O Retorno da Gula Coreana

Tradução: Teverrr

Revisão: Melo


Volume 1

Capítulo 32: Um Mal Entendido (2)

A oferta de Odelette Delphine era o que esperava — ela queria que ele entrasse no time.

Pela descrição, a formação do grupo parecia ser bem pensada. Hao Win era o Guerreiro, Leorda e Tong Chai os Arqueiros, Delphine a Maga e a pessoa que não conhecia era o Sacerdote. Como as missões “Difíceis” aceitavam até seis participantes, pensou que o último lugar havia sido deixado para si.

Se as coisas continuassem como o planejado, não hesitaria em aceitar, afinal, poderia se aproximar de duas pessoas que Kim Hannah falou para ser amigável e pensou que ganharia companheiros confiáveis. No entanto, a situação era diferente. Precisava conseguir 82000 pontos o mais rápido possível.

“Eu conseguiria esses pontos se entrasse, mas…”

Também não queria se forçar tanto. Pretendia curar o braço da Yun Seora, conseguir bons equipamentos e comprar mais Elixires Divinos da loja VIP. Podia ser considerado ganancioso, mas não queria desistir dos próprios desejos. Por fim, teve de decidir.

— Me desculpa, mas, no momento, as coisas tão difíceis.

Se monopolizasse os pergaminhos “Difíceis”, poderia conseguir mais pontos do que o necessário para a Cerimônia. Poderia ir atrás do equipamento que queria e recrutar pessoas para formar ajudá-lo. Alguns o chamariam de vagabundo, mas esse era o melhor cenário que podia pensar.

— Hng. — Cabisbaixa, ela não parecia esperar aquela recusa.

Hmm. — Hao Win não estava disposto a aceitar aquela recusa. — Eu sei o quão forte você é. Reconheço as suas habilidades, mas as missões “Muito Difíceis” não são algo tão simples assim. Você sozinho não vai conseguir.

— Eu sei.

— Você diz que sabe, mas eu ainda não entendo — disse, pensativo. — Ahh, é porque você não gosta da composição do time? Ou quer criar o seu?

— Eu não pensei em formar um time ainda. Sendo sincero, eu gosto muito desse time. Não me importaria nem um pouco de fazer as missões com vocês…

— Então por que recusar? — O chefe de máfia o encarava. Pela expressão que tinha, estava muito confuso. Continuou estudando Seol por um tempo e continuou: — Percebi que você ainda não comprou nada a não ser essa lança. Imagino que tenha conseguido muitos pontos. Gastou todos com as suas habilidades?

— Não. — Negou. Nunca pensou em comprar habilidades das lojas, mas queria muito um bom equipamento para si.

— Estou ainda mais confuso. Ah, mais uma coisa. Se eu não me engano, você estava prestes a pegar uma outra missão “Difícil”, certo? — Assim como o olhar, a pergunta foi afiada e precisa. — Você já acabou com todas as tentativas de algumas missões, enquanto que com outras as completou só seis vezes.

— É…

— Poderia tê-las concluído também, mas não o fez em consideração aos outros sobreviventes. É o que eu penso, pelo menos.

— Senhor Win! — Delphine logo o cortou. A julgar pelo tom de voz daquele homem, ela deve ter pensado que ele estava tentando arrumar briga com Seol.

— Parece que você tá tentando dizer que ele tá errado. Se for isso mesmo, eu discordo. — Tong Chai concordou com a jovem.

— Óbvio que não estou indo contra decisões que já foram tomadas. Mas, honestamente, eu também nunca entendi o motivo da gente completar as missões Difíceis seis vezes antes de passar para a próxima. A Zona Neutra é um local de competição. Não deveria ser cada um por si? Não estou discordando dele, apenas quero entender as motivações.

Delphine o encarou. O chefe de máfia balançou uma das mãos em sinal de frustração.

De fato, aquele time era o melhor. Porém, eles também tinham algumas dificuldades. Por exemplo, o poder ofensivo não era tão grande.

Por ora, a estratégia do grupo era colocar Hao Win na frente como um escudo, enquanto os dois Arqueiros controlavam os inimigos. Por sua vez, Delphine os eliminaria à distância usando a magia. Desse jeito, não se arriscavam, mas demoravam muito para completar uma só missão. No entanto, nas “Muito Difíceis” novas condições eram impostas. Ficar na defensiva não funcionaria. Condições como “armadilhas” e “formação” eram adicionadas.

Logo, Hao Win argumentava que não conseguiriam concluí-las com a tática que estavam usando. Havia dito que precisariam da força daquele jovem. Porém, por que ele o questionava tanto?

— Eu respeito se você for do tipo de lobo solitário, mas não acho que seja o caso. Você deve ter conseguido uma boa quantidade de pontos, só que ainda não comprou nada além da lança. Parece que você quer acumulá-los.

Lógico, pela perspectiva de terceiros, as ações de Seol pareciam um pouco estranhas. Deixou escapar um leso suspiro.

— Como você disse, eu tinha muitos Pontos de Sobrevivência.

— Tinha. Por que no passado?

— Gastei a maioria na loja VIP. Deixei alguns guardados pra comprar uns equipamentos melhores pra mim, mas a situação mudou.

— É mesmo? Aconteceu alguma coisa? — A atitude daquele homem ficara mais amena.

— Tenho um problema e preciso arranjar o máximo de pontos que eu conseguir no menor tempo possível. — Mesmo que não fosse algo para sair anunciando, sentia que devia uma explicação àquelas pessoas. Portanto, decidiu contar sobre o braço de Yun Seora e sobre a Cerimônia. Não teve com quem desabafar por um tempo, então quando a oportunidade apareceu, decidiu extravasar.

Após escutarem o relato, todos pareciam ter ficado atônitos, principalmente Hao Win, que parecia ter levado um soco, pois estava com um olhar perdido.

— Você tá com um problema bem grande mesmo… — Delphine pareceu bastante empática.

Hmm. Entendo a sua situação. Mas tem alguma razão em especial pra você fazer isso? — perguntou Tong Chai, ainda um pouco confuso. — A não ser que ela seja parte da sua família, uma irmã, talvez. Mas gastar 82000 pontos por alguém da mesma Área me parece um pouco exagerado, não acha?

Coçou a cabeça sem conseguir achar uma resposta de prontidão.

Tinha várias razões. Além de Kim Hannah ter pedido, era a chance de testar o Mandamento Dourado e também queria ajudá-la. De qualquer forma, não tinha razão para contá-los tudo.

— E-eu recebi ajuda no Tutorial. É-é meio difícil parar de pensar nisso.

— Não consegue?

— Sim. Tem um pouco de vergonha no meio também… — murmurou, como se estivesse reclamando. — Se eu soubesse um pouco antes da situação, as coisas não precisariam ter ficado tão complicadas…

Após ouvi-lo, Hao Win deu de ombros. Moveu-se para mais perto da mesa e, com cuidado, analisou Seol.

— Quem é essa pessoa que você tá querendo ajudar? — perguntou. Comparado a antes, o tom de voz dele estava muito mais amigável.

— Yun Seora.

— Yun Seora. Uma mulher então, certo?

— Sim.

— Entendi. É por isso… — O chefe de máfia deixou escapar um resmungo e logo depois tirou os pés da mesa. — Ah, eu ainda não sei o seu nome.

— Seol. Meu nome é Seol.

— Peço perdão pelo meu comportamento antes. Parece que fui muito prematuro. Achei que você não se misturava com ninguém. Não tinha ideia das circunstâncias. De verdade — falou, encarando-o de volta e se sentando de forma normal.

— Tá tudo bem. Relaxa.

— Vai aceitar as minhas desculpas? — Estendeu uma das mãos. Após alguns segundos surpreso, o Marca de Ouro também estendeu a sua. — Entendo — falou, por fim, levantando a cabeça.

— Como assim?

— Se eu soubesse disso antes. O apego. Eu já passei por coisas assim — respondeu, parecendo um pouco solitário.

— Por favor, pare de contar essa história de amor chata sua!! Por favor!

An? Mas você não se solidarizou comigo quando eu contei a primeira vez?

— Tudo bem na primeira e segunda vez! Se você contar ela de novo, vai ser a sétima vez!! — Raivosa, a Maga cobriu as orelhas.

Seol ficou encarando os dois, sentindo-se surpreso. Achava que o relacionamento deles era só cooperativo, mas parecia muito mais amigável.

— Meu amigo, quanto você precisa pra essa cerimônia? — perguntou Hao Win, lambendo e parecendo se sentir triste por ter perdido a oportunidade de ter contado a história.

— 43720 pontos.

— 43720? Acho que tem como.

“Como assim, tem como?”

Antes que pudesse perguntar, aquele homem bateu uma única palma e chamou a atenção para si.

— Vejamos. Eu sei que nós preparamos várias táticas pra tentar convencer esse jovem pra se unir a gente. Então, por que não fazemos desse jeito?

— Que jeito? — perguntou Delphine, curiosa.

— Primeiro, nós o convidamos para o time. Então, completamos seis missões “Difíceis”.

A garota balançou a cabeça em discordância, mas continuou escutando. Hao Win parecia ter uma aparência simples, mas nunca falava sem pensar muito antes.

— Porém, daremos a nossa recompensa para ele.

— Como é que é?

— Ideia merda. — Tong Chai se opôs.

— Se você tava planejando fazer o que queria desde o começo, por que tentou formar um time? — perguntou Leorda, também irritado.

— O que foi? Não tínhamos concordado que precisaríamos da habilidade desse jovem pra tentar as missões “Muito Difíceis”?

— Mas você mudou algumas coisas, não mudou?

— Escuta. O que eu quero dizer é que ou a gente coopera, ou compete. — Apontou para Seol e continuou. — Esse amigo aqui, senhor Seol, precisa de Pontos de Sobrevivência por motivos pessoais. Ainda não o viram se preparando pra tentar completar uma missão “Difícil”?

— Mas e daí? A gente também consegue fazer essa, né? Só precisamos recrutar um outro Guerreiro que tenha habilidade o suficiente.

— Não é questão de habilidade. Do que a gente sabe sobre as missões “Muito Difíceis”, o estilo de luta desse jovem bate muito bem com o nosso, mas em missões “Difíceis” a história pode ser outra.

— Não tô entendendo o que você quer dizer.

— Pensa. De quanto tempo precisamos pra completar uma missão “Difícil” e de quanto tempo ele precisa.

As expressões de Tong Chai ficaram mais sérias. Parecia ter entendido o que o parceiro queria dizer. Todos se lembraram. Ele as havia concluído em uma velocidade assustadora. E tudo sozinho.

— Se ele não se juntar, quantas vezes mais vocês acham que vamos conseguir completar alguma missão “Difícil”.

Hmmm

— No mínimo cinco? Se a gente correr, dez?

— Que seja. Ainda acho que vamos estar perdendo muito.

— Verdade. Talvez a gente ainda consiga alguns pontos desse jeito.

— Você tá errado em um ponto, Hao — cortou Leorda. — Concordo, se o Seol entrar no grupo vai ser algo bom. Mas eu não concordo no ponto de que a gente só vai conseguir completar as missões “Muito Difíceis” com ele.

— O mesmo vale pra esse camarada aqui. — O chefe de máfia nem hesitou em contra-argumentar.

— Sim, não tenho dúvidas de que o nosso grupo é o melhor na Zona Neutra. Porém, esse cara aqui é o melhor sobrevivente. Acha mesmo que ele não vai conseguir formar o próprio time? Ou você acha que nenhum outro time vai querer ele?

Se eles falhassem em conseguir recrutá-lo, teriam de competir contra o Marca de Ouro ou contra o grupo dele. Como tinha reconquistado toda a sua fama nos últimos dias, era uma mentira dizer que aquelas pessoas não estavam sob pressão.

— Então é isso. 43720 pontos? Vamos encarar isso como a taxa para um contrato ser assinado. Se dividirmos isso, vai dar o que, 8700 por pessoa? A gente consegue isso de volta fazendo as missões “Muito Difíceis”. — O que Hao Wan queria dizer era que deveriam recrutar Seol para evitar possíveis competições. — Pensa. Só concluindo uma missão “Muito Difícil” dá 50000 pontos. 8000 pra cada.

— Gostei — disse Delphine com uma voz entusiasmada. — Pra conseguir um lucro maior lá na frente, é melhor investir agora, né? Com isso eu concordo. Gosto de uma competição, mas, por ora, vou preferir aproveitar essa oportunidade. Tô de olho nesse aqui tem um tempo já, sabe?

— Ótimo. E você? — Olhou para Tong Chai, que logo fechou os olhos. Leorda fez o mesmo. Como a líder do grupo já tinha falado, o veredito já quase tinha sido dado.

Ah, sobre a taxa de assinatura que a gente tá planejando. — Hao Win continuava a falar. — Com exceção do nosso Sacerdote ali, vamos emprestar 2000 pontos cada pro Seol. Todo mundo tem essa quantidade?

— Achei que essa discussão sobre a taxa de assinatura já tinha acabado — disse a Maga, sentindo que Tong Chai estava prestes a explodir.

— Olha, depois que ele fizer aquela Cerimônia lá, não vai ter mais nada, não é? Não acham que ele precisaria de um equipamento decente pra fazer as missões “Muito Difíceis” com a gente?

— Mesmo assim…

— É um empréstimo, não uma doação. Fora que ele vai passar a ser o nosso principal escudo. Não dá pra você fazer esse sacrifício? Se ele usar os melhores equipamentos, a nossa chance de sobreviver aumenta também, não?

— Você não sabe quando parar! — Com raiva, Tong Chai se levantou e encarou o mais novo integrante do grupo. — Não precisa falar mais nada. Mostra do que você é capaz.

An?

— Hao é o tipo de pessoa que morre pelos próprios princípios, por isso ele tá falando esse monte de coisa. Mas eu sou diferente. Entendo a situação, mas não vejo motivo pra sair do meu conforto só pra te ajudar.

Era bom demais pra ser verdade. Se conseguisse um time, não seria mais culpado de acabar com os pergaminhos. Melhor ainda, ia conseguir monopolizar as recompensas. Além disso, tinha a oferta da dos pontos emprestados. Já planejava comprar alguns equipamentos, então era difícil encarar aquilo como uma dívida.

— Alguns pontos do argumento também são plausíveis. Por isso que eu acho que você deve mostrar um pouco da sua habilidade pra gente. Ouvimos os rumores, mas preciso confirmar com os meus próprios olhos. Me convença de que o investimento vale a pena.

“Convencer? Isso é facil.”

Pegou a lança e se levantou.

— E-espera aí.

— O que foi?

— Eu não disse que você devia lutar contra mim — disse, apontando para o quadro de avisos.

Ah.

Kuhum. Vou trazer um daqueles papéis pra cá. Se prepara.

— Por quê? — perguntou Seol olhando para o chefe de máfia.

Hmm?

— Por que você tá me ajudando?

Hao Win havia sido essencial. Como o Marca de Ouro não tinha muita habilidade para oratória, ele ficou apenas admirando o talento daquele homem. Porém, ao mesmo tempo, não entendia o porquê. Afinal, nunca nem tinha falado com aquele chinês até então.

— Bem, é um pedido de desculpas pelo meu comportamento no começo. Sabe, eu não odeio gente como você. Alguém que está disposto a enfrentar qualquer perigo pela mulher que ama! Na verdade, eu te admiro.

— A-amor?! — Quase engasgou com a bebida que tomava.

— Estou errado?

— Muito. Eu nem tô saindo com ela.

— Mas você não disse que não conseguia parar de pensar nela?

— Sim, mas…

Ha ha ha ha! Eu não ligo que seja um amor um pouco mais tímido, mas é melhor encarar isso logo. Escuta, meu amigo. Se fosse uma pessoa qualquer, você iria mesmo atrás desses 82000 pontos? Já não tava planejando conseguir essa quantidade toda independente do que acontecesse aqui?

— M-mas, n-não é bem isso…

Se estivesse mesmo interessado em Yun Seora, não a teria abandonado naquele estado deplorável. Tentava ajudá-la por peso na consciência e pela recompensa que poderia tirar de Kim Hannah.

— Eu era igualzinho a você. Já faz muito tempo, mas ainda me arrependo. Não tinha ideia do quão importante a outra pessoa era. Só quando não tinha mais ela ao meu lado que fui perceber o erro.

“Esse cara não tá entendendo nem um pouco a situação…”

— Também tô com um pouco de inveja, sabe? Você começou a agir antes que fosse tarde demais. Diferente de mim… — O tom de voz melancólico o deixou um pouco desconfortável, mas conseguiu manter a postura.

Segundos depois, Tong Chai retornou com um pergaminho. Para que conseguissem entrar na missão juntos, deveriam manter algum tipo de contato físico.

— De qualquer forma, é por isso que eu tô te ajudando. — O chinês pegou um escudo enorme e colocou a mão no ombro de Seol. — Sabe, eu sou um cara muito romântico — disse com um sorriso no rosto.

Logo, seguidos do barulho de papel sendo rasgado, os seis desapareceram.

Dois minutos e 47 segundos depois, voltaram à praça principal do primeiro andar.

— Q-que doideira… — O chefe de máfia ria. Enquanto isso, o Marca de Ouro recuperava o fôlego.

Pela expressão no rosto de Leorda, parecia que ele tinha visto um monstro. Presenciou tudo com os próprios olhos, mas ainda assim não acreditava. O jovem carregando uma lança avançou com tudo no segundo que chegaram no campo de batalha. Então, começou a acertar as silhuetas de sete monstros sem errar nem um golpe.

Sabia que Seol havia completado a missão “Difícil” mais complicada,  “Derrote o cerco e sobreviva!”, sozinho. Mas a cena que viu excedeu todas as expectativas.

— Nunca pensei que sentiria pena dos monstros em uma missão.

— Eu avisei. Consegue entender o que eu disse agora?

Concordou com a cabeça.

— Agora que viu essa performance ao vivo, o que acha, senhor Chai? 

O indiano ficou parado por alguns segundos ainda estupefato por tudo que tinha visto, mas logo também acenou positivamente.

— Você é da Área 1. Coréia do Sul, né?

— Isso.

— Fez parte do exército?

— Eu era sargento antes de ser dispensado.

Ahh, entendi…

Ficou um pouco nervoso. Que tipo de mal entendido era aquele? Estava prestes a contar que ficava mais na parte administrativa, mas logo a conversa continuou.

— Concorda comigo agora?

— Totalmente. Vou até emprestar 3000 pontos.

Woow. E essa mudança de atitude aí, hein? — disse enquanto assobiava, surpreso.

— Claro. Acabei de perceber que não sou o motorista, mas sim um mero passageiro — respondeu com um sorriso irônico ao mesmo tempo que tirava o turbante. Abaixou um pouco a cabeça na direção de Seol e continuou: — Espero que consiga comprar o melhor equipamento possível. Estou muito mais ansioso em tentar as missões “Muito Difíceis” agora.

— Ora, ora, ora. E você, Leorda?

— Também vou emprestar 3000 pontos — falou desviando o olhar e cruzando os braços na altura do peito.

— Olha só, parece que todo mundo tá querendo ajudar agora. Perfeito. Te empresto 4000 pontos.

— 5000! — Silenciosa até o momento, Delphine gritou parecendo muito animada e agarrou um dos braços de Seol.

Nervoso, ele a encarou.

— É óbvio que eu também vou participar! — disse, ainda segurando-o e com um brilho no olhar.

 

***

 

Abriu os olhos. A sua visão estava embaçada, dando a impressão de que estava olhando para algo embaixo d’água. As luzes, por outro lado, eram bem nítidas.

Ahh

Os olhos doíam. Os fechou e deu um leve suspiro.

“Sobrevivi…”

Na verdade, gostaria de ter morrido.

Mexeu as mãos e notou algo estranho. A sensação na ponta dos seus dedos era de maciez. As costas não doíam e, mais importante, não sentia o próprio corpo mais tão pesado. Em seguida, tentou focar melhor a visão, porém logo foi atingida pela visão de um quarto.

— Onde eu tô…?

Se lembrava de ter voltado para o quinto andar. No entanto, agora estava em um palácio.

“Será que eu morri?”

A porta se abriu.

— O quê? Unni?

Yi Seol-Ah voltara depois de ir comprar comida.Quando viu que Yun Seora havia recobrado a consciência, saiu correndo.

— É…

— Você acordou! Como tá se sentindo? 

— O-onde eu tô?

— É o paraíso — respondeu Yu Sungjin, entrando na conversa.

Estava prestes a concordar, mas logo viu os sinais de desnutrição no corpo do rapaz, o que a deixou ainda mais confusa.

— Ai! O que foi?!

— Ela vai entender errado!

— M-mas! Esse lugar é mesmo o paraíso…

— C-concordo.

Pigarreou algumas vezes e, com um lindo sorriso no rosto, colocou a bandeja em cima de uma mesa. Yun Seora começou a salivar depois que viu o que tinha naquela bandeja. Em seguida, pôde sentir o delicioso aroma que vinha daquela sopa.

— Pode comer. Você deve estar morrendo de fome.

— M-mas e vocês dois?

— Também trouxe comida pra gente. Relaxa.

— O que tá acontecendo? — A sua mente estava uma bagunça. Muitas coisas pareciam ter mudado desde que acordou.

— Nos ajudaram — responderam ao mesmo tempo os irmãos.

— Q-quem?

— Já chega. Vou te contar tudo quando você terminar — disse a jovem, apontando para a bandeja de comida.

Não iria recusar. Era a primeira refeição decente que teria depois de mais de um mês.

“Tá muito bom.”

A sopa parecia derreter na ponta da língua — como podia ter um gosto tão maravilhoso?

Yun Seora estava muito focada na sopa. Quando os dois viram que estava tudo bem, também começaram a comer. Juntos, todos saborearam o alimento. De repente, Yi Sungjin deu um longo suspiro. A irmã o encarou e, ainda com os hashis na boca, o advertiu.

— Você não deve suspirar assim no meio de uma refeição.

— N-não, é que eu tô preocupado.

Hmm?

— Tô pensando se não tem mesmo nenhum problema da gente ficar aqui…

— Se eu fosse o Hyung, acho que ficaria um pouco incomodado com a gente aqui…

— V-você acha?

— Assim, é meio inconveniente a gente ficar aqui, não acha? A gente meio que jogou nele a responsabilidade de curar o braço da Seora também, né?

Quando ouviu aquelas palavras, ela parou de tomar a sopa. Yi Seol-Ah soltou um “Ah!”, mas já era tarde.

Mesmo que Seol dissesse que conseguiria os pontos, aquela quantia não era algo que conseguiria em apenas um ou dois dias. Pelo contrário, as chances dele não conseguir o necessário até o prazo que eles podiam ficar na Zona Neutra era bem grande. Não era bom criar uma expectativa tão alta, então ela planejava ficar em silêncio.

— Do que você tá falando?

— N-não é n-nada. Relaxa. Termina de comer antes.

Yun Seora abaixou a colher. Os irmãos se entreolharam. Sabia que a merda já tinha sido feita. Por fim, tiveram de explicar toda a situação.

— 82000 pontos?!

— Sim. Pra curar o seu braço precisamos de 82000 pontos…

— E ele? — perguntou, soltando um riso de desespero logo após ouvir aquele valor. Não tinha nem 10 pontos para comprar uma simples refeição. Aquele valor era inimaginável.

— Saiu tem um tempo. Disse que iria conseguir alguns pontos.

“Por quê?”

Não conseguia entender. Apenas vieram da mesma área, mas mesmo assim ele a levou para o quarto em que dormia, gastou alguns pontos para alimentá-los e ainda queria curar o seu braço.

“Mas por quê?”

Como alguém que nunca se importou muito com os outros, toda aquela ajuda era algo impensável e que lhe traria um imenso fardo no futuro. No entanto, apesar de ainda estar um pouco suspeita por aquilo todo, o seu corpo estava em festa por poder se recuperar. Parando para pensar, talvez o tenha visto em um dos sonhos que teve 

 Você tá bem?

“Preciso vê-lo.”

Quando essa ideia se formou, ficou ainda mais confusa.

“No que é que eu tô pensando?”

Unnie, p-por favor, não fique desanimada quando o orabeo-nim te disser que vai ser difícil.

— Não vou ficar — respondeu.

“Mas o que eu devo dizer pra ele?”

Foi então que ouviram passos vindo do corredor.

 

*** 

 

 “Mas eu queria ver como a Cerimônia é…”

Seol estava sentado nos degraus da escada enquanto suspirava. Ele e o seu novo time haviam completado cada missão “Difícil” disponível seis vezes, ganhando 43500 pontos extras.

Foi tudo muito rápido. Como os outros integrantes do grupo começaram a lutar da maneira que recomendou, tudo ficou mais fácil.

Após conseguir a quantidade necessária, foi atrás da Maria para pedir que ela realizasse a cerimônia.

Apesar de ter uma boca bem suja, a empregada nunca voltaria atrás com a própria palavra. Lhe disse para não entrar no aposento durante o processo, já que o deus que ela iria descender durante o processo. Então, trocou o uniforme que usava para uma espécie de robe branco e, enquanto pegava uma bolsa cheia de itens acompanhada por outras duas empregadas, caminhou em direção ao quarto do Marca de Ouro.

Como sabia que tinha resolvido a situação, parou de se sentir tão desprezível. Tinha apenas uma única exceção…

— Como eu dizia…

Graças ao Hao Win, que estava do lado dele, pensou que começaria a ficar neurótico. Originalmente, era para o time se encontrar de novo na manhã seguinte após Seol comprar os equipamentos que precisava. Porém, aquele chefe de máfia ainda queria falar um pouco. O problema era que o “um pouco” se transformou em um “para sempre”. Aquele cara só ficava falando sobre a sua história de amor.

— Sabe, as mulheres são criaturas emocionais. São diferentes dos homens.

— Claaro…

— Aparência? Físico? Dinheiro? Sim, todos contam. Só que o mais importante é o coração. O coração!

— Claaro…

— O quanto esse cara pensa em mim? Será que ele liga mesmo pra mim? Essas coisas são as mais importantes, sabe? É tudo que você precisa.

— Claaro…

— Agora é sério. Você precisa ser mais confiante. Te ajudo a qualquer hora que precisar. Assim, você tá com a oportunidade perfeita pra partir pro bote, então o resto é fácil. E aí? O que acha? Quer ajuda?

— Claro… — Agora entendia o motivo de Odelette Delphine ter ficado tão irritada.

“Pelo menos ele não é tão assustador quanto eu pensava.”

— Muito bom! Eu não vou aparecer muito, só vou deixar um clima entre vocês dois. Você só vai precisar acertar o momento!

An? — Esteve respondendo igual a um robô, não pensando muito no que falava. Quando percebeu que a conversa tinha ido para um rumo inesperado, logo ficou assustado. — Acertar o momento?

— Parece que acabou — disse Hao Win, agora com um rosto sério.

— Vou dar uma olhada. — Se levantou e correu. Por alguma razão, o seu novo colega de grupo o seguiu.

Quando chegou ao décimo andar, percebeu que a porta para o seu quarto ainda estava fechada. Não estava conseguindo ver nenhuma das empregadas que foram para a Cerimônia, apenas as costas dos hesitantes irmãos Yi.

Orabeo-nim! — gritou Yi Seol-Ah assim que o viu.

— O que aconteceu?

— E-eu não sei! Teve uma explosão de luzes e as duas empregadas entraram correndo, e…

— Tem quanto tempo isso?

— Foi agor…

Chiado…

Antes que a jovem pudesse terminar a frase, a porta se abriu.



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