O Retorno da Gula Coreana

Tradução: Teverrr

Revisão: Melão


Volume 1

Capítulo 33: Um Mal Entendido (3)

Um vapor saiu da porta acompanhado do odor amargo e acre de sangue e suor. As duas empregadas que entraram antes dele estavam ajudando uma Maria exausta a andar. Antes com um cabelo loiro radiante, naquele momento parecia que tinham a ensopado com água.

Ueek…! — Dos lábios vermelhos saiu um pouco de sangue. Em poucos segundos, o roupão antes branco já apresentava uma cor escarlate.

— Senhorita Maria! — Quando correu atrás dela, a mulher levantou um pouco a cabeça. — Tá tudo bem?

— P-por que você não vai se foder…?

— Pelo jeito você tá melhor do que eu pensei.

— Minha cabeça tá girando, então nem vem gritar perto de mim. Parece que eu vou morrer… — Assim que acabou de falar, ela tossiu e vomitou sangue mais duas vezes. Após isso, o encarou com um olhar penetrante. — Não esquece.

— Pode deixar.

— Eu te fiz um favor enorme.

— Eu sei. Nunca vou esquecer sobre isso.

Logo depois, Maria, escorada pelas duas outras empregadas, caminharam em direção às escadas até serem cobertas pela escuridão e desaparecerem. Ainda preocupado com a situação, Seol continuou olhando para o caminho que as três fizeram mesmo depois de ouvir o grito de alegria vindo de dentro do quarto. Segundos depois, também pôde escutar alguns soluços.

— Hora do personagem principal fazer a sua entrada triunfante — disse Hao Win, dando tapinhas nas costas do Marca de ouro. Mesmo que não tivesse entendido muito bem o motivo dele continuar ali, o que mais o deixava curioso era a situação de Yun Seora.

Era hora de ver com os próprios olhos o resultado. Com passos hesitantes, entrou no dormitório.

— Olha só! — O chinês não conseguiu disfarçar a cara de admiração depois que viu a figura feminina sentada na cama.

A maneira na qual ela se apoiava na parede lembrava a de uma linda flor desabrochando no inverno. Ela estava levantando e abaixando o braço direito, no entanto, assim como uma flor, ela não soube o que fazer quando os primeiros raios de luz a atingiram após um longo período de frio.

— Sim, agora eu entendo o motivo de você ter se apaixonado —  sussurrou enquanto dava um empurrãozinho no amigo. Com aquela movimentação na entrada, logo todos olharam para a porta.

— C-como você tá? O seu braço tá doendo?

Ah… — Ela fez menção de responder, mas parou no meio da ação.

Todos os tipos de emoções passavam pelos olhos daquela mulher, mas a boca apenas tremia. Julgando pelos pequenos movimentos que fazia com os braços, parecia que ela gostaria de falar algo, mas, ao mesmo tempo, não sabia como. Ao mesmo tempo, todos que presenciaram aquela cena ficaram ainda mais emocionados. Por fim, ela pareceu reunir forças e abriu a boca com segurança.

— Posso saber como você conseguiu 82000 pontos? — Aquelas palavras fizeram com que todos voltassem à realidade.

Após ouvir aquilo, Hao Win logo colocou um cigarro na boca e enfiou as mãos nos bolsos da calça. Então, virou a cabeça em um ângulo de 30 graus, franziu o cenho e começou a encará-la como se fosse um oponente.

A-ah, b-bem. É que…

— Obaa! Parabéns, parabéns. — Antes que pudesse apresentá-los, o chefe da máfia tomou a iniciativa. Ele colocou uma das mãos nos ombros de Seol e analisou os outros presentes. — Pelo jeito você tá curada agora. Consegue mexer o braço, né?

— É tudo graças ao senhor Hao Win…

— Claro, claro. Tá tudo bem. Mas… — Um sorriso formou-se no seu rosto. Yi Seol-Ah franziu o cenho com a expressão daquele homem. — Nós te ajudamos, então agora é hora de você cumprir a sua parte da promessa, não é?

— Lógico.

— Perfeito. Eu só queria garantir. Sabe, se você esquecesse as coisas poderiam ficar um pouco problemáticas pra todo mundo.

— Não precisa se preocupar — respondeu com confiança. Já havia recebido muito e agora era hora de retribuir. Lógico, aquela conversa fazia sentido apenas para os dois, já que os outros não sabiam o que eles queriam dizer.

Hmm, me desculpa, mas que promessa é essa?

E, lógico, alguém tinha que perguntar. Yi Seol-Ah foi a felizarda.

— Não é nada demais. A gente só meio que fez um acordo, sabe? — O chinês disse que não era “nada”, mas o tom de voz insinuava outra coisa. — Eu vi esse camarada aqui correndo igual a uma barata tonta de manhã e pensei que ver alguém daquele jeito não era muito legal. Então, depois de ouvir a história dele, decidi dar uma ajuda.

— E d-depois…

— Ele me falou que tinha uma garota precisando de ajuda e que ele tinha que conseguir 82000 pontos. Fiquei tão emocionado que até pedi à minha família pra ajudar a inteirar o valor todo!

— S-sua família?  — O olhar de confusão da jovem moveu-se em direção a Seol, que apenas a encarou de volta sem dizer nada.

Tecnicamente, aquela história não estava errada. Era verdade que ele o ajudou e é possível se referir aos companheiros de time como “família”. Porém, como Hao Win estava de costas, Yi Seol-Ah não conseguia analisar muito bem se aquilo tudo era verdade ou não.

— Mas o negócio, minha querida, é que a gente não faz parte de um programa de caridade, então fizemos um acordo. Sabe o que eu quero dizer?

Por alguns segundos, todos ficaram em silêncio, nervosos ao verem aquele homem soar como um vilão de algum desenho. — Hoje vocês podem comemorar! Mas a partir de amanhã… — Quando ele parou de falar no meio da frase, o ambiente ficou ainda mais pesado. — De qualquer forma, você vai ter muito trabalho pra fazer. Tenho certeza que sabe da sua função de proteger a minha família, certo?

Aquilo também era verdade. O time da Delphine queria poder usar toda a habilidade de ataque que Seol tinha. E, pelo senso comum, um Guerreiro sempre fica na frente.

— Eu sei. Te vejo amanhã.

— Muito bem. Vou sair agora. Adeus. — Virou-se para ir embora, mas antes encarou bem o rosto de Yun Seora como se tivesse acabado de lembrar de algo importante.  Como ela não era idiota — muito pelo contrário, ela era bem inteligente —, logo achou a situação um pouco estranha e franziu o cenho. — Antes de ir, devo agradecer. O seu nome é Yun Seora, certo? Muito obrigado.

— Como assim? — Aquela voz era seca e raivosa.

— Graças a você, o sobrevivente número um da Zona Neutra agora está em minhas mãos! — respondeu, fingindo que agarrava algo e, segundos depois, começando a rir.

Nesse momento, o Marca de Ouro percebeu que alguma coisa estava estranha, mas antes que pudesse pensar muito, uma mão agarrou o seu pescoço.

— Um conselho. Nem pense em fugir. Se não conseguirmos de volta o nosso investimento, vamos conseguir no Paraíso. Se não, bem, vamos conseguir de volta na Terra.

Quando estava prestes a responder…

— Bem, eu ainda não conheci nenhum retardado que faria isso depois de escutar o nome dos Triads… — Por fim, ele soltou o pescoço de Seol e deu um sorriso. Saiu e fechou a porta.

Ajeitou a roupa e deu um suspiro. Aquele cara era difícil de ser decifrado às vezes. De qualquer maneira, aquele era um dia de comemoração. Yun Seora precisaria de mais alguns dias para se recuperar bem, mas ele ajudou muito a reputação de Kim Hannah. Agora que o mais difícil estava feito, o restante deveria ser bem mais fácil.

Por sorte, a hora do jantar estava próxima. Estava prestes a sugerir um banquete para celebrar, mas então…

Ficou muito confuso.

As expressões de Yi Seol-Ah e Yi Sungjin eram péssimas. Os dois estavam em pé e parados como estátuas, encarando-o de volta.

— Na verdade, até eu achei isso estranho…

Ficou em silêncio.

— Eu achei estranho você ter conseguido juntar tantos pontos em tão pouco tempo. Tô curiosa. — Logo depois, ela completou o que tinha a dizer com um pouco mais de emoção. — E t-tudo isso por nós… — Como se todas as forças tivessem se esvaído, as penas da jovem se chocaram contra o chão. Por fim, dos olhos marejados, lágrimas passaram a descer pelas bochechas.

— Não, não! Espera! Vocês entenderam alguma coisa errado! — disse para evitar uma comoção ainda maior.

— A gente se confundiu então?

— Isso!

— Mas você pegou os pontos emprestados, não foi?

— Sim, mas… — Estava sem palavras. Era verdade que tinha pego os pontos emprestados. De repente, ficou sem saber por onde começar a explicação. Porém, logo que Yi Seol-Ah ameaçou chorar ainda mais, ele correu para a interromper. — Eu não peguei muito. Eu já paguei os 82000, eles só acrescentaram um pouco a mais pra eu conseguir comprar um equipamento melhor pra mim. Vai ser bom.

— S-sério?

— Sim.

— Mas ele disse que você tá nas mãos dele…

— Era brincadeira. Sério. Não precisa ficar preocupada.

— Mas e sobre ele te encontrar amanhã de manhã?

— Fica tranquila. Eu só entrei no grupo dele. Eles precisavam da minha força, então vamos completar algumas missões juntos.

Nesse momento, a jovem começou a chorar ainda mais.

— Você teve que usar o próprio corpo pra conseguir os pontos! Desculpaaaaaa! — Mesmo que tentasse explicar, não adiantava. Ela parecia se culpar, já que tinha sido influenciada pelas atitudes de Hao Win.

“É tudo por minha causa!”

Na mente dela, o seu orabeo-nim, o melhor sobrevivente da Zona Neutra, teve de virar um escudo humano só porque ela falou um pouco sem pensar. Parecia que ela ficava mais culpada a cada segundo, pois as lágrimas continuavam caindo.

Como não tinha ideia do que a jovem pensava, Seol apenas ficou balançando a cabeça em confusão.

“Por quê?”

— Y-Yi Sungjin? — Chamou o irmão dela, mas ele não estava muito diferente, a cabeça estava abaixada e os pulsos cerrados tremendo de raiva.

“O que aconteceu com ele agora?”

Já Yun Seora estava encarando-o sem dizer nada. Quando os seus olhares se encontraram, ela ficou nervosa e logo disfarçou. Era a primeira vez que via tanta emoção no rosto de uma mulher tão taciturna e desinteressada, porém teve um sentimento de dèja vu quando ela começou a morder o lábio inferior.

Soluço… — Ela não conseguiu mais segurar e também começou a chorar. Cobriu o rosto com as mãos e os seus ombros começaram a se mover. — Me desculpa, me desculpa…

Depois de vê-la daquele jeito, o Marca de Ouro começou a olhar para o teto sem saber o que fazer.

“Aquele cara…”

Ao invés de comemorarem, quase todos estavam chorando.

Ouvindo todo aquele som de lamúria vindo do quarto, Hao Win deu um longa tragada no cigarro enquanto continuava apoiado na parede com os braços cruzados. Agora que o seu trabalho estava feito, podia sair dali.

A expressão que tinha no rosto era de satisfação. Fungou, coçou o nariz e balançou a cabeça.

“É. Humanos são animais muito emocionados mesmo.” 

 

***

 

Na manhã seguinte.

Incapaz de aguentar aquela atmosfera de tristeza no quarto, decidiu sair logo ao amanhecer. Era hora de preparar o equipamento para o encontro que teria mais tarde.

“Vamos ver. Eu tenho…”

14780 pontos, mas como tinha dado 600 para os amigos, sobraram 14180. Yi Seol-Ah não queria aceitá-los, mas quando ele usou a desculpa da recuperação da Yun Seora ela aceitou com lágrimas nos olhos.

“O que será que eu compro?”

Normalmente, o preço de equipamentos defensivos começava por volta dos 1000 pontos. Como eram feitos pra te manter vivo, eram mais caros mesmo.

Depois de entrar na loja, deu uma olhada geral no local, mas logo uma empregada asiática o viu e saiu correndo para onde estava. Ela era bonitinha e tinha um cabelo com tranças.

— Olá! Como posso ajudá-lo?

— Eu vim comprar equipamentos de defesa.

Hmm. — A empregada o analisou e balançou a cabeça. — Qual o orçamento?

— Uns 14000 pontos…

— Como você é um Marca de Ouro, tem direito a 30% de desconto! Então acho que podemos dizer que o orçamento é de 20000 pontos, certo?

“Ela sabe quem eu sou?”

— Por acaso, eu também ganho o desconto de primeiro lugar?

— Por quê? Também quer ser o dono da Zona Neutra — respondeu a mulher com um sorriso no rosto.

Sabia que aquele desconto valia apenas para comércios comuns, mas mesmo assim tinha que perguntar.

— Se me permite, posso ser a sua vendedora?

Mesmo que não se importasse em procurar sozinho, não tinha muito tempo. Planejava passar ali pela noite, mas como o Hao Win causou todo aquele alvoroço, teve que ficar no quarto.

— Por favor.

— Ótimo! E que tipo de armadura você procura?

— Uma que cubra o corpo todo?

— Eu vi que você é um Guerreiro. Quer focar em mobilidade ou defesa?

— A-acho que mobilidade? Pera, eu acho que defesa também é importante.

— Sim, sim. A sua arma é uma lança?

— Sim.

— Não pensa em mudar?

— Não. — Não planejava em mudar a sua arma quando tinha acabado de se acostumar. Além disso, precisava economizar. 

— Entendido! Eu, Aragaki Yuzuha, a sua vendedora, já volto! — disse, levantando um dos braços e correndo, provavelmente, em direção ao estoque. 

Enquanto a empregada procurava alguns equipamentos para mostrar ao cliente, Seol começou a olhar com mais calma o local. Os nomes dos itens pareciam ser bem simples. Por exemplo, a lança que já havia comprado era chamada de “Lança Firme e Afiada”. Mesmo que ela não tivesse nenhum atributo especial, ele tinha achado essa simplicidade bastante agradável.

— Voltei! — exclamou carregando várias coisas com as duas mãos.

O primeiro item mostrado foi uma armadura azulada.

— Essa aqui é a armadura de couro fervente, a melhor dentre as armaduras de couro. Depois de pegar o óleo fervente contendo parafina, você joga um pouco dele no couro e deixa secando por algumas horas. Fica bem resistente! Pode tocar pra garantir.

Tocou em uma parte do peitoral e pode se certificar do que tinha sido dito. Forçou um pouco, mas o item nem fez menção de ceder.

— É por isso que ela oferece uma resistência muito alta contra ataques cortantes, mas isso não significa que você seja invencível, tá bom? Se receber um choque que a armadura não suporte, ela vai quebrar toda. Então é melhor tomar cuidado contra os ataques de armas de impacto! — Logo após terminar a explicação, a vendedora logo já puxou um outro item que carregava. Era uma espécie de armadura formada a partir de pequenos anéis de metais entrelaçados. — Recomendo muito que você coloque isso por baixo da armadura de couro.

— Essa é a famosa cota de malha?

— Beeeem, mais ou menos. É muito pequena pra chamar de cota de malha, mas dá pra pensar nela como se fosse a versão em miniatura. É mais leve do que o normal, porque foi feita para Magos e Sacerdotes vestirem por baixo dos seus robes, mas mesmo assim, pode te defender bem. Mesmo que você dê azar e a armadura de couro quebre, você ainda consegue salvar a sua vida usando esse carinha aqui.

Dobrar as camadas de proteção não era uma ideia ruim.

— Quanto custa os dois?

— A armadura de couro fervente custa 5700 e essa aqui 6900. Ah, isso com o desconto.

— Essa é mais cara?

— Claro! Aquela é de couro e essa é de metal!

Hmm

— E então?

Graças à lábia da Yuzuha, ele também comprou protetores de couro para os braços e pernas, assim como luvas e botas com travas.

— O total é de 13980 pontos, querido cliente!

Não disse mais nada e apenas entregou os pontos, o que deixou a empregada muito feliz.

— Obaaa!

A miniatura de cota de malha mal cobria os ombros e quase não chegava no umbigo. A armadura de couro fervente podia ser vestida como uma camiseta. Enquanto se abaixava para colocar as botas de couro, a vendedora passou a analisar a lança encostada no balcão antes de semicerrar os olhos.

“Nem vem que eu não tenho mais ponto…”

— Você tá cuidando da sua lança?

— Cuidando?

— Sim. Dá pra ver que a lateral da ponta tá meio cega. Você já a amolou desde que comprou?

— Eu preciso mesmo fazer isso?

Após ouvir aquilo, Yuzuha fez uma cara de surpresa e perguntou de volta: — Será que eu preciso mesmo responderr?

— Acho que já entendi.

No fim, teve de gastar outros 20 pontos para comprar uma pedra de amolar e um pano. Todos os 14000 pontos que tinha foram embora.

— Muito obrigadaaa! Ainda temos algumas armas disponíveis então, por favor, dá uma passadinha aqui de novo depois de conseguir váááários pontos! Pode ser?

Ao ouvir aquelas palavras, Seol caminhou em direção ao primeiro andar. Sentia-se um pouco mais pesado agora, mas também estava animado. A compra de equipamento era algo que tinha adiado muito. Trocar as roupas que usava desde que saiu da terra e passar a vestir uma armadura acelerou o seu coração.

“Eu vou ganhar mais muitos pontos e arranjar uma armadura boa pras crianças também.”

Antes que percebesse, já estava tratando os irmãos Yi e Yun Seora como crianças que tomava conta.

Achou um lugar tranquilo para se sentar no primeiro andar e, sem muito jeito, começou a amolar a ponta de sua lança enquanto esperava os outros membros do grupo. 

 

***

 

 

 

*** 

 

Se escondeu em depressão em um pequeno morro e começou a encarar a trilha montanhosa não muito longe de si. Havia um grupo dos tais Bugaboos andando pelo caminho localizado entre as duas montanhas. Mesmo de longe, parecia ter, no mínimo, 30 deles.

Um Bugaboo era um monstro peludo com um corpo humanóide e uma cabeça de urso. Tinham cerca de 1,50m de altura, mas com todo o corpo musculoso. Vendo aquelas presas afiadas e grandes garras, até mesmo ele ficou nervoso.

“Por que eles estão carregando tantas armas?”

Não apenas espadas, escudos e lanças, também podia ver armas de impacto e arcos. No entanto, o mais impressionante era um Bugaboo de dois metros que estava no meio da matilha. Ele carregava uma maça enorme em uma das mãos, dando a impressão de que era o líder. 

“Que bom que eu não tentei fazer essa missão sozinho.”

Era verdade que as missões “Muito Difíceis” tinham a dificuldade muito mais acentuada. Apenas naquele momento pôde entender o motivo do nome “Emboscada”. Caso ele e o seu time encarassem aquelas criaturas de frente, eles não teriam a menor chance.

Depois de um tempo, os Bugaboos começaram a se aproximar do morro em que ele estava escondido.

“Ainda não.”

Então, o antes silencioso ambiente foi coberto por um poderoso barulho. A ventania formada no final daquele caminho estreito começou a derrubar tudo à medida que se movia em direção aos monstros. Aquilo tudo, é claro, era uma das magias de Delphine.

Guak!!

Grrrrr, grrrrrr!!

O líder Bugaboo começou a andar vacilante antes de cair no chão. O mesmo ocorreu com os outros. Todos caíram e rolaram pelo chão, desfazendo completamente as filas que formavam.

Enquanto a ventania diminuía, Seol agarrou a sua lança com mais força. O couro da luva que usava parecia grudar ao cabo. Ele agachou e pôs força nos tornozelos, se preparando para avançar a qualquer momento. Não muito tempo depois, pôde ouvir um assobio vindo do outro lado da montanha. Uma daquelas criaturas, enquanto tentava se levantar, deu um grito estridente com uma flecha no pescoço. Então, Leorda Salvatore e Tong Chai, os dois arqueiros, começaram a atirar no restante da matilha.

A maioria dos monstros ainda não tinha levantado, mas aqueles que perceberam a situação, viraram as cabeças na direção que as flechas vinham. Três já estavam de pé correndo naquela direção.

Nesse momento, Seol se levantou. Correu montanha a baixo e apunhalou a cabeça de um dos inimigos tentando se reerguer. Puxou a lança de volta e, quase que no mesmo segundo, fez um novo ataque, mas dessa vez lateral. Um buraco foi formado na cabeça de outro Bugaboo, que caiu no chão.

Ao perceber que a sua lança era efetiva, ele começou a avançar com mais confiança. O plano era reduzir ao máximo o número de monstros enquanto eles estivessem prestando mais atenção na magia de Delphine e nas flechas dos arqueiros. Após matar mais seis, achou melhor se retirar. Os Bugaboos já tinham percebido que havia um outro inimigo em suas costas. Daquele momento em diante, uma verdadeira batalha aconteceu.

Refletiu a lâmina que se aproximava com uma “Investida” e rapidamente usou a “Estocada”, fazendo com que outra criatura ficasse fora de combate jorrando sangue. No momento em que usou o “Corte”...

Clang!

 Com um som metálico, a sua lança fora bloqueada. Um Bugaboo levantou o escudo na hora certa e conseguiu evitar o ataque. Diferente dos esqueletos, esses caras não eram burros, avançando todos em uma mesma direção. Não, eles haviam se espalhado por todos os lados tentando cercá-lo.

Clang! 

Quando a sua arma se chocou contra o machado de uma das criaturas, arregalou os olhos de surpresa. Não apenas pela habilidade do inimigo com o machado, mas os oponentes estavam começando a se aproximar. Quando deu alguns passos para trás evitando ser atingido, um novo ataque veio em sua direção. Assim, ao invés de continuar com uma postura ofensiva, Seol teve de começar a ficar mais preocupado em se defender. Cercado por seis monstros, a única opção que tinha era recuar.

No entanto, isso não era tudo — enquanto tentava ao máximo se defender dos ataques, ele titubeou e hesitou quando um grande impacto o atingiu no peito. Era uma flecha que não conseguiu penetrar a armadura que vestia. A criatura que segurava um arco estava com a mira nele e já pronta para um novo disparo. 

Foi então que aconteceu.

Swish, swish!!

Acompanhado pelo som de ar sendo cortado, dois monstros que subiam a montanha gritaram. Haviam sido atingidos por flechas nas costas e em ambas as coxas. Leorda começou a ajudá-lo logo quando ele mais precisava.

“Mas eles também têm arqueiros…!”

Porém, Seol ficou ainda mais surpreso. Das costas de um dos arqueiros inimigos, duas mãos apareceram e logo agarraram o pescoço como uma cobra. Então, uma adaga completou o serviço. Enquanto o Bugaboo morto caía no chão, pôde ver Tong Chai coberto de sangue inimigo.

Com isso, as atenções foram trocadas. Os inimigos que estavam atacando o Marca de Ouro hesitaram. Ao mesmo tempo, flechas continuavam a atrasá-los, mesmo que por poucos segundos. Algumas até acertaram pontos fracos daqueles monstros, fazendo com que eles ficassem muito fracos para continuar.

Agora que outros dois companheiros estavam o ajudando, pôde parar de recuar. Mudou a postura de defensiva para ofensiva. Em poucos segundos conseguiu lidar com um par de monstro com a “Estocada” e a “Investida”, avançando cada vez mais.

Guaaak!

Naquele momento, o líder Bugaboo parou de apenas observar e decidiu dar um passo à frente. Olhou para Seol, gritou e levantou a maça o mais alto que pôde. Ele estava muito bravo com a visão de metade dos seus subordinados terem sido eliminados em tão pouco tempo.

“Será que eu desvio?”

Não tinha confiança de que poderia defender aquele ataque. A arma do monstro desceu com muita força, fazendo com que o chão chegasse a tremer. 

Boom!

Um som metálico ressoou por toda a montanha.

— O-o d-desgraçado até que é fortinho — disse Hao Wan com uma voz vacilante segurando um largo escudo de metal enquanto os seus pés deslizavam no chão devido à grande força aplicada pelo inimigo.

— Eu ia desviar!

— E eu bloqueei o ataque pra você!

— A porra daquele Sacerdote é sempre enrolado com os feitiços.

Não entendeu muito bem o que o parceiro disse, mas logo uma barreira apareceu. O líder Bugabook tentou atacá-la, mas ela nem fez menção de ceder.

— A mana dele deve ser bem alta. Essa barreira parece ser bem forte.

— Alguns monstros não fugiram pra lá?

— Já cuidei deles, mas eles me enrolaram bastante pra chegar até aqui.

O líder e mais de dez dos seus subordinados estavam cercando a barreira. Não sabiam quanto tempo aquela magia aguentaria, então precisavam fazer alguma coisa. Contudo, Hao Win pareceu estar tranquilo.

— Mas não é que você é bom mesmo? Quantos você matou sozinho? Catorze? Quinta?

— Catorze. A gente não tá no meio de uma batalha? Não é hora pra ficar de conversinha.

— Relaxa. Tá na hora do nosso Coringa aparecer — falou, apontando para uma outra montanha.

Tudo o que Seol pôde ver foi Odelette Delphine vestida em um robe azul apontando o seu cajado para a direção em que estavam.

— Avar - Ava - Avaritia.

Ouviu um som estranho e, ao mesmo tempo, uma bola de fogo acertou a cabeça do líder Bugaboo.

Guaaaaaak!

Crepitação. As chamas atingiram o couro do monstro e se espalharam sem muita dificuldade. A criatura largou a maça, cobriu o rosto e começou a rolar no chão.

— Cuida do grandão! Eu dou um jeito no resto!

A barreira de proteção ainda estava ativa. Portanto, da área segura, Seol começou a atacar o líder enquanto ele ainda rolava no chão. No momento em que aquele feitiço parecia já ter perdido a força, o principal inimigo já estava cheio de buracos por todo o corpo.

Dos poucos que sobraram, os seus outros companheiros deram conta. Leorda atirando flechas, Tong Chai com a adaga e Hao Wan com ataques físicos.

A primeira batalha cooperativa foi…

“Fácil.”

Podia ter sido um pouco complicado no começo por ter que irritar os oponentes, mas com o tempo, tudo ficou mais tranquilo. Sozinho, nunca teria conseguido terminar aquela missão. Além disso, pensou que, se o time fosse só um pouco desbalanceado, a missão seria muito mais difícil. Também pôde entender o porquê dos Magos serem tão valorizados.

— Muito bem! — gritou Delphine com a mão levantada do outro lado da montanha.

— Um Mago tá em outro patamar mesmo, hein?

Quando Seol falou aquilo, a jovem parou de pular em animação e virou a cabeça para o lado. Da perspectiva dela, tudo que fez foi conjurar dois feitiços enquanto os outros a protegiam. Sentiu um tom um pouco sarcástico, já que ele não havia apenas bloqueado os ataques combinados dos monstros, mas também eliminou a metade deles. Porém, ela logo abandonou esse pensamento quando viu que ele estava sendo sincero.

— Como vocês, Guerreiros, me protegeram, ficou de boa — respondeu.

— E aí? Como foi? — perguntou, animado, Hao Wan, que tirava o sangue da própria espada.

— Brincar com um time até que não é tão ruim, né? — disse rindo.

Você completou uma missão “Muito Difícil”!

Recompensa: 1667 Pontos de Sobrevivência.

Conta: 1847 Pontos de Sobrevivência. 



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