O Último Eldoriano Brasileira

Autor(a): Gustavo M. P.


Volume 1

Capítulo 5: A Queda do Reino Dourado



[Reino de Eldoria, 20 de julho de 810 da era Mágica]

O horizonte estava pintado de vermelho, completamente manchado pelas cores predominantes dos brasões de armas nas armaduras dos nossos oponentes. O exército de Algardia era infinitamente maior do que as forças de Eldoria. Já não havia muito o que fazer naquela situação, a não ser resistir o máximo que pudéssemos.

Agora que havia descoberto a traição do meu Tio Edward, tudo estava fazendo sentido, e não restavam mais dúvidas para mim de como Algardia havia conseguido informações tão precisas como a cerimônia que aconteceria no palácio, e de como isso tiraria a atenção da segurança do nosso reino.

Correndo para o meio de toda aquela batalha caótica que estava acontecendo, percebi que não havia apenas homens lutando entre si, pois além daquele Orc, Algardia havia trazido consigo monstros dos mais variados tipos para aumentar a força de seu exército. Todos eles tinham a mesma característica marcante em seus olhos, que brilhavam em um intenso vermelho carmesim, como se alguém os estivesse controlando com algum tipo de magia.

— Pai!!! — Gritei ao vê-lo diante do campo de batalha, lutando com todas as suas forças contra um cão infernal.

— Filho!!! — Ele respondeu desviando seu olhar para minha direção e me viu correndo junto a Max e as meninas. Sacamos nossas armas e logo nos aproximamos dele — O que estão fazendo aqui?! Deveriam ter ido embora com sua mãe!!

— Como Guardião de Eldoria jurei morrer segurando minha espada e não vai ser agora que irei fugir do meu dever! — Agarrando-o pelos braços, olhei no fundo de seus olhos de forma séria, até que ele finalmente assentiu com a cabeça.

— Muito bem. Vamos juntos então! — Ele sorriu pegando sua espada em um giro mortal, que acertou a cabeça de um segundo cão infernal que tentou me atacar. — POR ELDORIA!!!

E assim que meu pai saiu correndo para ajudar seus homens, me virei para Max e as meninas, ainda um pouco assustado com a quase mordida que tomei, me aproximei deles.

— Quero que façam exatamente o que eu pedir. — Elize e Miyuki me olharam com desdém. – Elize preciso que dê apoio aos soldados onde seu pai está batalhando. Acredito que você será mais útil ao lado dele nesse momento. Leve Fenrir com você. Ela ameaçou protestar, mas então se aproximou de mim e assentiu com a cabeça olhando em meus olhos.

— Não morra seu idiota! Não sei o que farei se você não estiver aqui pra ser meu rival. — Ele socou meu ombro, e então se afastou um pouco de mim.

— Não morrerei. Eu prometo. — Peguei em seus ombros a encorajando.

E assim que eu a soltei, em um suspiro ela correu chamando Fenrir, indo em direção ao exército liderado pelo seu pai. Da mesma forma olhei para Miyuki que já apresentava uma postura teimosa, que levaria ela a negar meu pedido, mas mesmo assim eu deveria fazê-lo.

— Miyuki. — Olhei no fundo de seus olhos, sentindo toda aquela teimosia.

— Você sabe que eu vou me negar ficar longe de você jovem mestre. — Ela se aproximou de mim tentando dizer não, antes mesmo que eu pedisse qualquer coisa.

— Eu sei que vai, mas mais importante do que eu agora, é garantir a segurança de todos que ainda não foram resgatados. — Me aproximei dela que baixou a cabeça sabendo que não teria como me impedir de fazer o que tinha que ser feito. Levantei sua cabeça delicadamente ao colocar meu dedo em seu queixo, e logo enxuguei as lágrimas que começavam a cair de seus olhos. — Miyuki eu só confio em você, em suas habilidades e na sua espada para tal missão.

— Eu entendo jovem mestre. — Ela assentiu com a cabeça, e então agarrou minha mão colocando-a ao lado de seu rosto. — Vou fazer como me pede...

— Nós nos encontraremos mais tarde e festejaremos a vitória de Eldoria. — E assim ela me soltou, se afastando de mim. — Vá! E proteja a todos!

Miyuki correu para longe de nós, em direção as casas ou qualquer lugar que pudesse haver sobreviventes. Quando olhei para Max, a ventania estava batendo sobre seus cabelos que dançavam conforme aquela cena caótica. Entre gritos agonizantes e mortes brutais, era a hora de mostrar a todos o porquê de sermos as Asas do lar que tanto amamos.

— Max! Eu... — Ele se aproximou de mim segurando sua Rapiera.

— Meu irmão, vamos fazer o que tiver que ser feito. — E assim ele sorriu para mim, colocando sua Rapiera na frente de seu rosto. — Minha magia e a sua espada.

— Unidas agora e para todo o sempre... — Peguei em seu rosto e então aproximei minha testa na dele. — Vamos lutar juntos.

Olhamos um para o outro nos afastando, e então nos viramos para o campo de batalha, franzindo o cenho para o que estava por vir.

— POR ELDORIA!!! — Deixei a benção de Hawlking explodir em volta de meu corpo.

— POR HAWLKING ! — Gritou Max deixando toda sua benção tomar conta de seu corpo da mesma forma.

Corremos para o campo de batalha lado a lado como sempre estivemos até ali em nossas vidas. Todos ali presentes pararam ao perceber a presença poderosa da deusa águia no meio do campo de batalha. E foi assim que o primeiro cão infernal foi completamente derrotado pelo trabalho em equipe entre mim e meu irmão.

Os soldados de Eldoria gritaram com todas as suas forças, lutando com mais inspiração do que antes, forçando os inimigos a recuar.

Um a um, soldados e monstros inimigos caiam pelas mãos de Eldoria, que abria suas asas mostrando todo o poder que ainda havia dentro das veias de seus soldados. Entre golpes poderosos, eu e meu irmão trabalhávamos em uma sincronia quase que perfeita, de ataques e defesas contra todo e qualquer inimigo que tentava nos intimidar.

 Uma dança gloriosa de espadas que deixava cada movimento perfeito e muito bem aplicado para cada ação que fazíamos. Meus movimentos eram brutais e extremamente destrutivos, enquanto que os do meu irmão eram rápidos e mortais.

— Magnus! Nossa Retaguarda! — Gritou ele ao estocar poderosamente um cavaleiro que avançou contra nós.

— Deixe comigo! — Gritei aparando o ataque de mais um cão infernal, jogando-o contra a parede de uma das casas que foi destruída com a guerra.

Assim que derrotamos todos os inimigos daquela área, começamos a correr em direção ao nosso pai que estava passando por um aperto e tanto junto aos seus soldados. Comecei a correr em direção a eles que estavam extremamente cansados e já sem forças para lutarem, principalmente nosso pai.

— Max!!! — Gritei para ele enquanto corria velozmente — Nosso pai precisa de auxílio!!!

Max assentiu com sua cabeça, não demorando muito até que uma enorme bola de fogo dourada voasse sobre mim, caindo bem no meio dos nossos inimigos.

A explosão foi enorme, causando uma ruptura das defesas inimigas, fazendo com que vários soldados fossem pelos ares. Deixei com que a benção tomasse conta novamente de meu corpo, assim abrindo as minhas asas, voando com toda a velocidade contra os soldados algardianos, os empurrando para longe com a força do impacto.

— ESSES SÃO MEUS GAROTOS! — Gritou meu pai levantando sua espada — FORÇA HOMENS!

Um grito uníssono foi ouvido por toda Eldoria, repetido por todos os cavaleiros vivos que ouviram meu pai gritar. Em seguida, nossas defesas já estavam todas erguidas e apostas novamente.

— Magnus! Cuida...! — Gritou Max correndo em minha direção. A princípio eu pensei que ele estivesse me chamando, mas olhando com mais atenção percebi que na verdade ele estava tentando me alertar contra um ataque inimigo. Porém, quando me virei já era tarde, uma enorme fera bestial sombria estava pulando sobre mim.

Eu não teria tempo para uma defesa, mas meu pai levantou sua espada e deu um violento empurrão no enorme monstro que se afastou de nós, rosnando cheio de fúria e ímpeto assassino.

— Magnus aquele monstro é um Lurrus Sombrio. — Meu pai me ajudou a levantar depois do susto que havia tomado. — Não deixe que ele te acerte com suas garras, pois elas contém um poderoso veneno que tem a capacidade de te matar em menos de 3 horas.

Os olhos vermelhos daquele ser eram assustadores, e tinham características de quem está sendo controlado. Sua pele parecia ser feita de fumaça e sua anatomia era bem próxima a de uma pantera, mas com alguns tentáculos cheios de espinhos saindo de suas costas, sem falar do seu tamanho claramente anormal, chegando a ser três vezes maior que um tigre normal. Muito ágil e feroz. O que novamente me levava a pensar, sobre como Algardia tinha monstros desse calibre em seu arsenal.

 — Entendido. — Me posicionei ao lado de meu pai, e logo em seguida, Max se colocou ao nosso lado.

A Fera nos rodeava sem perder o foco em nossos olhares, até que simplesmente desapareceu, dissipando-se ao vento em uma fumaça negra.

— Fiquem atentos! Ele irá atacar de surpresa, precisaremos acertar nossos golpes no momento correto! — Ficamos de costas um para o outro após a fala do nosso pai. — Mantenham seus olhos abertos!

— Sim senhor! — Gritou Max. — Eu tive uma ideia. Mas preciso que ele ao menos apareça!

Sem qualquer aviso prévio uma enorme criatura pulou contra meu pai, tentando agarrá-lo. Mas sem sucesso, já que foi derrubado mordendo a lâmina da espada do meu velho, desaparecendo mais uma vez em meio ao vento e sombras. Quando olhei para Max, vi seus olhos brilhando em um intenso brilho dourado.

— Serei os olhos de vocês, eu marquei a mana dele e consigo observar o rastro que ele deixa por onde anda! Não estarei em posição de entrar no combate, então não deixem que ele me ataque! — Max anunciou em alto e bom som, e agora não estávamos mais em desvantagem. — Magnus! Ele está atrás de você!

— Certo! — Gritei logo me preparando para um ataque.

Com um grito, girei minha espada para trás acertando o monstro em sua mandíbula, fazendo-o rugir de dor e aparecer para todos nós. Agora eu havia entendido. Sua camuflagem não o deixava invulnerável. Apenas o deixava invisível.

Com toda sua raiva ele tentou pular em mim, mas meu pai novamente entrou na minha frente, fazendo-o morder sua lâmina mais uma vez jogando-o para longe de nós. Por mais uma vez a besta fera sumiu, deixando todos os meus sentidos em alerta. Ficamos rodeando Max enquanto esperávamos sua próxima instrução.

— Filho! O que vê agora? — Meu pai perguntou a Max que ainda continuava a manter seus olhos brilhando.

— Ele vai querer me atacar. Está de frente para mim! — Gritou Max ao perceber a presença do inimigo.

— FICA LONGE DO MEU IRMÃO!!! — Gritei deixando minha espada ficar em um brilho intenso pela benção, e então desferi um golpe surpresa girando por trás do Max, atacando o Lurrus bem no momento em que pulou para seu ataque.

Acertei a ponta da minha espada no pescoço do monstro vendo-o cair no chão me olhando assustado pela velocidade de reação. Mas sua atenção ficou tão focada em mim protegendo meu irmão, que não percebeu meu pai que cortou fora um de seus tentáculos rapidamente, enfiando um chute poderoso no rosto do monstro que logo tentou fugir.

Corri em direção a ele bloqueando sua passagem, e assim que ele tentou se camuflar novamente, uma bola de fogo o acertou, incendiando por completo o monstro que queimou até a morte.

Quando olhei para Max, ele estava com seu braço estendido, mas havia um pouco de sangue escorrendo por sua boca. Ele já havia me explicado que o uso excessivo de mana poderia ter efeitos colaterais, e agora mesmo, ele já estava começando a ter um deles. Perda de sangue.

— Max! — Eu e meu pai gritamos em uníssono, correndo em direção ao garoto que começou a tossir. Pegamos e o levamos a um lugar seguro onde pudesse descansar um pouco longe de todo o inferno que estava acontecendo.

— Ei! Você está exagerando. Precisa descansar. — Falei a ele após o deixarmos confortavelmente escorado em uma parede.

— Não me importo de morrer se for pra proteger vocês. — Ele olhou no fundo de meus olhos. — Eu vou ficar bem.

— Mas eu não vou, se você morrer aqui! – Levantei-me olhando para ele.

— Nem eu filhote. — Meu pai cruzou os braços. — Fique aqui e descanse um pouco, você já fez muito por nós, ainda está em treinamento e não deveria nem mesmo estar no campo de batalha. Já sou imensamente grato pelo que fez por nós.

— Eu sou o Escudeiro de meu irmão! Eu não vou me retirar do campo de batalha! — Gritou ele disposto a fazer o que fosse preciso para estar ao meu lado.

— Meu irmão eu entendo sua vontade, mas preciso que descanse antes de estar junto a mim, certo? — Ele fechou seus olhos e então assentiu com a cabeça.

— Vê se não morre antes que eu chegue até você. — Ele me alertou antes de me deixar ir.

— Eu prometo. — Assim ele assentiu novamente com a cabeça, enquanto eu e meu pai nos colocamos no campo de batalha mais uma vez.

— Está preparado? — Perguntou ele a mim enquanto corríamos.

— Eu estou com muita raiva. — Falei observando meus inimigos que batalhavam com o que havia restado do nosso exército. Meu semblante só demonstrava ódio, raiva e um desejo assassino.

 

[...]

 

 

Algumas horas de batalha haviam se passado, os exércitos Algardianos não sucumbiam, meu pai já estava muito ferido e não aguentava mais dar um único movimento com sua espada.

Havia chegado ao nosso conhecimento que o general Stanford havia morrido, e que Elize estava lutando com todas as forças que ainda lhe restara. Minha mãe não foi mais vista em lugar algum de Eldoria, e provavelmente havia sido capturada, já eu... Estava quase no limite da mana de minha benção. Minhas asas de energia dourada estavam fechadas em minhas costas, a aura que cobria meu corpo estava fraca e quase inexistente. Eu estava sob uma enorme pilha de corpos de soldados e monstros menores. Havia sangue e ferimentos por todo meu corpo, já não havia mais nenhuma chance de conseguir lutar pela exaustão. Chegando próximo a mim, ouvi o galopar de dois cavalos se aproximarem.

— Muito bem... O Glorioso Guardião de Eldoria! — Palmas foram direcionadas a mim com sarcasmo, enquanto os cavalos paravam com seu galopar. — É de fato impressionante. Você derrotou esse incrível número de oponentes sozinho. Devo dizer que estou impressionado meu jovem!

Virei-me para trás e tive o desprazer de ver e ouvir o Rei de Algardia me dizer tais coisas. Ele estava trajado com sua armadura real toda detalhada, seus cabelos loiros já estavam apresentando algumas mechas grisalhas em alguns lugares. Havia uma capa vermelha aveludada em volta de suas costas e em sua cabeça uma coroa dourada incrustada com rubis por toda a sua circunferência. Os olhos avermelhados não deixavam dúvidas sobre quem era aquele homem. Joaquim D'Algardia, o algoz assassino de meu povo.

 — Ei! Me soltem!! — Gritou meu pai ao ser rendido na minha frente. Eles o colocaram de joelhos a frente de Joaquim que se aproximou dele. — Seu maldito miserável! Você nos traiu!

— Desculpe caro Maximilian. Mas o império de Algardia precisa de mais espaço. — Ele se agachou na altura de meu pai. — Você não sabe o quão valiosas essas terras são.

— Desgraçado! — Continuou xingando meu pai com toda a fúria que ainda havia em seu peito. — Está profanando território sagrado!

— Maximilian. Olhe bem ao seu redor, esse reino não lhe pertence mais. Isso tudo pertence a mim agora! — Sacando sua espada, Joaquim apontou para a cabeça de meu pai, e logo depois olhou para mim. — Jovem "Guardião" poderia se render, por favor? Caso contrário, vou fazer a cabeça de seu pai rolar mais cedo.

Sem dizer nada, apenas cravei minha espada no chão e me deixei ser levado pelos soldados que me colocaram afastado de meu pai, mas ainda conseguindo vê-lo. Assim que olhei para o lado, vi minha mãe e Elize sendo trazidas também, eles a colocaram perto de Joaquim que desceu de seu cavalo, se aproximando de ambas, tocando-as no rosto.

— Veja só. Se não é a Rainha de Eldoria. — Minha mãe continuou a olhar meu pai que parecia estar explodindo em raiva. — E essa quem seria?

— Acreditamos que seja filha do General falecido em batalha Alteza. — Um dos cavaleiros apresentou Elize de forma grosseira.

No rosto de Elize dava para ver o quanto havia chorado, o quanto ainda estava coberta de angústia e desespero. Não via Fenrir em lugar algum, e muito provavelmente ele já não estava mais entre nós. Ao meu lado, Max foi posto de joelhos junto a mim, ali observando seu rosto, pude perceber que o haviam maltratado antes de trazê-lo até ali, o que me fez ficar ensandecido de raiva.

– MALDITOS DESGRAÇADOS!!! O QUE FIZERAM COM MAX!!! – Tentei me levantar mas logo fui colocado de joelhos novamente de forma violenta.

— Que cena mais bela! Toda a família está reunida aqui! — Joaquim ergueu os braços em uma ação exagerada e debochada. — O Reino de Eldoria... A casa da deusa Águia Hawlking! Que piada de mau gosto! Mas devo admitir! Vocês poderiam ter se tornado uma pedra no meu calçado com o tempo...

— Seu filho de uma puta!!! Você já planejava nos trair! O QUE FIZERAM COM MEU IRMÃO?! — Gritei de raiva deixando a benção de Hawlking começar a queimar meus agressores que se afastaram.

— Opa, opa! Você é um garoto muito desobediente! É melhor se comportar porque... — Ele olhou para cima, e então um enorme dragão infernal pousou em cima das muralhas do meu Reino. — Você não vai gostar do estrago que ele pode fazer por aqui.

Os olhos daquele dragão estavam novamente apresentando sinais daquela magia de controle estranha. Mil perguntas na minha cabeça estavam surgindo, e a principal delas, era sobre quem estava controlando aqueles monstros com tantos poderes mágicos.

— Estou aqui meu lorde. Por que me chamou? — Meu Tio Edward finalmente deu as caras.

— Ah senhor Edward! Finalmente você chegou, queria saber se você vai querer alguns desses seus familiares? — Joaquim guardou sua espada na bainha se aproximando de meu pai novamente.

— Edward! Por quê...? — Minha mãe incrédula, olhou para seu irmão não acreditando em sua traição. Seus olhos se cruzaram por alguns instantes e então ele nos deu as costas, seguindo em direção ao seu cavalo.

— Faça o que quiser com eles. — Anunciou ele ao Rei Algardiano.

— Oh! Nesse caso então... — Ele estalou os dedos apresentando um sorriso sádico no rosto. Colocaram o pescoço de meu pai sob uma tora de madeira que havia sido retirada de uma casa destruída. — Cortem-lhe a cabeça.

— NÃO!!!! — Minha mãe gritou assim que aquelas palavras passaram pelos seus ouvidos. — NÃO!!! MAXIMILIAN!!!

Max entrou em um estado de choque, não conseguia pensar em qualquer ação, eu não poderia fazer nada mesmo que tentasse, eu já havia gastado minha última gota de energia para agir, e estava imobilizado. E em um estalar de dedos, Joaquim olhou para o dragão que saiu voando, queimando tudo o que havia sobrado em Eldoria.

— Pai!!! Não... — Olhei atentamente deixando minhas lágrimas escorrerem pelo meu rosto sem qualquer chance de poder fazer algo para salvá-lo. — Pai!!! Isso não pode ser verdade!!! PAI VOCÊ NÃO PODE DEIXAR ISSO ACONTECER!!! VOCÊ É O REI DE ELDORIA!!!

Seus olhos derrotados olharam para minha mãe que tentava de todas as formas correr até ele, mas era impedida pelos soldados inimigos.

— Garotos. Vocês vão sair dessa... Vocês enfrentarão daqui em diante um desafio onde terão que sozinhos lutar!!! — O carrasco logo se aproximou de meu pai segurando um enorme Alabarda. — VOCÊS SERÃO OS HERÓIS QUE THÂMITRIS PRECISAR!!! E NÃO DEIXARÃO QUE ESSE MALDITO FAÇA O QUE QUISER FAZER EM NOSSO CONTINENTE!!! EU AMO VOCÊS!!! EU AMO MUITO VOCÊS!!! E tenho orgulho de ter sido pai de vocês. Me desculpem por não ter sido forte o suficiente...

E antes mesmo que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, o machado da Alabarda desceu com toda a velocidade, acertando seu pescoço, que rolou enquanto jorrava sangue até os pés daquele maldito rei orgulhoso. Ele pegou a cabeça do meu pai pelos cabelos, e então jogou a um de seus soldados pedindo para que a empalasse em uma lança.

Minha mãe caiu de joelhos no chão sem qualquer mais vontade de reagir, Elize estava chorando ainda em choque pelo que havia acabado de acontecer, bem como meu irmão que aparentava estar da mesma forma. Por mais que as lágrimas não parassem de cair, eu ainda tinha conseguido escutar plenamente o que meu pai havia me dito, e eu não poderia deixar que tudo aquilo acontecesse de tal forma.

Com toda a minha fúria, dei uma cabeçada no soldado que me imobilizava, puxando sua espada da bainha, e usando- a para atravessar por sua barriga e o subjugar ali mesmo. O segundo soldado soltou meu irmão, e logo tentou desferir um golpe com sua adaga que havia retirado da sua cintura, mas sem a menor piedade, quebrei seu braço, pegando a adaga e a cravando entre seus olhos. Olhei para Joaquim com toda minha fúria apontando minha espada para sua direção.

— Você matou meu pai. Atentou contra meu povo. Destruiu o meu Reino. — Caminhando em sua direção, percebi o medo crescendo em seus olhos. — Eu vou arrancar cada parte do seu corpo uma a uma... E vou adorar fazer isso.

Mas enquanto caminhava em direção em sua direção um enorme jato de fogo queimou o caminho por onde passaria, e assim que olhei para cima, o dragão estava sobrevoando a área para a proteção de seu mestre.

— Príncipe Magnus!!! — A sua imagem estava ondulando em meio ao calor intenso — Desejo-lhe boa sorte para tentar me matar! Enquanto isso vou levar essa garota loira e sua mãe comigo!!!

— SEU MALDITO!!! — Infelizmente eu não podia fazer mais nada naquelas condições, e meu impulso foi parado por Max que me segurou.

— Irmão se formos agora iremos morrer. Vamos fugir primeiro... — Se apoiando em mim Max pensou no caminho mais possível e lógico. — Vamos salvar a mamãe e a Elize. Mas precisamos estar bem para isso!

Ele tossiu com o ar pesado provocado pelo fogo que queimava o oxigênio. Rapidamente apoiei Max em meu ombro e logo começamos a sair daquele lugar.

—Você tem razão. Vamos sair daqui! — Gritei levando meu irmão comigo.

Fomos em direção ao palácio, já que as outras saídas poderiam estar repletas de inimigos ainda, e para piorar, aquele dragão ainda estava sobrevoando o Reino, queimando tudo o que ainda restava. Se ele nos visse, seria o fim, e por isso continuamos nosso caminho sem perder tempo, ou olhar para trás.

Estávamos quase chegando, quando tivemos que nos esconder, pois o maldito lagarto alado havia pousado próximo a nós, ele rondou a área, e então nós o contornamos para evitar que o mesmo pudesse nos achar.

Assim que entramos no palácio, nos apressamos para chegar até a saída principal do lado de trás, mas como qualquer outra construção de Eldoria, nossa casa já estava desabando, e sendo destruída pelas chamas. Assim decidimos usar as passagens secretas abaixo do salão principal do palácio para seguirmos a uma saída auxiliar que nos levaria para fora da muralha. O calor era insuportável e mesmo assim, estávamos nos esforçando para fugir o quanto antes.

– Aguenta Max! Falta só mais um pouquinho! – Levando Max apoiado em mim, tudo ficava mais difícil que o normal – É logo ali na frente!

 Quando finalmente iríamos sair, destroços em chamas caíram em nossa direção. Nesse instante para me proteger Max me empurrou, ficando do outro lado da saída e dos escombros.

— MAX!!! PELOS DEUSES!!! — Gritei a ele em desespero

— Siga Magnus. Eu vou ficar bem!! Vou por outra saída! — Ele tossiu algumas vezes enquanto falava.

— Você tá maluco! Você não está bem! Não tem como eu simplesmente te deixar aqui. — A quantidade de escombros era absurdamente grande, sem falar nas chamas que não me deixavam chegar perto.

— Magnus! — Fiquei quieto por alguns segundos. — Apenas confie em mim irmão. Agora vá!

— AH MERDA!!! Eu vou confiar em você! Mas é melhor que fique vivo! — Gritei com raiva e desespero — OU EU NÃO VOU TE PERDOAR!

— Certo. Eu te encontro mais tarde! AGORA VÁ! — Ouvi Max começar a andar por outro caminho, e assim segui o meu com o coração extremamente apertado.

Em minha fuga consegui chegar na floresta que dava para parte de trás das muralhas do Reino de Eldoria. E assim que me virei e olhei para trás, o palácio inteiro desabou em chamas, deixando para trás apenas o enorme rugido do dragão que abriu suas asas. Cai de joelhos com toda a exaustão que tomou conta do meu corpo, e ali fiquei na esperança de ver meu irmão mais uma vez.

 

[...]

 

 

Três dias haviam se passado depois dos acontecimentos, e meu irmão não foi visto em lugar algum em que eu o procurei naquela região. Tudo o que me restou então foi ir embora, deixando meu Reino, meu lar, minha família e minha honra para trás.



NOTA DE AGRADECIMENTO AOS FÃS:

Eu confesso, pensei nisso por dias e dias, e ainda sim... Parece que nada realmente foi construído de forma concreta na minha cabeça, para que eu pudesse colocar em palavras tudo o que tenho para dizer. Sendo mais sincero ainda, posso dizer com convicção e clareza que ainda não caiu 100% da minha ficha, quanto a crescente que o projeto "O Último Eldoriano" vem ganhando a cada dia em seus números.

Pra mim é um pouco assustador, nunca fui um autor muito conhecido por suas obras, e também nunca consegui muita notoriedade por alguns anos, tentando e tentando por diversas vezes. Tudo o que vem acontecendo nesses últimos meses com certeza tem haver com meu esforço próprio, pela garra, pela não desistência e pela minha determinação acima de tudo. Minha vontade final de honrar o legado e a promessa que me foi deixado.

Todos os dias eu aprendo algo novo, algo importante, algo útil, algo engraçado... Até mesmo coisas erradas. Mas nada em vão em seu respectivo momento e realidade, e a mesma coisa se aplica essa obra... Já que nela, estão escritos meus bons anos aprendendo e errando todos os dias. Entendendo de fato, o tipo de escritor que eu havia me tornado. Porém, nada disso realmente seria possível sem aqueles que me rodeiam, aqueles que estão por trás de todo o processo de produção artística e claramente... Vocês.

Vocês que estão aqui todo domingo ansiosos por mais um capítulo, vocês que estão aí admirando as artes feitas com tanto carinho por pessoas que se dedicaram a acreditar em mim, você que se esforça a imaginar e a ler com os mínimos detalhes cada momento descrito por mim nas linhas... Você, sim você mesmo. Você que está lendo isso e não desistiu de mim nem por um único momento.

Eu estou atingindo meu objetivo, mas tudo é graças a vocês, a todos vocês. Eu não quero usar capa pra salvar pessoas, eu não quero colocar um símbolo no peito para inspirar os outros, e eu por muito menos... Quero fazer justiça com as próprias mãos para obter o que é certo. Mas se por algum mili-segundo, causa ou consequência, minha obra te ajudou em algum momento... Por favor deixe-me dizer.

Obrigado por você ser uma pessoa incrível, me dando essa chance e por estar tão apaixonado pelos personagens que criei com tanto carinho. Obrigado, por ser um leitor ávido, por sempre estar aqui me dando forças de forma indireta, aumentando cada vez mais minha confiança de que realmente estou no caminho certo. Obrigado por se deixar imaginar comigo, e viver em um mundo fora do nosso, onde podemos ser aquilo que realmente almejamos...

E claro, MUITO OBRIGADO por ser um dos "Últimos Eldorianos", nessa jornada comigo. Espero te ver cada vez mais presente nessa caminhada.

Muito obrigado.

Ass: Gustavo Mendonça Pickarski



Ilustração feita por: @_Korimako_



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