Volume 1
Capítulo 8: O Espírito da Lua
Todos no local entraram em choque com o que viram, até que a grande massa de luz soltou um rugido estrondoso.
A ofuscante luz branca começou a diminuir e foi possível entender melhor a forma animalesca que aparentava estar ali. A criatura aparentava ser um lobo gigante. Uma cauda gigante começou a se mover para todos os lados, criando ventanias fortes o suficiente para arremessá-los no chão. Olhos brancos, brilhantes como uma pérola, puderam ser vistos à distância. Era cativante e ameaçador olhar tamanha criatura.
Luna espantou-se à primeira vista, porém, ao reparar nele com mais cautela, parecia admirada. Sua pelagem preta em contraste com uma leve aura branca dava-lhe todo o destaque necessário para ser impossível não olhar. Além disso, sua magnitude marcava sua presença - possuindo mais de vinte metros de altura, todos ao redor começaram a sentir a pressão avassaladora que aquele ser emitia.
— Ma-ma-mais o que é isso? — questiona Ryuu, impressionado até demais
— É… Magnífico!
A pequena Gekkou encontrava-se encantada. O rugido, a cauda balançando fortemente, as pisoteadas massivas, tudo indicava seu grande poder. Ele fazia terremotos por onde passava, derrubando prédios, destruindo carros, ruas, casas…
O momento de admiração de Luna durou por pouco tempo, já que uma grande pata com garras estava indo até sua direção.
— LUNA!!! — Ryuu grita correndo na direção de sua amiga, mas a distância na qual se encontravam era o suficiente para que ele soubesse que não daria tempo.
A infância dos dois começa a passar diante dos seus olhos, o parque onde brincavam, o momento em que se conheceram… E suas brincadeiras. Memórias tão doces que seriam enterradas pelas patas do monstro.
— Luna… Me desculpa… Eu ainda sou fraco demais para protegê-la…
Entretanto, eles ouvem uma voz gritando à distância.
— Não! Não no meu turno! Habilidade especial: Impulso Furacão!
Com uma velocidade incrível, Hana aparece e salva Luna que, em um piscar de olhos, encontrava-se em um lugar seguro ao lado de Ryuu. Havendo apenas um terremoto fortíssimo.
— Que situação hein… O quê aconteceu por aqui?
— O Ryuu quebrou o meu colar e dali saiu um… Essa coisa aí. O que a gente faz?
— Não se preocupe, sua senpai vai te mostrar o caminho!! — disse Hana com um olhar confiante enquanto empunhava sua varinha.
Olhando para o monstro, ela começa a carregar seu ataque.
— Habilidade especial: Tornado Triplo!
Do fino ar se formam três tornados gigantes que prendem o monstro em uma pequena área. O monstro enfurecido berrou enquanto tentava se soltar dos tornados que o rodeavam.
— Ei Luna, você já ouviu sobre os seres espirituais ?
— S-seres espirituais?
Luna não sabia nem que possuía poderes especiais até agora. E, de repente, aparece um ser mítico gigantesco perante a todos. Eles esperam que ela saiba o que estava acontecendo… A pequena Lua estava perdida no meio da situação.
— Nem isso te explicaram. Será meio difícil te explicar enquanto tento contê-lo em uma só área… — reclamou Hana. Ela era a única com experiência ali e sabia que precisava tomar a frente para ajudá-los e mostrar confiança para não preocupar ninguém.
Antes que pudessem se concentrar em explicações, o adversário que agora estava com parte de sua roupa rasgada por ter usado o tecido para estancar o sangramento de sua mão, espalhou vários portais pela área, surgindo em vários cantos novamente, até que os atacou com sua katana, Hana que estava esperta na situação conseguiu conjurar uma lâmina de vento para evitar levar o ataque diretamente, o que não foi suficiente, levando um corte de raspão em seu ombro.
Enquanto Hana tentava se recuperar do susto que acabara de ter, Ryuu rapidamente se aproximou do inimigo ferido, pronto para contra-atacar. Ele concentrou sua energia elétrica em sua mão, formando uma esfera brilhante de eletricidade.
— Já bastava ter que lidar com uma complicação, duas já é demais — Ryuu exclamou, enquanto lançava a esfera de energia elétrica.
A esfera atingiu-o em cheio, causando uma explosão de energia elétrica que o fez recuar temporariamente. No entanto, ele não mostrava sinais de estar disposto a desistir tão facilmente. Com uma expressão de raiva em seu rosto distorcido, ele se preparou para contra-atacar mais uma vez, o fato de ter perdido uma mão atrapalhava na hora de empunhar sua katana.
— Boa cobertura Ryuu! Se combinarmos nossos ataques teremos uma chance contra ele, o ser espiritual pode esperar um pouquinho. — Hana disse, enquanto apresentava um plano em mente.
— Cansei de brincar com vocês… Isso já virou uma bagunça! — o homem ferido murmurou.
O ambiente ao redor dos três adolescentes parecia se distorcer à medida que a aura sombria do adversário se intensificava, uma forte aura assassina começou a tomar conta do ambiente. Seus corpos frágeis tremiam diante da pressão da presença ameaçadora. Eles eram apenas estudantes, ainda aprendendo e crescendo com seus erros, enfrentando um inimigo que exalava experiência em combate e crueldade, e que provavelmente já matou muitas pessoas.
O homem ferido avançou lentamente em direção aos jovens, com sua katana empunhada com sua única mão restante. Cada passo parecia ecoar como um trovão no silêncio tenso do campo de batalha. Sua expressão era de pura determinação assassina, sem misericórdia ou piedade.
— Tsk… Essa pressão saindo dele está me deixando nos nervos — reclamou Ryuu.
Com um esforço sobre-humano, Ryuu desencadeou outro raio, visando o inimigo. Contudo, a resposta foi rápida e mortal, a katana do adversário repeliu o ataque, desviando-o para o lado e impactando em um muro próximo. O contraste entre as habilidades era evidente, delineando a disparidade entre eles.
— Você está vulnerável! É o seu fim, verme insolente! — bradou o homem ferido, preparando-se para o golpe final.
Antes que pudesse avançar, no entanto, uma barreira de vento surgiu, impedindo-o de se aproximar. Era a oportunidade que Ryuu precisava para recuperar o fôlego em meio ao confronto intenso.
— Ryuu, assim você não me ajuda... — lamentou-se Hana, percebendo a fragilidade de sua posição.
— Desculpe… mas estou me esforçando aqui — murmurou Ryuu, ciente de que precisava se recompor rapidamente para enfrentar o desafio iminente.
Após a repreensão, Ryuu rapidamente se recompôs, adotando uma posição defensiva para proteger as costas de Hana. Ele criou uma capa elétrica ao redor deles, impedindo que o homem ferido se aproximasse.
— Agora sim vejo uma vantagem! — exclamou Ryuu, sentindo uma pontada de confiança retornar.
Hana consentiu, concentrando-se em sua própria estratégia para lidar com a situação.
Enquanto isso, o espírito que os acompanhava conseguiu se libertar dos tornados que o prendiam. Sua liberdade desencadeou um poder avassalador, manifestando uma pressão ainda maior do que a do inimigo. Nesse momento, Ryuu percebeu sua insignificância diante da magnitude da força que agora enfrentavam.
Sem sequer compreender o que havia acontecido, eles foram assombrados pelos gritos de agonia que ecoaram pelo campo de batalha. Quando Ryuu finalmente conseguiu direcionar seu olhar para o lado, viu seu inimigo quase incapacitado, coberto de queimaduras e perfurações, o que o deixou perplexo.
— H-Hana, o que aconteceu? — perguntou Ryuu, em choque diante da súbita mudança na situação.
— Bom… Claro que aqueles tornados não iriam segurar uma criatura daquele tamanho por muito tempo e com tal destreza, ele se libertou e essa foi a primeira ação.
— Podemos fazer algo sobre?
— Acho que não, mas eu sei alguém que pode. Luna!!! Venha cá agora.
— Ehhhh? Eu?
— Precisamos de você para terminar de limpar essa bagun-
Assim que a frase seria terminada, Ryuu teve sua defesa desafiada pela espada que o homem carregava consigo. Como último recurso, o adversário a jogou desesperadamente na barreira elétrica que protegia Ryuu e Hana.
— Tsk... Eu irei voltar! Marquem minhas palavras! — gritou, demonstrando sua determinação mesmo diante da derrota iminente.
Após suas palavras, ele desapareceu como uma sombra por meio de um portal, como se nunca tivesse estado presente ali.
— Ah ele fugiu… — disse Hana com uma careta em sua cara.
— Pelo menos um problema se foi… Agora só tem o maior problema
— Isso seria o de menos. Luna consegue resolver isso rapidinho, assim espero…
— O-o quê? Eu? — exclamou Luna, surpresa com a repentina responsabilidade atribuída a ela.
— Sim, você tem todo o potencial necessário — assegurou Hana, oferecendo seu apoio à amiga.
Mesmo sem a menor compreensão da situação, Luna teria que enfrentar um monstro gigantesco. Ou pelo menos era o que demonstravam as circunstâncias. Não parecia algo justo em sua convicção, todavia ela escolheu confiar em sua amiga – meio forçadamente, que parecia ter algum plano em mente para resolverem a situação.
Ela ainda estava assimilando a íntegra o que estava acontecendo, mas apesar de tudo, sabia que era a peça principal neste plano.
— O que eu faço, então? — perguntou a prateada, buscando alguma orientação que a ajudasse.
— Você terá que domá-lo. Sendo mais específica, formar um contrato com ele. Essa aparência selvagem de agora é ele agindo por puro instinto
— C-como?! — ela indagou, perplexa diante do comentário sobre domar uma criatura enorme com poderes mágicos que poderia matá-la com o menor esforço. Bastaria apenas uma daquelas enormes patas atingi-la e um estrago irreversível seria feito.
Hana havia atribuído a Luna uma tarefa incrivelmente complexa, como se fosse algo cotidiano. “Como vou domar uma criatura desse tamanho?”, pensou Luna, sentindo-se inundada por dúvidas e incertezas. No entanto, a expressão séria de Hana indicava que ela falava com sinceridade. Era evidente que algo precisava ser feito para enfrentar o desafio que se apresentava.
— Você está pensando em jogá-la para o grande lobo assim, sem mais nem menos? — questionou Ryuu, mostrando sua preocupação diante da proposta de Hana.
— Mas Luna é quem mais tem afinidade com o espírito, você não percebeu? — explicou Hana, tentando justificar sua decisão.
— Sinceramente, não faço ideia do que está falando… — admitiu Ryuu, demonstrando sua confusão em relação à situação.
— Ah, parece que mais alguém não foi informado — suspirou Hana, percebendo a falta de clareza na comunicação.
— Então, pessoal, o lobinho continua solto e destruindo tudo. Temos tempo para perder aqui discutindo? — Interveio Luna, interrompendo a conversa dos dois com um tom urgente em sua voz.
O grande lobo andava pela rua esmagando carros e derrubando prédios. Sua aura era tão forte que as lâmpadas dos postes estouravam quando ele passava por perto. Luna, vendo todo aquele caos, se sentiu obrigada a parar o espírito, já que segundo Hana, ela era a única capaz de detê-lo. Então, ela reuniu toda a sua coragem.
— Eu vou. — disse.
Seus dois amigos olharam para ela imediatamente.
— Luna, não faça isso! É muito perigoso! — falou Ryuu, preocupado.
— Mas se eu não fizer nada, ele pode destruir a cidade inteira! Eu tenho que fazer alguma coisa.
Ryuu não queria deixar que sua amiga de infância se metesse em uma situação tão perigosa. Porém, ela já havia se decidido. E, conhecendo-a, ele sabia que não poderia impedir a garota determinada.
— Hana-nee, me diga o que devo fazer, por favor. — exclamou Luna.
— Esse é o espírito! Pois bem, preste atenção….
Hana explicou tudo que deveria ser feito para conter o ser espiritual, e Luna a ouviu atentamente.
— Tem certeza que isso vai dar certo? — perguntou Ryuu, ainda preocupado.
— Relaxa! Vai dar tudo certo. — disse Hana. — Não confia nela?
— Não é isso. É só que…
— Ryuu, não se preocupe. Eu vou conseguir. — falou Luna. A determinação em seus olhos mostrava que ela já estava preparada para enfrentar o desafio.
Luna então anda em direção ao monstro, que percebe sua presença.
— Garota humana — falou a criatura. Sua voz parecia ecoar por todo o local.
— Ele fala… — disse Luna, surpresa.
— Não está intimidada pela minha presença?
— Na verdade, estou. Mas, mesmo assim, não posso deixar que cause mais problemas.
— Mesmo? E o que pretende fazer para me impedir? — disse o lobo, com um tom satírico.
— Eu vou domá-lo!
O espírito riu, com uma voz estrondosa.
— Sua atitude é notável, garota! Você me lembra a minha antiga mestra.
Ele então inclinou sua cabeça. A pequena Luna parecia quase invisível comparada ao tamanho da criatura.
— Em respeito à sua coragem, deixarei que tente. Porém, esteja ciente de que seu frágil corpo pode não suportar toda a minha energia.
— Vai, Luna! Você consegue! — gritou Hana.
Luna então respirou fundo, e começou a recitar o encantamento que foi passado para ela pela sua amiga. Enquanto falava, seu corpo pareceu brilhar em um tom lilás claro, o que deixou Ryuu surpreendido. No instante em que terminou de falar, a energia do espírito gigante começou a ser sugada para dentro do corpo dela. E, segundos depois, ele desapareceu completamente.
O corpo de Luna então parou de brilhar, e, no mesmo momento, ela desmaiou, caindo no chão rapidamente.
— Luna! — gritou Ryuu, que correu em sua direção.