Volume 1
Capítulo 46: Primeira Vez (1)
Realizar algo pela primeira vez sempre será um momento especial.
A sensação de ir ao Paraíso era, de alguma forma, como se afogar nas profundezas do oceano. Portanto, Seol sentiu todo o corpo ficar pesado e lento. Porém, logo após fechar os olhos, teve a sensação de emergir. Ao analisar com mais cuidado o local que agora se encontrava, pôde ver o portal do templo bem atrás de si, ainda emitindo aquela luz misteriosa.
— Finalmente chegou.
Havia retornado. Aquela seria a segunda vez que entrava em tal mundo.
Apresentou a combinação que tinha ao balcão e recebeu uma chave em troca. Sem hesitar, caminhou em direção às instalações de armazenamento para recuperar o equipamento que deixou para trás. Confirmou que aquele “8” dourado tinha mudado a coloração para prata, devolveu a chave e saiu do templo.
— Checou tudo? — perguntou Kim Hannah, que o esperava perto da entrada.
— Sim.
— Se é assim… Huu… — Ela suspirou e, com uma expressão melancólica, acrescentou. — Ainda não é tarde demais, tá bom?
Estava prestes a perguntar sobre o que ela estava falando, mas logo percebeu a sinalização com o olhar para a direita que a agente fez.
— Bem, eu só quero curtir um pouco e relaxar.
— Se é assim, não tem muito mais que eu possa fazer. Mas, por favor, me liga quando você mudar de ideia, tá bom? As portas da Sinyoung vão sempre estar abertas pra você. — Em seguida, ela lhe deu uma bolsa cor de marfim contendo suprimentos que separou para o cliente.
Apesar de ser muito inferior em relação ao que a farmacêutica oferecia, era melhor do que nada. Aliás, era até muito para alguém de nível 1. Assim, pegou-a, agradecendo.
— Tem problema eu não te acompanhar?
— Não, relaxa. Eu sei que você é muito ocupada.
— Que tal só até o portão do Sul?
— Relaxa, eu vou ficar bem.
No início, estranhou um pouco toda aquela preocupação, mas logo entendeu que, no Paraíso, ela tinha que se demonstrar leal à Sinyoung.
“Na moral. Eu vou ter que fazer umas coisas bem estranhas, não vou?”
Se despediram e logo cada um seguiu o próprio caminho. Já haviam discutido tudo sobre o que precisava saber na Terra e, além do mais, sabia o quão ocupada ela era. Não era mais uma criança, então não queria gastar o tempo da agente com coisas fúteis.
“Então aqui é Scheherazade…”
Em todo o canto podia ver filas de prédios amarronzados, avenidas limpas e bem cuidadas e, por fim, várias pessoas caminhando; como parecia estar sempre movimentado, a cidade parecia fazer jus à reputação de capital de todo um reino. Outro fator que lhe chamou a atenção eram estruturas como castelos, torres e quartéis de exército, todas construções não muito comuns na Terra moderna.
O que as lojas vendiam ali? E os ferreiros? Estava muito curioso sobre muitas coisas. Se dependesse apenas de si, passaria, no mínimo, um dia inteiro só observando tudo o que a cidade tinha a oferecer, mas precisava resolver um problema urgente chamado “sair desse lugar o mais rápido possível.”
Scheherazade era o local mais próspero controlado pelos humanos. Como a sede da Sinyoung também ficava ali, a cidade toda era como o seu quintal.
Sentiu-se um pouco triste por ter que sair dali como se estivesse sendo perseguido, mas o que poderia fazer? A farmacêutica observava todos os seus movimentos. Para não se tornar a marionete deles precisaria ir para algum lugar em que a influência deles não poderia alcançá-lo.
Após caminhar até o destino admirando tudo o que podia, chegou ao portão Sul. Tal estrutura era uma imensa construção feita de pedra com estábulos próximos a onde ficava. Junto a tudo, ainda podia ver algumas carruagens…
“Dá pra chamar isso de carruagem?!”
Piscou os olhos sem acreditar no que via. A menos que você tivesse dinheiro, era muito comum fazer uso dos serviços de uma carruagem para se locomover de uma cidade a outra. No entanto, ficou um pouco assustado ao ver filas de estruturas de madeira podre quase caindo aos pedaços paradas próximas da onde estava. Eram todas muito diferentes da que andou quando saiu da Zona Neutra.
Depois de um tempo pensando no que fazer, o Marca de Ouro começou a andar, mas logo foi interrompido por um homem deitado em uma pilha de feno enquanto mascava algo que parecia ser um pedaço de capim.
— Ooopa.
— Oi?
O homem encarava o céu com uma expressão de tédio, mas assim que uma sombra se aproximou, ele levantou-se. Ele era um local com uma pele cor de bronze, bigode e cabelo desgrenhado.
O número de residentes naturais do Paraíso havia diminuído muito desde a guerra, mas, mesmo assim, vários tinham sobrevivido. Com exceção daqueles que participaram de maneira direta das questões militares, a maioria das pessoas que perderam as suas casas continuaram vivendo a partir de atividades terráqueas, como agricultura, criando lojas, entre outros métodos. Esse cara, por exemplo, após fugir para Scheherazade, trocou o emprego e se tornou um carroceiro.
— Você é um terráqueo?
— Perdão? Ah, sim, sou.
— Pra onde você quer ir?
— Pra cidade de Haramark, se possível.
— Haramark? — A expressão de desinteresse do homem transformou-se em um instante. — Não tem como, então. Eu só vou até Zahrah.
— Por quê?
— Porque é mais seguro. É muito difícil ouvir as notícias de um ataque acontecendo na estrada de Zahrah, mas Haramark… — Ele balançou a cabeça e, em seguida… — De qualquer forma, você tá me dizendo que quer ir pra Haramark, né?
— Isso.
— Espera um pouquinho. Eeeeiiii!! Maktan!
No momento em que aquele homem levantou a mão e gritou, um cara careca, sentado em um lugar distante de onde estavam virou-se para eles, fazendo com que Seol Jihu se arrependesse, já que a carroça do outro homem parecia feita para transportar produtos, não pessoas.
— Por que tá me chamando? Já tô saindo.
— Tem lugar sobrando?
— Sempre tem lugar sobrando.
— Muito bom. Esse cara aqui quer ir pra Haramark.
Com um pouco de irritação, Maktan se aproximou antes de analisar o Marca de Ouro.
— Você deve ser um terráqueo.
— Lógico que é. Não tá vendo? Precisa mesmo perguntar?
— Cala a boca. Eu sei que você fez a mesma pergunta mais cedo, tá bom? — O tom de voz do homem careca era seco, fazendo com que o outro carroceiro risse de vergonha. — Eu vou calcular a taxa separada, tá bom? 30 moedas de cobre pra Zahrah, mas se é pra Haramark, quero 300 moedas de cobre adiantadas.
O preço aumentou em dez vezes. Claro, percebeu que já estava incluso a compensação pelo risco de levá-lo até lá. Depois, Maktan continuou estudando o jovem terráqueo mais um tempo antes de continuar a falar.
— Hmm, mas se você estiver querendo trabalhar como um mercenário eu diminuo pela metade o preço pra Haramark.
— Mercenário?
— Pra proteger a minha carroça. Eu sei quais os caminhos mais seguros para aquela cidade, mas sou atacado umas duas ou três vezes de dez.
Foi então que entendeu a situação e concordou. Caso houvesse um ataque, não seria capaz de ficar parado observando mesmo. Então aquilo parecia ser um bom negócio.
A moeda desse mundo também estava inclusa na lista de coisas nas quais Kim Hannah o ajudaria. Quando abriu a bolsa de dinheiro, várias moedas emitiram um brilho prateado.
“Ela disse que aqui tem 100 moedas de prata, não disse?”
A moeda básica em circulação no Paraíso eram as feitas de cobre e níquel. 100 moedas de cobre eram o equivalente a uma moeda de níquel. Acima delas, estavam as moedas de prata. Uma moeda de prata era o equivalente a 1000 moedas de cobre ou 10 moedas de níquel. Porém, mais valiosas que as moedas de prata eram as moedas de prata branco, ouro e platina, mas esses eram itens muito acima do que ele podia conseguir no momento.
Quando entregou uma moeda de prata, os olhos de Maktan se arregalaram. Ao dar o troco de 8 moedas de níquel e 20 de cobre, levantou a cabeça e olhou para o céu. O Sol estava prestes a chegar no seu ponto mais alto.
— Se eu acelerar, dá pra gente chegar em Zahrah até o final do dia.
— E de Zahrah para Haramark?
— Se tudo correr bem, em dois dias. Se tivermos azar, se prepara pra ficar umas quatro noites viajando.
— Quatro dias.
— Vamos. Eu já tava quase saindo — disse, dando tapas nas costas de Seol Jihu. — A propósito, tem pouco tempo que você chegou aqui, não tem?
— Por que você acha isso?
— Num tem muitos terráqueos que são tão gentis com a gente igual a você.
“Quem iria imaginar que seria tão ruim?”
Com cuidado, subiu na parte de trás da carruagem, não, da carroça de madeira. Haviam bancos nos dois lados, mas eram suficientes apenas para servirem de apoio. O seu coração continuava acelerado.
“Merda, eu tô bem nervoso.”
A história poderia ter sido diferente se estivesse fazendo isso logo depois de sair da Zona Neutra, mas, como tinha ido para a Terra, achou mais difícil se adaptar à realidade da situação atual em que estava usando uma carroça puxada por cavalos para viajar a uma outra cidade.
“Parece até mentira.”
No entanto, não sentia-se tão desconfortável. Estava até bem, apesar do nervosismo.
— Vamos!! — gritou o homem para os cavalos.
Admirou Scheherazade enquanto pôde à medida que a cidade ia diminuindo de tamanho a cada metro percorrido.
***
Haramark era uma cidade localizada em direção à parte Sul do território humano e Seol Jihu tinha dois motivos para ter lá como o seu destino.
O primeiro, é porque é uma cidade na qual as influências de Sinyoung não se estendiam tanto. O segundo, era porque os humanos tinham uma liberdade ainda maior, fato raro em outros locais. No entanto, é claro, também haveriam pontos negativos. Um dos principais seria a segurança, o que deu à Haramark o apelido de Cidade do Crime.
A família real residia em tal município e, ao menos, tentavam impor algumas regras, mas a realidade era que tinham parado de interferir nos assuntos dos terráqueos há muito tempo. Como todos os rebeldes haviam sido realocados para apenas um local, não podiam fazer mais do que isso.
Outro ponto negativo era o de que a cidade ficava muito perto das fronteiras. Claro, guerra e terráqueos eram duas coisas que andavam lado a lado, mas ele era apenas nível 1.
No entanto, tecnicamente falando, o Castelo de Haramark não ficava próximo às fronteiras, o que o deixava mais tranquilo.
Porém, no quesito segurança, todos os outros locais encaravam mais ou menos a mesma realidade, com exceção de Scheherazade. E, como a guerra entre os terráqueos e a aliança dos seres extraterrestres e outras espécies estava acontecendo, pensou que a maioria dos humanos poderosos não teriam tempo de prestar atenção nos mínimos detalhes. Kim Hannah até havia pensado bastante no assunto antes de concordar em deixar Seol ir para a Haramark na condição de não avançar mais para o Sul.
Então, confiou o próprio bem-estar ao carroceiro, mas, por volta das duas horas de viagem, a sua bunda começou a doer. Já estava cansado de apenas olhar os arredores, já que a paisagem não variava muito. Era sempre a mesma visão de uma terra desolada.
“Que tédio…”
Se estivesse viajando com alguém, poderia ter, pelo menos, iniciado uma conversa, mas acabou pensando nos irmãos Yi várias vezes.
Assistia a vista marrom da estrada enquanto apoiava o queixo com as mãos, mas logo decidiu passar a tentar analisar os outros passageiros.
Havia outras três pessoas na carroça, além dele e do carroceiro, Maktan. Eram todos viajantes e, a julgar pelo que vestiam, também eram terráqueos.
O africano careca ao seu lado estava sempre bocejando e vestia uma grande armadura. Além disso, também carregava um afiado machado que sempre atraía a atenção dos outros. Por alguma razão, esse cara estava encarando um outro passageiro enquanto sempre mantinha os olhos semicerrados.
Seguiu o olhar do careca e acabou vendo um jovem loiro com um sorriso gentil. Julgando pelas roupas que usava, parecia ser um Sacerdote. Próximo a ele estava uma linda mulher de cabelos vermelhos portando um arco nas costas. Ela estava com os braços cruzados na altura do peito e com as pernas cruzadas, mas sempre balançava a cabeça em um certo ritmo.
No momento em que percebeu as sardas no rosto da mulher, pôde ouvir a forte voz do homem africano.
O sono dela não pareceu ser tão pesado, já que ela logo levantou a cabeça e o encarou com uma expressão de cansaço.
— O que foi? Eu? — O tom de voz irritado mostrou o quão insatisfeita estava com a tentativa do homem de acordá-la.
— Isso. Você mesma. Esse seu arco aí é muito bom, não é?
A mulher manteve a mesma expressão de frieza, mas o canto dos seus olhos se arregalaram um pouco.
— Bem, eu fui pra Scheherezade por causa dessa belezinha, então…
— Por causa do arco?
— E mais algumas outras coisas.
— Pelo que eu vejo é um arco-longo que foi desenhado para a guerra. Por acaso você tá no nível 4?
— Não. Nível 3. Sou uma rastreadora — disse, balançando a cabeça.
— Ahh, uma rastreadora. Não parece.
— Você me acordou só pra perguntar isso? — indagou a mulher após a declaração em tom de surpresa que ouviu.
— Eu estava curioso. Só isso.
— Não me faça rir. Se já tiver acabado as perguntas, me dá licença. Preciso voltar ao meu sonho de beleza.
— Por que você está agindo assim quando já sabe o que eu quero? Quantos? — Mesmo após ouvir uma resposta não muito agradável, o homem continuou falando, mas dessa vez com um sorriso irônico no rosto.
“Do que ele tá falando?”
Como estava entediado, Seol Jihu decidiu se focar na conversa, então inclinou o pescoço na direção das vozes.
— Argh. — A mulher emitiu um grunhido como se tivesse entendido a situação. Soltou um outro suspiro e logo respondeu. — Cinco moedas. Níquel.
— Mas você tem confiança.
— É difícil achar alguém forte e com cérebro — falou, olhando para o homem que carregava um machado.
— Você só vai encontrar alguém assim se lutar com ele, não acha? — respondeu, dando tapas na própria coxa.
— Não quero. Não tenho costume de fazer isso em uma carroça se movimentando.
— Eu acrescento uma moeda de Níquel no pagamento. Que tal?
— Ainda não quero. Se não gostou, pode esquecer. Eu nunca aceitaria se não fosse pelo meu orçamento ter ficado mais curto depois de comprar esse arco.
O guerreiro lambeu os lábios e logo puxou as moedas do bolso, jogando-as na mulher. Ela pegou todas e bocejou Depois de ficar alguns segundos com cara de preguiça se levantou, coçou a cabeça e apontou com para Seol Jihu com o queixo.
— Por favor, troca de lugar comigo.
Levantou-se e foi para onde antes estava a rastreadora.
— Que tal tocar?
— Deixa de ser safado. No momento que você encostar essa mão suja na minha cabeça eu te mato.
— Ha, mas você é muito irritada — disse rindo enquanto enfiava a mão por baixo do top da mulher.
Acaricia, acaricia.
O Marca de Ouro olhou toda aquela cena tentando disfarçar, mas não demorou muito para perceber que a mulher já tinha se curvado e estava com o rosto próximo à coxa do homem. Quando percebeu a situação ficou nervoso e desviou o olhar.
“Q-Que porra eles estão fazendo agora?!”
O seu coração acelerou. Será que isso era o famoso choque cultural?
O Sacerdote observava o desenrolar de toda a situação com uma expressão de desinteresse. Porém, quando viu um jovem corar próximo de si, aquele olhar de indiferença foi substituído por um leve sorriso.
— Primeira vez?
— Hã?
— Primeira vez que você vê algo assim?
— Ah, sim. É sim.
— Mas você parece que é, no mínimo, um nível 2. Ficou em Scheherazade o tempo todo? — perguntou com um tom de voz surpreso ao analisar as duas lanças do Marca de Ouro.
Com um pouco de esforço recuperou a compostura e assentiu.
— Ah, então você era um cavalheiro, né? Primeira vez viajando para Haramark?
— Sim. — Será que tinha cometido um erro ao pensar que aquele cara estava zoando com a cara do jovem?
— Se é a sua primeira vez, deixe-os se divertirem. Diferente de Scheherazade, em Haramark e chama do romance ainda queima.
Quase respondeu “Romance o caralho”, mas conseguiu se segurar.
— Sabe como é, né. Aqui não tem televisão, computador, nem nada do tipo. Então, o que sobra para fazermos? Talvez você pense nas jornadas para exploração e outras expedições, mas nós não podemos participar delas o tempo todo. No fim das contas bebemos, comemos e transamos. Acabamos sendo mais fiéis aos nossos instintos básicos, a única forma de entretenimento que temos aqui.
Não conseguia se simpatizar com aquela noção, mas continuou a concordar com a cabeça. Afinal, precisava se distrair com algo, já que o barulho de algo sendo chupado estava o irritando bastante. Preferia conversar com um Sacerdote amigável com um sorriso irônico no rosto do que ficar observando duas pessoas transando.
O Sacerdote continuou falando, mas logo soltou um “Oops” e estendeu a mão.
— Meu nome é Alex. Sacerdote Investigativo nível 3. Área 4. E você?
— Seol. Guerreiro nível 1 da Área 4 — respondeu após hesitar um pouco e o cumprimentar.
— Hã? Nível 1? — Alex ficou boquiaberto com a informação, mas logo começou a rir, colocando uma das mãos contra a testa. — Agora eu entendi. Você não é um cavalheiro, é só um noob. — Em seguida, começou a cutucá-lo na altura das costelas com o cotovelo à medida que o sorriso ficava ainda maior. — Bem, então quando você chegar à Haramark a sua vida com certeza vai levar um baque.
Apenas deu um sorriso sem graça como resposta.
***
A viagem tinha se tornado muito menos tediosa desde que começou a conversar com o Sacerdote, que pareceu ficar cada vez mais animado com o fato de Seol Jihu demonstrar interesse nas histórias que contava.
Enquanto isso, a carroça deixou uma desolada área vazia e entrou em uma nova região. Como Maktan disse, haviam chegado em Zahrah depois do pôr do Sol.
Depois de alguns relatos sobre a vila, imaginou que o local seria um conjunto de várias moradias rurais com uma população bem pequena, mas quando de fato chegou ao local acabou surpreso pela extensão.
Alex explicou que mais de 1000 pessoas moravam ali, podendo achar até mesmo alguns oficiais do governo, tabernas e mercados, que continham a maioria dos materiais de necessidades básicas. Também enfatizou que aquele lugar vinha recebendo suporte de Scheherazade e que as outras vilas não eram nada parecidas.
Sentindo-se exausto depois de ficar um dia todo em viagem, após o jantar, foi direto para o seu quarto alugado em uma taberna. Como seria a sua primeira noite propriamente dita no Paraíso, a ocasião devia carregar um valor sentimental bem grande, mas a situação acabou sendo bastante desastrosa.
O prédio pareceu ser bem precário e, graças a isso, pôde ouvir o homem do machado e a Rastreadora transando a noite toda. Tapar os ouvidos não adiantava muito, já que continuava escutando os gemidos dos dois. No final das contas, não conseguiu descansar muito bem e, com um rosto de sono, subiu na carroça logo pelo amanhecer.
Ficou um pouco nervoso com um homem e uma mulher que conversavam rindo, mas logo que partiram de Zahrah, esses pensamentos foram embora.
Quanto mais viajavam, mais o cenário mudava. O solo antes amarronzado foi, gradativamente, sendo substituído por plantas e, em pouco tempo, até mesmo algumas pequenas árvores apareceram. Depois disso, não demorou muito para que a vegetação começasse a se tornar de grande porte.
A estrada também pareceu ficar mais precária também. No entanto, o charme de poder sentir o cheiro da natureza compensava essa piora.
Outra coisa que mudou à medida que se aproximavam de Haramark foi a atitude do homem de machado e da Rastreadora. Aquele não tentou iniciar mais nenhuma conversa, enquanto essa permaneceu com os olhos semicerrados.
— Pode dormir. Vai ficar tudo bem. Não devemos ter problemas nos próximos dias.
Após aquelas palavras do Sacerdote, Seol Jihu fechou os olhos. Era engraçado pensar que no dia anterior ele julgou a mulher do arco como alguém incrível por conseguir adormecer naquelas condições.
“Queria chegar em Haramark o mais cedo possível…”
***
Quanto tempo se passou?
— O que aconteceu?
— Falem baixo.
— Acorda ele…
— Espera, isto…
Ainda estava dormindo quando pensou ter ouvido vozes. Então, sentiu alguém sacudindo-o pelos ombros. Quando acordou, a primeira coisa que viu foi uma floresta escura. E, mesmo que fosse apenas intuição, parecia que a carroça estava se movendo com uma velocidade muito acima do que antes.
— Acorda, Seol!
— Alex?
— Oi?
— Onde…? — Antes que pudesse terminar a frase, o Sacerdote pressionou um dos dedos contra os lábios, sinalizando para que ele falasse baixo. Portanto, o Marca de Ouro se calou e analisou os arredores.
“Uma floresta?”
No entanto, esse não era o único problema.
O guerreiro estava segurando o machado com uma expressão de insegurança. Enquanto isso, a Arqueira estava com a orelha pressionada contra o chão da carroça.
Ela estava se concentrando o máximo que podia, transparecendo toda a ansiedade que sentia.