Volume 1
Capítulo 2: A Garota da Lâmina Gélida
[Reino de Eldoria, 18 de Março de 803 da Era Mágica]
Trajado com minha modesta roupa real, que era composta por um par de botas negras ornamentadas, calças da mesma cor, um cinto prateado com fivela em formato de águia, que segurava minha espada na lateral da minha cintura. Uma camisa branca e um colete preto com detalhes ornamentados em dourado por toda extensão do tecido. Estava diante da Sede de Treinamento da Cavalaria Real de Eldoria, aos 12 anos idade.
Era chegada a hora de mostrar a todos o motivo pelo qual eu vim a esse mundo. Respirando fundo, coloquei a mão sobre o pomo de minha espada longa, e dei o primeiro passo rumo ao destino que me aguardava. Ao entrar pela porta dupla, que se abriu para dentro daquele alojamento, observei que todos estavam conversando e interagindo entre si.
Vi alguns homens treinando e outros recebendo ordens de seus respectivos mestres, mas o que me chamou a atenção de fato foi ver que Max, Miyuki, Fenrir, General Stanford D’Oriana e meus pais estavam presentes mais ao fundo. Por um momento, todos pararam seus afazeres naquele local, os ruídos de metal se chocando cessaram, não havia uma alma naquele lugar pronunciando qualquer palavra, e todos os olhares se voltaram em minha direção, exatamente no momento em que as portas atrás de mim se fecharam.
Confesso ter ficado um tanto desconfortável com tantos olhares voltados a mim, mas não era como se não soubesse que isso poderia acontecer, afinal, de acordo com meu pai, eu estaria enfrentando o melhor de todos os cavaleiros ascendentes do reino, e por esse mesmo motivo, eu não poderia simplesmente me deixar levar pela intimidação ou vergonha.
Passo a passo, o som das minhas botas entoava em um eco profundo, enquanto os olhares me seguiam por onde andava naquele lugar. Conseguia ouvir cochichos, e até algumas palavras se referindo a mim. Estavam claramente duvidando do meu potencial, mas não deveria e nem poderia deixar que isso me abalasse.
— Bom dia príncipe Magnus, está pronto para seu teste? — O General Stanford se curvou a mim em uma reverência.
— Bom dia General, eu estou pronto. — Dei reverência a ele em uma troca mútua de respeito, e então levantei meu rosto com confiança, olhando firmemente em seus olhos. — Eu sempre estive. Confio em minha espada.
— General, eu treinei e cuidei desse garoto pessoalmente durante todo seu crescimento. Eu o vi chorar, gritar de dor, sentir-se incapaz, e até mesmo ficar com raiva de si mesmo. — Meu pai olhou para mim enquanto falava, mostrando que havia prestado atenção em toda a minha jornada até ali. — Mas uma coisa é certa, eu nunca o vi desistir de nada, sempre se mostrou forte e corajoso pra enfrentar seus problemas. Tenho confiança em meu filho!
— Muito bem, devo acreditar em suas palavras Lorde Maximilian, mas não pense que será fácil, pois... — Stanford abriu as portas que davam para o campo de treinamento aberto, onde uma jovem que aparentava ter a mesma idade que a minha, treinava ferozmente com sua Rapiera. — Também devo acreditar no potencial de minha filha! Venha cá Elize!
O grande General Stanford, era famoso por acompanhar meu pai em todos os seus afazeres e conflitos armados. Um estrategista nato de 1,90m de altura, cabelos castanhos claros muito bem aparados, um físico incrivelmente forte, e, logicamente o melhor amigo do meu pai. Eu sabia que ele tinha uma filha chamada Elize D’Oriana, famosa por ser o orgulho de sua família, só não tinha conhecimento de que ela havia seguido os caminhos de seu pai. Agora sabendo disso, tenho plena certeza do porquê ela é a melhor de todos na Academia de Espadas de Eldoria.
Aqueles olhos azuis intensos estavam cheios de orgulho e prepotência, e toda vez que ela brandia aquela Rapiera seus longos cabelos loiros balançavam conforme sua dança da morte estonteante. Ela aproximou-se de nós caminhando lentamente enquanto guardava sua espada na bainha presa a sua cintura.
Observando-a com mais atenção, percebi que claramente era uma linda garota que ficará ainda mais bonita com seu amadurecimento. Estava trajada com um par de botas de couro marrom, reforçadas com placas de metal, que subiam até um pouco acima de seus joelhos, combinando com sua calça da mesma cor. Uma camisa branca leve estava por dentro de sua calça e um cinto contornava sua cintura. Acoplado a ele estava a bainha da sua Rapiera. Em suas mãos havia manoplas feitas especificamente para ela, e para finalizar, cruzando seu busto havia um cinto vertical, que ajudava a segurar a ombreira metálica que protegia seu ombro esquerdo. Devia ter aproximadamente 1,42m de altura, o que não era nada baixo se comparado aos meus 1,38m.
— Meu lorde, minha rainha! Deixe-me apresentar a vocês minha filha. — Stanford pegou no ombro de Elize que brevemente fez uma reverência aos meus pais. — Esta é Elize D’Oriana, o novo orgulho para o exército Eldoriano!
— Uma jovem muito bonita, devo dizer, e, além disso, proficiente com uma lâmina tão delicada. Estou impressionada senhorita Elize. — Minha mãe a elogiou de forma carinhosa. Mas incrivelmente, as expressões daquela garota não pareciam mudar facilmente, ela se mantinha focada até mesmo em momentos como aquele.
— Eu agradeço minha rainha. — Brevemente Elize falou alguma coisa depois de tanto silêncio. Mas então seu olhar se cravou ao meu, nesse momento eu já percebi qual era sua intenção, pois a jovem guerreira estava apta a matar, e esse desejo pairava sobre o clima daquele lugar. Não me deixei intimidar, pelo contrário, eu já imaginava que ela não pegaria leve comigo por ser o príncipe, pois isso para mim era um alívio.
— Minha filha venceu todos os grandes veteranos dessa academia, e até então é a maior prodígio da nossa nação. — O General Stanford voltou sua atenção para mim enquanto falava. —Acha que consegue vencê-la Magnus?
— É o que pretendo fazer senhor. — Coloquei minha mão sobre o pomo da minha espada que estava bem presa a minha cintura. — Não sou do tipo que se acovarda perante a um adversário, seja ele quem for.
Mais uma vez, o meu olhar e o de Elize se cruzaram, e claramente ali já estava cravado o início de uma rivalidade incrivelmente intensa. Eu podia perceber a prepotência que aqueles olhos exalavam, ela estava muito confiante em seu poder pessoal, e era exatamente esse ponto que eu atacaria. Até porque não tem nada mais humilhante do que atacar o ego de um guerreiro orgulhoso.
— Jovem Mestre, acha que vai ficar tudo bem? Eu já a vi lutar. E de fato ela é muito boa no que foi treinada para fazer. — Miyuki se aproximou de mim gentilmente falando comigo de forma doce.
— Só saberei se lutar contra ela. Mas se algo de ruim acontecer, acredito que posso contar com você para cuidar de mim. — Olhando para Miyuki, logo vi que suas bochechas haviam corado levemente. — Certo?
— A-ah... C-certo! — Ela assentiu com a cabeça, e então rapidamente voltou para o lugar de onde havia saído.
— Irmão! — Max se aproximou de mim, segurando Fenrir em seu colo. — Acaba com ela! Sei que você consegue!
— Preciso derrotar todos para conseguir proteger você não é mesmo? Não vou te decepcionar. — Coloquei a mão sobre seus cabelos, lhe entregando uma piscadela de olho. Ele sorriu em resposta e logo foi se juntar a Miyuki.
— Muito bem! Vamos começar o combate! — O General Stanford Anunciou em alto e bom som, sendo possível ouvir todos ali presentes gritarem e urrarem em animação.
[...]
Quando se está frente a frente com seu oponente, tudo é bem diferente de quando se treina com bonecos de palha ou madeira. A tensão é claramente maior e mais pesada, o ar fica mais denso, a ansiedade pode tomar conta de seu corpo e do seu raciocínio se não souber controlar seus sentimentos.
Confesso que tive uma surpresa e tanto ao ter que lutar contra uma jovem tão bonita quanto Elize, afinal, eu esperava um brutamonte ou até mesmo um homem habilidoso com sua espada. Mas não importa que seja uma garota, essa é a minha chance de mostrar do que sou capaz, e não vai ser aqui nesse lugar, que vou perder para quem quer que seja.
Todos estavam assistindo e rodeando aquele campo de batalha aberto, o general Stanford estava entre mim e Elize, e o mesmo seria quem arbitraria aquele combate, até porque usaríamos lâminas reais.
Um pouco antes da luta começar, me ofereceram um tipo de armadura leve como a de Elize, mas recusei, pois poderia inibir um pouco de meus movimentos, o que seria fatal para mim contra uma usuária de Rapiera.
— Magnus Wingsfield! Príncipe primogênito do Reino de Eldoria! — Stanford olhou para mim esticando seu braço em minha direção. — Está pronto?
— Sim! Eu estou pronto general! — Mantive minha postura, mantendo minha mão sobre o pomo da minha espada.
— Muito bem... Elize D’Oriana! Filha do General e o orgulho dos cavaleiros de Eldoria! — Da mesma forma que agiu comigo, Stanford voltou-se a sua filha, esticando seu outro braço em sua direção. — Está pronta?
— Sim meu pai! Farei com que esse amador volte para o castelo chorando, assim como fiz com todos os outros dessa academia de espadas! — Um sorriso maldoso se fez no rosto daquela garota, que não só me deixou atônito, como também a seu pai, que pareceu não reconhecer sua filha por alguns instantes.
— M-muito bem... Se preparem! — Stanford gritou, e nesse exato momento, Elize sacou de sua bainha a bela Rapiera que estava em sua cintura, colocando-se em uma posição de combate ofensiva.
— Vocês estão liberados para usarem tudo o que for a favor de vocês, mas não podem se ferir de maneira crítica e nem ceifar a vida um ao outro! – Nossos olhares se cruzaram intensamente mais uma vez, enquanto o General Stanford falava as regras.
Ouvi vários cochichos e comentários a meu respeito, proferidos pelos guerreiros que nos rodeavam. Mas o que eles não sabiam, é que eu sempre tenho um plano de contingência inicial para qualquer tipo de espada que seja. Passei minha vida toda estudando as espadas, lâminas e quaisquer tipos de armas da nossa atualidade, e posso dizer com clareza quais são seus pontos fracos e tipos de esgrimas necessárias para se usar tal armamento com fundamento e clareza.
Rapieras são armas simplórias e eficazes, não me admira que Elize tenha conseguido alcançar um nível elevado de destreza de forma rápida. Não digo que são fáceis de serem manuseadas, porque ainda assim, o usuário de uma Rapiera precisará de anos para usá-la com maestria, mas de fato em comparação com outras espadas, a Rapiera é uma arma mais leve e veloz, feita com o propósito de finalizar o inimigo com estocadas rápidas e fatais.
Elize é uma guerreira ágil, que vai focar em me derrotar no primeiro golpe preciso que tiver a oportunidade de usar, mas para seu azar, ela subestimou a pessoa errada.
— Comecem a luta! — Stanford Anunciou com clareza o início da batalha, e sem pensar duas vezes, Elize correu em minha direção com sua Rapiera apontando-a para mim. Em um salto habilidoso, ficou frente a frente comigo, pronta para desferir seu golpe certeiro na altura do meu pescoço. O tempo pareceu parar ou ficar mais lento naquele exato momento, e tudo o que pude ouvir, foi apenas o desengatar da minha espada da bainha, que avançou com maestria em direção a lâmina da espada da minha inimiga, aparando seu ataque que com certeza lhe daria a vitória. Só que o que ninguém esperava, era que eu iria aparar aquele golpe usando o pomo de minha espada durante minha esquiva lateral.
Vi o olhar de surpresa daquela garota, ao perceber que falhou em desferir seu golpe. Em um movimento rápido avancei rapidamente contra seu corpo, usando meu ombro para empurrá-la para fora do meu campo de combate, fazendo com que caísse longe mim.
Os cochichos, conversas e qualquer tipo de ruído emitido por todos naquele local se cessaram mais uma vez, instaurando-se apenas um silêncio mortal naquele ambiente. Elize tornou a se levantar rapidamente, olhando para mim com certa confusão, tentando entender o que havia acontecido. E foi naquele momento que suspirei profundamente, deixando escapar um pequeno sorriso, ao tomar uma postura de combate girando minha espada.
Todos de repente começaram a gritar com animação, pois havia uma chance de ter alguém capaz de parar aquela que tinha derrotado todos naquele lugar. Aflorou neles um sentimento que de fato aquela seria uma ótima luta para se assistir e acompanhar. Vi Max e Miyuki pularem de alegria e comemorarem, enquanto meus pais e até mesmo o senhor Stanford ficaram incrédulos com o que haviam presenciado.
— Como você... Como você parou meu ataque?! — Berrou Elize incrédula com o que havia acontecido. — Eu vou acabar com você!!!
Elize mais uma vez tomou sua posição de combate e avançou contra mim com ferocidade, devo dizer que sua habilidade era de fato algo incrível, mas seu controle emocional estava péssimo, e isso deixava seus movimentos claramente específicos e previsíveis. Desviando e aparando seus ataques com minha espada, estava bem claro que ela não iria cessar seus combos de estocada por segundo. Então decidi que era hora de fazer algo a respeito.
Pensando de forma rápida, aparei mais um de seus ataques e avancei contra ela durante uma de suas estocadas. Puxei minha espada com toda a força de baixo para cima, fazendo com que seus ataques fossem aparados com maestria, ao ponto de sua guarda ficar completamente aberta.
Seu equilíbrio havia sido comprometido, e sua mão que segurava a espada estava acima de sua cabeça por conta do empurrão após seu golpe ser completamente ofuscado por minha espada. Não havia mais nada que ela pudesse fazer naquele momento, e por mais uma vez eu a empurrei com meu ombro para longe. Eu não queria que aquela luta acabasse ali, eu queria mostrar todo o meu potencial e levar aquele ego inflado de presente para casa. Não posso negar o quão satisfatório estava sendo ao ver o rosto de incredulidade daquela garota.
— Impossível!!! Como você consegue aparar meus golpes?! — Ela gritou se levantando mais uma vez. — Isso não faz nenhum sentido!!
— A verdade é que você não passa de uma garota mimada e orgulhosa! Não se preparou para a realidade! Preparou-se apenas para aquilo que achava conhecer! — Girando minha espada, mais uma vez me coloquei em posição de combate. — Eu vou dar um fim na sua arrogância, hoje e agora! Você não sabe o quanto eu desprezo garotas com esse tipo de atitude.
— Um principezinho de “meia tigela” como você? Acha mesmo que vou me importar com o que diz? Fracassado Real de Eldoria! — A fúria dela estava tão intensa, que finalmente decidiu mostrar seu poder mágico oculto. — Vou mostrar a você o que é um verdadeiro poder! Eu nasci com essa dádiva! E por isso ninguém! Poderá me vencer!
— É o que veremos... — Falando baixinho, comecei a prestar atenção de forma mais detalhada em minha oponente.
O ar rapidamente se tornou gelado, os olhos daquela garota brilhavam emanando um poder mágico surreal. Onde ela pisava surgia uma pequena camada de gelo, e assim como eu imaginava, ela havia imbuído em sua espada o seu poder magico de afinidade glacial.
Ao pressentir o perigo iminente, de forma rápida me joguei para o lado em um rolamento, no exato momento em que uma estaca de gelo cresceu onde eu estava. Eu precisaria atacar pra tentar tirá-la daquele estado de magia ativa, então decidi correr em direção a ela desviando de seus ataques, mas essa decisão foi em vão.
— Acha mesmo que deixarei você chegar perto de mim!? — Fazendo um movimento de corte lateral com sua espada, uma barreira de gelo cresceu entre mim e ela, sem deixar qualquer brecha para atacá-la. Logo em seguida a parede se movimentou com brutalidade para frente, me fazendo voar a uma distância considerável com o impacto.
Levantei-me com dificuldade, de fato aquela não seria uma luta fácil de vencer devido ao intenso poder mágico emanado por aquela garota. Seu olhar prepotente e orgulhoso continuava em seu rosto, e não parecia querer mudar. Mas eu não desistiria tão facilmente, mesmo sem habilidades mágicas, mesmo sem qualquer esperança de poder ganhar aquela batalha devido a força que ela naturalmente tinha. Eu sabia de uma coisa, e isso era uma certeza que ninguém mais poderia me tirar. Pois eu já havia me machucado bastante, por coisas muito piores do que apenas o gelo mágico de alguém, e não vai ser agora que vou perder dessa forma.
Por mais uma vez tomei uma postura de combate, limpando o sangue que escorreu da minha boca machucada.
— Porque insiste tanto em algo que sabe que não há como vencer?! Desista!! Você já está derrotado!! — Urrava ela, pois não acreditava na força que minhas atitudes transmitiam a todos ali. — Você não tem nada ao seu favor!!!
— Eu nunca tive! Eu nunca fui o príncipe que todos queriam que fosse... — Cerrei meus olhos encarando-a com toda a força e certeza que tinha, de que eu podia ser muito melhor do que fui até agora. — Nunca consegui fazer meus pais se orgulharem daquilo que eu sou! E não nasci um prodígio como meu irmão mais novo! Mas independentemente do que me digam, falem ou me humilhem! Eu nunca vou esquecer do quanto lutei para estar aqui, e não vai ser agora que vou perder pra alguém com ataques tão fracos e sem alma como você! Não sei como pode intitular-se cavaleira. Não há nem um pingo de honra no que você faz.
— Vou te colocar em seu devido lugar. — Ela levantou sua Rapiera, que começou a brilhar intensamente. — Fracassado! Eu sinceramente não ligo pra qualquer coisa que saia dessa sua boca! Eu sou melhor do que todos aqui!
— Vai conhecer sua derrota pelas mãos de um fracassado então. — Cerrei meus dentes para ela confiantemente, e assim que senti minhas pernas estavam firmes no solo, avancei velozmente contra minha oponente.
— Mas que besteira! — Ela gritou tentando criar várias estacas de gelo pelo caminho a fim de me fazer vacilar.
Continuando a correr em direção a ela e desviando de seus obstáculos, uma parede de gelo se formou diante de mim para me parar, mas infelizmente para ela, o obstáculo havia crescido muito lentamente em comparação a velocidade que estava correndo, o que me deu a oportunidade de saltar sobre ele, usando minha mão de apoio em sua base.
Assim que cheguei próximo a ela, senti meus pulmões começarem a esfriar por conta do gelo intenso que emanava de seu corpo, mas ainda havia um resto de fôlego suficiente para saltar em sua direção. Então em um grito fervoroso a fim de aquecer ao menos o meu coração naquela última tentativa, avancei contra ela que tentou se esquivar para trás, mas minha espada atingiu a sua lâmina, que acabou voando de sua mão, cravando-se ao chão a alguma distância de nós.
Depois de tanto esforço eu já estava muito fraco para desferir o ataque final, e aproveitando de minha fraqueza momentânea, Elize criou uma enorme barreira de gelo, que me lançou para longe dela mais uma vez. Sua fúria havia ascendido, e assim que minha consciência voltou brevemente, eu já estava preso em uma gaiola de gelo feita por várias estacas entrelaçadas.
— Devo admitir. Você é mesmo duro de derrotar... — Ela disse enquanto caminhava em direção a sua espada. – Mas, como eu havia dito, você não tem nada a seu favor. É só mais um qualquer. Não tem nada de especial em você. Mas vou te dar o mérito da coragem, afinal foi o único que conseguiu aparar meus golpes e até mesmo me desarmar. Se tivesse poderes mágicos como eu, talvez você realmente tivesse uma chance.
Meu corpo doía, meus músculos pareciam extremamente cansados, minha respiração estava ofegante, mas meu coração continuava quente como uma chama ardente, que não queria aceitar a derrota de tal maneira.
Mesmo que minha visão estivesse turva, eu ainda conseguia ver um pequeno brilho que tentava me guiar para cima, quase como se fossem asas que me diziam, “Levante, isso ainda não acabou” ou então “Voe, mostre a todos que você não foi derrotado”
Senti um calor tomar conta do meu corpo, deitado sobre o chão parecendo estar derrotado. O gelo que ali me prendia começou a derreter, e mais uma vez a feição de todos havia mudado. Pareciam ter ficado chocados com algo, e nesse exato momento senti toda aquela fadiga sumir do meu corpo, era como se meu desejo de não perder aquela batalha estivesse tomando conta de todo o meu ser.
Ao abrir meus olhos mais uma vez, pude ver uma águia dourada voar sobre mim, gritando e se dissipando em seguida, e assim, toda minha força havia voltado para meu corpo ainda maior. Levantei-me em volto a uma aura negra, quase como se fossem chamas, mas que entoava juntamente a um dourado profundo, enquanto que todo aquele gelo que havia em volta de mim agora já estava derretido.
Minha benção finalmente havia se revelado diante de todos, e sentindo todo aquele poder divino tomar conta do meu ser, fechei meu punho, entrando em uma posição de combate após girar minha espada que brilhava em um dourado intenso, até que finalmente um enorme par de asas dourada explodiu em minhas costas.
Mentalmente eu só conseguia pensar em uma única coisa, mas decidi que deveria gritar em alto e bom som para que todos escutassem.
— “Ó grandiosa e majestosa Águia, que voa livremente sobre os céus!” — Iniciei a oração à Águia Hawlking, e a cada palavra que proferia, sentia meu poder mais presente. — “Nos traga força e a coragem necessária para que não deixemos de trazer a nossa realidade aquilo que almejamos!”
— O que? Você.... — Sem entender nada do que estava acontecendo Elize tentou por mais uma vez me atacar, mas seu gelo sempre derretia antes mesmo de me alcançar. — NÃO!!!! PARE COM ISSO!!! VOCÊ NÃO DEVERIA TER NENHUM PODER MÁGICO!
— “Dessa forma, e ao teu lado, voarei junto a ti, para que a Glória de nosso amado Reino se torne tão majestoso quanto tuas penas que há de cair sobre nós!” — Me preparei para avançar contra ela carregando todo o poder contido em mim, fazendo uma ventania crescer diante daquela multidão, até que meu par de asas douradas se abriu em minhas costas. — “Com confiança não iremos desanimar, pois tua eterna proteção trará a nós a luz que há de guiar nossos passos!”
— EU NÃO VOU DEIXAR!!! — Em um grito furioso Elize começou a correr com sua Rapiera em minha direção.
— “Erguendo teu estandarte dourado e glorioso que sempre estará bordado com sua silhueta, eu irei de gritar!!! — Meus olhos se tornaram intensamente dourados e brilhantes, e assim que Elize aproximou mim, minha espada subiu aparando seu golpe com toda a força que agora havia se criado em meu corpo, quebrando a sua Rapiera em duas partes. — “Com seu escudo poderoso, eterno e dourado, estou preparado para qualquer guerra e conflito que se emergir! Porém, sempre pronto para a paz que irá reinar!”
Com uma velocidade surreal, minhas asas me impulsionaram para frente, pegando Elize pelo pescoço, jogando-a no chão enquanto a arrastava por todo aquele campo de batalha. Soltei-a quando já estava imóvel naquele gramado, abri minhas asas voando diante dela erguendo minha espada que brilhava como uma estrela em meio aquele dia ensolarado.
— “Que a Glória sobrevoe junto a Halwking, que nos abençoa... — Olhei profundamente em seus olhos que agora já não estavam mais cheios de arrogância, mas sim de medo. — “Pelo Reino de Eldoria!!!”
— Eu desisto!!! — Gritou ela no momento em que iria dar o golpe final. — Eu desisto!!! Por favor!!! Eu aceito a derrota!!!
Rapidamente Stanford se colocou entre mim e sua filha, com a palma da sua mão estendida a mim enquanto seu outro braço protegia Elize. Percebi que estava causando medo em todos ali presentes, e assim, decidi baixar minha espada. Pousei diante de todos, deixando todo aquele poder se esvair do meu corpo. Stanford assentiu com sua cabeça para mim em agradecimento, e então se preparou para dar o anúncio.
— O Príncipe Magnus Wingsfield é o vencedor dessa batalha!! — Gritou ele com todo o seu pulmão, que ainda estava cheio de medo do que poderia acontecer naquele lugar. — Finalmente você mostrou quem você é garoto... Você é as Sombras de Halwking…