O Segredo no Luar Brasileira

Autor(a): Moonlight Valley


Volume 1

Capítulo 3: O Clube de Leitura da Lua

Após as aulas, Luna chegou em casa ainda com uma dúvida em sua cabeça. Seu pai nunca havia falado sobre ele ter estudado nessa mesma escola de ensino médio Sakuraen, nem que participou do clube de Novels. Isso a deixou intrigada, então ela decidiu perguntar pessoalmente a ele. Ela imediatamente foi até a cozinha, onde seu pai se encontrava, sem nem trocar de roupas e ainda com a bolsa na mão.

— Pai, tenho algo para te perguntar…

— O que é, filha?

— Por acaso estudou na Sakuraen durante o ensino médio?

— Sim. Eu não tinha te falado isso antes?

— Não. Fiquei sabendo depois que cheguei a um certo clube…

— Ah, já entendi do que está falando. Então aquele clube ainda existe, huh. — Yoru disse, enquanto aparentava estar tendo lembranças nostálgicas.

Durante seus anos escolares, Yoru, o pai de Luna, frequentou o clube de Novels, assim como havia dito Yoshimoto. Ele entrou junto com Mizusawa, atual diretor da Sakuraen. Seus anos no clube foram divertidos, e ele inclusive virou o presidente do clube após a graduação de Tanimura, o presidente anterior e fundador do clube.

— Você vai entrar nesse clube?

— Estou pensando ainda… Ah! Aliás, sabe quem encontrei lá? — Luna respondeu colocando a mão em seu queixo, mostrando-se pensativa antes de lembrar de um detalhe.

— Quem?

— O Ryuu! Parece que ele decidiu retomar o trabalho do pai.

— Que coincidência! Falei com o Dai um dia desses…

— Será que o tio Dai sabe disso?

— Não sei. Ele e o filho não têm uma relação muito boa, por mais que o Dai sempre esteja tentando ficar mais próximo…

Tanimura Daisuke é o pai de Ryuu. Ele e Yoru mantiveram contato mesmo após o ensino médio. Com isso, seu filho e Luna eram bastante próximos durante a infância. Porém, de alguma forma, a personalidade de Ryuu se tornou mais contida nesses últimos anos. Talvez por conta da sua fase na adolescência, ele se tornou um garoto um pouco rebelde que não dá ouvidos a seu pai, porém é diligente quando se trata de suas próprias tarefas. 

— Mas enfim. Tenho certeza que gostará do clube. Você gosta de ler, então por que não tenta? Será uma ótima chance para você e o Ryuu voltarem a brincar juntos.

— Pai, não somos mais crianças! Mas acho que seguirei seu conselho e entrarei no clube de novels.

Ao ouvir isso, Yoru sorriu. Ele estava contente, pois sua filha iria participar do mesmo clube que ele frequentou no ensino médio. E onde ele passou os três anos mais divertidos de sua vida. Vendo isso, várias memórias nostálgicas começaram a aparecer em sua mente, do tempo em que ele, Mizusawa e Daisuke se divertiam lendo novels e escrevendo resenhas com os membros do clube.

De repente, o celular de Luna começa a tocar. Quando pegou para ver quem estava ligando, surpreendentemente, era a Chika. Ela pensou: “Quando foi que nós trocamos contatos…?” Ainda assim, ela atendeu a chamada da amiga.

[Obs: As falas escritas em itálico representam a fala de alguém pelo telefone.]

— Alô? Chika?

— Ooooiiii!! Chika falando!!!

— É, eu percebi… Quando foi que eu te dei meu contato?

— Ah… É que eu peguei seu celular sem você perceber e troquei os contatos, mas isso não vem ao caso…

— O que?!

Chika acabara de revelar uma informação bastante forte. Porém, mesmo com a evidente surpresa de Luna, ela trocou rapidamente de assunto.

— Enfim, já escolheu algum clube?

— Sim. Entrarei para o Clube de Novels.

— Clube de Novels? Nunca ouvi falar…

— Na verdade, é pouco conhecido. Mas tenho meus motivos para entrar.

Ouvindo essas palavras, Chika já tinha uma resposta na ponta da língua, como se a fala de Luna ativasse uma função específica nela contendo vários comentários pré-programados.

— Hoho… Então há um garoto no clube…

— N-não é isso! Há sim… M-mas esse não é o motivo!

— Relaxa, estou só brincando com você.

— E quanto a você?

— Eh, eu? Ahaha… Na verdade, eu ainda não achei nenhum…

— Não se preocupe, tenho certeza de que vai achar um que goste!

— Espero mesmo

Elas continuaram conversando por duas horas até a bateria do celular de Chika descarregar. Depois de um tempo, a noite já havia caído. E, com isso, os Gekkou receberam uma visita inesperada.

A campainha toca…

— Eu atendo! — disse Luna, andando até a porta.

Quando ela abriu a porta, se deparou com o Daisuke e o Ryuu esperando do lado de fora. Nesse momento, Yoru apareceu também para cumprimentá-los.

— Tio Dai? Ryuu?

(Daisuke) — Olá, Luna. Há quanto tempo.

Ryuu se manteve calado.

— Ryuunosuke! Não seja mal educado! Dê um “olá” para ela também…

— … Oi.

(Yoru) — Ora, ora, vejam só! A que devo essa visita?

(Daisuke) — Você me disse seu novo endereço há alguns dias. Apenas pensei em virmos visitá-los para conversarmos um pouco cara a cara depois de tanto tempo.

— Ah, sejam bem-vindos! Fiquem à vontade!

Os dois entraram na casa. Ambas as famílias não se viam há quatro anos. Então uma boa e velha visita era uma ótima ideia para recuperarem esse tempo perdido. Ryuu não estava tão empolgado para ver sua amiga de infância, até porque já a viu na escola recentemente. Porém, de alguma forma, Daisuke conseguiu convencê-lo a ir com ele.

Enquanto os pais estavam conversando sobre a vida e os velhos tempos, seus filhos estavam em um completo silêncio. Ryuu estava, como sempre, jogando no seu videogame portátil, o que deixou a Luna um pouco irritada.

— De que adianta a visita se não para de olhar para a tela do videogame?

— Eu nem queria vir aqui em primeiro lugar. Meu pai me obrigou. Segundo, a gente já se viu hoje na escola.

— Isso não é motivo…

— Não sou que nem vocês garotas tagarelas que conseguem tirar um assunto de  qualquer conversa do nada. — Ryuu disse, provocando a Luna.

— Ei, me chamou de tagarela de forma bem direta assim mesmo?

(Yoru) — Ora, vocês ficam sem se ver por quatro anos e a primeira coisa que fazem quando se encontram de novo é brigar?

— Não tenho culpa se ele é um grosso… — Luna respondeu, bastante irritada.

(Ryuu) — A quem está chamando de ‘grosso’?

(Yoru) — Vocês são tão próximos~

(Daisuke) — Ok, crianças. Já chega de briga…

Os quatro continuaram conversando. Em um momento chegaram no tópico do clube, quando Luna falou que iria entrar. Daisuke, assim como Yoru, também ficou bastante contente. Os filhos dos primeiros integrantes estavam revivendo o clube que eles criaram com tanto carinho e com trabalho duro conseguiram manter por um tempo. 

Luna ficou feliz vendo os sorrisos nos rostos de seu pai e seu tio de consideração. Ryuunosuke, por outro lado, parecia estar ignorando completamente o ambiente, imerso em seu jogo.

 

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— E então…? O que vocês fazem normalmente aqui? — Luna perguntou.

Após se tornar oficialmente um membro do Clube de Novels, Luna ficou curiosa sobre quais são as atividades de um clube tão inusitado.

— Procuramos por novels que as pessoas disponibilizam na Internet. Tanto obras de autores famosos, quanto daqueles pouco conhecidos. Após encontrarmos uma que parece ser interessante, nós lemos e, por fim, fazemos uma avaliação.

— Uau. Parece que temos muito o que fazer.

— Bem… Isso é basicamente o que eu faço. Enquanto isso, esse peso morto fica apenas existindo aqui na sala do clube…

— O que disse? — Ryuu perguntou olhando de lado para Eru.

— Os primeiros integrantes do clube também pegavam obras em outros idiomas e traduziam para que as pessoas pudessem ler.

Os fundadores do Clube de Novels não eram apenas simples críticos. Eles eram pessoas comprometidas no que faziam. Além de escrever comentários sobre obras, eles tinham como atividade padrão procurar obras conhecidas em outros idiomas e traduzir para o idioma local, fazendo com que alcançasse um público maior.

Contudo, os atuais membros não aparentam possuir o conhecimento necessário para realizar tal tarefa. Já foi cogitado o uso de plataformas de tradução online para auxiliar nesse quesito, porém estas nem sempre produzem um resultado confiável, o que pode causar quebras de contexto e prejudicar a leitura. Com isso, foi decidido que, por enquanto, o clube faria apenas revisões, o que por si só já é uma atividade e tanto.

Luna não tinha ideia de que seu pai e os colegas dele possuíam tal responsabilidade. Primeiramente ela ficou surpresa, mas sempre soube que seu pai era bom no que quer que fizesse. Então ela teve uma ideia: Eu entendo bastante de inglês. Então, por que não cuidar dessa função?ela pensou.

Assim que falou com seus senpais, ambos ficaram surpresos com sua iniciativa. Yoshimoto ficou bastante alegre e Ryuu duvidou no começo, mas decidiu ver no que ia dar.

— Tem certeza? Parece ser muita coisa para uma pessoa só.

— Não se preocupe, eu dou um jeito.

— Se tiver algum problema, pode mandar o saco de batatas ali te ajudar.

Yoshimoto apontou a para o Ryuu com a cabeça. Ele entendeu que com “saco de batatas” ela estava se referindo a ele mesmo. No entanto, decidiu poupar sua saliva e ignorou o comentário.

De repente, alguém bate na porta…

Fazendo com que Yoshimoto olhasse para a porta pensativamente, não havia muitos estudantes que não frequentavam nenhum clube agora ainda na escola.

— Já vai, aguarde só uns segundinhos — Disse Yoshimoto.

Ao abrir a porta ela ficou surpresa, um garoto de cabelos espetados alaranjados com detalhes amarelos e com olhos amarelos claros estava diante da porta. O que mais chamava a atenção da Luna era a braçadeira de membro do conselho estudantil que possuía no braço esquerdo. 

— Yo, Eru-san

— Ehhhhhh?! Himura-kun?!

Ver o vice-presidente do conselho estudantil, Taiyou Himura na sala do clube trouxe uma certa preocupação a Yoshimoto. Mesmo sendo amigos por bastante tempo e estudando na mesma classe, não havia motivos para ele aparecer lá do nada, a menos que…

— Hummm, você veio aqui só para me ver Himura-kun? Que cavalh-

— Na verdade, não… Bem, esse era um motivo secundário, mas-

Sem perder tempo, Yoshimoto já estava totalmente colada em Himura sem deixar quase nenhum espaço entre eles. Porém, ele já era mestre em desviar dela  já que se conheciam há um bom tempo, então sem problema ele entra na sala do clube com ela toda feliz nas suas costas perseguindo-o. Himura ao ver um rosto diferente na sala do clube, faz uma reverência.

— Yo! Você é nova por aqui, não é?

— Ah, sim. Me chamo Luna Gekkou. Entrei no clube ontem… Aã- Himura… senpai-

— Perfeito, isso é ótimo para você Eru. Um a menos que precisa recrutar.

Yoshimoto, ainda perto de Himura, ficou surpresa com o que ele acabara de falar, questionando-o de imediato.

— Co-como assim “um a menos”, Himura-kun? E o nosso- — A garota apressadamente olha para os lados, e coloca a mão na boca, sussurrando,  direcionando a última parte apenas para o vice-presidente. — Acordo? — 

 Minha amiga… Você sabe muito bem que eu estava fazendo vista grossa com esse clube há um ano. Entretanto, a Presidente achou os documentos e me falou para vir aqui fechá-lo. Mas farei um ultimato agora que vocês têm três membros. Vocês precisam conseguir pelo menos mais um membro, mesmo que seja fantasma, até o final da semana se quiserem o clube ainda de pé!

— Eeeh?! Já foi difícil conseguir aquela ali…

— Eu estou aqui, sabe? Posso ouvir vo- — Luna dizia até ser interrompida.

— Como você espera que eu consiga mais alguém até sexta?!

— Yoshimoto, foi a Luna que veio aqui e se voluntariou para entrar. Não sei se você está ligada ou não, mas nós ainda nem espalhamos cartazes ou fizemos campanhas para atrair novos membros… — Disse Ryuu.

— Ninguém pediu sua opinião, emo! Volte para seu joguinho! 

A garota estava avermelhada. Um pouco por raiva e um pouco por vergonha. Ela sabia que ele estava certo e que a irresponsabilidade tinha sido toda dela. Mas ouvir o fato em voz alta a fez sentir o peso da procrastinação inteira sobre suas costas, o que a deixou pior do que já estava. Himura deu um pequeno tapinha na cabeça de  Yoshimoto para ela se acalmar

(Himura) — Eru.. Não precisa ser tão dura com seu kouhai…

— Ahhhh… E lá se vai a meus planos — Disse a garota agora apreensiva em ser repreendida.

O acordo que ambos tinham baseava-se no vice-presidente encobrir que o clube não possuía membros o suficiente em troca de duas coisas: Um lugar para descansar do estresse do conselho estudantil e, porque normalmente não é um clube que as pessoas se interessariam, então o garoto concederia mais tempo para que eles pudessem divulgá-lo e atrair mais gente pelas sombras.

Yoshimoto, no entanto, apenas desistiu após um tempo, fingindo continuar a tentar achar novos membros. Na realidade, a presidente só queria ler as Light Novels antigas e tomar chá em paz. Ryuunosuke, por outro lado, realmente queria reviver o clube, mas sozinho. E com as suas habilidades de comunicação, ele não chegou tão longe.

— Então é isso. Quero um formulário de ingresso no clube assinado por alguém além de vocês até sexta-feira. Entendido?

— Mas Senp-

Antes que Yoshimoto pudesse sequer começar sua frase, Himura já havia saído da sala fazendo um sinal de ‘adeus’ com a mão direita aberta para cima, deixando para trás a Presidente do clube em estado de choque.



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