Orc Eroica Japonesa

Tradução: Tama


Livro 1

Capítulo 3: A Cidade Fortificada de Krassel

Krassel, a cidade fortificada.

Serviu como linha de frente da guerra contra os orcs por séculos. A maioria das estruturas era construída em pedra, e havia forjas por toda parte soltando fumaça.

Ainda tinha muitos soldados de aparência agressiva para serem vistos circulando pela cidade entre os mercadores e os habitantes comuns, mas não tantos quanto durante a guerra.

Ficava no topo de uma pequena colina e era cercada por grossas muralhas duplas. Entre essas muralhas, havia vários canhões e trabucos para autodefesa e torres de vigia em lugares estratégicos, quais se podia ter uma boa visão de toda a floresta, o domínio anterior dos orcs.

Era realmente uma fortaleza.

Os orcs e humanos entraram em confronto por ela muitas vezes durante a guerra.

Durante um período de vários milhares de anos, os orcs várias vezes tomaram-a, apenas para tê-la arrancada de suas garras pelos humanos.

Os humanos defenderam a fortaleza sem parar. Se caísse para a raça rival, também cairia toda a terra humana. Os homens seriam todos mortos, as mulheres levadas para virarem ferramentas de reprodução. Os humanos entendiam bem essa ameaça sempre presente.

Mesmo com a guerra terminada, nunca perderam o senso de cautela quando se tratava de lidar com os orcs. Na verdade, a guerra lhes ensinara muitas coisas. Aprenderam que os orcs não eram bestas obstinadas movidas apenas pelo desejo sexual. E também que atacavam outras raças porque precisavam delas para procriar. Tinham seu próprio conjunto de regras, seu próprio senso de orgulho.

Uma vez que os humanos perceberam isso e começaram a dialogar com os orcs, descobriram que a negociação era mesmo possível. Com esse conhecimento, fizeram as pazes.

Depois de desenvolverem um certo respeito pelo orgulho dos orcs, as guerreiras humanas, que possuíam uma força que até os orcs precisavam apreciar, foram capazes de negociar com eles. Assim, perceberam que as mulheres de outras raças poderiam ser lutadoras fortes, dignas de respeito, e isso os levou a concordar com a cláusula do tratado de paz que afirmava que não mais “envolveriam-se em coito não consensual com membros de diferentes raças”. No entanto, vendo que o cumprimento de tal regra levaria apenas à erradicação deles, os humanos reuniram prosioneiras de todo o país e as enviaram em serviço voluntário. Assim, removeram o último obstáculo que os orcs tinham para aceitar a paz.

Como resultado, as relações eram neste ponto bem amigáveis entre as duas raças. Na verdade, até começaram a estabelecer uma rota comercial incipiente entre eles. Porém, muitos humanos ainda mantinham a crença de que os orcs eram bestas selvagens sem qualquer capacidade de raciocínio.

Cada raça tem sua parte idiota, sabe?

A guerra havia acabado apenas alguns anos antes, entretanto. Muitos ainda guardavam rancores pessoais. E havia bandos de orcs desonestos que abandonaram sua nação, se infiltraram na terra dos humanos e os atacaram.

Então, bem, talvez a humanidade tivesse uma boa razão para estar sempre em guarda.

— Nunca imaginei que levaríamos tanto tempo para chegar à cidade.

— Não? Todas as cidades humanas não são assim?

Cerca de três horas se passaram desde que Bash chegou a Krassel. Dessas três horas, uma foi gasta discutindo com o porteiro.

O homem reagiu com medo imediato e apontou sua ponta de lança, tudo porque era um orc.

Zell, sem demorar, passou entre eles, explicando que o parceiro era apenas um viajante de passagem e que não era um dos perigosos orcs desonestos. Sem ela, teria altas chances de nunca ter acesso à cidade.

O porteiro não foi fácil de convencer, contudo, e parecia determinado que nenhum orc seria permitido passar pelos portões em seu turno. Mas, depois de um tempo, não teve escolha a não ser ceder e deixá-los entrar. Viajantes tendiam a ser bem-vindos em cidades humanas como regra geral, e não havia nada definido para dizer que orcs deveriam ser impedidos de entrar.

— Tem muitas mulheres por aí.

— Sim, porque é uma cidade humana.

Olhou pela janela da pousada para os transeuntes do lado de fora, maravilhado com o grande número de mulheres elegíveis.

Mesmo durante a guerra, a única vez que viu tantas foi quando se juntou ao exército de súcubos. Embora se referir a elas como mulheres provavelmente não fosse a melhor escolha de palavras... A propósito, as mulheres na rua que viram Bash olhando da janela logo endureceram e aceleraram seus passos, correndo tão rápido quanto podiam.

— Com tantas mulheres ao redor, não vou demorar a escolher.

— Ei, calma lá! Ali, dê uma olhada naquela. Mão esquerda, dedo anelar.

Bash estreitou os olhos, focando na mão da mulher como instruído. Tinha uma coisa refletindo a luz.

Hum? Um anel.

— Isso é um sinal de que ela já é casada. Os humanos geralmente tendem a formar casais, um homem e uma mulher. Então não fique de olho em ninguém com um anel, entendeu?

— Mas a maioria das mulheres aqui parece estar usando anéis.

— É porque os humanos pensam que o casamento é como um rito de passagem para ser um adulto adequado. Todos pensam isso, homens e mulheres. Uma vez que você passa de uma certa idade, eles estão casam, mais ou menos.

Ao contrário dos orcs, parecia que todos os homens humanos eram livres para ter uma esposa. Essa construção social humana aceita pareceu bastante estranha para ele.

Eventualmente, porém, percebeu que, se o número de humanos e humanas eram quase iguais, fazia sentido permitir tais coisas.

E se quisessem tanto se casar, isso só poderia funcionar a favor dele.

— Então, o que estou dizendo é que você deve procurar somente por mulheres sem anéis.

— A com quem tentei falar no caminho para cá... não acredito que estivesse usando anéis.

Ah...

Sim, no caminho para a pousada, tomou coragem e decidiu tentar falar com uma na rua. Sua resposta foi fugir gritando. Nem mesmo disse uma palavra, e bastou um único olhar para mandá-la correr.

— Parece que ainda há um forte senso de preconceito contra orcs.

— Entendo…

— Acham que todos querem atacá-las sem motivo algum, arrastá-las chutando e gritando para não serem engravidadas.

— Bem, não estão erradas. Na guerra, era isso que todos faziam., por mais que o atual rei tenha proibido tais práticas.

Os desonestos à parte, nenhum jamais atacaria em tempos de paz. Os decentes haviam jurado fidelidade ao rei e eram todos orgulhosos e nobres guerreiros. Mas Bash sabia que nem todos os humanos tinham opiniões tão preconceituosas sobre.

Um grupo de soldados veio correndo em resposta aos gritos.

Não pareciam ser tendenciosos contra orcs, e depois que Bash explicou a situação, se tornaram bastante amigáveis.

"Se você é um viajante, vai precisar de um lugar para ficar", disse um deles, e até deram uma recomendação de uma boa pousada.

Os alojamentos eram bem confortáveis, e se sentiu grato aos soldados amigáveis.

— Todos os humanos têm essa imagem da raça na guerra fresca em suas mentes. Afinal, foram apenas alguns anos. É natural que ainda desconfiem de vocês, mas não esperava que eles simplesmente fugissem, porém.

— É... sim... Na verdade, antes de encontrar você, tentei falar com aquelas duas mulheres na floresta. Fugiram de mim também.

— Interessante. Por curiosidade, o que falou para elas?

— Perguntei se gostariam de ter meus filhos.

— Caramba! — gritou Zell, batendo na testa dele com a palma da mãozinha. — Você não pode só dizer algo assim!

— Não posso?

— Vê só. Os humanos consideram o parto uma coisa muito intensa, quase espiritual! É um evento cerimonial superssério!

— Céus...

As palavras "evento cerimonial" fizeram Bash pensar no ritual orc anual de orar ao deus da guerra. Uma vez por ano, a grande cerimônia era realizada para determinar as fortunas de batalha do ano seguinte. Era muito, muito importante para a raça. Nenhum jamais faria pouco caso da cerimônia.

— E, na maioria das vezes, só casam e acasalam com um parceiro pelo qual se apaixonam. Mulheres humanas não saem por aí tendo bebês com homens que acabaram de conhecer.

— N-não...?

Um choque cultural.

Não era de admirar, então, que parecessem abominar a perspectiva de acasalar com orcs. Não apenas porque eram o inimigo, e sim porque, além de profanarem seus corpos, também estariam profanando suas crenças.

— Então, em resumo! Se quer fazer de uma mulher humana sua noiva, primeira precisa fazê-la se apaixonar perdidamente por você!

Zell não estava cem por cento correta. É claro que nem todo casamento humano era o resultado de amor verdadeiro. Mas até onde ela sabia, isso era tudo.

Hmm... Mas eu não sei como fazer uma se apaixonar por mim.

Os orcs não tinham nenhum conceito de amor ou romance. Viam as mulheres como criaturas a serem dominadas e subjugadas. Agora isso foi proibido, e Bash, de alguma forma, precisava fazer “se apaixonar”. Não tinha a menor ideia de como fazer isso.

— Apenas deixe comigo! Você pode se surpreender, mas na verdade sou uma fonte de conhecimento quando se trata de todas as coisas humanas!

Zell bateu um pequeno punho contra o peito enquanto falava.

As fadas se especializaram em mensagens secretas e inteligência secreta durante a guerra, e, de fato, possuíam um bom conhecimento sobre as diferentes raças. E não apenas sobre a humana, mas também sobre a élfica e a bestial, em particular. Dito isso, a extensão de seu conhecimento dizia respeito a coisas como táticas de batalha, traços comportamentais específicos, metodologia de combate, as características de seus rastros e excrementos, como identificá-los em baixa visibilidade e outros aspectos relacionados à guerra. Quanto aos hábitos reprodutivos, pegavam algumas coisas de revistas maliciosas que encontravam descartadas ao longo da estrada ou das brincadeiras obscenas ouvidas nas tavernas.

— Obrigado. Tenho sorte de ter encontrado uma fada do seu calibre, e tão cedo na minha jornada também. Então, em termos básicos, o que preciso fazer?

— Bem, vamos ver...

Sorrindo confiante, pulou em cima da mesa. Então levantou um dedinho no ar, preparando-se para começar a lição.

— Em primeiro lugar, as mulheres humanas gostam coisas limpas! Se estiver sujo ou fedido, não chegará a lugar nenhum! Regra número um: mantenha um corpo limpo.

— Devo tomar banho antes de sair, então.

— Depois do banho, também pode colocar algumas daquelas coisas que você joga antes de entrar na batalha com os homens-fera!

— Mas isso... isso não vai deixar pior?

— Deixa de falar besteira! Têm um cheiro requintado!

Bash olhou para seu corpo volumoso, mordendo o lábio.

Na guerra, enfrentaram várias raças diferentes.

Os homens-fera tinham o nariz particularmente aguçado.

Podiam farejar o odor característico de um orc a quilômetros de distância e muitas vezes eram capazes de lançar ataques surpresa bem-sucedidos usando apenas o cheiro para guiá-los.

Para contornar isso, os orcs começaram a se banhar antes da batalha contra homens-fera, a fim de suprimir seu cheiro natural e até mesmo borrifar colônia depois para enganar ainda mais seus adversários.

A colônia cheirava a ervas e flores naturais e com certeza confundiria o animal com o nariz mais afiado.

Era na verdade um produto feito por fadas, hoje em dia uma exportação popular para as regiões humanas e elfas.

— Olha, eu vou te emprestar um pouco do meu!

— Tudo bem.

Regra número dois: sempre cheire bem.

O cheiro da doce colônia era muito impopular entre os orcs. Muitos optaram pela prática de aplicar a antes de entrar nas batalhas contra os homens-fera. Todos morreram. Bash não estava entre eles. Não, ele foi um dos poucos que realmente voltava. Entretanto nunca esqueceu o terror de um ataque noturno deles. Era tão ruim que os orcs mal conseguiam dormir à noite. Aplicar a colônia era a única coisa que lhes permitia dormir sem medo. Enquanto permanecesse potente, não havia necessidade de se preocupar que um grupo de homens-fera os farejassem e lançassem um ataque.

— Certo, vamos te dar um banho! Eu vou esfregar suas costas! — Saltou da mesa, deu uma volta no ar e então correu até a porta, batendo nela com um pequeno punho.

— Hospedador! Hospedador! O chefe deseja tomar banho! Precisamos de um balde de água aqui, pronto! — Houve uma pausa de vários momentos após o grito dela, e a porta enfim abriu.

O hospedador enfiou a cabeça pela abertura, parecendo desconfiado.

— O orc quer tomar banho?

— O quê, você tem um problema com isso? Um orc não pode tomar banho?! Vocês humanos estão sempre desprezando eles por serem fedorentos e sujos, mas um orc decente como o chefe é supercapaz de tomar banho para não ofender seus narizes delicados!

— Tá, tá, sem estresse. Vou buscar o balde de água. Será uma moeda de cobre, por favor.

— Ok.

Apesar do olhar de incredulidade, aceitou a moeda de cobre e desapareceu para buscar o balde.

— Tudo bem então, até que chegue aqui, vamos continuar a lição!

— Sim, se você não se importar.

 Após isso, Bash se banhou com cuidado usando a água enquanto ouvia atentamente os conselhos de fada de Zell sobre “como ser popular com mulheres humanas".

— De qualquer forma, se você seguir essas regras, deve ser capaz de encantar pelo menos uma.

— Mantenha-se limpo, cheire bem, aja com dignidade, fale com sabedoria... — Depois de tomar banho, revisou as regras uma a uma, contando com seus dedos carnudos.

Sempre queria agradar os outros. Certa vez, até correu para ajudar quando um chamado de reforço chegou no campo de batalha, mesmo que não dormisse há três dias e três noites.

Ao ouvir a lição, absorveu as informações sem qualquer dúvida. Mesmo assim, como fadas, Zell era um pouco excêntrica.

De repente, Bash congelou.

Seus ouvidos aguçados captaram um clamor repentino. Enquanto ouvia com atenção, percebeu que o barulho estava ao redor deles, cercando a sala em que estavam.

Oh, Deus... Olha, não há necessidade de congelar. Ok, vou repassar o básico mais uma vez. Agora escute aqui, uma mulher humana é... Ei, ei!!! — Olhou duas vezes quando Bash sem delongas desembainhou a espada de seu suporte nas costas. — O-o que você está fazendo?! Estamos sob ataque?!

Apesar do choque, reagiu rápido, sacando um cajado mágico do tamanho e comprimento exatos de um palito de dente.

Também ouviu: o som de metal batendo em metal, ao redor deles.

Estavam cercados. Como não perceberam tal emboscada?

— Magia silenciadora…

Lembrou-se do truque humano de usar magia a fim de esconder sua aproximação e preparou sua espada.

Magia silenciadora, como o nome sugeria, era a magia que abafava o som. No entanto, só era eficaz em uma área fixa. Isso significava que, uma vez que o inimigo estivesse perto o suficiente, sua presença se tornaria de repente audível. Era uma das formas de magia que os humanos vestidos com armadura de corpo inteiro usavam com mais frequência. Se Bash e Zell podiam ouvi-los agora, então deve ter significado que os humanos, por acidente, chegaram muito perto, ou já os cercaram com sucesso e estavam prontos para lançar um ataque... A julgar pela sofisticação da emboscada, parecia ser a última opção.

— Pelo som, posso adivinhar o número deles. Deve ser aquele grupo que encontrei na carruagem.

— Você quer dizer que fomos seguidos?

— Eu não senti ninguém nos seguindo. Só que são de humanos que estamos falando. É bem possível.

Bash não era um orc velho e senil. Perder um grupo de humanos em armaduras pesadas seguindo-o na floresta? Não, nunca cometeria tal erro. Seus sentidos sempre podiam captar a presença do inimigo, fosse humano, elfo ou animal. Todavia, os humanos eram muito habilidosos em coletar informações sobre a localização de um inimigo a partir da menor das pistas. Era possível que tivesse inadvertidamente deixado para trás algum tipo de rastro quase imperceptível que os humanos foram capazes de seguir.

— Chefe, qual é o plano? Para matá-los todos, seria melhor começar a atacá-los pela janela, então atacar o resto quando eles vierem para arrombar a porta. Para atravessá-los e escapar, seria melhor sair por uma das portas menos vigiadas. Pelo som de seus passos, eles não estão em alerta máximo, e não parece que eles estão esperando que nós os ataquemos daqui. Ainda assim, podemos lidar com tantos inimigos sem sequer suar a camisa, aposto. — Zell parecia completamente calma e serena.

Pode parecer jovem e fofa, mas não se engane, era uma veterana de guerra endurecida pela batalha. Identificar a localização de um inimigo em um segundo e determinar a direção mais provável de um ataque — se especializou em ambos.

Ambos trabalhavam há muito tempo em equipe. Durante a guerra, se livraram de emboscadas como essa em muitas ocasiões para contar.

Seria necessário um ataque cem vezes mais astuto do que este para matá-los.

Vai ser mamão com açúcar.

Contudo, mesmo assim, Bash balançou a cabeça.

— Não, não devemos deixar que isso aconteça. Temos que resolver as coisas com diplomacia. — E tirou a mão de sua espada.

Não sabia por que estavam cercados, mas sabia que não havia feito nada impróprio.

Hum, eu não acho que isso vai ajudar. Eles vão apenas jogar a culpa em nós por qualquer coisa com que estejam chateados e nos expulsar da cidade.

— Pode ser. Porém, se me rastrearam até aqui, significa que eles já sabem que eu estava no local da emboscada da carruagem. Fugir não vai mudar isso.

Como Bash e Zell ainda estavam no meio da conversa, a porta foi de repente arrombada com um som explosivo de batida.

— Pare aí mesmo, orc!!"

Três pessoas pularam na sala. Duas delas eram soldados de infantaria vestidos com armaduras básicas, mas a terceira era um cavaleiro, usando um capacete com uma pluma de crina de cavalo no topo. Pela experiência de muitos anos de batalha dele, logo reconheceu o capacete de pluma como a vestimenta de um cavaleiro. Também sabia que um cavaleiro humano era o equivalente a um chefe de guerra orc. Em outras palavras, o cavaleiro era o líder.

— Eu não estou indo a lugar nenhum! O que você quer comigo, humano?

Hmph! — O cavaleiro deu vários passos para dentro da sala e então tirou o capacete.

Um rabo de cavalo dourado brilhante soltou-se. Ela era, na verdade, uma mulher bonita e não um homem.

"Pensei que era uma voz mais fina que eu ouvi. Então era uma mulher, afinal... Ah, mas não qualquer uma..."

Quando olhou para o rosto dela, algo dentro de seu peito pareceu inchar. Uma sensação de doçura bastante aguda pareceu inundar todo o seu ser, como morder um figo maduro cheio de suco.

"Ela é incrível..."

Sobrancelhas dignas, uma boca forte, olhos amendoados um pouco cruéis, translúcida, pele pálida... Era difícil distinguir devido à armadura, mas Bash podia dizer pelo jeito que ela se portava que tinha um corpo robusto e bem musculoso, com quadris largos. Estava acima das que tinha visto na floresta e aquela com quem ele tentou falar na cidade. Vários graus acima.

A possibilidade de ele e essa linda mulher ficarem nus e terem relações sexuais juntos enviou um choque elétrico direto ao cérebro.

Todo o sangue em seu corpo pareceu correr direto para sua virilha.

Felizmente, no entanto, sua cueca de couro resistente conseguiu esconder a excitação.

A mulher estreitou os olhos para ele e começou a batê-lo em voz alta. Havia notado a sua reação? Capaz.

— Recebemos um relatório de que um orc atacou uma carruagem na estrada. Isso foi obra sua, não foi?!

— Viu? O que eu te disse? — sussurrou Zell, mas Bash não prestou atenção. De repente, estava desesperado para fazer com que esta adorável cavaleira gostasse dele.

Era a melhor espécime de mulher humana já vista por ele. Se um grupo de orcs se reunisse como amigos e discutisse sua candidata ideal a esposa, uma beleza como ela estaria na disputa com certeza.

Um virgem como ele não pôde deixar de ficar em transe instantaneamente. Seus pensamentos já haviam saltado para o casamento. Queria pelo menos três filhos dela, senão mais. Segundo as histórias dos elfos, quando um orc acasala e engravida uma humana, às vezes nasce um não orc. Não se importaria caso um de seus filhos fosse humano. Tudo o que pedia era que fossem meninos, por favor. Nomearia o primeiro filho de Ash, como uma homenagem a si mesmo, e iria ensiná-lo tudo sobre luta e caça...

— Você é algum tipo de idiota?! Responda-me já! — A fantasia foi de repente quebrada pelo som da voz áspera da cavaleira.

Forçado a confrontar a realidade, pensou muito sobre o que deveria fazer a seguir.

Primeiro, sabia que pedir a ela para ser sua noiva logo de cara não funcionaria. Ela apenas o rejeitaria. A lição de Zell de antes havia lhe ensinado isso. Então, o que fazer? Ah, sim. Em uma situação como essa, seria prudente examinar a mão esquerda da senhora. Se ela usasse um anel, significaria que era casada e não poderia ser dele.

A mão esquerda estava coberta por uma luva, e ele não sabia dizer se ela estava usando um anel no dedo ou não.

— …Hmm.

Ficou perplexo. A primeira lição memorizada não parecia estar lhe servindo bem. Mas era um herói nobre com anos de experiência em batalha. Um inimigo que ele não podia derrubar com um único golpe da espada — havia encontrado mais deles do que estrelas no céu. Na verdade, uma vez passou incontáveis horas em combate com um gigante homem-fera. Lutaram do nascer do sol até o poer. Às vezes, você precisava fazer um balanço completo do poder de um inimigo, prolongando a batalha por muitas horas.

— Responda-me, merda! Eu me recuso a deixar um orc desperdiçar meu precioso tempo!

Ahem, peço desculpas... Eu, de fato, vi a carruagem, só que não fui eu quem a atacou. Eu simplesmente tentei conversar, mas as sobreviventes fugiram…

Permaneceu calmo e respondeu a ela de manieira uniforme, como um orgulhoso guerreiro orc deveria. Outra das regras de “como ser popular com mulheres humanas” que Zell lhe ensinara. Regra número três: aja de forma digna e viril.

— Não minta para mim!

— Eu não estou mentindo. Eu vi a carruagem sendo perturbada por bugbears. Estava de passagem, então os afugentei.

— E você tem alguma prova disso?

— Eu não tenho nenhuma, porém juro que é verdade, em nome do rei orc, Nemesis!

Humm?

Ela parecia visivelmente atordoada pela declaração orgulhosa.

Jurar pelo nome do rei era muito sério. Fazer isso em apoio a uma mentira seria um crime punível com a morte. Os únicos orcs que poderiam fazer tal afirmação eram os mais exaltados de todos os guerreiros, maiores que o maior dos chefes de guerra. Em outras palavras, era uma declaração proferida apenas pelo mais viril, nobre e honrado dos orcs.  Tal orc, ao fazer esse tipo de proclamação, com certeza receberia olhares de admiração dos mais jovens e seria levado muito a sério.

Ele olhou para a cavaleira surpresa, sorrindo por dentro. "Isso serve!" falou a si mesmo.

Ela, entretanto, não sabia nada sobre os costumes orcs. Seu desconforto vinha da dificuldade em que agora enfrentava em continuar a atribuir a culpa a um orc tão mentiroso descarado.

— As sobreviventes disseram que um orc se aproximou e tentou engravidá-las.

— A prática de acasalar com outras espécies sem consentimento foi proibida pelo rei. Eu estava somente verificando se tinha o consentimento delas.

— Não há como consentirem em fazer isso com você!

— Eu sabia que tinha que perguntar primeiro, e assim o fiz. Mais tarde, aprendi que, na cultura humana, é muito difícil obter consentimento ao solicitar acasalamento com uma mulher logo após conhecê-la.

A cavaleira piscou em frenesi para o orc, que continuava a falar de coisas ridículas de uma maneira tão fria e orgulhosa.

Nunca conheceu alguém tão confiante e que falava de forma tão eloquente em sua vida.

Os únicos orcs que ela conheceu foram os desonestos expulsos de seu próprio país. Esses, ao colocar os olhos nela, logo começavam a ameaçar violá-la e engravidá-la, usando a linguagem mais suja. Então, ao serem questionados, se dissolviam em acessos ferventes de raiva.

Nunca foi capaz de ter uma conversa civilizada com um orc antes.

— Você... seu orc sujo e inútil! Tudo bem, então você estava apenas passando... só que esqueceu de mencionar que saqueou a carruagem antes de sair!

Hmm

A acusação o deixou em apuros.

Era verdade que havia tirado algo da carruagem. Embora, para ser mais preciso, não fosse algo que tivesse levado, mas sim alguém...

— De fato, eu peguei...

— Então você admite! Estou prendendo você por furto!

Hmm

— C-calma aí!

Zell se aproximou entre os dois e pairou no ar.

— Você está falando de mim, certo? Sim, eu estava na carruagem! Coitada de mim! Capturada e engarrafada por humanos! Mas você sabe, é proibido humanos capturar fadas e negociá-las como escravas! Eu era mercadoria contrabandeada! E tudo que esse orc bom fez foi me resgatar. Agora você está prendendo-o por furto? Onde está a justiça?!

— O-o quê?

A cavaleira parecia profundamente preocupada.

O contrabando de fadas era de fato um crime grave. Então a carruagem estava transportando uma fada capturada, e o orc a resgatou. Roubo ainda era roubo, contudo, independente da mercadoria ter sido contrabandeada ou não, certo?

Na verdade, não significaria que ele era mesmo culpado de estar na posse de bens roubados? Porém, parecia que ela havia decidido acompanhá-lo por vontade própria. Não havia garantia de que a estivesse dizendo a verdade, no entanto. Talvez estivesse criando algo? A raça dela inventava histórias de um jeito como se fosse respirar..

Uh...

A situação tornou-se complicada demais.

A cavaleira mordeu o lábio, os olhos correndo para frente e para trás enquanto ela refletia sobre tudo. E decidiu-se.

— De qualquer forma, você vai vir conosco!

— Por mim tá ótimo — respondeu sem piscar.

Zell foi quem ficou surpresa. Virando-se no ar, olhou para Bash, perplexa, apontando o polegar por cima do ombro para a cavaleira e depois agitando seus membros em interrogação. A outra também parecia chocada com a facilidade com que ele concordou em acompanhá-la.

— Você tem certeza disso, chefe? Ela está sendo desrespeitosa pra caramba com você!

De um modo geral, um orc nunca concordaria em acompanhar o inimigo em silêncio. Se tivesse recebido a mesma ordem no país dos orcs, teria sacado sua espada, descoberto suas presas e rosnado "vamos lá!" antes que você pudesse dizer "orc". Todavia, tinha o objetivo de sua viagem em que pensar.

Perderia a virgindade a todo custo. De preferência, com uma mulher que achasse atraente. E se também fosse virgem, melhor ainda.

— Fico feliz em colaborar!.

Considerou a mulher à frente.

Uma loira e de aparência espirituosa. Bonita e definitivamente seu tipo. Mas ele não sabia se era virgem ou não. Ou se era casada. Apesar do olhar de desgosto em seu rosto enquanto olhava para ele, ainda não tinha fugido gritando.

Não, na verdade... ela queria que ele fosse com ela. Se o fizesse, pelo menos isso lhe daria mais oportunidade de conversar com ela. Se recusasse-se a ir, então o encontro deles terminariaria aqui. A violência seguiria e, se acabasse sendo expulso da cidade, talvez nunca mais a veria. Quando pensou em tudo assim, não havia nenhuma boa razão para negar seu pedido.

Até agora, nunca havia perdido uma única dessas chances. Era rápido em se decidir.

— C-certo, então. Algemem-o! Estamos levando-o embora!

Hmm

E assim se permitiu ser preso.

Apenas quatro horas passaram desde que chegou a Krassel, e as coisas já haviam tomado um rumo bastante dramático.



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