O Último Eldoriano Brasileira

Autor(a): Gustavo M. P.


Volume 1

Capítulo 7: A Ascenção



[Vilarejo de Arduran, 18 de Maio de 812 da Era Mágica]

Aquela, com toda a certeza, era uma sensação estranha, pois já havia passado alguns anos desde a última vez que tinha visto Miyuki. Ela continuava linda e destemida como sempre, mas naquele momento sua febre estava mais alta que sua honrosa coragem.

Por mais uma vez, me encontrava na casa da senhora Rosery, que me acolheu junto a Miyuki em meio aquela nevasca. Rapidamente, ela preparou uma cama para que pudéssemos deitar a jovem mulher eiyoniana, e em seguida rapidamente trouxe consigo preparativos para cuidar da sua saúde.

 As bochechas da Miyuki estavam coradas igualmente ao seu semblante que já demonstrava o quão resfriada estava. Retirei meu casaco deixando alguns dos meus ferimentos expostos, assustando a senhora Rosery, que não se limitou a dar a atenção apenas a Miyuki, mesmo eu negando e pedindo que atendesse prioritariamente a garota.

— Pelos Deuses Magnus! O que foi que você enfrentou? Um Tigre?! — Gritou Rosery em uma completa mistura de espanto e preocupação. — Rápido! Tire essa blusa, deixe-me ver seus ferimentos!

Sem a menor intenção de desobedecer, eu fiz como ela havia me ordenado. Sentei-me em uma cadeira de frente para Rosery, que de forma atenciosa e delicada, tratou cada um de meus ferimentos, sem demonstrar qualquer sinal de que estava nervosa. Suas mãos trabalhavam com maestria, costurando alguns cortes abertos e limpando pequenos sangramentos.

— Eu não sei o que seria de mim sem você. — Finalmente confessei a ela meus sentimentos. — Obrigado por tudo o que fez e faz por mim senhora Rosery.

— Ah por favor Magnus. Agora não é hora para isso, mas fico feliz que pense de tal forma. — Ela me deu um tapa na cabeça. — Você não se cansa de se meter em confusão? Não há coração de mãe que aguente!

— Me desculpe por dar tanto trabalho a senhora. E respondendo sua pergunta eu lutei contra um Troll que estava atacando Miyuki e rondando a vila. — Expliquei de forma breve a ela o ocorrido.

— Um Troll! Você ficou maluco?! – Dizendo isso ela puxou com certa grosseria o último ponto da costura em meu ombro. — Não se enfrenta um Troll sozinho. São criaturas difíceis de derrotar caso não tenha um grupo junto a você! Sabe-se lá o que poderia ter acontecido! — Ela pegou um rolo de cozinha que estava próximo a sua mesa e me ameaçou. — Eu deveria te dar umas na cabeça, pra ver se cria juízo!!! E...

— J-jovem Mestre... — Entre tosses, Miyuki abriu seus olhos, observando toda aquela situação. – É você? É você mesmo?

Eu e senhora Rosery nos entreolhamos, e então me levantei com cuidado indo até Miyuki que estava deitada. Rosery por sua vez guardou sua raiva para depois e então se afastou observando-nos de longe.

— Sim Miyuki, sou eu. Como é bom ver você novamente. — Sorri para ela, notando lágrimas escorrerem pelos seus olhos.

— Eu sabia. Eu sempre soube. — Ela continuava a chorar de forma emocionada enquanto falava. — O coração de Eldoria não irá morrer enquanto o Jovem Mestre estiver vivo. Eu sabia que você iria aparecer e me salvar quando eu mais precisasse. Eu estou grata ao destino por ter finalmente te encontrado. Tem tanta coisa que você precisa saber.

— Fique calma. Primeiro descanse e procure melhorar, depois você poderá me dizer o que quiser. Certo? — Ao fazer carinho em seu cabelo, retiro uma mecha que estava sobre seu olho, colocando-o por trás de sua orelha. — A Senhora Rosery vai cuidar de você assim como cuidou de mim.

— C-certo. — Ela então olhou para Rosery, que finalmente se aproximou.

— Caso precise, estou a sua disposição senhorita Miyuki... Seu mestre é como um filho para mim. — Com um gentil sorriso, Rosery curvou sua cabeça de forma amigável em respeito, e então Miyuki a respondeu com um sincero sorriso.

Sua mão tocou minha bochecha escorregando por toda sua extensão, fazendo-a sentir cada mínimo detalhe da minha barba rala e falhada.

— Você está diferente Magnus, está mais parecido com seu pai. Está mais bonito também e isso é bom... — Não pude deixar de ficar um pouco emocionado com aquelas palavras.

Coloquei minha mão sobre a de Miyuki que fechou seus olhos lentamente pegando em um sono profundo mais uma vez. E ali observando-a mais de perto pude perceber que havia mudado bastante também. Miyuki já não era mais aquela garota do palácio. Agora ela era uma mulher de fato.

— Senhora Rosery, vou ficar aqui até que a nevasca passe. Eu agradeço a você mais uma vez pelo que fez por mim e pelo que está fazendo por Miyuki. — Voltando meu olhar e atenção a Rosery levantei calmamente após deixar a mão de Miyuki sobre sua barriga.

— Uma moça tão bonita quanto ela não pode morrer antes de se casar e criar bons descendentes. Pode deixar que ela estará sob boas mãos aqui comigo. — Ela então sorriu para mim após uma piscadela. Já eu, assenti com a cabeça em resposta a sua gentileza.

Fiquei na casa de Rosery por mais alguns minutos, até a nevasca finalmente parar. Então voltei para casa pegar uma pá e mais algumas ferramentas que me ajudassem a pegar o que havia deixado para trás.

 

[...]

 

 

O tempo ainda estava gelado, mas como a nevasca havia cessado, o campo de visão havia voltado ao normal. Despedi-me de Rosery, e então tornei a caminhar entre a neve fofa. Pelo caminho, pude ver todo o vilarejo se mobilizar para retirar a neve de suas casas e ruas, que estavam cobertas pelo branco brilhante que dominava a paisagem. Mesmo não sendo bem vindo naquele lugar, eu conseguia sentir respeito e admiração por aquele povo, que em meio a climas tão extremos, sempre se esforçam ao máximo para manter seus lares sempre organizados e em ordem. Ao chegar ao meu destino me deparei com o proprietário da casa, que parecia ter acabado de chegar também.

— Sr. Draves? Você chegou agora? — Aquele homem era bem mais baixo do que eu. Arrisco dizer que tinha em torno de 1,67m de altura. O mais engraçado é que estava um pouco acima do peso e com aquelas várias camadas de roupas sobre ele, facilmente poderia ser comparado a uma enorme bola que daria para uma criança brincar. Seu nariz, assim como suas bochechas rechonchudas estava vermelho. Em sua cabeça havia apenas um capuz que cobria parcialmente seus cabelos bem cortados. Olhando para seu rosto com mais atenção, percebi seu bigode e sua barba negra, que estavam cobertos por alguns flocos de neve congelados.

— Ah! Jovem Magnus! Ainda bem que apareceu! Eu estava congelando aqui! — De forma sarcástica, mas sem fugir da realidade dos fatos, Sr. Draves disse o que estava sentindo naquele momento. — Pelos Deuses! Vamos entrar, pois temos um assunto a conversar!

— Sim. Claro. — Abri a porta um pouco desconfortável com aquela atitude um tanto invasiva. Sr. Draves era conhecido pela cidade como o charlatão, ou "O Cobrador". E se tinha algo que aquele homem gordinho sabia fazer muito bem, era cobrar o aluguel de suas propriedades.

Adentramos a casa, e então logo fechei a porta para que o frio não fosse mais um problema para nós. Ascendi a lareira, e então me virei para o Sr. Draves, que havia sentado em uma cadeira próxima a mesa.

— Muito bem. Quais são os assuntos a tratar hoje? — Por mais que Sr. Draves fosse um tanto chato e inconveniente algumas vezes ele me trazia algumas informações importantes que me livravam de muitos problemas. Principalmente quando o assunto era o babaca do Zurick.

— Ah Magnus. As notícias não são nada boas, como você já deve imaginar infelizmente eu não vou poder adiar por mais uma vez as suas contas pendentes. Sem falar que Zurick está acabando com sua reputação por aí mais uma vez, utilizando de sua influência nesse lugar. — Ele retirou seu casaco e pendurou sobre a cadeira. — Olha Magnus, sei que é um bom garoto, e entendo que o filho do chefe da vila esteja pegando no seu pé, mas não posso deixar pontas soltas, e se alguém descobrir que estou fazendo esse tipo de favor a você... Isso pode acabar virando bagunça em meus negócios.

— Eu entendo Sr. Draves. — Cruzei meus braços olhando para a janela que deixava os últimos momentos de luz do dia adentrarem a casa. — Vou te pagar tudo o que devo ao senhor e vou seguir meu caminho daqui pra frente, pois não vejo como posso ficar aqui desta forma.

— Gosto de acreditar que o Reino de Eldoria não morreu caro Magnus. Lá dentro, bem no fundo do meu coração ainda há uma esperança de que você trará das sombras a luz e a glória que seu pai havia criado sob aquelas muralhas. — Ele se levantou, pegou seu casaco e veio até mim calmamente enquanto colocava suas mãos sobre meus ombros. — Eu perdi minha esposa e meu filho naquele dia. E só estávamos lá a negócios, mas isso nunca mudou o fato de que éramos felizes toda vez que pisávamos em terras da Águia Dourada. Não acho justo o que aconteceu com você rapaz. E não acho que você deva ficar aqui parado. Eu geralmente digo a que vingança não a leva a nada. Mas no seu caso talvez signifique a libertação e salvação de muitos.

— O que está querendo dizer com isso? — Olhei profundamente nos olhos daquele homem, que com um breve suspiro, soltou meus ombros se afastando um pouco.

— Agora mesmo, durante essa nossa conversa o auto proclamado Império Algardiano está em uma enorme campanha militar para unificar todo o continente de Thâmitris. A primeira parte do plano deles se concretizou, e agora estão seguindo em direção ao coração do continente para tomar a Árvore Sagrada da Vida. — Retirou uma carta do bolso do seu casaco e a entregou em minhas mãos. — Com os demais reinos caídos, ou pelo menos, os que aparentavam ser uma ameaça eminente ao Império, agora a intenção deles é controlar e conquistar os guardiões da Ordem Sacro Mágica.

— Dessa forma eles conseguiriam poder suficiente para colocar a prova tudo e qualquer um que se opor ao seu domínio. — Olhando a carta com mais atenção, percebo que o selo continha o desenho de um leão em sua cera vermelha. — Quem lhe mandou essa carta?

— A carta é anônima, mas acredito que estejam fazendo isso para criar um sentimento de medo no Império Algardiano. Eles se autodenominam como os "Rebeldes de Coração Leonino", e até onde eu sei, já aprontaram algumas. Até mesmo dentro da própria capital do Império.

— Então são pessoas de coragem. — Abro a carta com cuidado para que não fosse rasgada. — Deixe-me perguntar uma coisa senhor Draves, onde arranjou tantas informações?

— No meu trabalho eu sempre lido com estrangeiros Senhor Magnus. — Ele então colocou seu casaco e logo se aproximou da porta. — Vou perdoar todas as suas dívidas, mas só me prometa uma coisa! Não deixe que o legado de seus pais acabe de uma forma tão triste.

— Sr. Draves... — O homem parou diante da porta que havia aberto, e então se virou para mim mais uma vez. — Obrigado por tudo!

— Que Hawlking continue te abençoando Magnus Wingsfield. — E com um assentir de cabeça Sr. Draves saiu pela porta, deixando-me sozinho naquela casa.

— Muito bem. Vejamos o que está escrito aqui. — Me viro para ficar de frente para a lareira, e então começo a minha leitura silenciosa.

Caro Leitor.

Se essa carta de alguma forma estiver em suas mãos nesse exato momento, peço para que preste atenção no que tenho a lhe dizer. Primeiramente, tenha em mente que após ler tudo o que está escrito, essa carta deve ser queimada para não deixar rastros de seu envolvimento com a resistência que estamos iniciando em todo o continente de Thâmitris.

Desde a queda dos reinos alvos do atual autoproclamado Império Algardiano, toda a Thâmitris entrou em um colapso cultural e regional, onde quase 65% de todo o território do continente está pintado de vermelho pelos estandartes e bandeiras Algardianas. O Governo do imperador é extremamente expansionista, visando conquistar todo o continente em questão de dias, acabando com todos os reinos vigentes e as demais culturas que estão espalhadas pelas nações e vilarejos. Aqueles que se opuseram a entregar suas coroas enfrentaram um exército avassalador, não só constituindo por homens, mas também de monstros e até mesmo um traidor da Ordem Sacro Mágica, ao qual o chamam de “O Imperador Dragão”.

Já foram relatadas condições precárias e alta pobreza por todo o território conquistado, onde as pessoas simplesmente ficaram a mercê da sorte e da forma abusiva de como têm que trabalhar para conseguir um pouco de dinheiro. Várias mortes já ocorreram por todo o império, seja por questões autoritárias, leis ou a fome que vem se alastrando a cada nova mancha vermelha que aparece no mapa.

Não sabemos se há veracidade nessa informação, mas tem indícios de envolvimento de acordos e pactos demoníacos entre o Imperador e as criaturas inimigas a Ordem Sacro Mágica.

Se você é alguém que já não está mais aguentando toda essa campanha que está acontecendo, seja muito bem vindo ao lado da Resistência.

Se cuidem, e cuidem dos seus, pois em breve, nós iremos trazer a derrota a esse império que está vitimando pessoas inocentes.

                                                                      Ass: Rebeldes de Coração Leonino

— Eu tenho que admitir. Eles realmente têm coragem. — Após ler a carta, faço como é ordenado. Jogo a carta na lareira, ficando apenas com o selo de cera em minhas mãos. — Resistência Leonina... Acho que finalmente vou ter minha chance.

 

[...]

 

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[Vilarejo de Arduran, 19 de Maio de 812 da Era Mágica]

No amanhecer do outro dia, peguei meus pertences e coloquei tudo o que tinha dentro de uma bolsa de couro. Não eram muitas coisas, então logo saí daquela casa e tomei rumo em direção a residência de Rosery. Mas no meio do caminho aqueles babacas já estavam a minha espera.

— Aaah! Bom dia bela adormecida! Como foi sua noite? Acho que ele não dormiu muito bem não pessoal! — Gargalhava de forma idiota e sem graça aquele que os liderava. Zurick era realmente um inútil imprestável, e eu já estava ficando de saco cheio com aquela situação. — Qual é? Que idiota! Bora bater nele um pouco! Segurem ele pra mim pessoal!

Deixei minha bolsa cair no chão. Retirei lentamente minha jaqueta, e a joguei por cima da mesma. Dessa vez ficou claro que meu físico não era de um garoto fraco, e todos se espantaram ao ver minha musculatura. Deixei meu olhar entrar profundamente na alma daqueles idiotas, enquanto tomava uma posição de combate. Dei um suspiro profundo, fazendo com que o ar gelado, ficasse aparente ao sair de minha boca.

— Agora que eu não tenho mais nada a perder, não tenho mais que me preocupar com vocês. — Dando um sorriso de canto, olhei diretamente para Zurick que parecia estar tremendo sobre suas pernas. —Vocês não sabem o quanto eu estava ansioso para fazer isso....

— E-ele está blefando! Vocês não podem perder. São cinco contra um! Acabem com ele!!! — Gritou Zurick.

O primeiro "pau mandado" de Zurick havia se aproximado de mim pela direita, e até que estava mantendo uma distância de segurança. Já o segundo veio pela esquerda, e todos os outros começaram a cobrir os demais lados a minha volta. Provavelmente tomaria uns três ou quatro socos nessa brincadeira, mas confesso que minha vontade de socar cada um deles, e principalmente Zurick, era muito forte.

— Qual é pessoal! Vamos só deitar ele no chão mais uma vez como sempre! E depois é só nos divertirmos com pontapés! — Gritou um deles a fim de encorajar seus companheiros.

— Isso! Você tá ferrado maluco! — Incentivou aquele que estava a minha esquerda.

Sem tirar meus olhos de cada um deles, apenas previ que o primeiro a se movimentar seria o covarde as minhas costas. Assim que ouvi seus passos se aproximarem de mim, rapidamente desviei deixando apenas meu pé para que tropeçasse e fosse de boca ao chão gelado.

Meus sentidos se tornaram aguçados, e a presença a minha direita ficou mais notável. Sem pensar duas vezes me esquivei dos socos que me foram entregues, encaixando um belo gancho de direita na boca do idiota que chegou a ficar no ar por alguns segundos antes de cair no chão com as mãos sobre o maxilar.

Assim como havia previsto, tomei meu primeiro soco no rosto vindo do oponente a esquerda, mas recobrei minha atenção, segurei seu braço encaixando uma joelhada em seu estômago, seguido de um soco no rosto, e um braço quebrado por joelhada no cotovelo. Aquele eu sabia que já estava fora de combate, e por esse motivo não se levantaria mais.

Ainda havia mais dois, que ficaram encarando aquela situação com certo medo. Mas após olharem um para o outro, decidiram correr os dois ao mesmo tempo em minha direção. Segurei seus punhos os torcendo igualmente, enquanto altos estalos que vinham de suas mãos fizeram-nos gritar e chorar de dor enquanto iam ao chão ficando de joelhos.

Gostaria de brincar mais com todos eles, mas precisava poupar tempo, então logo tratei de finalizar aqueles engraçadinhos pegando em suas cabeças e as fazendo se chocar com tudo. Eram mais dois desmaiados, faltando apenas os últimos que após verem a forma brutal que derrotei seus companheiros, decidiram apenas fugir sem tentar a sorte.

— E-EI!? AONDE PENSAM QUE VÃO?! — Gritava Zurick ficando desesperado e sozinho — SEUS DESGRAÇADOS!!! VOLTEM AQUI!!!

— VOCÊ ARRUMOU ESSA BUCHA PRA VOCÊ!!! SE VIRA SEU BABACA!!! — Gritou um deles enquanto corria para longe.

— A lealdade do seus caras aí é de chorar. Que amizade linda vocês tem... — Debochei dele enquanto me aproximava calmamente o olhando com um eterno desprezo. — Devo admitir! Eu estou comovido.

Zurick começou a andar para trás, mas para a infelicidade dele, havia uma árvore de pinheiro bem onde ele estava. Ficando preso ao tronco, ele sacou uma faca de sua cintura apontando para mim.

— FICA LONGE!!! EU JURO QUE TE MATO!!!! — Com toda aquela gritaria, as pessoas começaram a sair de suas casas e se aglomerarem naquela região. — V-veja! O povo veio ver! É melhor se afastar!!!

— É... Eu realmente não estou nem aí pra eles. — Comecei a olhar em volta, observando uma certa expressão de satisfação no rosto de todos ali em volta fazendo-me entender que não eram os moradores que eram ruins, e sim as leis e ordens de seus líderes imbecis. — E eu acho que eles não vieram aqui por sua causa...

— Eu tô avisando! Eu juro que enfio essa faca no seu peito!!! — Gritava de forma incessante, até que finalmente ele correu pra cima de mim com aquela faca apontada para o meu peito.

No momento em que ele entrou no meu campo de defesa pessoal, eu agarrei e torci seu pulso fazendo-o soltar a faca. Em seguida o agarrei pelo pescoço, jogando-o contra a árvore novamente, cravando aquela faca próxima ao seu olho direito.

Puxei seus cabelos enquanto o socava na barriga com tanta força que o mesmo sentiu falta de ar. Sem dar qualquer outra brecha, enfiei um soco bem dado em sua boca, seguido de outro, e de outro, por exatas seis vezes, até que ficasse completamente derrotado. Puxei novamente seu cabelo e o fiz que olhasse em meus olhos, jogando seu rosto contra meu joelho, que ficou manchado por seu sangue após o impacto.

Por mais uma vez, eu o levantei pegando em seus cabelos, mas dessa vez foi para enfiar o rosto dele contra o tronco de pinheiro. Ainda o manipulando facilmente, o deixei preso na árvore usando meu antebraço em seu pescoço. E então frente a frente com ele, que já estava com o rosto todo coberto de sangue, puxei a faca e a enfiei entre suas pernas, um pouco abaixo de sua genitália.

— Você não passa de um moleque idiota, sem caráter e qualquer sinal de honra. Você merece o pior na sua vida, e nem o inferno gostaria de tê-lo agora sob seus domínios. — Zombei daquele idiota em meio a todos enquanto observavam e ouviam tudo. — Você é desprezível e deplorável. Não passa de um garoto mimado...

— O que está havendo aqui? — Toda aquela comoção chamou a atenção do líder da aldeia que agora estava presente. Após dar uma boa olhada em todo o local e ver seu filho completamente neutralizado, logo se colocou a exclamar. — Mas que merda é essa aqui?! Eu exijo explicações!!!

— Claro! — Mais uma vez peguei Zurick pelos cabelos, o jogando em direção ao seu pai. — Você deveria ter vergonha de ser um pai tão cego e incompetente! Seu filho faz o que bem entende pela vila inteira, enquanto os seus moradores vivem acuados com medo de represálias. Seu filho me perseguiu e me usou como saco de pancadas por todo esse tempo que estive aqui, simplesmente porque não aceitou perder em uma competição honesta. E fez tudo isso bem embaixo do seu nariz, enquanto fingia ser um bom moço.

— Isso é um absurdo! Meu filho nunca faria uma coisa dessas! — Gritou ele ao observar seu filho espancado. — Mas que ultraje! Vou mandar matá-lo por uma atitude tão agressiva e fora dos... Espera... O que está...?

Caminhei em sua direção, deixei a aura de Hawlking envolver meu corpo, saquei a espada da bainha de um de seus guardas que se assustou sem qualquer tempo de reação. E então coloquei a ponta da espada sobre o pescoço daquele homem cego e arrogante.

— Cala a sua boca. — Olhei para todos que estavam observando o acontecido atentamente, com olhares de claro alívio sobre algo estar sendo feito — Deixe o povo falar.

— Seu filho é uma praga!!! — O primeiro grito soou no meio do povo.

— É!!! Por causa dele eu perdi 60% da minha colheita!!! Ele exigiu muito mais do que o combinado!!! — Gritou mais um aldeão alterado e irritado.

— Nem me fale!!! Esse porco maldito me assediou, e eu fui forçada a fazer o que ele queria caso contrário minha filha seria sua vítima!!! — Uma camponesa havia soltado uma acusação grave.

Pouco a pouco, todos os aldeões começaram a reclamar, até mesmo seus soldados passaram para o lado do povo. A gritaria e a revolta pública era tanta que eu já não seria mais ouvido. Então ergui minha espada na frente de todos, enquanto sua lâmina brilhava intensamente sob minhas mãos cravei-a no chão com toda força, criando uma onda de choque dourada que silenciou a todos com o susto.

— Todos escutem atentamente agora! O poder de escolha está nas mãos de cada um de vocês! Se vocês escolherem exilar a família que está no poder, eu escolherei pessoalmente o próximo chefe desta vila, que se tornará o primeiro polo de início de uma nova era que está para surgir! — Não tenho mais motivos para me esconder, não haverá mais "poréns" ou "porquês", para evitar o destino que me foi dado.

E com toda coragem que havia se instalado em meu peito e com tudo o que estava guardando a anos dentro de mim, decidi que aquele era o momento da minha ascenção, e honrar as últimas palavras do meu pai.

— Meu nome é Magnus Wingsfield! Príncipe primogênito de Maximilian Wingsfield, herdeiro ao trono do caído Reino de Eldoria! Abençoado e escolhido pela Deusa Águia Dourada Hawlking para ser o guardião e o protetor deste mundo que está entrando em uma era de caos, dor e destruição! E agora eu pergunto a vocês, caros aldeões, quais são suas escolhas sobre este homem?!

Um silêncio ensurdecedor se instaurou por todo aquele lugar, era possível apenas ouvir cochichos sobre minha pessoa, se perguntavam se eu era quem realmente dizia ser. Mas então, um jovem garoto veio e decidiu ser o primeiro a falar:

— Eu vi! E sei o quão verídico esse homem é! Ele ajudou todos nós indiretamente! Eu acredito em suas palavras! Ele acabou de nos livrar da nossa maior pedra em nossos sapatos. Devemos ser gratos a ele! — Então ele se virou para todos e ergueu sua mão. — Eu voto pela punição por exílio! Chega de sofrer por conta desse tipo de pessoas egocêntricas! Sempre fomos uma vila acolhedora! E devemos desculpas a Vossa Alteza Real por conta das nossas atitudes em relação a você.

— Eu concordo! Mesmo eu sendo coagida a não falar e nem ser gentil com Magnus, ele sempre me ajudou e até mesmo levou comida para meus filhos! Eu voto pela retirada e o exílio!

Um a um, os votos favoráveis foram crescendo, e a maioria votou a favor da retirada do poder daqueles infelizes. Um sorriso gentil se fez em meu rosto. Era um sorriso que nunca pensei que daria de forma tão natural novamente. E assim me virei aos julgados publicamente, dando-lhes o olhar de desgosto.

— E-espera! A gente pode negociar certo? O culpado foi só esse infeliz aqui! — Gritou o chefe da vila em seu desespero. — Não tem motivo para me exilarem!

— Você foi arrogante, ignorante, prepotente, egoísta e orgulhoso. É tão repugnante que não tem amor verdadeiro ao seu próprio filho, disposto a jogá-lo aos leões para seu próprio bem. Você me dá nojo. — Apontei minha espada em direção a eles, enquanto os olhava com o maior desprezo que havia guardado dentro de mim. — O mundo está ficando do jeito que está, por conta de pessoas como você. E eu perdi tudo o que amo por conta de atitudes como as suas. Guardas levem-no daqui!

— Isso é um absurdo!!! Um ultraje!!! — Gritava ele se esperneando ao ser levado embora.

— Deveria estar grato por não ter dado a opção de sentença a morte! — Gritei ao idiota, zombando de sua falta de percepção das coisas.

— FINALMENTE!!! ESTAMOS LIVRES!!! — Berrou de alegria um dos Aldeões que logo iniciou um tumulto festivo em toda aquela vila. — Vamos agradecer ao Lorde Magnus por seu feito!

— Antes disso! Preciso estabelecer um novo líder para essa vila e eu já tenho meu candidato. — Todos se se entreolharam e então assentiram com a cabeça, se curvando diante a mim em seguida.

— Estamos as suas ordens e da nova Coroa de Eldoria que a de surgir. Lorde Magnus! — Em um sinal de respeito, todos baixaram suas cabeças, aceitando o início de uma nova Eldoria que nasceria.

[...]

Três dias havia se passado, e preparativos festivos estavam sendo colocados por toda a vila que amanheceu totalmente diferente do que geralmente sempre foi. Percebi que eu havia os julgado mal, e que na verdade, as vezes sempre há muito mais do que apenas motivos fúteis por trás de certas atitudes. A gente nunca sabe o que está acontecendo de verdade, e desde então, aprendi que devo investigar melhor e saber a verdade, antes de julgar precocemente as coisas que acontecem no meu dia a dia.

A nova chefe da vila era a senhora Rosery, que a princípio, não queria aceitar o cargo. Mas o povo havia gostado da ideia tanto quanto eu, e por pressão pública, Rosery decidiu finalmente atender o chamado do povo. Eu, por outro lado, estou de partida, preparando tudo o que preciso para dar início a essa grande nova jornada que virá a frente. Se eu quiser honrar o nome de minha família e caçar os causadores de tanta desgraça tenho que estar preparado.

— Jovem Mestre? Está pronto? Estou as suas ordens, como sempre estive! — Quase esqueci de mencionar, Miyuki se recuperou nesses últimos dias.

Quando me viu após sua recuperação, me abraçou com tanta força e carinho que não aguentou e começou a chorar. Ela me explicou que estava cuidando de todos aqueles que a seguiram e se refugiaram junto a ela em uma vila escondida. Que todos lá, ainda acreditavam que alguém da família real estava viva, e que não deixou de me procurar nem por um único minuto. Dito isso, agora vocês já sabem qual será o nosso próximo destino daqui pra frente, pois os “Os Últimos Eldorianos” ainda vivem.

— Sim Miyuki! Vamos encontrar meu povo. — Com um sorriso sincero, eu finalmente pude aproveitar um pouco mais meu aniversário, mesmo que de forma atrasada.



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