Volume 1
Capítulo 12: Garyou Tensei
"Espada e Feitiçaria", como sugere o nome, nada mais é do que a junção das artes da esgrima e da feitiçaria. Visa-se, desse modo, maximizar a capacidade de combate do nobre e torná-lo um guerreiro completo.
Os Fundamentos da "Espada e Feitiçaria", Jean-Pierre D’Aureville.
Se um dia enfrentar um mago, atente-se; a parceria entre a lâmina e a magia é uma das mais letais, de tal forma que o inimigo está, ao mesmo tempo, preparado para ataques de longa e de curta distância. Se tiver opções, fuja; caso contrário, prepare-se para a morte e tente a sorte.
A Arte de Matar ou Morrer, Henrietta Atwater.
Após a perda de contato com Pantera Negra, Ágnes ordenou uma investigação no local. Apesar das objeções de suas subordinadas, ela impôs sua autoridade e as fez obedecerem como cães adestrados.
Pelejavam na subida da escadaria da torre. Para poupar energia, Rozalia, agora em seu uniforme escolar, desfizera a «Teia Sensorial» e retornou a sua aparência original.
— Pelos espíritos, isso não tem fim? Está estragando minha beleza...
— Não... posso... fazer... nada, Rozalia...! — Ágnes respondeu quase morrendo sem fôlego.
Ágnes estava apoiada nos braços de Adélaide, que também não estava em boas condições. As duas eram sedentárias; Adélaide não tinha interesse em atividade física e Ágnes era preguiçosa demais para aquilo. Apenas Rozalia se preocupava em se manter fisicamente ativa.
Tim tim! Tim tim!
— Huh?!
Ao chegarem ao topo, tiveram um sobressalto. Na Academia Mágica, portar armas era proibido, exceto durante as aulas de "Espada e Feitiçaria". Esta era uma regra fundamental e contrariá-la poderia acarretar uma expulsão. Porém, bem diante delas, Henry brandia um sabre de empunhadura encarnada...
Havia cortes espalhados pelo seu corpo inteiro e o sangue manchava sua roupa negra. Se não fosse pela «Armadura de Ájax», Henry já estaria incapacitado. Ao seu lado, Leonard também estava acabado. Diferentemente de Henry, possuía um único ferimento na coxa. Ainda assim, sua aparência sugeria que ele passara por maus bocados.
A combinação das magias de Leonard, como «Pulso d’Água» e «Catapulta», com a esgrima de Henry criou boas oportunidades, mas nada mudou. Mesmo unidos, não eram páreos para Kenshi.
Antes que as garotas pudessem falar, Kenshi se adiantou e disse:
— Mocinhas, repetirei meu aviso mais uma vez: se não quiserem morrer, não se intrometam no que não foram chamadas!
— O que vocês estão fazendo aqui? — Henry indagou e olhou para elas de soslaio. — Este lugar é perigoso!
— Vocês não deveriam ter vindo! — Leonard complementou.
A situação era séria. Os dois estavam em um estado crítico, com Leonard e Henry à beira da exaustão.
— É assim que vocês nos recebem?! — Ágnes retrucou com seu jeito grosseiro. — Henry, não se esqueça de que ainda serve a mim! Você não pode morrer! Você também, Leonard Draculescu! Acha que Rozalia gostaria de perdê-lo?!
Durante alguns segundos, ninguém ousou dizer nada. Aquela comoção os fez ficarem sem palavras. Porém, o silêncio sepulcral foi rompido por Kenshi:
— Quem imaginaria que alguém como você, Henry Atwater, seria submisso a uma garotinha...
Submissa é a puta que o pariu! Henry se irritou com aquele comentário, mas não relaxou a guarda e continuou apontando a espada para Kenshi.
— Como um sinal de respeito, após suas mortes, prometo que não machucarei suas garotas.
Ao notar que Kenshi baixara a guarda durante a conversa, uma exclamação brilhou sobre a cabeça de Henry. Alea iacta est!
— Derrube-o, Leonard!
— Ngh!
Aquele movimento não havia sido combinado, mas Leonard tinha uma vaga ideia do que deveria fazer e não teve medo de errar. Parecia que seu corpo reagia à pressão por conta própria.
Bum!
Um «Pulso d’Água» voou de sua mão e foi destruído pela espada de Kenshi, empurrando-o algumas polegadas. Ao mesmo tempo...
Zuuuuuuuuuuuum! Chin! Pow!
...Houve um zunido elétrico acompanhado pelo som de uma lâmina cortando o ar. Em seguida, ouviu-se uma pancada surda gerada pelo impacto das botas de Henry com o piso. Em um espaço de tempo menor do que um piscar de olhos, ele estava a um palmo de perfurar a barriga de Kenshi com o sabre. Porém, Kenshi contra-atacou e forçou Henry a aparar o golpe a queima-roupa.
Tim-crack!
Henry foi arremessado com o impacto e caiu rolando pelos degraus até se chocar com a amurada.
— Aaaargh! — A maga negra deixou escapar um grito agudo. A adaga arremessada por Henry instantes atrás perfurara seu ombro.
— Maysoon!
Apesar de ignorar as formalidades do conhecimento mágico, Henry não tinha nada de leigo. Manter um feitiço ativo exigia uma grande concentração, e aprendera que infligir dor era uma das melhores formas de se lidar com aquilo.
Ágnes, Rozalia, Adélaide e Leonard não compreendiam o que haviam acabado de testemunhar. Eles piscaram os olhos e tudo aquilo acontecera.
— Cof... Cof, cof, cof. — Henry tossiu algumas vezes antes de se levantar.
No entanto, devido aos seus machucados, logo caiu de joelhos e cuspiu sangue. Ele partiu meu sabre como se fosse um graveto...
— Um servo...? Parece que o subestimei. Prepare-se, Henry Atwater. Não serei mais tão complacente.
Pow! Tim!
Kenshi não deu tempo para Henry recuperar o fôlego. Encurralado e com a arma danificada, tudo o que Henry podia fazer era tentar se defender.
Chin chin chin! Tim! Tim! Chin!
Por mais que seus aliados quisessem ajudar, eles estavam impotentes. Por causa dos feitiços anteriores, Adélaide e Rozalia estavam esgotadas, enquanto Leonard já começava a apresentar sintomas de uma Exaustão Mágica. Quanto a Ágnes não havia muito o que pudesse fazer.
Mesmo assim, ela ainda não havia jogado a toalha. Se eu não fizer nada, ele vai realmente morrer. Pense, Ágnes, pense... como você pode ajudar? Alguma vulnerabilidade...
— Acabarei com você antes que use outros dos seus truques. Morrerá pela técnica especial «Garyou Tensei». Ninguém jamais ficou vivo após ouvir este nome.
Mudando de base, Kenshi afastou bem as pernas e brandiu a nodachi sobre o ombro.
Pense, pense, pense! Alguma ideia... Preciso de uma ideia! Puxando os cabelos, Ágnes espremia o cérebro em busca de alguma forma de virar o jogo.
— Garyou...
Tim-crack!
Kenshi desferiu um ataque transversal da direita para a esquerda e Henry o aparou com o que restava do sabre, mas a arma se espatifou no processo. Merda, é assim que eu vou morrer...?! Ele fez uma careta monstruosa.
Kenshi deu um sorriso triunfante. Afinal, sua técnica era baseada na enganação e na velocidade. O primeiro ataque era apenas uma isca para iludir a vítima, uma finta. Era o movimento seguinte, com um passo à frente, que finalizava o oponente com um corte horizontal.
— Ten...
— Gwaaaaaaaaaaaaaaah! — Ágnes liberou todo o fôlego dos seus pulmões em um grito ensurdecedor.
— Uah?!
Por alguma razão, Kenshi ficou desnorteado e cambaleou. De repente, um par de braços de granito brotou do solo e restringiu suas pernas. Aquela era a última cartada de Leonard.
Zuuuuuuuuuuuuuuum!
Envolvido pelas misteriosas faíscas índigos, Henry realizou um salto-mortal sobre a lâmina da nodachi e desviou do golpe por um triz. Para sua sorte, os movimentos de Kenshi estavam desengonçados graças ao trabalho conjunto de Ágnes e de Leonard. No entanto, as pontas de seu cabelo foram dilaceradas pela lâmina.
— Killer Queen!
Click-bang! Tam-tam!
— Ugh?!
O estampido de uma explosão estremeceu o topo da torre, seguido por dois estalos metálicos. Kenshi derrubara a nodachi no chão. Seu braço direito sangrava em abundância.
— Kenshi! — A maga gritou.
— Maysoon...
Henry soprou o cano da pistola de pederneira e a girou nos dedos, guardando-a em seguida no coldre oculto pela capa na lateral de sua barriga.
— Vocês não têm mais condições de lutar... Rendam-se e cooperem conosco. Não os machucaremos.
— Tsc. Já alcançamos nosso objetivo, escravo tolo... — sussurrou Maysoon. — Mas creio que nos encontraremos novamente. E, neste dia, você pagará por seu atrevimento!
Ainda com a adaga no ombro, Maysoon, os dentes cerrados, pegou a jarra dourada aos seus pés e ergueu a varinha.
— Ó Kek, mãe das trevas, escondei tua filha dos perigos da luz. «Escuridão!»
De súbito, uma esfera negra e densa englobou o topo da torre, de modo que não era possível enxergar nem o próprio nariz. Quando o feitiço se dissipou, porém, não havia mais sinal dos inimigos...