Volume 1
Capítulo 50: Carpe Diem (2)
Em instantes, o escritório do Carpe Diem ficou em silêncio. Parecia que o tempo tinha parado, já que todos se entreolhavam imóveis. De incredulidade à desconfiança, de desconfiança a simples olhares…
A atmosfera do ambiente continuava a ficar mais pesada.
Sentiu o próprio coração ficar mais pesado devido à pressão que estava sendo criada. Sabia que eles teriam alguma reação, mas não esperava algo assim.
— Uhahahahahaha! — De repente, Hugo começou a rir. — Não sabia que você era tão engraçado! Acho que devo mudar o jeito que eu te enxergo agora, não é? — falou, dando leves tapas no ombro do jovem. Porém, os presentes sabiam que aquela tinha sido uma tática para acalmar os ânimos de todos.
— Ei. — Uma voz ameaçadora surgiu. — Devagar, Chohong corrigiu a postura. As mãos se fecharam uma contra a outra, as pernas se separaram um pouco e as costas se dobraram para frente. — Deixa eu te contar um negócio. Aparecer aqui não é um problema. Mesmo. — Parecia que ela estava tentando não soar raivosa, mas aquele tom de voz entregava os verdadeiros sentimentos. — Sim, um anúncio de emprego. Você pode ter visto um e a partir disso veio falar com a gente. É como o Dylan disse, não possuímos restrições. Tudo bem até aí.
O clima pareceu tornar-se mais hostil e, após uma pausa, o olhar da mulher adquiriu um tom mais sério.
— A questão é que… — Mais uma pausa. Parecia que ela ainda estava tentando se controlar. — Você apareceu aqui, no escritório do Carpe Diem, cheio de brincadeirinhas. E, como uma pessoa que escutou o que você acabou de dizer, eu acho que vou ter que mudar a minha postura. Deu pra entender?
— Chohong!
— Cala a boca, Hugo — respondeu, de maneira ríspida, tirando o cigarro dos lábios e soltando a fumaça. Por fim, encarou Seol Jihu e continuou a falar. — Eu vou te dar uma outra chance. Vou encarar essa sua atitude como a de um novato querendo entrar pro nosso time contando uma pequena mentira inofensiva.
Hugo suspirou de alívio.
— Então. Por favor, desta vez, não fale merda, e sim a verdade.
Após toda a ameaça, Seol Jihu concordou com a cabeça com as palavras de Chohong e abriu a boca para falar.
— Excluindo os pontos que eu recebi como bônus de início e os multiplicadores, a minha pontuação ao final do Tutorial foi de 2150.
A expressão de Hugo adquiriu um tom mais sério.
— A missão com maior nível de dificuldade que eu completei com as minhas próprias habilidades na Zona Neutra foi uma classificada como “Muito Difícil”. Eu não menti quando disse que também concluí uma de dificuldade Impossível, mas foi por sorte, não mérito.
— Ahhh, então você insiste em dizer que saiu do Tutorial com 26500 pontos e que, de alguma forma, completou uma missão Impossível. É isso? — indagou, movendo as sobrancelhas em um tom de ironia enquanto se levantava do sofá com um sorriso no rosto.
— Sim.
— Ahh, é mesmo?
Então…
POW!
Após piscar o olho, pôde ver que a mão de Dylan estava na frente de seu rosto como um escudo que o protegeu contra o ataque de Chohong.
“Como?!”
Sentiu um calafrio correndo pelo corpo. Não conseguiu ver o soco e muito menos o movimento que precedeu o ataque.
— Dylan!!
— Violência não vai resolver nada, Chohong. O velho já te disse várias vezes pra controlar esse seu temperamento, não é?
— Mas esse filho da puta!
— Seol.
— S-Sim?
— Seol. Seol. Ah… — No início, parecia que o líder estava chamando o candidato, mas na verdade estava apenas repetindo uma palavra no intuito de conseguir se lembrar de algo. Por fim, Dylan deu um tapa na própria cabeça. — Eu estava me perguntando o porquê esse nome me parecia tão familiar. Hao Win me contou. Então foi você.
— Do quê você tá falando? — Dessa vez, foi Hugo quem perguntou.
— Hao Win me falou de um cara que também chegou pela seleção de Março, ele parecia ser um “super novato”. Eu ouvi o nome e tenho quase certeza de que era Seol. Merda, por que eu não pensei nisso logo que te vi?
— O-O quê?! — Quando ouviu aquilo, o rosto de Chohong virou-se para Dylan. Em seguida, ela começou a rir com uma expressão de incredulidade. — D-Dylan, do que você tá falando? Se você falar assim vai parecer que é tudo verdade.
— Entendi. Eu também achei que era tudo mentira quando ouvi a primeira vez — falou rindo, como se estivesse começando a ficar mais interessado. — Acho que terei de confirmar por mim mesmo.
Em seguida, o líder se levantou, foi a algum lugar e retornou carregando uma enorme bola de cristal. Colocou-a em cima da mesa e pôs uma mão sobre ela, fazendo com que o objeto emitisse um brilho.
“O que é isto?”
Instantes depois, toda a superfície do objeto começou a ficar ainda mais iluminada. Então…
— Olha só. O Dylan me ligando primeiro? Que surpresa.
Uma voz saiu da bola de cristal. Uma voz familiar…
— Ouvi dizer que você voltou pra Harmark há pouco tempo. Estou te ligando pra te dar os parabéns por concluir a Zona Neutra.
— Me parabenizando? Hmph, boa piada. Tem ideia do quanto eu senti falta do Paraíso?
— Também fiquei chocado ao descobrir que você ficou responsável pela Zona Neutra, Cinzia.
— Ah, até que não foi tão ruim. Algumas coisas interessantes aconteceram e me mantiveram entretida.
— Coisas interessantes?
— Você também me ligou porque está curioso? — perguntou Cinzia, rindo.
Seol Jihu ficou encarando a bola de cristal. Desde que chegou a Haramark, algumas coisas o surpreenderam, mas não imaginou que veria a Cinzia de novo tão cedo. No entanto, ao escutar Dylan conversando com alguém que até mesmo Kim Hannah havia dito que era importante, o Marca de Ouro passou a vê-lo de outra maneira.
— Você não é a primeira pessoa que me pergunta isso. Tenho respondido essa mesma merda várias vezes igual a um papagaio. Acho até que eu já memorizei a história toda. Parece que virei funcionária de call center.
— Se você não se importar, eu também gostaria de ouvir a história.
— Eu não me importo. É algo que, mais cedo ou mais tarde, eu sabia que iria se espalhar mesmo. E eu também devo alguns favores a Carpe Diem.
Chohong se levantou do sofá e aproximou-se da bola de cristal.
— Chohong? É você?
— Oi. Quanto tempo.
— Sim. Parece que eu não te vejo há décadas.
— Tá bom, tá bom, eu sei. Conta logo a história! — pediu.
— Conseguiu o primeiro lugar com 26500 pontos. Concluiu sozinho as missões de nível Difícil na Zona Neutra. Formou um time com outros cinco e, juntos, completaram todas as missões Muito Difíceis. E, com um método estranho, conseguiu completar a missão de dificuldade Impossível também. Finalmente, um dos únicos dois Marcas de Ouro da história. Feliz?
Quando a palavra “Marca de Ouro” foi mencionada, todos engoliram a seco.
— Obrigado por contar. Depois eu te retribuo.
— Relaxa. Várias pessoas já sabem disso. Ah, daqui a pouco é capaz de nos encontrarmos também. Vou mandar alguém ir aí.
Por fim, a bola de cristal parou de brilhar. A responsável pela Zona Neutra que incluiu os selecionados de Março confirmou a história.
Era difícil imaginar que Cinzia, a líder de uma organização, sairia espalhando boatos por diversão.
Não importa o quanto pensassem, era impossível. No entanto, o impossível tornou-se realidade.
— Filho da… — Após um bom tempo, Chohong pareceu voltar a respirar, se jogando no sofá.
Enquanto isso, Hugo sussurrava para si mesmo “Caralhooooo, caralhoooooo”.
— Um Marca de Ouro? — Dylan bebeu o chá, organizou os pensamentos e abriu a boca. — Parece que vou ter que mudar a nossa abordagem.
— Como assim?
— Seol. — O líder colocou a xícara sobre a mesa e encarou o jovem com um olhar sério. — Eu sei que tipo de pessoa você é. Estamos curiosos sobre muitas coisas e, por essa ser uma história quase inacreditável, pedimos que você nos entenda, pode ser? — A voz daquele homem parecia ter o poder de acalmar a todos por perto.
— Tudo bem.
— Obrigado. Hmm, certo. Sobre o anúncio de emprego. — Antes de começar a falar, analisou Seol por um tempo. — Gostaria de ouvir a sua resposta com toda a honestidade.
— Claro.
— Qual foi o motivo por você ter nos escolhido?
Aquela pergunta o pegou de surpresa.
— Com esse histórico, você poderia ter escolhido qualquer uma das organizações poderosas do Paraíso e elas te aceitariam com os braços abertos. Eu me questiono sobre qual o motivo por você ter vindo até Haramark e batido na porta do Carpe Diem.
Ficou sem saber o que responder. O que Kim Hannah havia dito não era algo que podia sair contando e ele também não iria dizer “Eu ativei uma habilidade minha chamada Nove Olhos na frente do quadro de notícias e o anúncio que vocês colocaram estava brilhando em uma cor dourada, indicando o Mandamento Dourado.”
— É… — Hesitou por um bom tempo antes de responder com um sorriso sem graça no rosto. — Eu gosto da academia que vocês têm aqui…
Dylan fechou os olhos.
***
Seol Jihu retornou ao “Beber, Cair e Levantar”, achou um lugar para se sentar e suspirou. O bar continuava barulhento, mas ele não se importava. Como a sua cabeça estava repleta de memórias de quando foi rejeitado, todo aquele falatório não o incomodava.
“ Me desculpe, mas acho que não podemos trabalhar juntos. Se eu fosse te aconselhar, diria para sair de Haramark o mais rápido que puder. Você vai achar vários outros bons times em outras cidades. Acho que essa seria a melhor escolha pra você.”
Não pôde dizer nada contra. Dylan fora objetivo e claro o bastante para não dar margem a argumentação.
No final, ele apenas retornou ao pub e começou a beber.
Chegou em Haramark cheio de sonhos, mas aquela situação de não poder ir para mais nenhum lugar o entristeceu muito.
O Marca de Ouro apoiou o queixo com as duas mãos e começou a pensar. Se não fosse pela Sinyoung, poderia ter sido aceito em um bom time de Scheherazade e já estaria uma aventura.
“Talvez eu devesse ter aceitado o convite da Sinyoung…”
Como a proposta deles era incrível, estaria recebendo todo tipo de suporte. Mais importante ainda, estaria com Yoo Seonhwa, que disse que faria o melhor para…
— Tsc.
Lambeu os lábios e terminou uma garrafa. Apesar de ter ficado muito feliz na Zona Neutra, agora sentia-se como uma piada. Mesmo que tivesse bastante dinheiro guardado, sabia que não podia continuar sem fazer nada. Porém, ele estava em um nível baixo. E, mais importante ainda, nenhum time deixaria um Guerreiro novato entrar no grupo, já que a oferta era muito grande.
“Eu acho que não posso fazer nada quanto a isso. É melhor eu começar como um carregador e subir na hierarquia aos poucos…”
Após muito pensar nas possibilidades, puxou um cigarro e o acendeu…
Slam!
Ouviu um alto som de algo batendo na mesa.
— Todos, por favor, prestem atenção! — Aquela forte e confiante voz fez com que todo o bar ficasse em silêncio.
Surpreso com a situação, virou-se e deu de cara com um homem alto e magro parado com uma das mãos levantadas.
— Temos algum Guerreiro ou Sacerdote aqui presente? Também estou a procura de um carregador, portanto, por favor, não se acanhe se o seu nível for baixo.
— Do quê você tá falando, Samuel? — perguntou um outro cara, mastigando algo.
— É para uma missão requisitada pela família real. Faremos escolta pela Floresta da Negação — respondeu, que já tinha abaixado o braço levantado.
— Enfia essa missão no cu. Por que você iria pra um lugar daqueles?
Apenas a menção no nome da floresta fez com que a maioria dos presentes perdesse o interesse. No entanto, Seol Jihu era diferente. Ativou o Nove Olhos no momento em que ouviu que precisavam de um carregador, mas Samuel não emitiu nenhuma cor.
“Será que eu devo?”
Como o contratante não emanou cores que indicavam perigo e o Marca de Ouro queria muito entrar para um time, achou melhor aproveitar. Deveria aproveitar a oportunidade que acabara de aparecer. Decidido, deu um passo à frente. Esperava conseguir ouvir os detalhes restantes da missão.
— Maravilhoso! O nosso primeiro felizardo já apareceu — disse, ao perceber que Seol havia se voluntariado.
— Ouvi dizer que você está procurando por um carregador.
— Sim. Já exerceu tal função antes?
— Não, vai ser a minha primeira vez.
— Primeira vez? — indagou o contratante, parecendo um pouco incomodado com aquela resposta.
“Vou receber outro não?”
— Eu concordo!
Foi então que Seol Jihu ouviu uma voz familiar.
— Você o conhece, Alex? — perguntou Samuel, virando-se para encarar o companheiro.
— Sim. E eu apoio totalmente ele participar da missão. Te garanto que você não vai se arrepender.
Ficou impressionado ao ouvir aquele nome. Apesar do Sacerdote estar sentado próximo ao contratante, não conseguiu vê-lo de primeira.
— Se o Alex garante, então acho que não será uma experiência tão ruim. Por favor, venha conosco! — Em seguida, Samuel balançou a cabeça, indicando uma cadeira vazia próxima a ele.
— Alex.
— Bom te ver de novo. Não esperava que íamos nos encontrar de novo tão rápido.
— Eu também não.
— Sou um membro do time do Samuel. A propósito, parece que alguém aí tá só o pó da rabiola. Hehehehehe — falou com um sorriso no rosto.
— Olha só, parece que vocês dois se conhecem bem, então por que não nos apresentamos? — disse, oferecendo as mãos para um comprimento. — Meu nome é Samuel. Sou o líder deste time e um Explorador Nível 4.
— Meu nome é Seol. Um Guerreiro Nível 1.
— Hahahaha! Eu amo a educação dos asiáticos. — Em seguida, apontou para a esquerda. Sentadas naquela direção, estavam uma mulher morena de cabelo encaracolado e uma mais baixa, com o cabelo loiro platinado.
— Você já conhece o Alex, então irei excluí-lo. Primeiro, aquela nobre senhorita ali. O nome dela é Clara, ela é uma Caçadora Nível 2. Próxima à ela temos a Grace, uma Guerreira de Escudo. De certa forma, podemos dizer que ela é a sua veterana.
As duas mulheres levantaram a mão em cumprimento ao mesmo tempo e, em resposta, Seol acenou, fazendo com que ambas começassem a rir.
— Você disse que esta será a sua primeira vez como um carregador?
— Sim.
— Não será um trabalho complicado. Apenas iremos pedir para que você cuide de alguns assuntos bem simples, mas, no geral, pense que você deverá carregar os nossos equipamentos durante toda a expedição.
— É só isso que eu faço? — perguntou o Marca de Ouro, curioso.
— Claro! Mas temos algumas regras que você precisa seguir. Primeiro, você não pode ficar para trás. Seria bem problemático termos que diminuir o ritmo, entende o que eu quero dizer? Segundo, você não deve entrar em uma luta. As coisas podem ficar mais difíceis do que o planejado e não esperamos que um carregador lute. Tudo bem? Viu? Nada demais.
— Sim, parece tranquilo.
— Ótimo! Agora, em relação às recompensas. Primeiro de tudo, um carregador não tem o direito de pedir qualquer artefato que recuperemos durante a expedição. Concorda?
Não tinha ideia do que o “artefato” poderia ser, mas acabou concordando. Essa era uma regra que todo terráqueo já deveria saber, porém como era a sua primeira vez, Samuel achou melhor explicar.
— Bom. As outras recompensas nós dividimos igualmente.
— Sério? — Ficou surpreso por aquela proposta. Pensou que seria apenas um escravo, mas os termos pareciam melhores do que ele esperava.
— Vai dividir tudo até mesmo com um carregador?
— Óbvio. Um carregador ainda faz parte do time, não faz? — Ao responder a pergunta, o contratante pareceu um pouco confuso. Não pareceu entender o motivo do novato estar com tal dúvida. Contudo, o Explorador logo entendeu a situação e deu um sorriso irônico. — Sim, eu ouvi dizer que alguns grupos tratam os carregadores como escravos, mas eu não me identifico com esses times. Você é um terráqueo, assim como eu, e está atrás de experiência.
De acordo com a visão de Samuel, no Paraíso Perdido, a relação entre um carregador e um time era benéfica para ambos os lados.
— Nos ajude a manter o foco na expedição e nós o protegeremos. Combinado?
— Sim.
— Ah, e por favor, não espere ser tratado bem. Apesar de ser parte do time, nós não teríamos problemas em carregar as nossas próprias bagagens.
Levando em consideração que a maioria dos terráqueos começava como um carregador, independente de ser um Contratado ou Invocado, fazia bastante sentido oferecer tal tipo de explicação.
— Hora do assunto principal — disse, se aproximando de uma das orelhas de Seol, com um sorriso no rosto. — Espero que você não tenha mesmo achado que faremos um reconhecimento na Floresta da Negação — murmurou.
Ao ouvir aquilo, a expressão do Marca de Ouro mudou.
— É claro que faremos uma missão, mas… Oopsie. Melhor terminarmos de conversar em outro lugar — sussurrou, apontando para a saída do pub. — Siga-nos. Vamos para um lugar mais quieto. Depois de ouvir o que eu tenho a dizer, garanto que você vai pensar que tirou a sorte grande.
Por fim, Samuel levantou e gritou um “Vamos embora daqui!”.
— Vamos. Pode se decidir depois de ouvir. Se não gostar, sinta-se à vontade para sair — concluiu Alex. — E eu estou com um bom pressentimento sobre essa missão.
— Por quê?
— Porque conseguimos um Guerreiro Nível 3 como carregador. Acho difícil outros times terem isso.
— Mas eu sou de Nível 1.
— Aham, Seol, senta lá — disse rindo.
***
Escritório do Carpe Diem.
Após Seol Jihu ter saído, o ambiente permaneceu em silêncio por alguns segundos. Afinal, todos tinham algo para pensar.
Dylan ficou encarando o lado de fora, enquanto Hugo ficou com uma expressão de “Eu não entendi o que aconteceu.”.
— Ai, merda. Que vergonha — reclamou Chohong. — Sério? Porra. Como ele conseguiu completar?
— Dylan, eu ainda não entendi — falou Hugo enquanto Chohong reclamava.
Com o canto dos olhos, ela encarou o Guerreiro, que apenas balançou as mãos indicando que a mulher não precisava dizer mais nada.
— Eu não estou dizendo que vou debater sobre a decisão, já que você é o nosso líder, mas eu ainda não entendi. Ele não é bom o suficiente?
— Não é isso — respondeu Dylan. — Se você considerar a essência do time, vai entender o motivo de não podermos aceitá-lo.
— Mas…
— O que precisamos é de um Guerreiro já pronto. Um novato não seria muito eficaz — concluiu, puxando um cigarro.
— Dylan!
— Hugo, já chega.
— O líder do Carpe Diem é o Dylan. O próprio velho o nomeou. Não vamos perder tempo argumentando — Intrometeu-se Chohong.
— Eu sei que você tá certo, mas, porra. — Suspirou, querendo dizer que haviam perdido uma boa oportunidade.
Algum tempo depois, o líder terminou de fumar o cigarro.
— Ele tinha olhos muito claros.
Chohong e Hugo se viraram para Dylan após ouvirem aquela declaração.
— Do que você tá falando? Virou o velho?
— Hehe. Talvez... De qualquer forma, é uma pena. Eu entendo onde o Hugo quer chegar.
— Sim! Vamos colocá-lo embaixo das nossas asas! Nós também já fomos novatos, não fomos?
— Seol é um quadro negro — respondeu Dylan, com calma. — Ele é um enorme quadro negro que não serve para pinturas. Não posso nem imaginar o quão grande esse quadro é, então como posso tentar pintá-lo de alguma forma?
— Entendi porra nenhuma. Fala de um jeito mais fácil — reclamou Hugo.
— Admito que ele é incrível, mas ainda assim é só um Nível 1. Ainda vai cometer muitos erros.
— É por isso!
— É por isso que ele não pode entrar em times como o nosso.
Hugo estava gritando, mas, ao ouvir aquelas palavras, ficou em silêncio.
— Essa é a hora mais importante para ele. É a hora em que o caminho para o futuro começa a ser trilhado e o seu incrível potencial vai sendo revelado.
— Tá dizendo que nós não somos bons o suficiente?
— É mais quem nós somos. Nós sempre arriscamos as nossas vidas. Passamos por todas as merdas possíveis e também nos tornamos cínicos no processo. O que um cara como o Seol poderia aprender?
Aquele tom de voz calmo impossibilitou que o Guerreiro conseguisse responder.
— É o que eu penso. O Seol precisa de um time que conserte os erros que ele irá cometer e que o guie para frente. Algo que, no mínimo, nós não iríamos fazer.
— Claro, eu e Chohong não somos bons nisso, mas ainda temos o velho… — disse Hugo, bem mais calmo.
— Não tenho tanta confiança assim. E o velho deve se aposentar em pouco tempo — respondeu Dylan, mantendo-se firme. Em seguida, deu um leve suspiro e continuou: — Vamos parar de falar nisso agora. Precisamos ir.
— Pra onde? — Dessa vez, fora Chohong quem perguntara.
— Trabalho. É um pedido do time do Samuel. Hugo, levanta, cara. Vamos.
— Tá bom, eu acho que entendi agora. De que trabalho estamos falando? — perguntou o Guerreiro.
— Parece que só vamos conseguir saber isso direto da fonte. Mas, ele disse que seria um bom acordo para todos.
— Aquele bosta arranja umas coisas interessantes. Vale a pena ouvir. Onde o encontramos?
— Na taberna dele. Ele já deve ter um plano todo feito. Vamos. — Em seguida, com uma das mãos no bolso, Dylan abriu a porta do escritório para saírem.