Volume 2
Capítulo 54: O Impossível e o Possível (1)
A atmosfera não estava tão boa.
Um bom tempo havia se passado desde que pararam e Dylan continuava em silêncio enquanto uma expressão de infelicidade formou-se no rosto de Samuel. Os dois encaravam o chão sem dizer nada. Assim, como os dois Arqueiros reconhecidos como excelentes expressavam a mesma aura de descontentamento, era óbvio que algo não estava certo.
Quando o tempo de espera se alongou ainda mais, Ian resolveu se pronunciar, mesmo que contra a própria vontade.
— Algum problema?
— Achamos rastros de pegadas não humanas, mas não conseguimos descobrir quem as fez — respondeu sem hesitar o Arqueiro de Elite.
— Hmmm, se os dois não têm certeza, se importariam de me dizer se há algo marcante nessas marcas? Eu não posso garantir, mas como passei muito tempo na biblioteca real eu acabei memorizando algumas características únicas da maioria das espécies de monstros.
— Primeiro, o comprimento e a largura da pegada são bem grandes. A menor de todas é cerca de 1.2 vezes maior do que a de um humano normal, e a maior cerca de 1.5 vezes — disse Samuel, passando a olhar o rastro com mais atenção para conseguir descrevê-lo bem e indicando que achou a sugestão razoável.
— É provável que seja uma espécie de grande porte, então. Algo mais?
— A profundidade de cada pegada também é interessante. Não é como se a superfície daqui fosse macia como a da entrada, mas… Ah, nós também podemos ver vários caminhos de um pêlo com uma cor que lembra terra.
— Cor que lembra a de terra, é? — Ao pronunciar essas palavras, as sobrancelhas do Mago se elevaram um pouco. — Essa cor é mais clara ou mais escura?
— Clara. — Enquanto respondia, o Explorador passou o dedo indicador pelo chão e balançou a cabeça, demonstrando que tinha certeza da resposta. — E…
— Por acaso você também consegue ver seis dedos, não, melhor, seis marcas de garra? — O tom de voz do velho parecia bem urgente. A própria pessoa que os aconselhou a ficarem calmos não estava conseguindo esconder a própria ansiedade.
— Perdão? Ahh, sim, exato. Eu já ia te contar isso.
— Você sabe me dizer se também há pequenos, mas profundos sulcos bem no meio dessas pegadas? Eles seriam como objetos afiados que perfuraram o chão e depois foram removidos.
A resposta que Ian obteve foi o olhar do Explorador que parecia dizer “E como você sabe disso?”
— Merda, são Lioners! — afirmou o Mago, mordendo os próprios lábios.
— Oi? — Assim como o mestre, Dylan também pareceu ficar nervoso com a menção daquele nome.
— Lioners… O-os Lioners?! — indagou Samuel, também ficando ainda mais sério. — M-Mas isso não faz sentido. Por que Lioners estariam na Floresta da Negação?
— Pelo que eu sei, eles também não viveriam na Floresta da Negação, mas isso não importa agora, não é? Todas as pistas que vocês acharam indicam para tais criaturas. E você mesmo descobriu os rastros!
— Parece que essa expedição acabou. — Dylan virou-se para indicar que não poderiam continuar avançando, mas Samuel ainda estava hesitante.
— Samuel, esquece. Esses desgraçados são conhecidos como excelentes caçadores, sem contar a incrível habilidade de camuflar a própria presença. Tentar combatê-los na Floresta da Negação é loucura! — Mesmo depois de Ian falar com tanta contundência, o Explorador ainda parecia não querer dar o braço a torcer.
Seol Jihu ficou pensando o motivo para toda aquela resistência, já que estavam correndo perigo de vida se continuassem. Porém, logo se lembrou da noite anterior e do sorriso amargo que estava no rosto do líder da expedição. Estava prestes a ativar o “Nove Olhos”, mas impediu a si mesmo, afinal, precisava regular as próprias emoções. Não tinha confiança de que continuaria calmo se visse colorações de vermelho um muito escuro e de preto. Como o Mago fazia o melhor que podia para convencer Samuel, achou melhor esperar um pouco.
— M-Mas nós estamos quase chegando. Já passamos da entrada da floresta. Me dá uma hora. Não, 30 minutos. Eu sei que consigo achar a tumba. Além disso, a gente consegue dar conta de três ou quatro Lioners, se for o caso. — Ele não conseguia deixar a oportunidade passar.
— Meu amigo. De fato, há ocasiões em que um Lioner luta sozinho, mas, na maioria das vezes, ele está acompanhado de vários outros. E o mais importante, um Lioner macho adulto é capaz de ganhar de um Guerreiro Nível 3 e pode até lutar com igualdade contra um Guerreiro Nível 4 — insistiu Ian, demonstrando muita calma apesar da frustração que era refletida nos seus olhos.
— Mas…
— E isso não é tudo. A maior prioridade da matilha, a Lioner fêmea, nem sempre participa da batalha e ela consegue ser ainda mais forte do que um Guerreiro Nível 4. Sem contar que o líder do bando é um monstro que luta com igualdade contra um Guerreiro Nível 5. Deve ser por isso que o Kahn morreu!
No momento em que aquele nome foi mencionado, o Explorador logo pareceu se recuperar. O conflito interno do líder da expedição durou mais apenas alguns segundos, então ele logo cerrou os dentes e fez um anúncio.
— A expedição está oficialmente acabada. Nós sairemos da Floresta da Negação neste exato momento.
Após ouvir a decisão de Samuel, Ian balançou a cabeça em alívio. Ao mesmo tempo, Seol Jihu soltou um suspiro aliviado. Agora que a decisão tinha sido tomada, precisariam agir rápido.
— Aumentaremos o ritmo e o manteremos até sair da floresta, então não fiquem para trás! — Apesar da expressão de tristeza, ele conseguia manter um bom tom de voz. Quando ele se virou, aconteceu.
BARULHO!
Escutaram um som pesado e, pouco tempo depois, o barulho de grama alta se movimentando. Todos ficaram congelados.
— Eles já estavam nos esperando?! — O Mago estava com um tom de voz raivoso ao perceber que já era tarde.
Por instinto, ativou o “Nove Olhos”.
Vermelho. Recuo Recomendado.
Algo que estava colado no chão de repente começou a subir. Sem perceber, teve que mover o pescoço para cima no intuito de encontrar com o olhar da criatura.
A besta que havia levantado era um monstro que portava os olhos de um predador e a juba parecida com a de um leão. A altura da criatura passava os três metros com facilidade e um pelo com coloração de terra clara cobria todo o corpo. Os músculos da parte superior do corpo lembravam muito os de um humano, mas os da porção inferior eram mais parecidos com os de um animal — simples, mas compactos e firmes. Um detalhe que o chamou a atenção foi uma longa cicatriz que ia do peito até o umbigo. Apesar dessa marca parecer cicatrizada, ela dava a impressão de ser fresca.
— É-É o líder dos Lioners!
Ian deu um longo suspiro.
O primeiro Lioner a se revelar já saiu correndo e, em instantes, estava parado na frente do grupo. Era fácil perceber que aquele monstro estava em um nível totalmente diferente dos outros que haviam lutado contra até agora apenas pela aura emanada.
Segundos depois…
Hrrrrrrr!!
Os amarelados olhos vívidos da criatura emitiram uma luz. Em seguida, o peito da besta pareceu se expandir, possibilitando que ela abrisse a boca para mostrar as presas.
Huaaaawr!
Um enorme rugido reverberou por toda a floresta.
— Ahh!! — Após ouvir aquele enorme barulho que parecia que iria cortar o seu corpo, Seol Jihu caiu no chão. Porém, não foi o único. Os dois outros carregadores tiveram a mesma reação, assim como Clara, Grace e Alex. Samuel e Chohong também hesitaram.
“N-Não…”
As suas orelhas estavam dormentes por um zumbido intenso, a visão embaçada e a consciência parecia se despedaçar. Porém, o que mais o incomodava era a vontade desesperadora de negar “algo”.
— Motus Stabilitatem!
Acompanhado do grito de Ian, todos os sentidos do Marca de Ouro voltaram ao normal. A mente pareceu se tranquilizar e os sentidos se aguçaram.
— Que porra… — murmurou para si mesmo, levantando as duas mãos. Uma espécie de pó brilhante estava caindo em suas palmas e se espalhando pelo corpo.
— Tsc. Eu deveria ter “memorizado” pelo menos um feitiço de ataque.
Sem avisar, o Mago abaixou o seu cetro e se ajoelhou. Então, desenrolou um pergaminho no chão e abriu a bata que vestia, puxando um pequeno frasco de poção. Com pressa, ele derramou um pó azul semelhante ao sal no papel.
Alex também conseguiu se recuperar bem, em segundos, puxou o crucifixo e começou a conjurar um encantamento.
— Ei, aquela ali não é a arma do Kahn? — indagou Dylan com a sua arma carregada.
O líder Lioner segurava uma alabarda em uma das mãos. Nas mãos daquela imensa criatura, a arma podia até parecer um brinquedo, mas da perspectiva de um humano, era algo bastante ameaçador.
Ta-tang!!
Acompanhado do som de explosão, o líder Lioner recuou um pouco enquanto levantou um dos braços. Duas flechas que Dylan tinha atirado haviam acertado no antebraço da criatura, mas nenhuma penetrou muito fundo.
Em seguida, as negras pupilas nos olhos semicerrados do monstro passaram a focar em um outro ponto. O Lioner líder passou a encarar o Mago ajoelhado no chão. Como a besta não possuía uma inteligência muito aguçada, tendo que confiar mais nos instintos, ela conseguia sentir que o responsável por reviver as presas que há pouco já quase estavam colapsadas no chão era aquele humano.
Hrrrrrrrr…
Logo depois desse som, outros Lioners escondidos se revelaram, sendo três na esquerda e quatro na direita. Todos carregavam armas humanas e, aos poucos, se aproximavam. Todos eram menores do que o líder, mas nenhum tinha menos do que dois metros de altura.
— Puta que pariu. Nove Lioners. Qual o problema dessa porra de floresta?
Tentou não lamentar muito. Porém, já tinha percebido que os inimigos já tinham rodeado todos do grupo.
— Eu cuido do da frente. Hugo e Clara pegam o da esquerda. Samuel e Grace o da direita. Precisamos aguentar até que o mestre Ian esteja pronto com o feitiço — ordenou Dylan, dando um pequeno passo à frente.
No momento que os quatro outros também avançaram um pouco, o contra-ataque começou. Com sons de batalha, humanos e monstros lutaram.
Dylan atirou com a besta. O líder dos Lioners usou uma enorme velocidade para encurtar o espaço entre os dois para brandir a alabarda. Parecia que o Arqueiro de Precisão seria cortado em dois, mas o monstro apenas acertou o chão. Enquanto isso, Dylan já havia cercado a besta, puxado uma adaga do cinto e avançado em direção à coxa do oponente.
— Hrrrrrr!
Surpreso, a criatura tentou afastar o inimigo, mas ele já havia desaparecido e estava do outro lado da criatura.
Ta-tang!! Ta-ta-tang!!
Com muita velocidade, atirou cinco flechas seguidas. Todas estavam indo em direção aos pontos vitais do monstro, que logo se abaixou em uma tentativa de proteção. Porém, ainda foi atingido nos braços e pernas.
Como se tivesse ficado irritado com aquilo, o líder Lioner começou a brandir a alabarda com ainda mais raiva.
Kwang! Kwang! Kwang! Kwang!
Todos os ataques foram fortes o suficiente para fazer o chão tremer, mas nenhum acertou o alvo. Com facilidade, Dylan desviou de todas as investidas, tomou mais distância e continuou a atirar.
“Talvez…”
Seol Jihu ficou esperançoso. Mesmo que o Arqueiro de Precisão não conseguisse causar danos expressivos no oponente, pensou que, se a batalha continuasse desse jeito, eles poderiam vencer. Porém, pouco tempo depois, ficou mais hesitante com o que poderia acontecer, pois percebeu que o inimigo estava o encarando. Parecia que ele estava preparando algo.
“Espera aí. E se o monstro ignorar o Dylan e vier correndo para cá?”
Como se realmente fosse fazer isso, o monstro virou-se para o Marca de Ouro. No entanto, ele ficou mais sério quando percebeu que Chohong ficaria no meio do caminho.
Soltou um suspiro de alívio. Estava se perguntando o motivo dela ainda não ter entrado em toda a confusão, mas parece que ela seria a “Guardiã”. Dylan apenas conseguia focar na própria luta porque sabia que a Guerreira Divina estava protegendo a área.
— Ei. — De repente, Chohong falou com o jovem. — Não se preocupe e fique perto de mim. A sua veterana irá te proteger.
Pensou em discutir sobre aquele argumento, mas achou melhor não, já que ela estava muito concentrada analisando os entornos.
Enquanto isso, Hugo brandia o machado com todas as forças que tinha. Continuava atacando com muita ferocidade, mas ainda assim estava ficando cada vez mais machucado, já que estava cercado por quatro Lioners.
Clara continuava a atirar flechas de fogo, mas todas eram refletidas, pois não conseguiam penetrar no couro dos monstros. A situação à direita era ainda pior que a da esquerda.
A batalha não tinha começado há muito tempo, mas mesmo assim o escudo da Grace já estava quebrado e caído no chão. Com muito esforço, a Guerreira de Escudo segurava uma espada longa com as duas mãos. Se não fosse por Samuel arremessando as adagas no oponente, a companheira já estaria morta.
A situação da batalha não parecia muito favorável naquele momento. De alguma forma, Dylan conseguia retardar a linha de frente, mas o cenário não estava nem um pouco bom. Caso um lado perdesse, tudo iria por água abaixo.
— Aaaaaaaaahk!!
Aquele grito fez com que Seol Jihu, por reflexo, começasse a circular mana por todo o corpo. Contudo, parecia que a crise havia chegado. Grace arremessou a espada que segurava para longe, colocou as mãos na cabeça e gritou. Era difícil controlar as emoções durante uma batalha, mas não tinham outra opção naquele momento. Portanto, devido ao descontrole da Guerreira de Escudo, os efeitos da Floresta da Negação a atingiram.
Era a oportunidade perfeita para os Lioners. Quando eles avançaram em direção à Grace, que rolava no chão, Alex gritou algo e estendeu a mão esquerda.
Wuoong!!
Uma fina e semi-transparente barreira formou-se ao redor da Guerreira. Em seguida, todos os ataques foram refletidos. Por sorte, o timing foi perfeito.
— Caralho! Por que você não me ajuda aqui também?! — gritou Hugo, não muito satisfeito.
Com calma, o Sacerdote ergueu a mão esquerda mais uma vez.
— Luxu - Lu - Luxuria!!
Os quatro Lioners que atacavam o Guerreiro logo ficaram imóveis. Aproveitando a oportunidade, ele brandiu o machado no pescoço de um dos inimigos, formando uma linha de sangue no meio do ar. Finalmente, um oponente havia sido derrotado, mas Hugo estava repleto de feridas. A armadura que vestia, antes brilhante, estava toda amassada e coberta com o seu próprio sangue, que escorria dos inúmeros machucados que adquiriu.
Por um tempo, Alex pareceu um pouco indeciso. Conjurou mais um encanamento, fazendo com que o corpo do amigo brilhasse e recuperasse parte da velocidade. Porém, logo depois, o crucifixo do Sacerdote se desfez e virou pó. O Sacerdote não teve muito tempo para lamentar a perda do seu precioso item, então apenas se virou para a direita. A barreira que tinha criado estava prestes a ser destruída.
— Chohong!! — gritou Dylan, ficando entre o líder Lioner e o grupo da expedição. A criatura parecia um ouriço com todos os espinhos em pé saindo do corpo, mas não demonstrava estar muito ferida.
Enquanto isso, Chohong avançou. Em segundos, ela já estava com a maça pronta para atingir a cabeça do monstro que estava quase quebrando a barreira.
Pow!!
Muito sangue jorrou e mais um inimigo caiu. Quando perceberam a situação, as três criaturas restantes se viraram e começaram a atacá-la ao mesmo tempo. Ela assumiu uma posição defensiva e levantou o braço esquerdo.
Ruído! Ruído! Ruído!
Uma espada, um machado e uma lança foram refletidas.
Do nada, não, em seu braço esquerdo, apareceu um escudo branco.
“Um feitiço?”
Os pés de Chohong se arrastaram pelo chão quando ela foi empurrada para trás pelo baque dos golpes, mas a Guerreira Divina não estava ferida.
— Samuel! Dá um jeito neles e venha para cá!
Com muita habilidade, ela se aproximou dos inimigos movimentando-se de um lado para o outro e, em seguida, deu uma finta e atacou com a maça. Chohong não tinha apenas se dirigido para o meio da confusão, mas também fez questão de flanqueá-los para ganhar a maior quantidade de tempo possível.
Enquanto a Guerreira Divina atraiu os três monstros para perto de si, o Explorador conseguiu tirar Grace do perigo. O destino da batalha, mais uma vez, fora mudado a partir das ações de Chohong.
“O que eu faço agora?”
Após ficar um tempo se esquivando, a mana e o Circuito de Seol Jihu já estavam aquecidos, fazendo com que sentisse o próprio corpo pegando fogo. Ainda enxergava a cor vermelha por toda a parte ao ativar o “Nove Olhos”.
Queria lutar também, não apenas ser protegido. No entanto, não estava na posição de correr risco. Tinha concordado em não participar de batalhas.
Com Chohong protegendo Grace, não havia mais um “Guardião”. Naquele ponto, nem um Mago e nem um Sacerdote conseguiriam resistir e poderiam acabar morrendo caso fossem pegos em um ataque surpresa.
“Por enquanto…”
Tomou a decisão. Colocou a pesada bolsa no chão e puxou a sua lança.
Dylan, que estava muito ocupado lidando com o líder Lioner, e Alex, que tentava conjurar um novo feitiço, encararam o jovem e não disseram nada. A situação era tão perigosa que não podiam nem negar a ajuda de um Nível 1.
Então, aconteceu.
Ian terminou o que estava fazendo e se levantou com o rosto encharcado com suor.
— Huueeo!!
O Mago abriu bem os olhos. Todos os cinco pergaminhos queimaram, fazendo com que as cinzas emitissem um brilho azul. Instantes depois, elas começaram a flutuar e a girar, parecendo hélices que, aos poucos, iam tornando-se cada vez mais rápidas.
Por fim, as cinzas adquiriram um formato de lanças feitas de gelo. Em seguida, todas começaram a girar.
— Ark Ce Acedia! — gritou Ian, com o cajado levantado.
As lanças de gelo começaram a se mover sozinhas. Duas foram para a esquerda, duas para a direita, e a última pelo meio.
No momento em que elas atingiram os inimigos, ouviu-se lamúrios de dor. Aquele que teve a cabeça penetrada morreu na hora. Porém, um oponente tinha conseguido proteger os pontos vitais, sendo atingido nos braços e na parte inferior do abdome. Contudo, aquele não era o único efeito da magia.
As lanças que conseguiram penetrar os oponentes, aos poucos, foram desaparecendo. À medida que elas tornavam-se menores, camadas de gelo eram formadas por todo o corpo dos Lioners.
No fim, até mesmo o líder caiu de joelhos à medida que era consumido.
Os rumos da batalha mudaram muito. Dois monstros tiveram uma morte instantânea, enquanto outros três estavam fatalmente feridos. Dylan nunca perderia uma chance assim.
— Não deem mole. Matem todos!
Em segundos, o líder do Carpe Diem afastou-se ainda mais. Então, puxou uma flecha ainda maior e mais letal do que as que tinha utilizado. A sua classe principal era a de Arqueiro de Precisão, um sniper.
“Então isso é um Mago…”
Assistiu a tudo aquilo com muito nervosismo, mas após ter visto como a situação mudara de maneira tão drástica, apenas soltou um suspiro de admiração.
Na hora certa, Alex também conseguiu completar um milagre, permitindo que o Hugo, que estava cambaleando, conseguisse se recuperar um pouco. Seol Jihu cerrou os punhos.
“Nós podemos vencer.”
A maior prova era a cor que enxergava com o “Nove Olhos” ter mudado de vermelho para laranja…
— Huaaaar!
“O quê?!”
Arregalou os olhos. No momento em que o líder Lioner rugiu, toda a floresta voltou a emanar uma coloração vermelha.
“Mas por quê?”
A situação não estava resolvida ainda, mas comparada a antes, tinha melhorado muito. Tanto Chohong quanto Samuel se esforçaram para suprimir os inimigos e, com a ajuda de Alex, Hugo também conseguiria resistir até o final da batalha. Mais importante ainda, Dylan já tinha puxado a corda da sua besta o máximo que conseguia e estava mirando o líder. Apenas olhar para toda a eletricidade emitida por aquela flecha já era o suficiente para dizer que aquele disparo seria fatal. No entanto, o olhar daquela criatura, mesmo naquele momento, parecia emitir um sorriso confiante.
“Ele está rindo?”
No momento em que Dylan atirou, Seol Jihu franziu o cenho. O líder Lioner abaixou-se e expôs as garras, fazendo com que o Marca de Ouro sentisse um arrepio no próprio pescoço.
Pzzzt!
Viu a flecha coberta de eletricidade perfurar o inimigo e logo virou-se para olhar para trás. Então, viu outro Lioner sem a juba se revelando e correndo na direção do campo de batalha.
“A maior prioridade da matilha, a Lioner fêmea, nem sempre participa da batalha e ela…”
As palavras de Ian logo vieram à sua mente.
— Em cima de vocêêêê!! — gritou, muito nervoso.
Dylan moveu apenas um pouco a cabeça e logo ficou boquiaberto. Hugo, que resistia com todas as forças, também franziu o cenho. Samuel e Chohong, que haviam acabado de matar mais uma das bestas, também demonstraram preocupação.
Os rostos de Ian e Alex ficaram cobertos por desespero.
Como se estivesse esperando por uma situação assim, a Lioner avançou ainda mais, pegando um machado de batalha e se preparando para atacar.
Sentiu-se preso em uma estranha sensação. Nos segundos em que ficou imerso, teve a sensação de que tudo ficou em câmera lenta.
“O que eu estou fazendo?”
Estava tonto.
“Eu deveria esquivar.”
Sentiu uma imensa dor no abdome.
“Será?”
Todos os tipos de emoção passaram pelo seu coração. Notou a franja balançando e, em seguida, percebeu que estava correndo em direção à batalha. Sabia que não devia ter feito aquilo, mas o seu corpo moveu-se sozinho.
— Seol!! — Chocado, a voz de Alex ressoou por todo ambiente.
A mana circulava com muita força por todo o corpo.
O mundo em câmera lenta voltou ao normal. Neste momento, parou de respirar devido ao medo.
“Eu quero viver…”
Suor escorreu para os seus olhos.
“Eu não quero morrer!”
Toda a musculatura estava paralisada pelo vento que o tocava. Era a segunda vez que sentia o terror pela morte. Portanto, segurou a lança com ainda mais força, semicerrou os dentes e encarou para o monstro.
Havia treinado tanto na Zona Neutra.
“Eu…”
Havia treinado tanto para momentos assim.
“Consigo!”
— Uwaaahhh!!
Conseguiu esticar os braços, antes relutantes.
E então…
O machado, que parecia estar preparado para cortar o mundo ao meio, colidiu com algo no meio do caminho.