Livro 1
Capítulo 4: General do Exército de Cavaleiros, Houston
Houston era o líder da Ordem dos Cavaleiros de Krassel. Ele tinha uma longa e interessante história.
Cerca de vinte anos antes, aos treze havia entrado em sua primeira batalha como aprendiz de soldado de infantaria. Enviado direto para a linha de frente em seu primeiro dia na guerra, experimentou uma derrota sangrenta. Todo o seu pelotão foi aniquilado, mas, milagrosamente, ele sobreviveu. Depois disso, lutou em inúmeras batalhas e, no espaço de dez anos, tornou-se comandante.
Sua primeira batalha no cargo foi um desastre completo. Apenas voltar vivo era como andar pelas chamas do inferno. Foi uma batalha terrível. Todos os oficiais encarregados, do general ao comandante do batalhão, foram mortos ou fugiram do campo de batalha. Com a cadeia de comando mudando a cada momento, as tropas estavam em um estado de completa confusão e turbulência. Quando cerca de sessenta por cento das tropas já haviam sido perdidas, o comando caiu para ele, até então somente um comandante de tropa de baixo escalão.
“Não há mais ninguém que esteja acima de você”. Quando suas ordens foram entregues por um médico de combate, teve certeza de que era uma piada de mau gosto.
Mas como aconteceu, nasceu para o papel. Reuniu suas tropas e conseguiu se retirar com perdas mínimas entre os quarenta por cento restantes dos soldados que permaneceram de pé. Encontrou sua vocação. Era como se estivesse destinado a comandar um grande exército.
Mesmo que sua milagrosa retirada segura da batalha tenha sido mais ou menos uma questão de pura sorte... Independente disso, esse feito lhe rendeu o respeito de seu povo, e recebeu o cargo de tenente da Força Antiorcs. Ela lutou principalmente contra a aliança orc-fada.
Cinco anos depois de ter se tornado um tenente nessa divisão, o general foi morto. Houston logo o sucedeu e continuou a lutar até o fim da guerra. Em outras palavras, passou dez anos de sua vida lutando sem parar contra os orcs.
Dedicou todo o seu ser ao esforço de guerra. Reuniu o máximo de informações sobre a raça inimiga que pôde e aprendeu o máximo possível. Muitas vezes arriscou sua vida na linha de frente, e como resultado, acumulou mais mortes de orcs do que qualquer outro humano. E assim a humanidade lhe deu um título honorário: Houston, o Exterminador Suíno.
Mesmo após a guerra, permaneceu em alerta máximo quando se tratava de todas as coisas relacionadas aos orcs.
Era especialmente feroz sempre que encontrava um desonesto. Os executava sem sequer ouvir o que tinham a dizer, seus ouvidos surdos aos gritos imploravando por suas vidas. Vendo isso, os jovens que se tornaram soldados depois da guerra o viam com partes iguais de respeito e medo.
No entanto, apesar de seu apelido incrível de Exterminador Suíno, os sentimentos dele sobre orcs eram neutros ao extremo.
Não tinha preconceito contra eles. Não os discriminava. Não os odiava.
O raciocínio para isso era que conhecia orcs.
Em seus dez anos de batalha, virou uma espécie de especialista neles.
Depois que se tornou um tenente, fez questão de aprender tudo o que podia sobre eles. Isso era necessário para matá-los com mais sucesso e reduzir o número de baixas humanas.
Durante esses anos, estudou até saber mais sobre eles do que qualquer outra pessoa. Observava seus movimentos, lia sobre sua história e até questionava os prisioneiros de guerra.
Assim, aprendeu. Aprendeu que tinham seu próprio código moral e costumes, conhecidos apenas entre eles, e que eram guerreiros orgulhosos. Mas nunca chegou a admirar ou mesmo amolecer seu coração em relação aos orcs. Não, esses seres mataram muitos de seus amigos e compatriotas. Seus sentimentos em relação aos orcs eram sombrios e complexos. Porém a guerra havia acabado e respeitava os orcs o suficiente para não sentir necessidade de guardar rancor.
Seu tratamento duro com os orcs desonestos se devia a eles serem a escória. Recusaram a cumprir até mesmo a mais básica das leis e escolheram viver em puro egoísmo. Invadiram a terra humana e ainda se recusaram a respeitar suas regras. Aqueles que não conseguiam se conformar às leis da sociedade não eram melhores do que animais selvagens. Pior ainda, matavam por motivo algum.
De qualquer forma, após a guerra, Houston foi promovido a cavaleiro e então nomeado para ser o líder da Ordem dos Cavaleiros de Krassel.
Com ele no comando, outro confronto com os orcs parecia uma perspectiva improvável, pelo menos por muitos anos. Mesmo que acontecesse, o plano era proteger Krassel com tudo o que tinham.
— O que é isso? Você prendeu um suspeito no caso da emboscada na estrada? — Um de seus subordinados veio até ele com essa notícia do nada.
— Sim. Parece ter sido um orc.
— Um daqueles fora-da-lei? Eu não disse para você simplesmente matar todos? — Houston franziu a testa, descontente com a história do mensageiro.
Ele tinha permissão especial do rei orc para executar os renegados à vontade. Teria preferido que se esforçassem e fizessem o trabalho eles mesmos, mas tinham seu próprio conjunto de regras sociais, então não tinha alternativa.
— Hum, bem, pelo visto, esse era muito bem falando e limpo. Não parece ser um desonesto.
— Então solte o pobre coitado.
— Hum, sobre isso... a Judith, ela o prendeu, e...
— Maldita seja. Se ela desencadear outra guerra com os orcs, ela desejará nunca ter nascido...
Judith era a cavaleira encarregada de investigar o caso da emboscada. Era uma cavaleira novata que estava no trabalho há apenas um ano. Enfim foi incumbida de uma missão própria. Era o tipo de missão que deveria ter sido encerrada quase de imediato, mas não havia pistas. Ou o criminoso era muito mais astuto do que se esperava, ou ela era muito inútil.
Não há muito tempo, a própria estava cada vez mais em pânico com a falta de resultados. Estava desesperada para fazer qualquer coisa que pudesse provar que não era inútil.
— Bem, o que acha?
— Hum, vê só... Ela está certa. Há muitos fatores estranhos em jogo aqui. Ele se recusa a nos contar o propósito de sua viagem, e também tem uma fada com ele. Nenhum dos dois parecia preocupado em se ver cercado por nosso pelotão. Se você me perguntar, acho que eles podem ser... espiões.
— Pfft! — Bufou com desdém.
Esse soldado era jovem e nem tinha estado na guerra; não sabia nada da raça.
Qualquer pessoa com conhecimento básico deles poderia dizer que encontrar um espião orc seria como ganhar em uma loteria três vezes seguidas. Via de regra, não existiam. Simplesmente não eram adequados para espionagem.
— Lorde Houston, isso não é motivo de riso! Sem dúvida, se permitiram ser presos por nós para que pudessem coletar informações de dentro!
— Idiota! Um orc nunca seria tão engenhoso. Se espionar fosse o objetivo, a fada teria vindo sozinha.
De tudo que sabia sobre eles, nunca se permitiriam ser capturados. Se fosse informação que queriam, então o orc teria lutado contra todos até a morte, com apoio ou não. E teria jogado Judith no chão e extraído dela a informação necessária por meio de tortura carnal.
Um orc nunca seria capaz do tipo de subterfúgio necessário para se infiltrar em um acampamento inimigo e coletar informações internas.
Enviar um batedor à frente era quase a extensão dos preparativos avançados de um orc.
Obtendo a medida da posição de um inimigo, estimando o número de guerreiros e como estavam armados — quantas espadas, quantos arcos — e assim por diante... Sim, frequentemente exploravam à frente, como outras raças.
De fato, enquanto não tinham qualquer proeza em espionagem, possuíam um amplo repertório de táticas de batalha secretas, do tipo que faria a cabeça de qualquer humano girar.
Esse capitulou e se permitiu ser capturado — só por isso, era impossível que tivessem um desonesto em suas mãos. Não, era um racional, capaz de obedecer às regras do rei e ser gentil com os humanos. E ainda assim Houston nunca tinha ouvido falar de um orc viajando sozinho. Eram uma raça tribal bastante sociável. Ainda assim ele supôs que cada raça tinha seus "exóticos". Um orc viajando sozinho não era tão chocante.
Judith entrou em pânico e deteve um inocente. Essa parecia ser a extensão da situação. Pelo menos, a conclusão a qual havia chegado. Entretanto é estranho que ele esteja acompanhado por uma fada.
Durante a guerra, ambas as raças trabalharam juntas. Isso significava que os dois estavam envolvidos em algum tipo de operação de combate? Mesmo tudo tivesse acabado, Houston estava sempre alerta para o mais leve sopro de discórdia no ar.
— Tudo bem, suponho que terei que ir dar uma olhada por mim mesmo. —Bateu nos joelhos antes de se levantar.
A prisão estava localizada no porão do QG da Ordem dos Cavaleiros. Durante a guerra, as celas estavam cheias de prisioneiros, que muitas vezes eram torturados até morrerem para obter informações. Durante os últimos meses dos confrontos, uma praga se espalhou entre os prisioneiros. Houston sempre se recusou a colocar os pés no local. No pós-guerra, contudo, a prisão havia sido limpa por completa e era usada principalmente para deter pequenos infratores. Hoje em dia, estava tão limpa que até um leve toque cítrico flutuava no ar.
***
— Apenas deixa de papo furado e nos diga o motivo da sua viagem! Por que você estava andando pela floresta? O que você está fazendo em Krassel? E o que diabos há com a fada?!
Conforme descia as escadas para a prisão, ele podia ouvir mais e mais a cavaleira gritando. Uau, ela estava mesmo indo para o método de intimidação total. Inesperado de uma cavaleira novata.
Como um orc capturado poderia falar sem medo diante de tal hostilidade? Detestavam ser desprezados por qualquer um. Ser menosprezado por uma mulher era mais do que podiam suportar. O senso de orgulho nunca permitiria que cedessem sob o interrogatório de uma mulher, mesmo que não tivesse nada a esconder.
Sorriu, seco.
O orc falaria algo tipo: se cê quer tanto saber, tu vai ter que bater ni eu!
Se as coisas fossem tão longe, então o interrogatório como um todo seria uma causa perdida.
A abordagem dela era o pior modo possível de interrogatório para um orc.
— A razão da minha jornada é pessoal. Resumindo, estou à procura de algo. Eu estava andando pela floresta pois esse é o caminho mais rápido. Vim aqui porque acredito que é onde o que procuro provavelmente será encontrado. Quanto à fada, ela é uma amiga. Está ciente do meu objetivo e veio me ajudar. — A resposta foi calma e firme. Que incomum.
O general deu um bufo divertido. Um orc impulsivo e de sangue quente com certeza explodiria sob questionamento; os mais estabelecidos, porém, veteranos — parecia haver mais deles depois da guerra —, eram muito mais difíceis de serem perturbados. Seus sentidos talvez estivessem entorpecidos pelo som de tantos rugidos e berros durante a batalha. Um mero interrogatório podia soar como uma conversa agradável para eles.
Se esse fosse um deles, então levantaria mais questões. Por que tal orc estaria vagando pelas terras fora de seu próprio país, procurando por algo?
— O que é essa coisa que você está procurando? E por que você precisa disso?!
— Isso... eu me recuso a dizer.
— Por quê?! Isso é altamente suspeito! O que você está escondendo, seu orc miserável?!
Talvez algo que, se identificado, corre o risco de ser roubado? Ou poderia ser algo que os orcs perderam e não desejavam que as outras raças soubessem que estava perdido? Houston pensou essas duas possibilidades. Havia chegado à porta da prisão agora, mas de repente, uma profunda e sombria sensação de mau pressentimento o invadiu.
“Aquela voz... não a ouvi em algum lugar antes?”
A intuição dele estava correta. Sempre depositou muita fé em seus palpites e, como resultado, sempre voltou vivo do campo de batalha. "Na verdade, não acho que vou entrar lá...". Muitas vezes tinha essa sensação de formigamento no peito quando se deparava com certas situações perigosas. A sensação ia e vinha, como um sussurro interno, mantendo-o a salvo do mal. Todavia, mesmo que seus sentidos lhe dissessem para se retirar, era tempo de paz. Não havia ameaça à sua vida esperando por ele naquela cela. Além disso, se deixasse Judith por conta própria, apenas prolongaria esse interrogatório inútil. E se havia uma coisa que realmente odiava, era perder tempo.
Continuou, abrindo a porta da sala de interrogatório.
— Judith, não exagere. Se você transformar isso em uma questão diplomática, será… Eeeek! — Soltou um grito covarde.
Sentiu um calafrio na espinha, e seu coração começou a martelar contra sua caixa torácica. Foi dominado por um desejo imediato de correr. De repente, sua mente estava de volta ao campo de batalha, uma batalha que ocorreu logo depois que foi nomeado general da Força Antiorc.
Deveria ter sido uma vitória fácil para eles. Tinham o maior poder, as táticas mais astutas. Apesar disso, sua vanguarda não conseguiu romper a linha inimiga. Seu esquadrão foi disperso por um ataque surpresa lateral. Enquanto seu pelotão de reserva correu para a linha de frente, a unidade principal foi sitiada por guerreiros orcs. Previram seu plano de batalha? Ou tudo foi apenas uma coincidência? A brigada orc que sitiou sua unidade principal era composta por seus melhores guerreiros.
A visão de um em particular ficou gravada na mente dele. Podia vê-lo na linha de frente sempre que fechava os olhos, balançando sua poderosa espada. Aquele quem matou o tenente da Força Antiorc, um orgulhoso soldado. Quando o tenente morreu, Houston recuou o mais rápido que suas pernas podiam levá-lo, ofegante. Conseguiu voltar à base com segurança, mas a batalha tinha sido como algo saído de um pesadelo. Nunca superou o trauma disso. Não foi um pesadelo, contudo. Porque continuou acontecendo depois disso.
Encontrou o mesmo várias vezes no campo de batalha. Talvez fosse apenas a sua imaginação, mas sempre teve a sensação de que o orc estava tentando matá-lo em particular. Talvez estivesse mirando nele. Era o general, afinal, e se fosse morto, o batalhão como um todo ficaria enfraquecido.
Nunca se envolveu em combate direto com aquele orc. Sempre corria de cada encontro, tão rápido quanto suas pernas o levavam. Mesmo assim, foi um milagre ter conseguido escapar com vida todas as vezes. O orc se mostrava até mesmo nos campos de batalha mais extenuantes. Não importa quão forte e numeroso fosse o exército humano, todas as vezes aparecia e lutava até o último homem de pé.
Na batalha do Planalto de Remium, por exemplo, os sábios anciões humanos tiveram a engenhosa ideia de trazer um dragão para o campo de batalha. E quando transformou os demônios e ogros em carvão, o orc permaneceu firme, continuando a lutar contra o dragão junto com seus companheiros sobreviventes.
O general, antes soldado, não pôde deixar de admirá-lo enquanto o observava na batalha. De fato, havia algo na habilidade do horrendo orc que o fazia parecer quase bonito para Houston. É por isso que a memória dele em particular ficou.
Pele verde comum. Presas grandes, padrão, embora ainda um pouco pequenas. Um físico musculoso e rigoroso. Olhos feito um falcão. Cabelo roxo-azulado. Sua aparência era normal, a de qualquer orc verde, mas Houston sabia que não estava enganado.
A última vez que esteve tão perto dele foi na cerimônia de assinatura do tratado de paz. Não, ele não estava tão perto. Devia haver pelo menos quase vinte metros de espaço. Agora estava diante dele a meros cinco metros de distância. Perto o suficiente para agarrá-lo.
Aparentemente não estava carregando aquela espada dele, aquela que era tão longa quanto sua altura. Houston sabia, entretanto... Sim, sabia que o orc era capaz de se mover em velocidades igualadas até mesmo à raça de homens-fera e que poderia pulverizar armaduras de aço preto dos anões apenas com as mãos.
Viu esses feitos com seus próprios olhos, afinal. Não estava enganado. Ninguém acreditou nele quando contou a história mais tarde, só que foi assim que o último adjunto foi morto.
Sim, era um orc digno de todos os títulos que as pessoas atribuíram a ele. O Guerreiro Louco, o Destruidor, o Aniquilador, o Touro Furioso, o Braço de Aço, o Pesadelo da Floresta Shiwanashi, o Desastre Verde, o Decapitador de Dragões... Haviam muitos mais, todavia todos eles eram um resumo preciso desse temível orc.
E no país dos orcs, o chamavam de… O Herói Orc, Bash.
Houston estava na presença do espécime mais temível encontrado entre toda a raça.
Em uma inspeção mais próxima, notou a fada. Parecia ser a mesmo que sempre o acompanhou no campo de batalha, só que, naquele momento, estava embrulhada em um guardanapo enrolado desamparado sobre a mesa.
Houston também sabia tudo sobre essa fada.
As fadas têm propriedades curativas valiosas, então quase nunca são mortas depois de capturadas. Sabendo disso, essa em particular, astuta, muitas vezes se permitia ser capturada de propósito para que pudesse, através de algum meio mágico desconhecido, transmitir as posições dos humanos ao orc mais perigoso e chamá-lo direto para o local. Como resultado, ganhou o apelido de Zell, a Armadilheira.
— J-Judith... — Apesar da voz trêmula, Houston estava de alguma forma conseguindo não virar as costas e correr gritando. Seus subordinados estavam assistindo, afinal.
Era o general das forças armadas e comandava tanto cavaleiros quanto soldados de infantaria. Estava orgulhoso disso e do respeito recebido de suas tropas. De jeito nenhum jogaria fora sua confiança. Além disso, parecia que Bash estava cooperando com Judith, uma expressão suave e calma em seu rosto.
Seus olhos de caçador brilharam com uma espécie de luz quente enquanto acenava com a cabeça ao interrogatório feito um velho benevolente ouvindo com indulgência o balbucio de uma criança.
Que inesperado. Então esse assassino demoníaco tinha um lado mais suave nele. Não era todo raiva e violência. E por que estaria com raiva? A guerra havia terminado. Era tempo de paz, não era? Sim, até os olhos do orc falavam de paz. Ainda era Bash, porém. A tão dita lenda macabra e temerosa.
Houston respirou fundo para se concentrar. Então, com extrema cautela e mantendo a maior distância possível entre ele e o orc, virou para lidar com a cavaleira.
— O quê…? O que você está fazendo?
— Senhor! Recebemos relatos de uma emboscada orc na região da floresta ocidental. Após investigação, descobrimos que um orc havia sido visto recentemente entrando na cidade. Nós o localizamos e o prendemos na pousada em que ele estava hospedado. Neste momento, estou conduzindo um interrogatório!
— Ah. Hmm…
Soube de imediato que se tratava de uma prisão baseada em identificação incorreta. Bash nunca deixaria nenhuma testemunha ocular viva depois de uma emboscada. E se fosse culpado desse crime, simplesmente teria se livrado da prisão, matando quem estivesse em seu caminho e fugindo. Um orc desse calibre poderia escapar com facilidade, mesmo cercado por cem soldados. Quanto a como o general podia pensar isso com tanta convicção... Bem, ele o viu se libertar de suas tropas dessa maneira durante a guerra.
— Ele deu a maior parte das informações, mas ainda não nos disse o propósito de sua jornada. Ei, você! Cuspa, seu javali imundo! — Judith agarrou o herói pelo colarinho e empurrou o rosto contra o dele, os olhos brilhando de forma ameaçadora.
Houston estremeceu com terror repentino.
— Ah, não faça isso! Pare! Sem violência!
Queria soar autoritário, mas sua voz saiu em um grito estranho.
Embora fosse tempo de paz, quem poderia culpar o orc por estar irritado com este interrogatório? Ali estava ele, acusado de um crime, arrastado para a prisão, e agora alguma cavaleira novata que nem tinha estado na guerra o estava irritando e desrespeitando. Sim, ele tinha todo o direito de estar com raiva. Furioso, até.
— Nada mais tenho a dizer.
Mas não parecia nem um pouco perturbado. Em vez disso, apenas torceu o nariz, a expressão serena.
Talvez o cheiro de frutas cítricas flutuando pela prisão estivesse tendo um efeito calmante sobre ele? A raça dele comia qualquer coisa, porém tinham um apetite especial por frutas.
Houston sentiu uma onda de gratidão pelo soldado que sugerira refrescar a prisão com óleo de frutas cítricas. Talvez até lhe desse um aumento.
— Ahem... Judith. Solte-o imediatamente, depois volte aqui comigo. Devagar.
— O quê…? O que você tem? O que aconteceu com Houston, o Exterminador Suíno? Por que está agindo tão fracamente e...
— Não se dirija a mim por esse nome!
Um orc com certeza acharia o apelido um insulto…
Sempre que era mencionado entre os renegados que traziam, uma confusão acontecia.
“Então você é aquele que eles chamam de Exterminador Suíno! Eu vou arrancar suas tripas!”: esse é o peso que o nome carregava entre a raça. Ou talvez fosse apenas porque não gostavam de ser chamados de porcos. Difícil dizer com certeza.
— Mas, senhor, esse porco orc lixo precisa saber com quem ele está lidando aqui, o grande Houston! Ouça, suíno. Este homem é o general Houston, e ele matou mais orcs do que qualquer outro durante a guerra! Sim, enquanto orcs como você estavam sentados cutucando seus narizes sujos, ele...
Houston de repente soltou um grito. — Cale-se! Cala a boca ou eu calo pra você! Agora volte neste instante! — O rugido quase demoníaco.
— Huh…?
Judith endureceu em choque, confusa com a ameaça. No entanto, fez o que lhe foi dito. Seus ombros e cabeça estavam caídos. Foi repreendida pelo general do exército, mas não tinha ideia do porquê. Precisaria dele para explicar mais tarde.
Agora, porém, havia o orc para se preocupar.
— Arf...
Houston soltou a respiração que estava segurando e se virou para Bash.
Seus olhos de falcão estavam fixos na cavaleira, agora de pé em sua posição na fileira. O lábio de Houston se contraiu espasmodicamente.
— Eu… peço desculpas pela grosseria da minha subordinada. Ela deveria estar encarregada de investigar o caso da emboscada da carruagem, mas até agora não conseguiu encontrar nenhuma pista. Receio que esteja um pouco desesperada. Oh, com licença, eu deveria ter me apresentado antes. Sou o general do exército da força de defesa desta cidade. Meu nome é Houston Jale.
— Bash.
— Ah, sim... eu sei seu nome...
— Sabe?
— Eu tive a oportunidade de observar você no campo de batalha muitas vezes...
Bash de repente se inclinou, os olhos focando no rosto do outro. Será que se lembraria e saltaria para atacar? Não, certamente não. Era um tipo razoável de orc, não era?
Houston tinha que confiar em sua impressão inicial. Se o orc fosse atacar, já teria feito isso. Todos os seus homens teriam sido mortos, e Judith teria desmaiado, os olhos vidrados, e um líquido viscoso turvo pingando entre suas pernas abertas.
Tranquilizando-se, esboçou um sorriso. Em seus trinta anos de serviço leal, nunca sorriu para um orc dessa maneira. Inferno, ele nunca sorriu para outro humano dessa maneira.
— Um grande chefe dos humanos…
— Hum... é. Tipo isso.
— Isso me leva de volta à guerra... Como você tem passado? — De repente, as presas de Bash ficaram expostas em seu total.
Era uma expressão que poderia ser com facilidade confundida com uma careta ameaçadora. Mas o general sabia mais sobre orcs do que qualquer um ao redor. Sabia que a alcunha selvagem era somente a aproximação de um sorriso amigável de um orc.
Se sentiu um pouco aliviado e muito mais confiante enquanto continuava a conversa.
— Esta situação é inteiramente resultado da minha falta de atenção. Eu aprecio muito sua paciência durante este assunto.
— Ah, não estou nem um pouco incomodado.
Na verdade, quase parecia entediado, todavia olhava para Judith com uma expressão estranha no rosto.
Houston estreitou os olhos. "Será que ele", pensou consigo mesmo, ", por mais que a impudência dela o enfureça, não pretende matá-la...?"
Foi a conclusão a que chegou, pelo menos.
Era um orc tolerante, com certeza, aceitando os insultos da cavaleira sem pestanejar. Qualquer outro já teria lidado com o insulto agarrando-a e rasgando membro por membro. E, contudo, ainda poderia explodir a qualquer segundo.
Houston levantou a voz, esperando encerrar essa conversa o mais rápido possível.
— Hum... De qualquer forma, posso te fazer algumas perguntas? Prometo não tomar muito mais do seu tempo.
— O quê? Quantas vezes pretendem me fazer repetir a mesma coisa?
— Por favor, se você apenas cooperar conosco por mais alguns minutos…! — guinchou.
Atirou à subordinada um olhar penetrante. Foi a isso que seu interrogatório se resumiu? Uma repetição interminável das mesmas perguntas?
Ela olhou para o chão, mordendo o lábio por culpa.
— Bem, vamos ver...
Então começou a questionar o orc sobre a emboscada na região da floresta ocidental sobre a qual receberam relatórios. Naturalmente, as respostas de Bash não mudaram.
A carruagem tinha sido sitiada por bugbears. Ele, que estava de passagem, interveio para expulsá-los. Havia falado com as duas mulheres para ver se alguma delas consentiria em ter relações sexuais. E sua explicação de por que ele não as atacou foi que o rei orc havia proibido o acasalamento com outras raças sem primeiro obter consentimento. Enquanto estava apenas cumprindo os desejos do rei, as mulheres viram isso como um sinal de que estavam prestes a ser atacadas.
Houston assentiu enquanto digeria a informação. Aqueles orcs desonestos não eram confiáveis, mas notou que podia acreditar em Bash sem quaisquer dificuldades.
Parecia que, de fato, apareceu na emboscada da carruagem por pura coincidência.
Sim, tudo já previsto antes.
Se pretendesse atacar aquelas duas, nunca teriam conseguido escapar para contar a história. O interrogador sabia melhor do que ninguém que fugir de Bash era uma façanha quase impossível. Fugir quando pretendia capturá-lo... isso exigiria inúmeros subordinados fortemente blindados para usar como escudos humanos convenientes. Sem falar na sorte também.
Portanto...
— Só mais uma pergunta, então.
A mais importante de todas.
— Você disse que está procurando por algo. O rei orc está ciente disso?
— Claro.
— Entendo.
Agora a curiosidade estava satisfeita. Sabia por que o Herói Orc estava aqui. Sabia o propósito de sua jornada. Estava em uma missão do rei da sua raça. Nemesis tinha dado a ele uma ordem direta. Em obediência, Bash partiu. O comando? Vá em frente e procure por este objeto ou pessoa.
— Irmão, isso é bastante preocupante. Nesse caso, você deveria ter passado pelos canais governamentais apropriados...
— É um assunto pessoal. Não pretendo causar problemas.
E ainda era algo que sentiu a necessidade de esconder dos humanos. Ou alguém. Deve ter sido algo muito importante ter um orc do calibre de Bash enviado. Algo que, uma vez obtido, traria grande lucro para a raça. Ou, inversamente, algo que levaria a grandes perdas se não pudessem obtê-lo... De qualquer forma, estava claro que davam muito valor ao que quer que fosse. Caso contrário, nunca teriam enviado seu melhor orc ao mundo sozinho.
Houston supôs que, graças à missão, Bash não rasgou ele e Judith. A carnificina humana poderia ter aumentado demais a dificuldade da missão. Ele, porém, estava curiosíssimo para saber mais sobre a busca...
— Tudo bem. Eu entendo a situação.
Decidiu não pensar mais sobre. Só esperava que essa coisa, fosse o que fosse, não causasse danos à humanidade.
— Bem, isso é tudo o que precisávamos de você. Peço desculpas por tomar seu valioso tempo.
Não, não era da conta dele. Envolver-se, enfiar o pescoço onde não deveria... isso poderia ser perigoso. Com risco de vida. No campo de batalha, não havia nada mais precioso do que a vida humana. Ao mesmo tempo, não havia nada mais dispensável…
A prisão do orc foi um simples caso de identidade trocada. Veio em silêncio e cooperou com suas investigações, mais ou menos.
No que dizia respeito a Houston, esse assunto foi tratado.
Processo encerrado.
Claro, enviaria uma mensagem adiante para as terras natais, avisando-os de que o Herói Bash estava por perto, procurando por algo. Depois disso, o que quer que acontecesse... era problema de outra pessoa.
— Hmm. — Ele assentiu de leve, começando a desenrolar Zell das amarras que haviam sido usadas para conter a pequena fada.
— Cuidado em sua jornada e para não deixar nenhum pertence para trás. — Houston deu um suspiro de alívio enquanto dizia as palavras de despedida.
Enfim, o orc estava partindo. Vendo-o de perto e conversando com ele, teve que admitir que Bash realmente era uma bela figura de orc e bem digna do título de herói.
Ele poderia ter um ataque selvagem a qualquer momento.
O general sabia muito sobre os orcs. O suficiente para saber que havia muito mais que ele ainda não sabia.
Precisava tirar esse orc daqui antes que algo o deixasse irado. Após isso, tudo o que podia fazer era rezar para que não causasse destruição na cidade.
Não enviaria soldados atrás a fim de monitoramento. Não, a vida de seus subordinados era preciosa. Adotaria uma abordagem totalmente desinteressada.
Foi isso que decidiu.
A intuição o manteve vivo até aqui. Se recusou a arriscar seu pescoço agora, quando a paz reinava.
— Hmm…
Quando Bash desamarrou a fada, porém, estava franzindo a testa e continuou olhando para Judith a cada poucos segundos.
"Huh?"
Houston o assistiu dar uma espiada furtiva nela. Algo estava fazendo seus sentidos de intuição formigar de novo.
Ele estava livre para sair e ainda assim demorava.
Qual seria a razão? Por que estava olhando para Judith? Ainda guardava rancor contra a cavaleira? Mas apenas momentos antes, alegou não ter se incomodado com o interrogatório dela. Então, por que parecia tão obcecado por ela? O que tinha com ela? Era uma cavaleira. Realizou uma busca na região da floresta ocidental. A estrada... em outras palavras... As engrenagens começaram a girar na cabeça de Houston, levando-o direto à conclusão mais lógica.
— Será que o caso da emboscada da carruagem está de alguma forma conectado a essa coisa que você procura?
Bash congelou por um momento. Seu rosto estava branco, e era impossível dizer o que o orc poderia estar pensando. Mas naquele momento, a fada Zell se soltou de seu embrulho e voou no ar, chegando ao ouvido de Bash e sussurrando algo. De repente, as sobrancelhas dele se ergueram.
Então se virou para o interrogador, sua expressão composta. E de forma lenta, assentiu.
— Hmm, acho que você tem razão.
— Foi o que pensei!
Sorriu, satisfeito por seu palpite ter se mostrado correto.
Era um homem inteligente. No espaço de alguns segundos, já havia encontrado uma maneira de deixar o orc em dívida, ao mesmo tempo em que prevenia qualquer distúrbio na cidade e se certificava de manter fora o perigo. Houston Jale não era exatamente um santo, sabe. E nunca hesitou em aproveitar qualquer oportunidade que pudesse melhorar sua própria sorte mais tarde.
— Nesse caso, enviarei a jovem Judith para acompanhá-lo. Afinal de contas, ela era a encarregada da investigação da emboscada da carruagem. Se você está investigando, ela é a melhor pessoa para ajudá-lo.
— O quê?
Ela estava parada na entrada com um olhar descontente ao extremo no rosto.
— Espere um minuto, General Houston! Você realmente pretende me mandar embora com essa fera selvagem que não pensa em mais nada além de violar todas as mulheres que vê?! — Deu um passo furioso para frente, apontando um dedo acusador para Bash.
Bash olhou com frieza para o dedo, respondendo em voz baixa.
— Nós orcs somos proibidos de ter relações não consensuais por decreto deo tratado de paz. Não tenho intenção de violá-la.
Houston olhava, assentindo, sentindo-se profundamente inspirado de repente.
Agora que voltou à mente, lembrou que o orc nunca foi conhecido por arrastar mulheres depois da batalha, mesmo que toda a unidade inimiga tivesse sido exterminada. Os outros orcs ignorariam ordens diretas e levariam mulheres ali mesmo no sangrento campo de batalha. Mas não Bash. De fato, era da natureza de um orc querer violentar tantas mulheres quanto pudesse. Mas este orc franco e pelo jeito decente resistia aos impulsos inatos de sua raça e defendia a lei do rei.
— Viu? Aí, você tem a palavra do próprio.
— A sério?! Você, de todas as pessoas, deveria saber, General Houston, que eles são uma raça de brutos indiscriminados! Não importa o que ele diga, é óbvio que no momento em que ele me pegar sozinha em um canto escuro, ele mostrará suas cores verdadeiras e desprezíveis!
Houston a agarrou pela gola e a puxou para perto até que seu rosto estava contra o dela.
— Cale a boca, cavaleira. Agora ouça aqui. Este cavalheiro não é nada como aqueles orcs desonestos. Ele é o Herói Orc Bash.
— Hã? Herói? Quem disse?! Ele provavelmente é apenas o sobrinho favorito do rei orc ou algo assim!
Houston estava com dor de cabeça.
Bash era conhecido por todos os soldados da Força Antiorc durante a guerra.
O general estava ciente de que ela era uma cavaleira novata que só se juntou ao serviço depois que a guerra acabou. Mesmo assim... como podia estar tão desinformada?!
Ele lutou muito para reprimir uma súbita vontade de gritar com a estúpida jovem cavaleira.
A guerra havia terminado há três anos. Aqueles que haviam sido soldados durante a guerra, em sua maioria, voltaram para suas cidades natais. Para viver uma vida pacífica, longe de lutar. A maioria dos soldados desta cidade nunca tinha experimentado a guerra. E enquanto a maioria sabia da existência do rei , poucos sabiam seu nome — Nemesis. Além do mais, ainda não havia quase nenhum comércio acontecendo entre a cidade fortificada e o país orc. Judith — na verdade, todos os seus subordinados — só encontraram orcs renegados e foras-da-lei. Criminosos detestáveis que não respeitam as regras. Então Houston supôs que sua ignorância não poderia ser evitada.
— Ele é exaltado entre os orcs, um fato que permanece verdadeiro apesar de sua ignorância. Ele é uma elite, do tipo com quem uma cavaleira estúpido e humilde de sua laia nunca poderia esperar conversar.
— O quê... sério? Mas ele é apenas um orc...
— Ele veio para Krassel em paz, mas não se engane, se você realmente o tivesse irritado, já estaria morta.
— Huh…?
Ainda não parecia entender.
Ele decidiu mudar de rumo.
— Se você acabar provocando outro conflito com os orcs, sua cabeça vai rolar. Vou providenciar para que você seja executada por isso. Você realmente quer ir para a guilhotina em tempos de paz?
— A guilho…? Mas... quero dizer... ele é um orc...
Houston sabia que era um covarde, um oportunista. Durante a guerra, conseguiu escapar de Bash e carregava uma estranha sensação de orgulho dentro de si por essa conquista. Entretanto, os outros não sabiam de tudo isso. Judith e o resto de seus subordinados — todos pensavam que era um guerreiro implacável e temível. Então estava tomando as palavras dele não como um conselho sábio, mas como ameaças e intimidações. Ela ainda era jovem e inexperiente, e não pôde deixar de tremer.
— Ei.
Bash interveio. Havia um tom de raiva em sua voz pela primeira vez, e ele estava olhando para ele nitidamente.
— Solte a mulher.
Houston a soltou na hora, as mãos se abrindo como se dissesse "eu não estava nem tocando nela, eu juro".
— Al... algo está errado?
— Seu bruto...
Bash parou por um momento, como se pesasse suas palavras, antes de continuar.
— Assediar uma mulher assim, jorrando ordens para ela. Você não tem vergonha?
— Eu... Mas...
As bochechas dele ficaram vermelhas.
Judith arrastou Bash, um orc inocente, o colocou na cadeia e o interrogou, tudo sob jurisdição humana. E agora teve a coragem de insultá-lo na cara dele.
Houston podia dizer o que o herói estava pensando. Óbvio, ele ficou furioso, só que estava tentando não mostrar isso. Em vez disso, estava falando como se simpatizasse com a situação delaSe fosse qualquer outro, o general teria zombado em voz alta."Não importa que seja uma mulher; ainda é minha subordinada. Não é da sua conta, então vá se foder", algo assimOu poderia ter zombado do orc. "Então você foi pego, mijou nas calças, mas depois conseguiu balançar o interrogatório a seu favor, então decidiu se achar o maioral, hmm?".Não era um orc comum à sua frente. Era um que poderia estripar todos os humanos nas proximidades antes mesmo de você piscar.
Um orc não precisava de palavras. Poderia demonstrar aos humanos o quão fracos e insignificantes eram através do uso de seus punhos poderosos. Não tinha usado os punhos, todavia. Mesmo apesar de toda a humilhação suportada. De onde conseguiu tal autocontrole? Estava claramente pensando na perspectiva de um leal membro da tribo orc. Se atacasse qualquer um dos humanos presentes, violaria os desejos do rei orc. E se Bash se voltasse contra ele, muitos orcs jovens de sangue quente seguiriam o exemplo. Isso levaria a outra guerra entre os orcs e uma das outras raças. Durante a longa guerra, os orcs perderam muitos de seu número. Se outra guerra acontecesse, desta vez, poderiam ser extintos de verdade.
E assim se controlou. Pelo bem do dever, pelo futuro da raça, poderia sacrificar sua dignidade cem vezes. Por todo o poder que possuía, se recusou a usá-lo para seus próprios meios egoístas, dedicando-se ao serviço de sua raça. Que bom orc ele era. Muito mais magnânimo, muito mais tolerante do que se poderia imaginar... Houston sentia-se cada vez mais envergonhado em comparação. Bash estava certo. O que o orc deve ter pensado dele, arengando uma mulher dessa maneira? Que patético! Como general — não, como homem —, ele não podia agir assim.
E então decidiu. Uma decisão que poderia acabar enfurecendo o orc, e ainda assim... sabia o que precisava ser feito.
— Você está certo, é claro, sim. Nesse caso... vou acompanhá-lo na busca na floresta!
Os olhos de Bash se contraíram por um momento, mas Houston, oprimido pela grandeza desse poderoso orc, não percebeu.