Volume 2
Capítulo 51: Floresta da Negação (1)
O local no qual Samuel guiou o grupo era a taberna que Alex havia apresentado-o poucos dias antes. Adentraram no bar, subiram alguns degraus de escada e, quando chegaram no lugar preparado como ponto de encontro, Seol Jihu levou um susto ao ver três pessoas paradas lá, esperando.
— Hugo?
— Hã? Seol?! — O Guerreiro esboçou uma reação parecida com a do amigo.
— Hmph. — Chohong remexeu os olhos e soltou um grunhido.
— Não tinha ideia que nos encontraríamos uma hora depois — falou Dylan, com os braços cruzados na altura do peito enquanto formava um sorriso.
— Eles estavam procurando por um carregador, então eu me candidatei na hora. — Em seguida, um sorriso amargo formou-se no rosto do Marca de Ouro ao lembrar do conselho que o Carpe Diem havia dado para si.
— Qual foi? Já conhece o pessoal do Carpe Diem?
— Mais ou menos.
— Esse cara… — Depois de ouvir a resposta do líder, o Explorador passou a encarar o seu recém contratado com um interesse muito maior. — Bem, vou encarar isso como um capricho do destino.
— De qualquer forma, tempo é dinheiro. Gostaríamos de ouvir a proposta que vocês têm.
— Hehe. Fica tranquilo. Mistério é algo que faz os sentidos ficarem mais aguçados. Tenho certeza que você já consegue ter uma noção mais ou menos do que é. — Brincou Samuel enquanto arrastava uma mesa para o centro do cômodo e, depois, abrindo um grande mapa sobre o móvel.
No momento que todos se aproximaram para ouvir a explicação do plano, ele achou melhor continuar quieto. Não sabia se um carregador poderia ouvir toda aquela discussão.
— Ei, o que você está fazendo? — indagou Chohong, apontando com o queixo para a mesa. — Vem logo. Eles já vão começar. — Demonstrando cordialidade, ela até deu um passo para o lado, abrindo o espaço necessário para que o jovem conseguisse participar.
Quando se aproximou, Hugo começou a rir.
— Quando tem que se desculpar com alguém, ela começa a ficar toda educada com essa pessoa. Seria mais fácil pedir perdão logo.
Isso fez com que a ponta do nariz da mulher ficasse um pouco vermelha.
— Como já conheço vocês, serei o mais breve possível. O nosso ponto de início será no portão Sul. De lá, usaremos carruagens para viajar próximo ao Rio Rahman por um ou dois dias. — Ao explicar, indicava com o dedo o percurso a ser seguido no mapa. — Essa estrada é bem segura, então viajaremos o mais rápido possível. Precisamos guardar as nossas energias para o que vem depois. Se nenhum evento inesperado acontecer, vamos descer bem aqui. Então, passamos pela Colina Napal…
O dedo de Samuel parou próximo à ilustração de uma densa floresta.
— E chegamos à Floresta da Negação, o nosso destino. Na verdade, vamos passar pela entrada e continuar até que algum tipo de interrupção nos impeça de progredir mais.
No momento em que ouviu “Floresta da Negação”, Dylan ficou mais sério, porém permaneceu em silêncio.
— Eu ouvi uma informação de uma fonte muito confiável. Pelo jeito, tem uma tumba bem grande lá no meio da floresta — concluiu lambendo os lábios e dando um sorriso.
— Uma tumba?
— Exato. E não, não é uma tumba qualquer. É bem provável que seja uma tumba do Império ruído.
— Está sugerindo que a gente invada a tumba e roube o que tem lá?
— Exato! Se for verdade, nós podemos conseguir alguns artefatos incríveis!
— Eu estava pensando no motivo de irmos tão para o Sul, mas agora entendo. Faz sentido. Esse lugar fazia parte do território do Império — disse o líder do Carpe Diem, coçando o queixo enquanto pensava.
— E não é só isso. Você sabe que a Sicília colocou uma missão para fazer o reconhecimento de lá, certo?
— Sim.
— E também tem a missão da família real! Se tudo der certo, podemos receber três recompensas!
— Certo. Entendi o que você quer dizer. — Com aquele tom mais sério e centrado, Dylan tentou acalmar Samuel, que pulava de alegria.
“Então é assim que uma expedição é planejada.”
Ouvia tudo que era dito com muito cuidado, já que não queria perder nenhuma informação. Contudo, estava um pouco confuso. Aquele plano todo parecia uma oferta tentadora. A menos que nenhuma outra pessoa tivesse a informação, achou o fato de ninguém nunca ter ido explorar a Floresta da Negação em busca desses tesouros um pouco estranha. Afinal, o local ficava, no máximo, a quatro ou cinco dias de viagem de Haramark. Em outras palavras, deveria haver algo muito perigoso por lá.
Após algum tempo pensando, o líder da outra facção decidiu falar.
— Preciso te perguntar sobre três coisas, Samuel.
— À vontade.
— Essa informação. Quem mais sabe?
— Vou ser sincero. Fui falar com o time do Kahn antes de chamar vocês, mas eles recusaram. Mas eles ainda vão manter isso em segredo.
— Certo. — Assentiu Dylan. — Você pode me contar o nome dessa fonte confiável?
— Quando você irá me perguntar do problema da Floresta da Negação? — indagou Samuel, com um sorriso no rosto, fazendo com que a maioria das pessoas na sala ficassem inseguras.
— Você é engraçado. Eu pensei que a Floresta da Negação era um lugar impossível de ir desde que a Sacerdotisa Chefe Rebecca quase não conseguiu voltar de lá com vida.
— Pra começo de conversa, o método que eles usaram foi todo errado. A Floresta da Negação não possui maldições, e sim magia.
— Magia?
— Exato. E é preciso combater magia com magia. Rebecca falhou porque tentou usar milagres. Mas ainda temos que dar créditos por sair de lá viva — explicou com confiança e cautela. Estava tomando muitos cuidados para que ninguém os ouvisse.
— Responderei as duas outras perguntas de uma vez só. Quem me contou sobre a tumba foi o mestre Ian.
Ao ouvirem aquele nome, Dylan, Chohong e Hugo ficaram surpresos.
— Mestre Ian?
— Sim! E ele também planeja participar da expedição!
— Hmmm. Hmmm… — O líder do Carpe Diem ainda não estava muito confiante sobre aquilo tudo, mas agora parecia estar mais tentado a aceitar a oferta. Aos poucos, ele começou a bater o dedo contra a mesa, indicando estar pensando muito sobre o assunto.
Quando olhou para Hugo, percebeu que a boca do Guerreiro abria e fechava sem parar, mas em nenhum momento parecia que ele iria falar.
— Hugo.
— H-Hã?
— Quem é esse Ian?
— Como você não… Ah, é a sua primeira vez aqui. — Em seguida, ele começou a sussurrar. — Mestre Ian é um Alquimista Nível 4. É um Mago que está perto de se tornar um ranking alto.
Apenas com aquelas palavras é que Seol pôde, mais ou menos, entender a situação. Não importava a classe, chegar no Nível 4 era algo surpreendente. Porém, caso a pessoa que conseguisse tal feito também fosse um Mago, a classe mais rara, o valor agregado desse indivíduo era ainda maior.
— Então nós não iremos fazer o reconhecimento da Floresta da Negação, e sim explorá-la. Mas como, legalmente, estamos apenas fazendo o reconhecimento, não precisamos da licença para realizar a expedição. É isso? — falou Dylan, após algum tempo em silêncio.
— Hehehe. É um trato bem bom, não acha?
— Concordo. Já estou ansioso.
Samuel começou a bater no chão com o pé demonstrando toda a animação que tinha, o que fez com que o amigo também desse um sorriso.
— Ótimo. E os detalhes?
— Não seja assim. Você sabe o que precisa fazer. Eu lidero e te guio, você só precisa agir nas batalhas. Ah, e os itens irão primeiro para aquele que possuir a classe mais compatível com eles. Se elas coincidirem, quem tiver o nível mais alto ganha. Fora isso, o resto será distribuído de maneira igual.
— Excelente.
No momento em que o companheiro concordou, Samuel virou-se para os outros.
— E vocês dois?
— E precisa perguntar? A decisão já foi tomada.
— Eu concordo!
Chohong apenas aceitou a situação, enquanto Hugo demonstrou-se muito entusiasmado.
— Amigo! Suponho que você também concorde, não é? — perguntou o Explorador.
— Ah, eu… — Seol Jihu se forçou a não falar mais. Queria muito ir para a expedição, mas não havia prometido a Kim Hannah que não iria ainda mais para o Sul?
Ao perceber aquela hesitação, os olhos de Samuel se arregalaram.
— Ei, qual o problema? Nós não vamos lá para explorar. É uma expedição que pode ser vista como uma missão oficial. Tenho certeza que você vai ganhar EXP pra caralho nos acompanhando.
— A Floresta da Negação é bem perto da fronteira. Não vai ser perigoso? — perguntou.
— Aha. Verdade. Porém, não precisa se preocupar! Tecnicamente, você pode dizer que a Floresta da Negação fica no limite do território humano, mas, na verdade, esse lugar é o mais próximo da Zona Neutra. A magia lá é tão forte que não apenas os humanos, mas todas as outras espécies evitam chegar perto — explicou, cerrando um dos punhos. — No entanto, nós somos diferentes. Temos Dylan, que é um ranking alto, e também o Mago mestre Ian. Com certeza vamos acabar com a magia conjurada naquela floresta.
Ao invés de confiar naquelas palavras, achou melhor ativar o Nove Olhos. Todavia, Samuel ainda estava desprovido de qualquer cor.
— E aí? Vai vir, né?
Após alguns segundos pensando, concordou.
— Vou sim.
— Aí sim!! — O Explorador bateu na mesa e se levantou. — Sairemos amanhã! A gente se encontra no portão Sul logo pela manhã!
***
Amanheceu.
Seol Jihu acordou, lavou um pouco o rosto e se equipou. Ao pensar bem, a sua noção de tempo havia ficado um pouco confusa desde que começou a viver no Paraíso, já que não haviam relógios nesse mundo. Portanto, era bem difícil adivinhar quando esse “logo pela manhã” seria.
Pegou a bolsa e saiu da taberna, seguindo em direção ao portão Sul pela rota que tinha decorado no dia anterior. Estava com medo até então, e o seu receio logo se comprovou plausível. Quando se aproximou do ponto de encontro, nove pessoas estavam paradas esperando. Ao pensar que estava atrasado, correu o mais rápido que conseguiu na direção delas, mas logo foi acalmado.
— Calma, calma! Você não está atrasado, não precisa se apressar.
— Ufa. Que bom.
— O mestre Ian ainda não chegou.
Ficando mais tranquilo após ouvir aquilo, Seol Jihu respirou fundo. No entanto, segundos depois sentiu Samuel dizendo “Oops” e lhe entregando uma grande bolsa.
— Esta é a bagagem que você vai carregar. Por favor, tome cuidado. Teremos problemas se você perdê-la.
— Essa é toda a bagagem?
— Sim. Também contratamos outros dois carregadores. São locais, então não precisa se preocupar com eles.
Concordou e, com facilidade, pegou a bagagem, colocando-a em seus ombros. Sentiu o peso, mas não era algo que o incomodasse muito. Enquanto isso, o Explorador o encarou com uma expressão de surpresa.
— N-Não tá pesado?
— Até que não.
— Ah, então estava certo em confiar nas palavras do Alex.
Enquanto Samuel balançava a cabeça para si mesmo, o Marca de Ouro decidiu olhar em volta. Próximo ao portão, viu duas carruagens com membros do Carpe Diem e do time de Samuel. A maior diferença em relação ao dia anterior era como estavam equipados.
Já havia visto o machado de batalha e a armadura de Hugo quando fizeram a jornada em direção à Haramark. Por sua vez, o Explorador também parecia bem legal. Ele vestia uma jaqueta de couro brilhante e uma capa azul, que chegava até a altura da cintura.
Dylan devia ser um Arqueiro, mas usava uma brigantina que, usualmente, devia ter sido feita para Guerreiros. Porém, aquela veste não devia ser tão simples quanto parecia, já que refletia bem a luz do Sol com toda a elegância prateada que tinha.
Depois, quando viu a espada e o broquel usados por Grace, sentiu-se um pouco inferior. Era como Cinzia havia dito antes, a diferença de qualidade entre a Zona Neutra e o Paraíso eram bem grandes.
“Um dia eu…”
Decidiu que iria aumentar de nível, conseguir um equipamento melhor e poder se equiparar aquelas pessoas o mais rápido que conseguisse. Contudo, quando Chohong caminhou em sua direção, não conseguiu concluir o pensamento.
Ela vestia um robe parecido com o de Alex, mas com uma camada de cota de malha por cima. O peitoral, braços e pernas também eram cobertos por uma camada de proteção metálica.
“Ela é uma Sacerdotisa ou uma Guerreira”
Chohong nem olhou direito para Seol Jihu e logo deu um tapa no ombro de Samuel.
— Aquele tarado vem ou não?
— Como assim “tarado”? É melhor prestar atenção no que diz na frente dele.
— Tanto faz. Ele nem está aqui.
— Também queria saber o motivo pra ele estar demorando.
Pouco tempo depois, Samuel sorriu e começou a acenar. Seol Jihu seguiu o olhar do Explorador e viu um homem caminhando na direção do grupo.
Ele tinha uma altura média e era um pouco magro. O cabelo era um pouco grisalho. Com todas aquelas rugas próximas ao olho, ele devia ter mais de cinquenta anos. Porém, o que mais lhe chamou a atenção foi a enorme barba branca, que se estendia até o umbigo e o lembrava de um outro mago de uma famosa franquia de filmes.
— Oiiii! — O homem que vestia um robe marfim e carregava um cajado de madeira retribuiu os cumprimentos e se curvou um pouco, retribuindo os acenos de antes.
— Você veio, mestre Ian. — Samuel saudou-o com uma grande reverência.
— Me desculpem. Fiquei um pouco perdido. Já faz tempo desde a última vez que vim a Haramark, então as ruas pareceram muito abertas.
— Te entendo. Já fui para o palácio real algumas vezes, então sei como aquele lugar pode ser apertado.
— De fato. Se não fosse pela aparência da princesa, eu já teria morrido.
— Ahh, eu não me importaria de me sentir sufocado por ela. E você?
À medida que conversavam, os dois riam. Seol Jihu já tinha imaginado como o Mago seria a partir das histórias que ouviu no dia anterior, mas não esperava que ele tivesse uma personalidade tão amigável.
— De qualquer forma, vamos logo. Se eu ficar aqui mais um tempo, é capaz da família real vir me buscar. Eles tentaram me fazer mudar de ideia até hoje mais cedo.
— Vamos?
— É pra eu entrar naquela carruagem ali?
— Sim. Ah, e… — No momento em que Samuel olhou para Seol Jihu e hesitou por alguns segundos, Chohong agarrou o jovem pelo braço e falou.
— Esse garoto vem com a gente.
— Sem problemas. — Concordou o Explorador.
Ao ver aquela mulher, Ian logo deu um sorriso.
— Ohhh, Chohong! Quanto tempo. Como sempre, você está linda.
— Cala a boca, seu tarado — grunhiu, ameaçando-o com a maça levantada.
Por fim, ela se virou e arrastou o Marca de Ouro consigo, fazendo com que ele entrasse na carruagem do Carpe Diem.
Pouco tempo depois…
Vamos! — gritou Samuel, fazendo as duas carruagens começarem a se mover para fora do portão Sul.
Era o início da sua primeira expedição.
***
O interior da carruagem estava em silêncio.
Dylan disse que gostaria de sentir o vento no rosto, então estava no teto. Por outro lado, Chohong ficou apenas encarando a paisagem desde que partiram. Enquanto isso, Hugo, por algum motivo, estava sorrindo.
Após algum tempo, a mulher grunhiu e começou a procurar algo nos bolsos. Pôde ouvir xingamentos saindo do canto da boca dela. Depois de observá-la por algum tempo, puxou um maço de cigarros e a ofereceu.
— Aqui.
— Hã? — Ela piscou os olhos algumas vezes antes de se virar para ele. — N-Não, obrigada. Eu não gosto desses cigarros com sabor.
— É só não quebrar a cápsula dentro do filtro que o cigarro fica sem sabor.
— S-Sério? Hmm, hmmm. — Fingiu uma tosse e puxou um cigarro.
Ao ver aquilo, Hugo cobriu os próprios olhos e começou a rir ainda mais.
— Seol, você precisa entender mais a situação. Essa aí viveu uma vida difícil até agora, então quando você a trata bem, ela fica toda envergonhada.
— Cala a boca, Hugo — falou a mulher, dando a primeira tragada. — Mas estou surpresa. Você não parece um fumante.
— Sou um fumante compulsivo.
— Nada pra se orgulhar, mas obrigada mesmo assim. A propósito, por que parecia que você tinha pisado em alguma merda lá atrás?
“Eu o quê?”
Parecia que ela estava tentando mudar o assunto. Decidiu responder.
— Bem é que eu estava olhando os equipamentos de todos. Eles pareceram muito legais pra mim.
— Mas o seu não é tão ruim também — falou, semicerrando os olhos. — Esta não é uma armadura de couro fervente? É a melhor dentre as armaduras de couro, não é? Percebi que você também está usando uma cota de malha por baixo também, mas isso é raro. Nada que pareça muito caro, mas você tem todas as partes vitais cobertas. E a lança que carrega também não é ruim.
— Sério?
— Sim. Não viu a Clara? O seu equipamento é bem melhor do que o dela, principalmente a lança. Se fizer bem a manutenção, poderá usá-la até o Nível 3.
— Hahahahahahahahaha!! — Depois de esperar a mulher parar de falar, Hugo começou a rir de novo.
— Do que você tá rindo? Esqueceu o cérebro em algum lugar? — indagou ela, rangendo os dentes em irritação.
— Por que você só não pede desculpa? É apenas uma palavra, mas é tão difícil assim pra você? Tem ideia do quão divertido é ver isso tudo?
— Do que você tá falando? Eu só estou dizendo o que vejo.
— Porra nenhuma. Deve ser muito difícil pra você parecer tão educada assim com alguém, né? Sabe, com toda essa sua personalidade.
Parecia que ela estava ficando ainda mais irritada.
— Mas eu estou curioso sobre uma coisa. — Com medo de os dois começaram a brigar, Seol Jihu decidiu intervir. — Qual a classe da senhorita Chohong?
— Arrghh! — De repente, Chohong se levantou, e foi em direção ao jovem, agarrando os ombros dele e o puxando em sua direção. Os cigarros que eles fumavam quase se encostaram. — Olha, eu até ia aguentar, mas preciso te pedir um favor. Não dá pra mudar esse jeito que você fala, não?
— O jeito que eu falo?
— Sim!! Pode ser só comigo, mas, por favor, fale de forma informal, tá bom? Me chamar de senhorita Chohong?! Eu prefiro Chohong, a puta! Você me assusta falando assim!!
Não tinha ideia do motivo dela odiar tanto o jeito com o qual se comunicava, mas o pedido não era algo difícil.
— Tá bom, pode deixar.
Chohong retornou ao assento que estava sentada, parecendo mais tranquila.
— Ufaaa… Ah, certo. Minha classe? É “Paladina Divina”. Sou de Nível 4.
— Paladina Divina?
— Sim. Você começa como Sacerdote Nível 1, depois Freira de Combate, Nível 2. Daí Guerreiro Santo, Nível 3.
— Você desistiu do caminho de Sacerdotisa?
— Tem uma razão pra isso — intrometeu-se Hugo. — Quando começou, a quantidade de Mana que ela tinha era bem alta. Ouvi dizer que ela podia até se tornar uma Maga.
Ficou surpreso com aquela revelação. O mínimo para alguém se tornar um Mago era ter a Mana classificada como Intermediária (Alta) ou maior. Mas é claro que tanto a personalidade e o talento da pessoa também contavam.
— Ela não era requintada o suficiente para se tornar uma Maga. Pelo jeito, os deuses não ficaram satisfeitos com a oportunidade perdida e decidiram colocá-la como uma Sacerdotisa. E, mesmo assim, eles cometeram um outro erro.
— Erro?
— Sim, um erro. Tenho certeza que você percebeu isso quando a viu fazendo o caminho de um Guerreiro, mesmo sendo uma Sacerdotisa.
— Hugo, eu já te falei pra calar a boca. Esse é o meu último aviso. — Chohong começou a encarar o companheiro, que pareceu não ligar muito. Em seguida, ele começou a dar leves tapas na própria cabeça.
— Sabe, nem mesmo os deuses sabiam que essa aí é burra! E com essa personalidade grossa aí, você acha mesmo que o sacerdócio encaixa bem? Hein? Ahahahahaha! — Mais uma vez, o Guerreiro começou a rir muito.
Pronta para atacá-lo, Chohong logo foi jogada na direção de Hugo.
A carruagem estremeceu tanto que até mesmo Dylan, que aproveitava o vento do lado de fora, quase caiu.
— Dylan!! Dylan!!
O líder ouviu alguém gritando o seu nome da carruagem, mas ele apenas juntou as duas mãos formando uma concha e murmurou.
— Desculpe, novato.