O Retorno da Gula Coreana

Tradução: Teverrr

Revisão: Melo


Volume 1

Capítulo 40: Algemas Douradas e Liberdade Perigosa

O grupo de Salcido saiu correndo como se estivessem sendo perseguidos, e o homem que contratou Oh Minyoung desapareceu logo que foi liberado. Com certeza não queriam irritar o pessoal da Sinyoung. Portanto, duas pessoas foram deixadas para trás.

Não importava se fosse um Convidado ou Contratado. Agora que perderam o suporte, era fácil imaginar o que aconteceria com eles.

— Fecha bem a boca, entendeu?

Chute!

Sangue saiu do nariz do cara grandão.

Como a situação tinha se invertido, parecia que Hyun Sangmin estava em um parque de diversões. Implorou para Kim Hannah uma chance de se vingar e, assim que ouviu as palavras “não os mate”, começou a bater no rosto do fortão.

— Ei, seu filho da puta, é bom, né? — perguntou depois de quase espancá-lo. Porém, como ainda não estava satisfeito, decidiu continuar dando alguns chutes. — Você nunca imaginou que terminaria assim, fala tu. Seu filho da puta!!

Os punhos, carregados de ódio e raiva, continuavam a se mover, sempre atingindo o nariz do oponente. Logo a cartilagem ficou toda deformada e os olhos da vítima agora pareciam estar quase sem vida. Respirou fundo e parou, pois ainda não tinha acabado, mas achou melhor dar uma pausa naquele momento. Precisava guardar as forças que restavam para outra pessoa…

— Onde você pensa que tá indo?!

Aaaaahk?! — Era tarde demais. Ela tentou correr, mas não foi rápida o suficiente. Já tinham agarrado o seu cabelo.

— Não era você que tava pisando em mim até agora há pouco? Hein?

Tapa!

— É melhor fechar bem essa boca também. — Fez com que ela olhasse para o lado e a acertou com uma cabeçada.

Agora com os olhos ainda mais abertos, a mulher cobriu a boca com as duas mãos e caiu no chão. Desesperada, começou a gritar e a rolar no chão enquanto a mandíbula pendia sem controle. Em seguida, começou a chorar. Por fim, Hyun Sangmin começou a chutá-la, fazendo com que Seol pensasse no que devia fazer em uma situação assim.

Como explicar? Aqueles dois estavam errados, mas o amigo tinha passado um pouco dos limites. Até mesmo pedir para que ele parasse foi um problema.

“Eu posso até suportar injustiça, mas nunca perder.”

Ele disse aquilo quando se conheceram. Poderiam argumentar que aquela situação apenas aconteceu porque o Marca de Ouro o havia pedido um favor. Assim, tentar pará-lo seria, mais ou menos, uma traição.

— Sangmin, já chega. Tá bom.

Nesse momento, um homem de meia idade saiu do meio da multidão, indo em direção ao Arqueiro e agarrando o braço dele.

— Ei, quem caralhos é… Ah, é você, Ahjussi! — gritou, desvencilhando-se da mão que o agarrava. — Por que você demorou tanto?

— Me desculpa. Tinha que fazer algo antes.

— Você tem ideia do que acabou de acontecer?

— Eu sei. Entendo. Mas vamos parar por hoje, tá bom? Ela é propriedade da Sinyoung agora, então teremos que pagar um reembolso se ela não voltar em boas condições.

Não gostava muito do termo “propriedade”, mas, ao menos, o linchamento havia parado. O homem de meia idade foi quem convidou Hyun Sangmin.

— Não precisa sentir pena dela — falou Kim Hannah com uma voz impassível.

— Deve ter mais do que algumas pessoas querendo dar um soco nela.

— Sério?

— Sim. Sabe aquele incidente da Yun Seora ter sido espancada? Então, essa mulher que incitou o pessoal do Cartel a fazer isso.

— O quê?

— Não sabia? Pensei que já tivesse descoberto. Foi ela quem disse sobre o braço machucado. Foi ela quem os guiou, dizendo para que atacassem Yun Seora e enganando a coitada prometendo alguns pontos grátis. Foi tudo coisa dessa piranha, aí.

— Sério? — perguntou Seol, encarando Oh Minyoung sem acreditar no que tinha ouvido. Toda a pena que sentia acabou se esvaindo.

— Mas isso não é tudo. Não foi ela quem matou a outra garota no Tutorial pra roubar os pontos? Foi uma só. Bem na nuca usando o cabo de um rodo. Pop! — Intrometeu-se o jovem de cabelo encaracolado. O jeito no qual sorria deu a impressão de que era uma pessoa agradável, quase fazendo com que o Marca de Ouro não acreditasse que aquela era a mesma pessoa que destruiu a mão do homem forte só com uma adaga. — Ah! Oi! Meu nome é… — Logo que percebeu que estava sendo encarado, ficou todo animado e começou a falar.

— Shin Hansung? Por que você não leva esses dois pra parte de trás da nossa carruagem? — No momento em que tentou fazer parte da conversa, Kim Hannah logo o cortou, assumindo as suas expressões de seriedade e indiferença.

Aff. Sempre me botando pra fazer o que acha chato.

Ah, é? Quer que eu faça?

— Tá bom. Tô indo — confirmou logo que o olhar da chefe o atingiu. — É por isso que você ainda não arrumou um marido…

— O que foi que você disse?! — Antes que ela pudesse se enfurecer ainda mais, ele já tinha começado a arrastar o cara forte e Oh Minyoung para o local designado. Começou a ranger os dentes enquanto olhava o jovem sumir com a distância. — Esse bostinha… — Talvez tivesse percebido que Seol a encarava, então logo se acalmou. — Já tomou café da manhã? Podemos conversar depois de você comer?

Concordou com a cabeça, mas tinha perdido o apetite depois de ter visto alguns eventos inesperados logo após deixar a Zona Neutra.

Como se esperasse aquele tipo de resposta, ela começou a tirar os pratos de cima da mesa. Logo depois, viu Yun Seora em pé próximo a eles e deu um grande sorriso.

— Senhorita Yun Seora? Me desculpe, mas preciso ter uma conversa particular com o Seol.

— É…

— Hansung deve voltar daqui a pouco. Por que você não pega uma mesa vazia e espera por ele?

Mesmo que a situação já estivesse resolvida, era bem claro o que estava implícito. Não ficou satisfeita, mas, depois de encarar o Marca e Ouro por alguns momentos, virou-se e foi embora.

Kim Hannah esperou com calma até que a ouvinte se afastasse bem. Em seguida, aproximou-se de Seol. Quando ela chegou mais perto, pôde sentir toda a delicadeza das curvas que esculpiam o corpo daquela mulher pressionadas contra si. Envergonhado, tentou se afastar um pouco, mas…

— Escuta com cuidado, ok? Enquanto conversamos, vou te mostrar dois tipos de contratos. — A voz dela estava em um tom muito mais baixo.

— Dois tipos?

— Isso mesmo, dois. Quando eu colocar a minha mão em cima de um dos documentos e começar a falar, você deve ser cético com tudo que eu disser, tá bom?

— Do quê você tá falando?

— Não tenho tempo pra explicar. Era pra eu ficar responsável pelo contrato da Yun Seora também, mas, do nada, recebi uma ordem pra deixar o Hansung cuidar disso no meu lugar. Vou tentar atrapalhar um pouco, mas com a lábia que ele tem, capaz dele tentar alguma coisa, então fica esperto. — No meio daquele discurso, ela fez um sinal com os olhos. Não pensou muito e olhou em volta antes de estranhar o que estava acontecendo.

Agora que um bom tempo tinha passado, todos os sobreviventes, assim como os que tinham sido convidados ou que tinham assinado um contrato com eles, estavam ali. E mesmo que a maioria estivesse negociando entre si, alguns o olhavam disfarçado e outros o encaravam.

— E eles são os que querem que a nossa negociação falhe. — Ela semicerrou os olhos e murmurou: E você deve saber o próprio valor.

— Noonim! Volteiii!

“Aquele cara já voltou?”

Junto de Yun Seora, o jovem de cabelos encaracolados estava se aproximando enquanto mantinha um sorriso brilhante no rosto.

— E por que você tá sentado tão perto?

Shin Hansung estava prestes a ocupar uma cadeira no lado oposto ao que se encontravam, mas antes a sua feição mudou para uma mais maldosa.

— Bem, eu só queria ver as habilidades de negociação da minha amada veterana.

— É melhor você parar com essas brincadeiras e se preocupar com a sua assinatura de contrato, não acha? Por que tá tentando se intrometer na nossa conversa?

Ahhh, para com isso, tem muito espaço aqui, vai. Vamos aprender a dividirrrrr.

— Já te falei pra sair. É melhor me obedecer quando tô tentando ser educada.

— Noooossaaa, não precisa disso. Os dois vão acabar assinando com a Sinyoung mesmo.

— E como você sabe?

— Não é sempre assim? — perguntou, surpreso, ao ouvir aquele tom de voz tão gélido.

— Não pense que eu não sei o que está acontecendo aqui. Já sei o motivo dos superiores terem te mandado pra cá comigo. Mas acredito que já tenha explicado a minha posição várias vezes.

— Bem, então…

— Claro, farei o meu melhor hoje. Mas a decisão final é dele, entendeu? Não se esqueça, ele não é um Contratado, mas sim um Convidado. Entendeu?

— Tá bom, tá bom. Vou sair.

“Foi fácil assim?”

Era pra ele insistir, mas simplesmente se virou e saiu.

No entanto, percebeu que estava subestimando o jovem de cabelos encaracolados. Ele pegou outra mesa e a colocou próxima o suficiente para tocar na que Seol estava sentado.

Kim Hannah o encarou com uma expressão de incredulidade. Segundos depois, Yun Seora também decidiu sentar-se ao lado do Marca de Ouro.

— Te deixei esperando, senhorita. Tenho certeza de que está curiosa sobre o motivo de eu estar aqui no lugar do Diretor, não é? — Não se importando se os outros estavam escutando ou não, ele começou a negociação. — Bem, o Diretor ficou bastante envergonhado. Tenho certeza de que sabe o motivo.

Yun Seora apenas abaixou a cabeça.

— De qualquer forma, também estou aqui para comunicar-lhe uma mensagem do Presidente.

— Direto dele? Aquelas palavras fizeram com que ela levantasse novamente o olhar.

— Sim. Mas não é tão longa. Bem, é uma mensagem bem direta ao ponto, na verdade. Você sabe como o nosso Presidente é, não sabe?

Concordou com a cabeça.

Ele pigarreou e logo começou a falar.

— Primeiro, gostaria de parabenizá-la por ter entrado no Paraíso. Sendo sincero, não gostaria que você pisasse neste mundo, mas agora que as coisas estão acontecendo, irei respeitar as suas escolhas. — Permaneceu alguns segundos em silêncio, esperando alguma reação e logo continuou. — No entanto, as ações que teve durante o Tutorial e na Zona Neutra foram muito decepcionantes. Na realidade, se não tivesse recebido a ajuda daquele jovem, você não teria conseguido passar dessa segunda etapa. A sua irmã mais velha está envergonhada.

Ela hesitou um pouco.

— Não irei me alongar muito. Caso deseje permanecer nesse mundo, mostre-me de que está preparada. — Por fim, parou de falar e colocou a adaga na mesa. — Quando chegar à carruagem, vai encontrar o corpo daqueles dois amarrados. O cara fortão e a mulher. Lembra deles?

— Sim…

— Mate os dois com as próprias mãos na frente do Presidente e da senhorita Yun Seohui.

Duvidou da própria audição ao ouvir aquelas palavras. Ela precisava fazer o quê?

— O Presidente também disse que você não deve nem sonhar em retornar para Sinyoung se não for capaz de fazer isso. Falou que até usaria força para que você retornasse à Terra.

Pensou que ela demoraria no mínimo alguns segundos para se decidir, mas não foi o que ocorreu.

— Eu não ligo pro homem, mas tem alguma razão pra eu também matar a mulher?

— Mas é claro. Tem vários motivos, isso eu posso te garantir. 

— Eu mato. — Nem mesmo hesitou ao pegar a adaga.

— Perfeito. — Shin Hansung sorriu e puxou o contrato. — Este é temporário. Assim que você completar a tarefa que lhe foi dada, o contrato começará a valer.

Ela analisou bem o conteúdo do documento e logo assinou na linha demarcada.

— Então agora eu tenho que…

Ahh, um minuto, por favor. — Ele levantou as duas mãos um pouco preocupado com toda aquela pressa. — É que tem a condição de você cumprir a tarefa de frente para o Presidente. Mesmo que eu possa dar a minha palavra por você, tenho certeza de que você prefere não deixar dúvidas, né?

Concordou.

Parecendo um pouco mais aliviado agora, o jovem disse que o seu trabalho estava completo. Então, enquanto apoiava o queixo com ambas as mãos, começou a encarar a mesa ao lado.

Hmm… — Kim Hannah grunhiu e logo puxou dois contratos e uma caneta. — Primeiramente, bom trabalho. — Analisou um pouco o cliente e logo prosseguiu. — E obrigada por manter a promessa em negociar comigo primeiro.

— Nada.

Percebeu que Seol estava ficando um pouco envergonhado com a situação, então achou melhor não enrolar muito e logo colocou os os papéis em cima da mesa. Apesar do conteúdo do documento à esquerda parecer um pouco resumido, o da direita estava completo por letras miúdas e inúmeros detalhes.

Quando olhou para os dois teve uma sensação de estranhamento, especialmente com o da direita — quanto mais lia, mais confuso ficava com aquelas cláusulas. Se fosse tentar explicar um pouco mais, diria que aquela escritura era repleta de palavras ambíguas. Porém, assim que descobriu as palavras “Kim Hannah” no da esquerda e “Sinyoung” no da direita as coisas começaram a fazer mais sentido.

— Acredito que você já entenda o motivo dos sobreviventes que saem da Zona Neutra terem que assinar um contrato, certo?

De fato, conseguia imaginar mais ou menos o motivo sem ouvir uma explicação. Afinal, não importava o quão bem sucedido um indivíduo foi em ambos os estágios anteriores, quando desse de cara com o Paraíso Perdido essa pessoa não seria nada mais do que uma criança perdida.

É lógico que, até aquele momento, havia uma grande diferença entre um Contratado e um Convidado. O primeiro deveria fazer apenas o que lhe era dito, enquanto o segundo tinha a chance de chegar em um “acordo”, pois, caso não gostasse dos termos oferecidos, poderia se levantar e sair.

Hmm, vejamos. Que tal eu te falar sobre a oferta da Sinyoung primeiro? — Ela começou a usar o tom de negócios. — No momento em que você assinar esse contrato, a organização irá lhe pagar a quantia de 500 milhões de won como bônus de assinatura. À vista.

“500 milhões de won?!”

Não conseguiu esconder a surpresa pelo valor. Para alguém que cresceu em uma típica família de classe-média baixa, nunca iria imaginar ter tanto dinheiro.

— Ainda é cedo demais para se surpreender — disse, cruzando os braços na altura do peito e com o mesmo tom de voz negociador de antes.

Respirou fundo e tentou parar de transparecer tanto o que sentia.

— Sinyoung irá te ajudar em três áreas chaves. Primeiro, nas finanças. No momento em que você assinar o contrato, se tornará um de seus funcionários, seja aqui no Paraíso, seja na Terra. E a cada duas semanas, cinco milhões de won serão depositados em sua conta bancária. Em outras palavras, você receberá um salário mensal de dez milhões de won. Também receberá bônus de performance e mérito, assim como o extra de final de ano de acordo com o que o RH recomendar.

Respirou fundo. Estava difícil esconder o que sentia.

— Além disso, você também irá receber pagamentos por completar missões e compensações para todos os perigos que correr durante as suas missões no Paraíso. Essas quantias devem exceder o seu salário mensal sem muita dificuldade. Ah, é claro que isso é provisório até que você passe do período de testes.

Ela tinha citado tudo aquilo com certa naturalidade, mas ainda não tinha terminado.

— Eles ainda prometeram te fornecer um set de equipamentos condizentes com as suas habilidades cada vez que você aumentar de nível. Também disseram que, caso equipamentos que o agradem sejam dropados durante uma missão, você tem o direito de tomá-los para si.

Engoliu a seco. Quanto mais escutava, menos suspeito ficava. Era o que sentia, pelo menos.

— E me disseram que você gosta de treinar.

— Treinar? Como assim? — Não esperava ouvir aquilo.

— Sinyoung possui uma instalação própria para treinamento que não perde para nenhuma desse mundo. Se quiser, o Terráqueo mais bem classificado da empresa será o seu professor. E eu te garanto, as habilidades dele são muito maiores do que as da Agnes.

No início, tinha planejado em ficar cético ao ouvir a proposta, porém ficava mais difícil a cada novo item que ouvia.

— Deixe-me reforçar mais uma vez, esses termos oferecidos são improcedentes em toda história da Farmacêutica Sinyoung. Nem mesmo a lenda Sun Shihyun teve um tratamento assim.

Assim como ela disse, os termos oferecidos eram absurdamente bons. Na realidade, estava muito tentado a aceitá-los. No momento em que assinasse naquela linha pontilhada, teria um caminho bem sólido pela frente, seja ele na Terra ou no Paraíso.

— E, como pode ver, o tempo de duração do contrato é de quatro anos — completou, colocando uma das mãos sob o contrato.

“Quando eu colocar a minha mão em cima de um dos documentos e começar a falar, você deve ser cético com tudo que eu disser, tá bom?”

Era hora da verdade.

— Você pode pensar que isso aqui é mais parecido com um contrato de escravidão, mas lhe garanto que não é assim. Leva cerca de 4 a 5 anos para um Terráqueo talentoso subir para os níveis mais altos. Considerando esse fato, é possível dizer que a Sinyoung te considera muito valioso. Em outras palavras, a Sinyoung está disposta a tentar de tudo para que você consiga chegar ao topo em menos de quatro anos.

Então aquele era mesmo um contrato de escravidão. No início o aceitariam e fingiriam o valorizar, mas apenas para poderem observar o seu crescimento nos próximos quatro anos antes de decidirem o que fazer com ele.

— E esses termos não são estáticos. Contato que você continue melhorando o nível, sempre poderemos mudar algumas partes para melhor.

No entanto, também podiam piorar…

— Deixe-me ser sincera. No mínimo, esperamos uma relação recíproca. Você deve nos entregar tanto o que lhe for oferecido. Afinal, essa é a natureza humana. E, não se esqueça, Sinyoung é uma grande empresa. Logo, a expectativa é de que você seja capaz de recompensá-los de acordo com o tremendo investimento que será feito em você. Mas isso é justo, não acha?

Hmmm

— Bem, não precisa se preocupar. Lembre-se, Sinyoung não é um ambiente que vai te deixar entediado sem fazer nada. O mais provável é que fique cheio de trabalho nos próximos dois anos.

E se ele falhasse em recompensá-los?

— E, por fim, Sinyoung é a organização mais poderosa no Paraíso Perdido. Tenho certeza de que sabe disso após ver o que acabou de acontecer. As Sicílias da Cinzia? O Cartel de Salcido? Não passam da base da cadeia alimentar se comparados com o predador que fica no topo. Nossa empresa já disputou com várias outras organizações e, como pôde ver, elas não tiveram outra escolha a não ser abaixar a cabeça para as nossas decisões. Em outras palavras, nós podemos ser o seu maior alento em tempos difíceis.

E, com certeza, também deviam ter vários inimigos.

— Noossaaaaa. Hannah noonim, o seu talento para vendas é incrível! — disse Shin Hansung, admirando toda a habilidade da amiga.

Em seguida, Kim Hannah tirou a mão do contrato, fazendo com que Seol desviasse o olhar para a outra pilha de papel na mesa.

— Bem, e para esse contrato eu não tenho nada em particular para dizer.

— Mas por que tem dois contratos pra mim? — perguntou.

— Eu ainda não te contei? Aquele carimbo de ouro não era propriedade da Sinyoung. — Ela levantou um pouco as sobrancelhas e abriu mais os olhos, fingindo uma expressão de ignorância. — Eu consegui aquela Marca de Ouro direto de um templo.

— Templo?

— Sim. O tempo da Gula.

— O quê? — Naquele momento, ele ficou muito surpreso. Não esperava menções àquele nome.

— Gula. Ela é uma dos sete deuses que dão suporte para a humanidade no Paraíso.

— Guenta aí. Isso significa que eu estaria assinando diretamente com uma deusa tendo você como intermediária?

— Bem, tecnicamente sim… — Ela parecia um pouco duvidosa enquanto dava pequenas batidas na mesa com um dos dedos. — Na verdade, eu não tenho certeza.

— Sobre o quê?

— É verdade que eu recebi o carimbo. Mas eu ouvi que chegaria a hora em que eu teria que usá-lo, então fui bastante cuidadosa. Por coincidência, eu acabei o usando em você. Se quiser mais detalhes, acho que é melhor você perguntar pra Gula. — Ela deu de ombros. — De qualquer forma, essa não é a parte importante agora. Você já deu uma olhada nesse contrato, não é?

Apenas com um simples olhar, conseguia dizer que aquele documento não oferecia nem metade do que o outro.

— Você vai perceber que todo o suporte vindo provém do meu nome, mas, em comparação com o da Sinyoung, vai ver que nem chega perto.

Era verdade. No entanto, não era certo dizer que os termos oferecidos eram ruins. Não havia nenhuma restrição e nem demandas nas cláusulas. Ele nem precisaria pertencer a alguma organização. Apesar do nome de Kim Hannah estar incluso, era apenas dizendo que ela forneceria proteção sempre que pudesse. A melhor, e talvez única vantagem, era que eles ofereciam total liberdade.

— O suporte vinculado a esse contrato se resume a um reconhecimento da Sinyoung em relação aos seus feitos passados, presentes e futuros; eles também tentarão manter uma relação amigável. E isso é tudo. Portanto, caso queira algo a mais, é melhor assinar nesse aqui. — Apontou para os papéis do documento da Sinyoung.

— Olha só, parece que a Noomim tá passando por todos os detalhes, né? Eu mesmo vou reportar tudinho pro Diretor.

— Cala a porra da boca. Não tá vendo que eu tô no meio de uma reunião?

— Sim, senhora! Eu vou calar a porra da minha boca!

Apesar da voz alta de Shin Hansung, Seol pensou bastante sobre as duas opções. Os termos oferecidos pela farmacêutica eram muito tentadores, não importava o quanto ele pensasse sobre. Haviam várias armadilhas nas cláusulas, mas após ouvir a curta explicação de Kim Hannah, pôde deduzir que a maioria das pessoas faziam algo parecido no Paraíso.

Porém, e se precisasse da ajuda de alguém? Será que eles o rejeitariam? Se demonstrasse toda a sua força de vontade, será que eles pelo menos reconheceriam o esforço? Como tinha chegado ali sem uma ambição bem definida, mas apenas movido pela curiosidade, não podia deixar de pensar nesse ponto.

No entanto, algo parecia errado. O seu coração dizia não.

Sentia uma grande presença obscura tentando alcançá-lo das profundezas de uma escuridão desconhecida.

“Kim Hannah não teria me dito aquelas palavras mais cedo por nada…”

Deveria escolher o caminho das algemas douradas ou da liberdade  perigosa? Permaneceu confuso diante daquela encruzilhada, já que ambos os caminhos escondiam inúmeras possibilidades. Então, decidiu ativar os Nove Olhos.

“Merda…”

Pela primeira vez desde que a negociação começou, sentiu um pouco de desespero.

Amarelo, laranja, vermelho, preto…

Caso uma dessas cores aparecesse, planejavam nem mesmo considerar o contrato. Era para isso que a habilidade servia afinal não era? Contudo, nenhum dos documentos brilhou em uma daquelas quatro cores. Um emitiu um tom dourado, e o outro não emanou cor alguma.

“O que eu faço?”

— Eu…

Percebeu que estava prestes a tomar uma das decisões mais importantes de sua vida.



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