chegar ao fim.

Não faziam ideia.

Não faziam ideia de quanto tempo essa jornada levaria.

 

***

 

Mais ou menos no mesmo tempo...

Uma elfa apareceu em uma festa humana. Uma festa glamorosa para a aristocracia dos humanos. Para onde quer que você olhasse, senhoras e senhores maravilhosamente vestidos estavam envolvidos em uma conversa agradável.

Um homem e uma mulher riam juntos. Antes da era de paz, o homem quase nunca esboçou um sorriso e ela mostrou os dentes e gritou no campo de batalha. Agora, riam alto.

No meio da comemoração, uma certa elfa conversava com o filho de um nobre sobre o futuro da humanidade.

Hmm. Acredito que esta era colocará um valor mais alto do que nunca no comércio e na educação, bem como nas artes.

— Entendo... Bem, eu gostaria de estabelecer escolas em todo o país humano, mas tudo o que temos são ex-soldados e cavaleiros. Faltam-nos indivíduos cultos que dariam bons professores…

— E aqueles que são cultos já estão em busca de seus próprios interesses de carreira.

— Sim. Na verdade, estou trabalhando para consultá-los na criação de materiais, uma espécie de manual para ser usado na formação de uma nova geração de professores. Eu esperava que pudéssemos obter a opinião dos elfos sobre isso.

— Uma cartilha para educadores! Nós elfos estávamos pensando em algo semelhante. É tão próprio dos humanos procurar preservar o conhecimento de forma tangível, não é? Ah, mas eu não quis ofender! O que acha de nos encontrar a essa noite para discutir melhor?  encontrando-se esta noite para discutir o futuro da educação em mais detalhes?

Hahaha. Eu aprecio sua proposta, mas as pessoas não vão ter uma ideia errada se um homem e uma mulher se encontrarem depois do expediente, sozinhos?

— O quê?! Quero dizer... Heh... Certamente, Lorde Merz, o Aríete, não está preocupado com fofocas ociosas

Ah, estou preocupado.

— Você... você está?

— Não me teste, por favor. Não queremos que todos os elfos vivos virem nossos inimigos, você sabe.

Ah, claro, claro! Haha, sim, sim, claro! Haha!

A elfa riu também. Sua risada era um tanto sardônica, nada parecida com a inocente dos convidados ao seu redor.

Ela não tinha ideia.

Ela não tinha ideia de que outro logo viria para compartilhar seu objetivo. Um herói da raça orc.

 

***

 

Uma jovem anã estava afiando uma espada em uma oficina em algum lugar.

O local foi preenchido com o som da espada sendo trabalhada.

Depois de trabalhar nela por mais alguns momentos, a mergulhou com cuidado no balde que tinha ao seu lado. Quando afundou na água vermelha que o enchia, algo como poeira preta subiu à superfície da água.

Ela retirou a lâmina da água e a admirou.

— ... Céus!

— O que foi?

A garota se virou para ver outra anã parada ali.

— Eu pensei que tinha dito para você nunca entrar na minha oficina sem ser convidada.

— É culpa sua. Você deveria ter trancado a porta. Em que você está trabalhando? O que há com essa água vermelha brilhante? Você colocou tinta nela ou algo assim?

— Meu trabalho é secreto. Não posso ter pessoas roubando minhas técnicas.

! Você assume que suas técnicas valem a pena ser roubadas? Se tem tempo para mexer com coisas bobas como essa, então pode gastar mais alguns minutos aprimorando suas criações do jeito certo!

Tch! Você está sempre agindo como uma esnobe arrogante! É isso mesmo que você veio dizer?

A intrusa suspirou quando a raiva da jovem anã borbulhou.

— Prefiro não ter que dizer nada, mas quem poderia ficar calado vendo um trabalho tão ruim?

— Como você ousa zombar de mim! Não espere nenhuma simpatia quando eu ver você chorando no próximo Festival Deus da Guerra!

— O festival? Ha, isso está muito além de suas habilidades patéticas!

Com essa observação final esnobe, a outra mulher saiu da oficina.

A jovem deixada para trás rangeu os dentes por um momento, olhando para sua espada.  Não fazia ideia de que um dia, essa mesma espada dela seria empunhada por um Herói Orc.

 

***

 

A princesa dos homens-fera estava em seus aposentos, olhando apática pela janela. Abaixo, podia ver a nova cidade.

Após a guerra, foi construída em apenas três anos. Tudo ainda era tão novo, mas os velhos costumes permaneciam. Era uma miscelânea de cidade, com certeza, mas animada e incrível.

A família real queria fazer a cidade prosperar. A princesa não sabia muito sobre tudo isso, porém o local foi construído em terra sagrada que uma vez foi roubada dos homens-fera, até que o Campeão dos Homens-fera Rett a pegou de volta.

Todos os moradores sentiam um grande orgulho por ele. Na batalha para derrubar o Lorde Demônio Geddigs, morreu como herói. Cada um deles desferiu um golpe mortal ao mesmo tempo. Rett era a maior lenda de toda a história dos homens-fera, o orgulho de sua raça...

— Se eles realmente respeitavam Rett tanto quanto afirmam, então por que mentem tanto?

Na verdade, tratava-se do contrário. Ah, a parte sobre Rett ser um herói era toda verdade, é claro, mas os fatos por trás da história diferiam em uma área-chave. A fim de preservar o bom nome dele e proteger o orgulho da raça, todos foram obrigados a mentir sobre isso.

Não caiu bem com a princesa.

— A verdade deve ser desenterrada e exposta.

Ela olhou pela janela, sua expressão torcida com ódio. Não era a cidade que ela estava vendo em sua mente; ela estava concentrada por dentro, ruminando sobre os sentimentos sombrios de sua alma.

— Eu devo ter vingança, como homenagem ao tio Rett.

Ela não tinha ideia.

Não tinha ideia de que a verdade a que ela se agarrava era mesmo falsa.

Nunca sonhou que tudo viria à tona com a ajuda do Herói Orc.

 

***

 

Uma garota observava seu irmão gêmeo.

Ele estava balançando obstinadamente sua espada.

Ela sempre o observara praticar, contudo, era evidente que ele não tinha habilidade com a espada. Isso não quer dizer que não tinha o potencial, todavia o estudo não o levaria à grandeza; isso ficou claro.

Hyah! Hyah!

— Beba um pouco de água, irmão.

— Obrigado

O menino pegou o cantil e engoliu o conteúdo, para então voltar a balançar sua espada.

Os gêmeos tinham alguém que precisavam derrotar: um poderoso inimigo de seu pai e mãe. Era por isso que o menino estava praticando.

Sua mente estava focada somente em derrubar o tal com sua lâmina de vingança.

— …Irmão, o sol está se pondo.

— Só um pouco mais.

— … Estou voltando primeiro.

Ele continuou a brandir a espada, sem responder.

Ela suspirou um pouco, observando-o.

Havia desistido. Seu oponente era muito poderoso para ser derrubado por alguém como seu irmão, mesmo que praticasse esgrima por meses ou mesmo anos seguidos. Queria vingança por seus pais também, isso é certo, porém conseguiu reprimir tais emoções. Agora tudo o que temia era perder seu irmão, seu único parente restante.

Nunca foi capaz de pedir-lhe para desistir, no entanto.

— Se apenas alguém lá fora os matasse para que não tivéssemos que…

Ela não tinha ideia.

Ela não tinha ideia de que sua busca por vingança seria encerrada pelo Herói Orc.

 

***

 

Uma súcubo estava deitada em um terreno baldio sob um céu cheio de estrelas. Debaixo dele, as luzes de uma cidade piscavam, entretanto não estava olhando para a cidade, e sim para o céu.

Estava pensando há muito tempo. Daqueles que lutaram tantas vezes durante a guerra.

Era melhor naquela época. Você não precisava pensar, apenas lutar até a exaustão e depois dormir como um tronco. Não muito profundamente, é claro, e então seria acordado por relatos de ataques inimigos iminentes.

Sempre esteve cansada, e ao mesmo tempo energética.

"Agora, porém, tenho tempo demais para pensar."

Pensou nos eventos que a levaram a ter que dormir ao ar livre assim.

Fora expulsa da cidade, sem hospedagem por nenhuma outra razão além de ser uma súcubo.

— A paz é uma merda.

Imaginou o rosto do prefeito, os rostos das pessoas da cidade, que mal conseguiam esconder seus olhares de desgosto no momento em que viram uma súcubo no meio deles.

Suas palavras tinham sido apenas de desprezo e zombaria.

“A guerra acabou. O mundo estava em paz” era o que as pessoas diziam, só que não havia paz para a sua raça.

A paz era um privilégio que apenas algumas raças podiam desfrutar.

— Eles merecem morrer.

Ela olhou para as estrelas.

Naquele exato momento, em algum lugar deserto, um certo orc também estava olhando para as estrelas.

Ela não tinha ideia.

Ela não tinha ideia de que a verdadeira paz seria traga ao mundo pelo Herói Orc.

 

***

 

Dragon tinha um amigo, Bones. Estavam sempre juntos, juntos até agora.

Bones era uma dragoa peculiar. Estava muito interessada em pessoas e muitas vezes descia para as aldeias e as assustava. Dragon não sabia por que fazia isso. As pessoas eram pequenas, com carne apenas o suficiente para um lanche decente. Era melhor deixá-los em paz. Porém, ela estava muito, muito interessado nelas. Eventualmente, até acasalou com um e gerou um ovo.

No passado, tais dragões existiam, ou assim diziam os contos. Era impossível de entender. Ainda assim, Dragon não se importava com pessoas estranhas. E as histórias da amiga sobre as coisas engraçadas delas eram divertidas de ouvir. Mesmo que em si não fossem muito interessantes, gostava de vê-la falando com tanto entusiasmo.

Então, um dia, Bones morreu.

Uma pessoa insignificante apareceu e a persuadiu a segui-los a algum lugar. Depois disso, voltou como... bem... ossos.

Ela lutou com os soldados do povo na guerra e morreu. O seu corpo foi recolhido por aqueles que o mataram.

Aparentemente, as pessoas achavam os corpos dos dragões muito valiosos.

Bones voltou para Dragon: apenas o crânio.

Se desculparam com a que estava viva.

Sentiu tristeza pela primeira vez em sua vida. Nunca antes havia experimentado a morte de um dos seus companheiros e não pôde entender tudo. Vendo como as pessoas se desculparam com ela, porém, enfim percebeu que algo que nunca poderia ser desfeito aconteceu.

Passou um ano inteiro em tristeza. De vez em quando, para aliviar sua dor, voava às cidades e devorava algumas das pessoas pequenas. Por que a amiga dela se envolveu em uma insignificante guerra? Não fazia sentido.

De repente, começou a experimentar algo que nunca sentiu antes.

Curiosidade.

Começou a ficar curiosa sobre os inferiores. Como esses seres minúsculos e fracos, que correram gritando, conseguiram matar o seu amigo?

Ela não tinha ideia.

Ela não tinha ideia de que aquele que matou Bones foi um Herói Orc.



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