O Retorno da Gula Coreana

Tradução: Teverrr

Revisão: Melo


Volume 1

Capítulo 39: Senhorita Foxy (2)

Crash!

Escutou o som de algo caindo atrás de si. Olhou para trás e ficou surpreso. As duas primeiras coisas que viu eram uma cadeira e Hyun Sangmin deitado no chão. Depois, também percebeu que Shin Sang-Ah e Yun Seora estavam de pé. Na frente delas, quatro homens rindo.

— O que você tá fazendo?!

— Não! Para trás! — gritou o Arqueiro para a jovem que estava prestes a se aproximar. — Filho da puta. Argh, isso é muito humilhante. Kkeuk! — Soltou o ar após levar um chute na barriga. Tentaram erguê-lo, mas ele caiu no chão de novo.

— Então você acha isso humilhante, né? — perguntou com uma voz desafiadora enquanto passava o pé no queixo do homem espatifado no chão. — Pelo jeito você sabe tudo sobre humilhação. Então me diz, por que você não pediu desculpas quando eu pedi com jeitinho? Você teria evitado tudo isso aqui. Não acha, meu camarada?

Levantou-se do seu lugar com um olhar de ódio.

“Oh Minyoung?”

Tinha a visto andando com um daqueles caras — o fortão que estava rindo enquanto tudo aquilo acontecia. Os braços dela estavam cruzados na altura do peito com uma expressão de felicidade estampada no rosto.

— Eu tô até com pena de ver você todo contorcido assim, então vou te dar mais uma chance. Se desculpe com esses dois aqui. Bora.

Hmmm…

— Eu também não quero fazer isso. Mas, sabe, meus irmãos e eu não conseguimos nos segurar quando alguém fode com a gente. — Essas palavras fizeram com que o homem musculoso risse ainda mais. — Peça desculpas do fundo do seu coração e eu vou esquecer o assunto.

— Merda. Foi você quem convidou aquele bosta? — indagou rangendo os dentes.

— E se for?

— Patético. Um cara todo bombado pedindo ajuda igual a uma garotinha. Você acha que é o único que tem amigos?

Ahh! Verdade, você também é um Convidado. Tinha me esquecido. — Apesar das palavras, o tom irônico no qual o líder falou deu a impressão de que não ligava para aquilo. — Mas será que você já pensou sobre isso? — disse, se abaixando para manter contato visual. — Não é que o seu amiguinho esteja atrasado, a questão é que ele não quer nem dar as caras.

— Oi?

— O motivo? Bem, é porque ele também pode acabar humilhado se aparecer. — A sua voz foi ficando cada vez mais baixa. A cicatriz de um corte na bochecha mexia à medida que ele falava e os dentes amarelos ficavam mais amostra a cada segundo que passava. — Lembre que você nunca deve tentar passar por cima de nós, os membros do Cartel. Nem todos os Marcas de Bronze são iguais, entendeu?

De repente, um outro tumulto se iniciou. Quando olhou para trás, deu de cara com um jovem tentando passar pelos seus subordinados.

— Opa. — Arregalou os olhos em surpresa. — É você — falou, levantando as mãos e acenando para que os lacaios não intervissem.

— Que porra tá acontecendo aqui? — A voz fria de Seol deixou aquele homem ainda mais interessado.

— Que surpresa. Nem mesmo um outro Convidado, mas o Novato.

“Novato?”

— Bem, agora que eu consigo te analisar com calma, você parece mesmo um jogador.

Continuava a encará-lo. Ele deu de ombros e continuou a falar: — Ah, isso? Não é nada, relaxa. Me disseram que o meu irmão mais novo ali sofreu um pouco nas mãos daquele cara ali. Só tô retribuindo.

— É melhor você parar.

— É mesmo? Teria algum motivo para? Só tô dando o troco. Não tem nada de errado.

— A senhorita Cinzia já disse. Os assuntos da Zona Neutra são águas passadas.

— Cinzia? Ahh, é só uma puta aleatória falando umas merdas. Somos muito apegados com a família, sabe?

Levantou um pouco as sobrancelhas em surpresa. Aquele cara tinha mesmo chamado Cinzia, a chefe de uma organização muito influente no Sul, de puta? Apenas duas explicações eram plausíveis. Ou ele era muito burro, ou a organização que o ajudava era tão grande quanto a dela.

— Esse não é um assunto no qual um Convidado que nem você deve se envolver.

— Discordo. Além disso, a Zona Neutra é uma parte do Paraíso, certo?

O homem olhou em volta e fez a mesma pergunta para os seus subordinados, que começaram a gargalhar, principalmente o fortão e Oh Minyoung.

— Tá bom. Se você já tiver terminado, eu queria  sair daqui, ainda tenho algumas coisas pra fazer. Não quero perder meu tempo com um bosta.

— Eu não sou um bosta.

— Como é que é?

— Eu pedi pro Sangmin.

— Espera aí. — Levantou uma das mãos e, com passos largos, se aproximou de Seol. — Tá me dizendo que foi você quem pediu pra ele encher o saco do meu irmão? É isso?

— Não, eu não pedi pra ele fazer isso…

— Não importa. Tá me dizendo que você tem alguma relação com esse bosta aqui. É isso? — Interpretou o silêncio como concordância. Depois, esfregou uma mão na outra e posicionou uma delas no ombro do Marca de Ouro. — Ei, cara, vou te dar um conselho do fundo do meu coração. Sabe a coisa mais importante pra você se lembrar no Paraíso?

— Não…

— É o que você diz. As palavras. É melhor você tomar cuidado com o que fala por aqui — respondeu, colocando o indicador entre os lábios. — Vou perguntar de novo, então é melhor pensar bem antes de responder, beleza? Não importa a sua história, mas você disse que não é um bosta nessa porra, não disse?

— Eu já respondi.

— Tá ótimo. Ótimo! Então é assim que vai ser. Pelo jeito a nossa situação muda um pouquinho — disse o líder com uma expressão de raiva que. — Eu achei que ia conseguir um escravo com uma Marca de Bronze, mas, do nada, me aparece um Marca de Ouro. — Ele se sentou em uma das cadeiras e, já com um sorriso no rosto, o chamou para perto. Hyun Sangmin já estava desmaiado. — Senta aí. Deixa eu escutar a sua história. Quer comer? — Por fim, ele começou a pegar toda a comida que estava em cima da mesa e colocar na boca.

Seol apenas o encarou com um olhar de receio. A atitude daquele cara tinha mudado muito e ele agora estava com uma feição de felicidade.

— Tá fazendo o que, novato? Eu falei pra você sentar.

Não gostava do jeito dele. Olhou para o amigo e viu que esse ainda estava inconsciente no chão com o pé do homem forte por cima e com Oh Minyoung ao lado ainda se divertindo com a situação. 

“Por que ela tá gostando tanto dessa situação toda?”

Não entendia o motivo, mas sabia que não podia fazer nada no momento. Enquanto o Arqueiro continuasse como refém era melhor não arriscar. Por fim, sentou-se.

— Muito bom. Ah, que falta de educação. Ainda não me apresentei. Meu nome é Salcido. Olivier Salcido. — Após terminar a frase, estendeu a mão.

Ao retribuir o gesto, percebeu que aquele cumprimento não era tão amistoso. O líder estava aplicando muita força no aperto de mãos como uma espécie de aviso, o que lhe forçou a fazer o mesmo.

— Prazer em te conhecer. Qual o seu nome?

— Ai. 

— Qual o seu nome, hein? Ehehehehe…

Antes de reclamar da dor, começou a circular mana pelo corpo. Em segundos, a energia começou a percorrer todo o seu corpo até o braço direito.

— Olha só.

No entanto, Salcido era um Terráqueo que estava no Paraíso há mais de um ano e meio. Logo usou a própria mana como resposta. O plano inicial que tinha era ameaçar um pouco aquele garoto, mas também acreditava que não iria perder para um novato que não sabia de quase nada. Pelo menos era assim que pensava. Porém…

— O-o quê? — Ficou chocado. Não apenas a sua própria energia estava sendo extinta, mas a aura de Seol estava ficando mais forte a cada segundo.

“Eu tô perdendo tanto na quantidade quanto na velocidade do fluxo?!

Em segundos, a situação se inverteu. O líder começou a suar muito à medida que a pressão que sentia na mão crescia mais.

— Porraaa…

Não podia nem expressar muito o que sentia, pois se preocupava com a própria reputação. Ao mesmo tempo, o Marca de Ouro o encarava com um rosto impassível. Neste momento, os outros perceberam que algo estava estranho. Era inimaginável que um Terráqueo nível 3 perdesse para um jovem que ainda estava no nível 1, mas ao verem a expressão de Salcido começaram a suspeitar.

Dois dos lacaios se olharam e balançaram a cabeça. Um deles tentou se aproximar de Seol, mas logo foi interrompido após alguém tocar o seu ombro.

— Fala, parceiro. — Era Hao Win.

— Quem caralhos é você?

— Sou amigo daquele camarada ali.

— É mesmo? Então por que você não tira a sua pata de mim? Ou tá querendo morrer? 

— Nooossa, que assustador. Uma pena que eu não posso.

Ao ouvir aquelas palavras, o olhar do subordinado ficou um pouco mais sério. 

— Você é um Convidado?

— Acertou.

— Tanto faz. É melhor saber parar. Vai se arrepender quando descobrir quem somos.

— Talvez. Mas eu não sei quem vocês são. — O chinês deu um leve suspiro e aproximou a boca no ouvido do lacaio. Porém, antes que pudesse continuar falando, ouviram um alto som.

Salcido não aguentou mais e derrubou a mesa que estava na frente, se livrando do aperto de mãos.

— Seu filho da puta! — gritou logo que conseguiu escapar. No entanto… 

Batida!!

O rosto do líder foi forçado contra a mesa que, devido à grande pressão, acabou quebrando. Um salto alto pressionava-o, impedindo que se levantasse.

— Já acabou de tomar o café da manhã?

Era uma voz familiar. Ao levantar o olhar pôde ver Kim Hannah com uma das mãos na cintura e tirando o salto alto da cabeça do homem.

— Q-quem foi o filho da puta que fez isso…? — perguntou, se levantando com muita dificuldade.

— Ainda não? Quer comer mais?

Mais uma vez, ela esmagou o crânio dele contra o prato de comida.

Quebra!

O impacto fora forte o suficiente para quebrar a travessa.

O ambiente ficou todo em silêncio após essa cena. O cara que pressionava Hyun Sangmin contra o chão permaneceu parado, piscando os olhos em choque. Salcido havia sido derrotado sem muito esforço. Enquanto isso, Hao Win impedia os outros dois irmãos mais velhos de se moverem.

— Sua puta louca!! — gritou o lacaio fortão, levantando um dos braços para dar um soco em Kim Hannah, porém…  

Whish! Plonk!

Uma adaga atingiu a mão do subordinado, fazendo com que sangue jorrasse para todo lado.

— AAAAAAHHHHHHH!

Ao ver a cena de um dos seus homens se contorcendo de dor, Salcido disfarçou e virou a cabeça. Conseguiu mover o rosto em direção à mulher que vestia um terno de negócios e que o pressionava contra a mesa. Quando conseguiu reconhecê-la, soltou um grunhido.

— Kim Hannaaaaaah!!

— Oiii. Quanto tempo. — Ela parou de prendê-lo ao chão e sorriu. Então, caminhou na direção de Seol e se sentou, apoiando o queixo contra uma das mãos. — Você ainda fica com esses joguinhos, né? 

— Como é que é?

— Quanta ousadia da sua parte. Queria roubar o Convidado de quem?

— Não sei do que você está falando. — Salcido ergueu-se um pouco do chão, mas ainda estava um pouco trêmulo, mesmo que conseguisse disfarçar bem. — Eu só estava…

Ahhh, então você quer dizer que foi tudo um mal entendido? — Deu um sorriso irônico ao ouvir aquela declaração e continuou. — Me desculpa. Problema resolvido. Agora é só você sair daqui — falou enquanto gesticulava com a mão pedindo para ele se afastar.

O homem apenas a encarou com uma expressão de ódio no rosto.

“O que acabou de acontecer?”

Aquele cara estava se achando até agora há pouco, mas não tinha coragem de falar sequer uma palavra de discordância agora.

— Estou indo, então.

— Boa ideia.

— Mas nos veremos de novo. Talvez em pouco tempo. — Com bastante esforço, pôs-se de pé.

— O que você disse? — O líder conseguiu escutar aquela voz fria, mas a ignorou e continuou andando. A mulher levantou uma das sobrancelhas e apontou com o dedo. — Shin Hansung?

— Sim, Noonim.

— Se aquele bosta não parar de andar, faz um buraco no meio da cabeça dele por mim, tá bom?

— Entendido. — Um homem com o cabelo encaracolado, Shin Hansunsg, respondeu segurando uma adaga. Então, os passos de Salcido pararam.

— Sua desgraçada, vai mesmo fazer isso?

— Você mesmo disse, não foi? Não tem motivos para a situação se arrastar mais. Vamos terminar com tudo logo.

Hmm

— Tá com um pau na boca pra não conseguir falar? Não ia entrar em guerra com a gente?

Treme.

O líder hesitou e passou a olhar para baixo após aquelas palavras. 

— Me enganei. Não tenho tais intenções. Perdão.

— Tá pedindo desculpas? Desde quando você tem o mesmo status social que eu? Tá maluco?

— M-me desculpa.

— Tá faltando coisa ainda.

— M-me desculpa, senhora.

Hmph… — Kim Hannah deixou escapar um suspiro e deu de ombros. — Tudo bem. Mas você não tava planejando sair assim, não é mesmo?

— C-como assim…? 

— Você deve arcar com as consequências dos atos, não acha? Onde está a sua educação? É por causa de pessoas como você que o Cartel possui uma reputação tão suja.

Ao ouvir aquelas palavras, ainda mais ódio transbordou do olhar de Salcido.

— É melhor você abaixar esse olhar de novo. — Ele fez como lhe foi ordenado. — Como a gente deve consertar essa merda…? — perguntou para si mesma enquanto olhava para o homem que se contorcia no chão ao tentar estancar o próprio sangramento com a mão que lhe restava. — Certo. Podem sair, mas sem ele. Sabem o motivo, não sabem?

— Talvez…

— Vocês que começaram. Ficaram falando “ah, na Zona Neutra aconteceu isso, aconteceu aquilo”. Acho que é justo deixar ele pra trás.

— M-mas!

— Se tiverem alguma reclamação, é melhor encaminhá-la para Sinyoung logo. — No momento em que mencionou “Sinyoung”, a expressão no rosto de Salcido se fechou, dando a impressão de que estava com muito medo.

— S-Sinyoung?

— Óbvio. Eu tô aqui à pedido do diretor da Sinyoung. Como tá todo mundo aqui eu devo tentar consertar algumas das suas atitudes também.

— E-entendi.

Hyungnim?! — O rosto coberto de sangue e lágrimas do homem forte congelou. Salcido fez o máximo que pôde para evitar olhar aquele olhar de dor. 

— Tudo resolvido. Pode ir agora.

— H-Hyungnim! — gritou, desesperado, mas o líder já estava saindo da área junto de seus lacaios.

— Agora você… — O próximo alvo de Kim Hannah era Oh Minyoung que, ao perceber que passara a ser o foco das atenções, começou a recuar. — Algum de vocês tem um contrato com ela? Se tiver, quero conversar. — Quando perguntou analisando os rostos da multidão, um homem logo correu na sua direção.

— É você?

— S-sim, senhora.

— Quero que você me deixe cuidar dessa mulher chamada Oh Minyoung. Tenho certeza de que você tem ideia do motivo.

— S-sim, senhora. Recebi uma ligação hoje de manhã — respondeu, balançando a cabeça em concordância.

— É mesmo? Bem, normalmente não faríamos algo assim, mas o presidente da minha companhia tá muito bravo, sabe?

— Entendo. Afinal, ela é filha dele.

— Muito bom. Explicarei a ela sobre o cancelamento do contrato, então pode se retirar. Como prometido, em pouco tempo você irá receber uma recompensa condizente com o que fez.

— Sim, senhora. Muito obrigado — disse, fazendo uma reverência e, em seguida, saindo.

Ufaaa. — Suspirou. Então, cruzou o seu braço com o do Marca de Ouro.

— Desculpa. Tô um pouco atrasada? — perguntou, piscando um dos olhos. 

Seol tinha se esquecido de fechar a boca.

Farmacêutica Sinyoung. Kim Hannah, chefe de departamento. Era tudo que sabia até o momento. No entanto, ao vê-la resolvendo toda a situação sem muito esforço, pôde descobrir um pouco mais sobre a posição que ela ocupava no Paraíso Perdido.



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