O Último Eldoriano Brasileira

Autor(a): Gustavo M. P.


Volume 1

Capítulo 9: O Reencontro



[Vilarejo do Campo Florido, 21 de Maio de 812 da Era Mágica]

 

Observando a situação em que nos encontrávamos, certamente eu teria avançado para cima dos meus oponentes se fosse há alguns anos atrás. Mas agora um pouco mais maduro e ciente das consequências que isso poderia ocasionar, minha opção foi agir por trás dos panos e pensar em um plano decente, para que assim eu pudesse me movimentar corretamente.

Ao todo se tratavam de oito cavaleiros bem armados e armadurados. Deveriam ter chegado logo pela manhã a mando dos seus superiores, a fim de averiguar o local.

As ordens devem ter sido para conquistarem qualquer vilarejo encontrado por eles e que não tivesse força bélica suficiente para resistirem. Mas, quando falamos em guerras, conquistas ou conflitos em larga escala, pequenos grupos de guerreiros podem fazer coisas horríveis quando não supervisionados, e para piorar, eles podem simplesmente agir como bem entenderem, se no final não houver nenhuma testemunha.

— Miyuki! Precisamos dispersá-los para que possamos enfrentar o grupo. Lutar separadamente com cada um deles será mais seguro, sem falar que não colocaremos os civis em perigo. Se formos vistos possivelmente seremos encurralados e usarão aquelas pessoas como exemplo. — Expliquei brevemente meus pensamentos para Miyuki que ouviu tudo concordando com minhas preliminares. — Precisamos dar um jeito de chamar a atenção daquele que estiver mais afastado dos demais.

— Isso você pode deixar comigo. — Disse ela sorrindo de forma maldosa enquanto colocava seu capuz.

Rapidamente Miyuki retirou uma faca Tantô que estava presa em suas costas e segurou ela de forma que a lâmina ficasse projetada para o lado contrário ao seu busto. Eu já havia entendido o que ela queria me dizer, e tudo o que pude fazer foi suspirar, pois já sabia qual seria minha posição nesse plano.

— Ah qual é...? — Com um pequeno tom de decepção na voz, minha feição se tornou tediosa. — Tá bem, tá bem. Eu vou ser a isca então.

Levantei-me deixando minha espada com ela, era importante eles pensarem que eu era apenas um viajante cheio de ferramentas. Miyuki prendeu minha espada em suas costas para poder levar consigo de forma que não a atrapalhasse. Logo em seguida, comecei a caminhar em direção aos desgraçados que estavam chutando e abusando fisicamente de um homem já todo espancado e derrotado ao chão.

— Oh! Calma lá pessoal. Não acham que ele já está machucado o suficiente? — Me aproximei de uma forma abusada para lhes chamar a atenção. Aqueles caras eram cruéis por natureza, tinham se acostumado a uma vida de sangue e assassinatos. Assim que me aproximei, a atenção de todos eles se voltou para mim. Aquele que parecia ser o líder do grupo deu um último chute no rosto de sua vítima, o nocauteando de imediato.

— Olha só, um cara honrado. Acho que está perdido meu amigo. — Ele foi se aproximando de mim mantendo uma postura convencida de seu status naquele local. — Quem é você? Hã?

— Perdoe minha grosseria, eu sou um viajante e trabalhador da área, estava passando por aqui para ver alguns... Amigos meus... — Olhei nos olhos do desgraçado que estavam semicerrados em um tom desafiador. Sua armadura era prateada e reluzente, enquanto que todo o tecido de sua capa e os ornamentados de seu traje eram na cor vermelha.

— Acho que você não tem nada para ver aqui. Se não quiser ter o mesmo fim que eles é melhor ir embora e fingir que nada aconteceu. — Ele continuava a sorrir de forma cruel por baixo de seu elmo.

Ao olhar no entorno vi Miyuki escondida entre os arbustos da vegetação que envolvia a região. Sem perder tempo, ela logo cravou sua faca na cabeça de sua primeira vítima que estava afastada do grupo que me cercava. Com a mão sobre a boca do soldado ela impediu que ele pudesse emitir qualquer ruído, e logo o puxou para dentro da vegetação.

Sua rápida ação havia me impressionado, não só por sua habilidade, mas também por sua frieza ao matá-lo daquela forma. Aquela com toda a certeza não era a mesma Miyuki que eu conhecia.

— Olha... Simplesmente fingir que o que estou vendo nunca existiu... – Suspirei colocando as mãos na cintura. — É uma tarefa e tanto difícil... meu amigo.

— Sendo assim, não vai se importar se eu fizer o meu trabalho... — Ele colocou a mão sobre o pomo de sua espada que estava embainhada na cintura. — Não posso deixar testemunhas para trás. Se é que você me entende?

Miyuki jogou um galho grosso de madeira próximo aos pés de outro soldado afastado, chamando a atenção do mesmo que começou a caminhar até o local de onde aquele galho havia vindo. O curioso é que homem não teve nem tempo de reação, foi puxado com tudo para dentro da mata, não emitindo qualquer som após o ataque. Agora só restavam seis soldados, sendo que todos eles estavam a minha frente.

— Ah... Eu entendo perfeitamente. — Continuei encarando aquele capitão da equipe.

Percebi que ele sacaria a espada, então rapidamente segurei seu pulso, enfiando uma cabeçada poderosa em seu elmo que o deixou tonto e desnorteado. Cerrei os dentes segurando a dor, e então me concentrei no meu próximo oponente que já corria em minha direção com sua espada erguida. Estiquei meus braços segurando seus pulsos evitando que seu ataque fosse desferido. Em seguida, como contra ataque, encaixei uma joelhada na boca do estômago de meu agressor que amoleceu, deixando sua guarda baixa e ficando altamente vulnerável. De forma rápida, efetuei uma torção em seus pulsos o desarmando, e então atravessei sua lâmina na garganta do mesmo que caiu agonizando.

— Menos um. Quem é o próximo? — Limpei o sangue que escorreu da minha testa e me posicionei contra aqueles que apontavam suas armas para mim.

— Você sozinho não vai conseguir lidar com todos nós! — O líder deles recobrou o seu autocontrole, e então olhou para mim com a mão sobre sua testa. — Você é habilidoso rapaz, eu tenho que admitir. Mas ainda assim, sozinho não vai a lugar algum!

— Tem razão! — Observei Miyuki lentamente puxar sua Katana da bainha atrás de nossos inimigos, deixando que apenas o som de sua lâmina tomasse conta do ambiente. — Mas eu não estou sozinho.

— Mestre Magnus! — Ela então jogou minha espada, e eu a peguei logo prendendo-a em minha cintura, voltando a encara-los.

Lentamente puxei minha espada da cintura, girando-a com maestria diante aos meus oponentes e finalmente a pousando sob meu ombro enquanto mantinha meu olhar de superioridade.

— Muito bem. Vamos testar essa lâmina nova... — Abri um sorriso lateral, que deixou todos confusos com o que estava acontecendo naquele lugar.

— Espere! — O líder olhou mais atentamente a insígnia do brasão que estava no meu peito. — Um Eldoriano?! Vocês todos deveriam estar mortos!!! Não tenham medo homens! Eles já foram derrotados por nós!

— Vocês me subestimam de mais... — Levantando minha guarda, em uma posição de combate bem posicionada, esperei aqueles idiotas começarem o ataque.

Havia cinco deles ainda contando com o líder. Dois estavam frente a frente com a Miyuki, enquanto que o líder e os outros dois estavam diante da minha espada. Um deles estava armado com uma lança do tipo Alabarda, já o outro segurava uma espada e um escudo em suas mãos.

Aquele que os liderava finalmente havia sacado sua espada longa. E por mais que tentassem demonstrar coragem, na minha frente, dava pra ver em seus rostos o quão tensos estavam.

— Sem medo homens! — Eles começaram a avançar em minha direção, e em alguns segundos já estavam correndo. Miyuki estava dando conta dos demais quase os fazendo de bonecos demonstrando maestria com sua Katana.

O cavaleiro de alabarda tentou me estocar com a ponta de sua arma, mas rapidamente me esquivei chutando a lateral da lâmina do machado, que era acoplada a haste de madeira da lança. Sem fazer muito alarde, avancei contra o soldado, empurrando-o com toda força que tinha. Ao acertar meu ombro na base de seu maxilar ele caiu ao chão. Após ser lançando para longe de mim e com a força do impacto acabou largando sua Alabarda.

Antes que pudesse fazer qualquer movimentação mais bem planejada, a espada longa do líder do grupo logo veio pela minha lateral, e tudo o que pude fazer, foi bloquear seu ataque com minha espada. Todo o impacto projetado em minha lâmina fez meu corpo tremer, e gradualmente fui empurrado para o lado mesmo que estivesse com minha base de combate bem fixa ao chão.

— Oh! Essa foi por pouco... — Meu olhar se mantinha nos olhos do meu oponente, que estava com seus dentes cerrados em raiva. Ficamos ali trocando olhares enquanto forçávamos nossas lâminas uma contra outra.

— Não me subestime escória! — Não havia o que subestimar, mesmo que ele tivesse uma força incomum, a habilidade de combate dele não me parecia nada impressionante.

O que não havia percebido era que ele estava me segurando ali de propósito, pois assim que ele se afastou, de imediato eu perdi o equilíbrio deixando com que o escudo do seu parceiro terminasse o trabalho, se chocando com forçar contra mim. Fui lançando a uma distância considerável, mas não foi o suficiente para me nocautear, então me apoiei no chão limpando o sangue do ferimento que havia se aberto em minha boca.

— É... Você estava certo, eu não deveria ter subestimado você... – cravei a ponta da espada no chão e a usei para ficar de pé. — Não vou cometer o mesmo erro duas vezes.

O guerreiro da Alabarda já estava em pé novamente, e agora eu tinha um problema e tanto para lidar. Eles não eram muito habilidosos, mas sabiam pensar pelo menos, e isso por si só já era um grande problema. Lembro-me das vezes que tive que caçar animais muito inteligentes e espertos, era sempre um caos para abatê-los. Essa luta não será diferente, pois a falta de habilidade e força deles pode ser compensado em números de combatentes, e se bem organizados, podem fazer um trabalho impecável.

— Você nem deveria estar vivo! Que tipo de Eldoriano é você? Um covarde que fugiu da própria morte? Hein? — Gritou o líder, enquanto se posicionavam ao meu redor. Eu já estava cercado, e ao ouvir aquelas palavras minha expressão automaticamente ficou sombria. — Que tipo de patriotismo é esse que carrega em seu peito?! Sendo que nem se quer ficou para proteger seu lar, mesmo vendo o próprio líder morrer na tentativa de salvar tudo o que amava.

 Levantei minha cabeça lentamente, deixando aparente a eles meus olhos que logo se colocaram a brilhar intensamente.

— Eu nunca vou esquecer o que os soldados de Algardia fizeram ao meu povo naquele dia... E começando por vocês eu terei minha vingança!!!

No pomo de minha espada, o cristal de mana brilhou em um dourado intenso, fazendo com que a sangria da espada tomasse uma cor igualmente dourada. Eu podia sentir a benção de Hawlking correndo fervorosamente pelas minhas veias, quase como se minha mana tivesse duplicado seu poder mágico. Com meu crescimento, também veio o amadurecimento do meu controle de poder, e eu claramente estava muito mais forte do que há anos atrás. Brandi minha espada girando novamente, terminando minha movimentação em um corte lateral, fazendo com que a aura de Hawlking explodisse e logo se dissipasse a minha volta. Causando uma grande apreensão no ambiente em que estávamos. Coloquei minhas duas mãos sobre a empunhadura da espada e logo me posicionei pronto para qualquer golpe que viesse até mim.

— AH! MERDA!!! É O PRÍNCIPE PERDIDO DE ELDORIA!!! — Gritou o soldado de espada e escudo. — Ele havia acabado de se tornar o Guardião de Eldoria quando o conflito se iniciou! Capitão Gerald! Esse homem está muito acima de nossas capacid...

— CALA BOCA PORRA!!! EU SEI QUEM ELE É!!! — O líder o interrompeu agressivamente. — Vamos matá-lo!!! E levar a cabeça dele para o Imperador!!! Pensem quantas condecorações e premiações vamos ganhar com isso!!! NÃO TENHAM MEDO HOMENS!!! PRA CIMA DELE!!!

Os três resolveram me atacar ao mesmo tempo desferindo seus golpes contra mim. Respirando fundo, concentrei todo o poder mágico no cristal da espada, enquanto mentalmente agradecia Max por sempre me ajudar a entender como controlar meu poder mágico.

Antigamente, ainda quando tínhamos treze e nove anos de idade, Max já me ensinara as melhores formas de saber e entender a benção que nos cercava. Coisas que eu nunca pude aprender sozinho, mas que meu irmão mais novo sempre fez questão de me ajudar. Entender a mim mesmo foi um dos maiores presentes que Max me deu. Hoje sou grato a ele por isso.

Com um poderoso grito, cravei a espada no chão, criando uma enorme explosão de energia em minha volta, lançando todos meus oponentes para bem longe de mim. Observei todos eles irem ao chão, se levantando com dificuldades.

Senti uma leve tontura após o impacto da onda de energia mágica. Querendo ou não, por falta de treinamento, eu ainda não estava tão acostumado a usar altas quantidades de mana de uma vez só, e isso poderia ser um empecilho.

O soldado da alabarda foi o primeiro a se recuperar totalmente, e sem pensar nas consequências de suas escolhas, cerrou os dentes e avançou com velocidade e fúria contra mim.

Balançando sua arma, ele a girava em movimentos perfeitos por todo o seu corpo, me forçando a recuar e desviar de suas investidas, enquanto procurava uma brecha boa suficiente pra efetuar um bom contra ataque.

Assim que o vi vacilar, consegui aparar o corte lateral de sua lança com minha espada, me jogando contra o mesmo pronto para abrir sua barriga com minha lâmina que brilhava em seu dourado intenso. Mas minhas chances de vitória foram frustradas por um belo golpe de escudo que me jogou para longe, fazendo com que eu escorregasse alguns metros de distância de meus oponentes.

— VAI PAGAR POR AQUELA HUMILHAÇÃO!!! — Gritou o soldado de escudo se colocando a frente do seu parceiro de lança. — Já não havia mais presença de medo em seus olhares, e tudo o que era perceptível, era apenas fúria e desejo por sangue.

Vi quando os olhos dos meus oponentes começaram a tomar uma cor avermelhada em suas íris, e lembranças daquele maldito dia retornaram em minha mente como flashes. Algardia estava planejando tudo pelas costas o tempo todo, e nem se quer percebermos com quem eles estavam se envolvendo. Para mim estava claro que realmente poderia ter dedo demoníaco na atitude desses homens, o que explicaria os monstros que estavam sendo controlados na invasão a Eldoria.

A respiração daqueles homens estava ficando cada vez mais pesada e raivosa, quase como se estivessem perdendo o controle de sua sanidade gradativamente. Aquela não era uma simples magia de controle mental como haviam feito nos monstros, mas sim uma maldição ativada em reação ao perigo eminente.

Recordo-me de quando Max começou a estudar magias proibidas para saber como cortar seus efeitos, e assim, livrar as almas de sua agonia pessoal. Mas também me lembro perfeitamente de quando ele disse que almas completamente corrompidas por magias demoníacas não poderiam mais ter salvação, e que a única forma de deixá-las descansar em paz, seria através da morte.

— Meus parabéns, realmente você é melhor do que a maioria. — O líder deles retornou ao campo de batalha, ficando entre aqueles dois que sorriam de forma macabra. — Se fosse qualquer outro no seu lugar, provavelmente já estaria morto. Senhor Wingsfield! Você está prestes a conhecer a nossa mais nova criação! Aquilo que irá mudar todo o destino do continente de Thâmitris!

— Vocês não sabem o que estão fazendo. Vocês não tem a menor ideia de onde estão se metendo!!! — Meu ódio sobre tudo o que estava presenciando, já não estava mais escondido em minhas expressões. — Brincar com a alma das pessoas através de magia demoníaca, é tão errado quanto o que estão fazendo com as várias nações do continente de Thâmitris!!!

— Ah! Você entendeu as coisas totalmente erradas senhor Wingsfield. Veja! — Ele pousou sua mão sobre o ombro do seu subordinado, que estava só esperando a ordem para agir. — Eles não são pessoas... nem almas! São apenas ferramentas para os fins do meu Imperador.

Cerrei os dentes enquanto os observava com atenção. Na minha cabeça só passava o questionamento, "desde quando" as experiências com magias demoníacas no Império Algardiano já estavam acontecendo. E com qual intensidade e frequência? Os crimes contra humanidade poderiam ser os mais variados possíveis, e estariam violando várias das regras impostas pelo "Tratado Marcial dos Reinos de Thâmitris".

Nas minhas costas ouvi Miyuki urrar de dor e ser lançada ao chão após ser derrotada pela dupla de guerreiros inimigos. Assim como meus oponentes, seus olhos estavam brilhando em uma íris avermelhada, enquanto que em seus lábios crescia um enorme sorriso macabro.

Aquela situação era a pior possível de se encontrar, não esperava que o exército Algardiano estava fazendo espécies de "super-soldados", utilizando-se de magias proibidas.

— Mestre Magnus! — Miyuki se levantou com dificuldade, segurando seu ombro enquanto se aproximava de mim com calma. — Podemos realmente lutar contra essas coisas? Eles são muito mais fortes que os monstros possuídos que enfrentamos em Eldoria.

— Magnus! Foi um prazer te conhecer. — Com um sorriso no rosto, ele olhou profundamente em meus olhos dando sua última ordem. — Acabem com eles!

Com uma velocidade fora do comum, aqueles soldados possuídos avançaram contra nós com uma intensa vontade de matar. Meus sentidos ficaram aguçados, e rapidamente agarrei o braço de Miyuki jogando-a para longe de mim no momento em que percebi todas aquelas lâminas nos cercando.

Consegui me defender aparando alguns golpes que vieram diretamente em minha direção, mas a ponta daquela alabarda atingiu minha perna me forçando a cair de joelhos ao chão. Fui obrigado a soltar minha espada e agarrar com minhas próprias mãos as lâminas de meus inimigos. A dor que estava sentindo e a força que estava exercendo eram imensas, e estava lutando com todas as minhas forças para não acabar perdendo a consciência e desmaiando. Ainda havia um cavaleiro que não tinha me atacado, mas logo se prostrou atrás de mim pronto para atravessar sua espada em minhas costas.

— Adeus! Magnus Wingsfield! – Gritou o capitão da guarda.

Pensei que seria o meu fim. Eu deveria ter insistido na decisão de deixar Miyuki fora da zona de conflito, assim ela estaria segura.

— Soltem o Mestre Magnus... AGORA!!!! — Uma enorme ventania começou a soprar por todo aquele local, quase como se um tufão tivesse simplesmente aparecido naquele lugar.

Levantei minha cabeça lentamente, cerrando os olhos tentando entender o que estava acontecendo. Quando finalmente entendi, quase não acreditei no que estava presenciando. Miyuki normalmente tinha olhos negros e reluzentes, mas agora estavam em um brilhante tom de prateado. A sua volta havia uma forte ventania que a acompanhava aonde quer que ela brandisse sua Katana.

Entrando em uma posição de combate ela guardou a Katana em sua bainha pousando sua mão suavemente sobre a empunhadura da espada. Toda aquela ventania começou a rodear sua bainha, e foi naquele momento que entendi que estava para acontecer. Segurei com força as espadas dos meus inimigos os impedindo de fugir de seu destino.

"Você é realmente uma caixinha de surpresas... Miyuki"

Ao retirar sua espada da bainha com toda a força e velocidade que tinha e em um único golpe horizontal, Miyuki lançou uma enorme "Lâmina de Vento" que acertou todos os meus agressores de uma única só vez, lançando-os a alguns metros de distância de onde estavam originalmente.

Larguei as espadas no chão, e em seguida retirei a ponta da lança de minha panturrilha. Ainda estava sentindo muita dor, mas consegui me levantar com dificuldade e empunhar minha espada. Max havia me dito que a benção de Hawlking havia propriedades curativas, mas que pra isso acontecer, seria necessário conhecimento de magia medicinal, ou um uso abusivo contínuo do poder mágico para que assim ele pudesse agir no corpo de seu hospedeiro. Nesse caso, eu só podia fazer uma única coisa que eu sabia fazer muito bem. Explodir em fúria.

Cravei minha espada no chão me apoiando sobre ela, e em seguida comecei a canalizar todo o poder mágico que queimava dentro de mim. Com um grito poderoso e gradativo deixei com que a aura dourada de Hawlking tomasse conta do meu corpo trazendo a tona o que Max havia me explicado, dessa maneira fechei meus ferimentos e aliviei a dor intensa que estava sentindo.

Assim que carreguei todo aquele poder sobre meu corpo, o brilho dourado retornou aos meus olhos, enquanto que em minhas costas as asas douradas se abriram em toda sua envergadura e extensão. Cravei meu objetivo na direção do líder que observava incrédulo toda aquela cena que havia acontecido.

— Isso... Isso é impossível! — Ele recuou alguns passos. — Ninguém nunca sobreviveu ao ataque de meus homens durante seu "Despertar Demoníaco"

— Ele não estava sozinho! — Miyuki caminhou até mim ainda em toda sua fúria mágica elemental ativa. — Ele nunca esteve. Ele só não sabia disso! E você disse... Que ele não venceria sozinho... Mas pro seu azar, você estava errado. Não só sobre o Mestre Magnus, mas também sobre todos os Eldorianos.

— Não... não, não, não!!! Está tudo errado!!! Vocês deveriam estar mortos!!! — Aquele homem pousou suas mãos sobre sua cabeça gritando de forma histérica. — Realmente é necessário fazer valer a porra da frase: "Se quer algo bem feito... Faça você mesmo" não é?! Muito bem. Vamos fazer isso então!!!

Observando atentamente as atitudes daquele homem, percebi que ele começou a canalizar sua mana para tentar algum plano de contingência de última hora. Uma força de energia carmesim intensa começou a rodear o meu oponente, enquanto que em sua pele, várias marcas e desenhos de cor negra cresceram por todo seu corpo. Seu tamanho aumentou gradativamente, e sua musculatura havia ficado muito maior, quase como se tivesse inchado seus músculos de propósito.

A armadura que uma vez esteve bem presa ao corpo daquele homem, agora já não existia mais, pois havia sido completamente desmontada e destruída no processo de transformação demoníaca.

Eu e Miyuki fomos pegos de surpresa em uma situação extremamente improvável. Não imaginávamos a possibilidade de Algardia estar usando magia demoníaca em seus próprios soldados. E estar naquela situação sem conhecimento mágico suficiente para entender seus pontos fracos, só tornava aquela situação ainda mais difícil do que o previsto.

— Miyuki! Você tem alguma ideia de como podemos derrotá-lo? – Perguntei a Miyuki enquanto me preparava para o combate.

— Eu não tinha a menor ideia de que Algardia estava por trás dessas criaturas desprezíveis. — Miyuki franziu o cenho enquanto mantinha seus olhos na criatura que começou a gritar de forma insana. — Desculpa mestre Magnus. É a primeira vez que vejo algo desse tipo.

— Então a sorte foi lançada. Vamos ter que derrotá-lo na força bruta. — Apontei lentamente minha espada em direção aquela aberração. — Está pronta Miyuki?

— De forma alguma Mestre Magnus. — Ela posicionou sua Katana dentro da bainha mais uma vez, deixando com que a ventania a envolvesse novamente.

— Imaginei que diria isso. — O monstro por mais uma vez gritou e então bateu seus punhos com toda sua força no chão.

Os outros subordinados voltaram a se levantar de onde haviam sido lançados por Miyuki e caminhando até seu líder ficaram frente a frente comigo e com Miyuki.

Nós só tínhamos uma missão, evitar que esses monstros machucassem aquelas pessoas que ainda estavam presentes naquele lugar. Não podíamos manter aquela luta de proporções destrutivas naquela região, e por isso precisaríamos ser certeiros em nossas decisões.

— Miyuki! Ao meu sinal!!! – Mandei a palavra de ordem enquanto abria minhas asas. Então rapidamente disparei voando em direção ao inimigo com velocidade.

— Certo! — Ela então mais uma vez respirou profundamente fechando seus olhos deixando a ventania em volta de sua bainha cada vez mais forte.

Avancei diretamente aos subordinados que mesmo desarmados pareciam que ia dar um belo trabalho se não finaliza-se essa batalha agora.

Mais uma vez canalisei a força mágica de Hawlking no cristal localizado no pomo de minha espada, e então a ativei, deixando com que a lâmina se tornasse extremamente mais afiada e poderosa ao impacto.

Com todos esses atributos ao meu favor, o meu plano era perfeito para dar fim naqueles monstros de uma só vez. E em uma tentativa de me derrotarem, todas as aberrações menores se juntaram diante a mim.

— Miyuki!!! Agora!!! — Coloquei minha outra mão na empunhadura da minha espada, dando mais estabilidade para o golpe que efetuaria.

Miyuki por sua vez retirou sua Katana da bainha replicando a mesma lâmina mágica de vento que voou por cima de mim, acertando os inimigos a minha frente, deixando-os impossibilitados de se defenderem de qualquer ataque possível que viria a frente.

Utilizando-se dessa abertura forcei ainda mais a quantidade de poder mágico contido na espada acertando em todos eles um golpe poderoso, que os decapitou horizontalmente. Ainda mantendo minha velocidade após o banho de sangue, segui em frente acertando com toda força e velocidade a aberração líder, que foi lançado para longe até acertar e destruir uma casa do vilarejo com o seu impacto.

 Pousei no chão extremamente cansado e sem mais energias para manter uma sequência de ofensivas daquela forma. Havia utilizado muito poder mágico naquele momento, e realmente não estava acostumado com aquilo.

Acabei surpreendido com a velocidade de combate daquele monstro, que no meio daquela fumaça de destruição saiu correndo deixando suas garras a um palmo de distância de meu rosto.

— EU NÃO VOU DEIXAR!!! — Miyuki avançou com toda sua força ao utilizar sua Katana contra o mostro a minha frente, acertando-o na região de seu maxilar e o afastando alguns metros de distância de nós. — Está bem Mestre Magnus?!

— Sim estou! Só estou um pouco exausto por conta da quantidade de mana utilizada até aqui. Dê-me um segundo e eu estarei... — Miyuki colocou a mão sobre meu ombro, impedindo-me de levantar.

— Você me salvou aquele dia, hoje é meu dia de retribuir o que fez por mim. — Ela então olhou em meus olhos de forma que me fez ver o tamanho de sua convicção. Eu sabia que não poderia falar nada contra, então só deixei um pequeno sorriso lateral crescer em meus lábios, e assenti com a cabeça.

Miyuki andou alguns passos, ficando frente a frente com aquela aberração demoníaca que estava muito irritada e não parava de gritar com toda sua fúria. Não via mais nenhum controle na mentalidade daquele ser que antes era um homem, e que agora, só lhe restava um demônio que havia o consumido de dentro para fora.

Miyuki posicionou-se em sua base de combate ao segurar a empunhadura de sua Katana com as duas mãos deixando sua espada na frente de seu corpo, de modo que ficasse apontada para seu inimigo.

Ela então respirou profundamente mais uma vez deixando com que explodisse todo seu poder mágico em sua volta. Um enorme tufão se fez por toda aquela região, com ventanias poderosas que impressionaram todos que ali estavam presenciando. Miyuki realmente havia ficado muito mais forte nesses últimos anos, e mesmo vendo com meus próprios olhos todo esse poder mágico que a envolvia, não conseguia imaginar quanto tempo ela passou treinando e aperfeiçoando suas técnicas de controle mágico.

Suas íris brilhavam em um tom prateado brilhante tão profundo que já era quase imperceptível ver a pupila de seus olhos.

— VENHA!!! — Gritou ela avançando pra cima do monstro, que por sua vez gritou mais uma vez ensandecido, correndo em sua direção.

Tentando dar um soco poderoso na direção de Miyuki a aberração foi completamente surpreendida por uma esquiva rápida de sua oponente, seguido de um golpe veloz que decepou a mão do monstro.

Ao gritar e urrar de dor a aberração demoníaca tentou por mais uma vez acertar Miyuki com sua outra mão, mas novamente foi surpreendido com um contra ataque de joelhada diretamente em seu maxilar.

Se afastando, ele tentou se manter longe de um outro possível golpe, mas Miyuki estava determinada a finalizar seu objetivo, e com uma poderosa investida contra o seu inimigo, a Katana de Miyuki se envolveu em ventanias, criando dois corte perfeito na região do pescoço e da cintura de seu inimigo.

Alguns segundos após o corte, Miyuki guardou sua Katana na bainha mais uma vez, e ao som do encaixe de sua espada, aquela aberração sofreu a consequência do estrago que a aquela guerreira havia feito. Todo o tronco de seu corpo escorregou lentamente para o lado, se desprendendo de suas pernas, assim como sua cabeça que caiu ao chão em uma enorme poça de sangue.

Observei tudo com os meus olhos arregalados, pois de fato Miyuki cumpriu com o que havia me dito, e provou seu verdadeiro valor e poder para mim.

— Miyuki! — Me levantei com um pouco de dificuldade ainda, caminhando lentamente até ela que se virou para mim com uma feição de extrema exaustão, até finalmente cair de joelhos ao chão. — Miyuki!!!

Me esforcei para correr nem que por alguns segundos, até que finalmente consegui chegar próximo a ela e me agachar ao seu lado.

— Ei... Está tudo bem? Você se machucou? — Ela olhou para mim balançando a cabeça de forma positiva.

— Eu estou bem mestre Magnus. Eu tive alguns arranhões. — Ela apontou para sua bochecha esquerda, onde um ferimento por lâmina havia sido feito — Eu só estou exausta.

— Então foi por isso que não usou seus poderes naquele dia? – Perguntei a ela já deduzindo porque não havia usado seus poderes contra aquele Troll.

— Ficar em um estado de imobilidade no meio de um clima invernal e numa floresta densa... — Ela forçou um sorriso sarcástico. — Não me parecia uma boa ideia. Por mais que tenha desenvolvido meu poder mágico, não tenho tanta mana quanto você ou até quanto Max e Elize tinham.

— É... Você tem razão. — Abracei-a fortemente. — Eu estou impressionado. Mas não me preocupe de tal forma novamente!

— Agora estamos quites. — Senti suas mãos entrelaçarem meu pescoço.

 

[...]

 

 

[Vilarejo do Campo Florido, 22 de Maio de 812 da Era Mágica]

 

Após libertarmos os moradores da vila, e salvá-los de uma possível escravização pelas mãos de Algardia, eles nos ofereceram mais uma vez suas casas para que nós pudéssemos passar a noite. Miyuki me apresentou devidamente a eles, pois todos agora tinham visto o meu poder e a descendência real que havia em minhas veias. Dessa forma e por mais uma vez, outro lugar no mapa de Thâmitris me reconheceu como o Rei de uma Nova Eldoria que estava para nascer, e me juraram lealdade no centro de todo o vilarejo.

Eles arrumaram nossas roupas que ficaram danificadas após o combate, nos deram comida, cuidaram de nossos ferimentos e então passamos mais uma noite naquele lugar, podendo assim descansar para a nossa viagem que viria logo pela manhã. A despedida foi emocionante, com todos acenando, aplaudindo e rogando palavras de apoio, incentivo e lealdade à coroa real de Eldoria.

Nossa viagem novamente foi iniciada, e após quatro horas de caminhada, nós finalmente havíamos chegado na entrada do vilarejo secreto que Miyuki havia comentado. Estávamos diante a uma colina com uma vegetação densa escondendo a entrada de uma caverna que parecia levar até o outro lado daquele paredão íngreme.

No início, a caverna era extremamente escura, e para não nos machucarmos dentro dela, Miyuki improvisou uma tocha para que pudéssemos seguir o caminho. Assim que chegamos ao final daquele túnel, a luz novamente brilhou com força ao ponto de ter que colocar meu braço sobre meus olhos para não acabar ficando cego. Mas, assim que minha visão se estabilizou eu fiquei incrédulo com o que estava diante de mim.

 Pela primeira vez em dois anos eu estava realmente me sentindo em casa, pois todo o vilarejo mantinha a arquitetura padrão de Eldoria nas construções e residências. Era como estar em Eldoria de novo, mais precisamente na parte rural do reino.

Rever tudo aquilo fez com que meus olhos ficassem marejados, e antes mesmo de perceber, eu já estava deixando cair lágrimas de felicidade. Elas escorriam pelo meu rosto de forma descontrolada, e após dois anos lutando contra minha própria mente, eu me permiti relaxar o corpo.

— Olhem!!! A senhorita Miyuki retornou!!! — Gritou um camponês ao horizonte, avisando aos demais que logo saíram aos montes de seus devidos lugares para recepcioná-la.

— Vamos? — Gentilmente ela me convidou a ir até eles. Então enxuguei minhas lágrimas enquanto Miyuki pegou em minha mão, guiando-me em direção aos moradores.

— Esperem, ela voltou com um homem!!! — Gritou uma mulher que segurava seu filho no colo.

Assim que ficamos frente a frente com eles, todos passaram a me olhar, e estudar minha aparência. Logo ouvi alguns falarem: "Ele se parece muito com o Lorde Maximilian" ou "Quem será esse?".

 — Povo de Eldoria!!! É com muito orgulho que digo a vocês!!! — Miyuki começou a anunciar para todos ali presentes. — Eu sabia que minha intuição não estava errada!!! Em meu coração nunca morreu a esperança, que um dia esse homem que está diante de vocês agora, estaria ao nosso lado mais uma vez!!! Por isso eu digo!!! Seja bem vindo ao lar Príncipe Magnus Wingsfield!!!

Um silêncio pairou por todo aquele lugar, enquanto a expressão de espanto de todos se espalhou rapidamente por todos os moradores, não pareciam muito convencidos apesar das similaridades. Foi quando uma senhorinha de estatura baixa se aproximou de mim pegando em minhas mãos, olhou firmemente em meus olhos esperando sinceridade.

— Jovem mestre! É você mesmo? — Me agachei para ficar ao seu tamanho. — É você mesmo Jovem Príncipe?

— Eu nunca tive tanto orgulho do meu sobrenome quanto estou tendo agora... É um prazer rever meu povo depois de tanto tempo. — Eu coloquei minha outra mão delicadamente sobre a mão daquela senhora que tornou a derramar lágrimas. — Sim, meu nome é Magnus Wingsfield, primogênito de Maximilian Wingsfield, Príncipe Regente de Eldoria. E agora o futuro Rei de uma Nova Eldoria que está para nascer.

— Oh meu querido! Pelos deuses. Que bom que está bem! — Gentilmente ela me abraçou, mas de forma tão forte e calorosa que me fez querer abraçá-la também. — Você cresceu tanto! Você está igualzinho ao seu pai! Não sabe o quanto vocês fazem falta aqui em nosso vilarejo. E sabemos o quanto vocês se sacrificaram por todos nós.

— Meu pai morreu pelo povo que tanto amou... E eu honrarei o legado dele até o final de meus tempos. Eu só precisava que alguém me encontrasse. — Olhei para Miyuki piscando para ela, que tornou a ficar corada.

— Pois muito bem. — A senhora se soltou de nosso abraço e se prostrou diante a todos — O NOSSO REI ESTÁ DE VOLTA!!!

Um tumulto havia se iniciado, enquanto gritos de acolhimento, saudações e felicitações pairavam por todo aquele lugar. Eu estava muito feliz e orgulhoso do trabalho que todos haviam feito por ali, e isso só me reforçava ainda mais a ideia de que realmente o povo Eldoriano era o mais esforçado, dedicado e preparado para viver por gerações e gerações em meio aos séculos. Pois eles tinham algo que nenhum outro lugar tem. Eles têm a enorme paixão da nação que se dizem ser representantes.

— Como se sente Lorde Magnus — Miyuki se aproximou de mim com suas mãos a frente de sua cintura.

— Lorde Magnus? — Olhei para ela sorrindo de forma sarcástica.

— Você é o Rei agora. Acho que será mais apropriado me referir a você assim daqui em diante. — Ela voltou a sorrir olhando para o povo que estava em clima de festa.

— Eu não vou me acostumar com isso tão cedo. E... — Meus sentidos ficaram aguçados após ouvir um enorme latido que saiu do meio da multidão — Espera...

Mais uma vez um forte latido foi possível ser ouvido, e então senti meu corpo todo estremecer. A multidão começou a abrir caminho, enquanto algo enorme e peludo passava no meio deles correndo com ansiedade. Antes mesmo de pensar no que poderia ser, um gigantesco lobo pulou sobre mim, me derrubando com suas enormes patas sobre meu peito.

— Só pode ser brincadeira... – Observei aquele animal com olhos grandes e ferozes cravados diretamente pra mim, até que finalmente ele me recebeu com muitas lambidas no rosto. Eu não podia fazer absolutamente nada, ele estava enorme em comparação a última vez que eu o havia visto. Sua cauda balançava loucamente, enquanto latia sem parar, e claramente eu estava tão feliz e surpreso quanto ele. — Ah pelos deuses Fenrir!!! Você tá vivo!!! Você tá realmente vivo!!!

— Eu estava ansiosa pra ver esse reencontro. Todos eles estavam... — Miyuki começou a gargalhar enquanto todos do vilarejo começaram a rir também. — Quem diria que após tanto tempo, vocês ainda teriam uma ligação tão forte!!!

Eu abracei Fenrir com toda a força que tinha, e finalmente pude matar a saudade do meu velho amigo. E dessa vez, eu me permiti chorar de verdade.



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