Volume 1
Capítulo 31: Um Mal Entendido (1)
Yun Seora, 20 anos, uma jovem mulher convidada para o Paraíso depois de ser analisada por Sinyoung. Chamada de puta e arrogante pelo já morto Yi Hyungsik. Assim como Kang Seok, era uma das maiores apostas da Área 1 para o recrutamento de Março.
Sempre seguiu a máxima de “agir primeiro e pensar depois” em tudo o que fazia. As decisões que tomava nunca eram baseadas na emoção e, devido à personalidade que possui, não se importava com os outros. A junção de tais características a deixava com uma grande vantagem no Tutorial, mas logo que perdeu o braço direito, a situação apenas piorou.
Estava ciente da fraqueza que tinha na Zona Neutra, um local na qual a cooperação era imprescindível. Portanto, por um mês, focou apenas em tentar curar o ferimento que tinha. Porém, não teve escolha a não ser revisar essa estratégia ao receber a informação de que começaria com apenas 317 PS, um valor insuficiente para os tratamentos que pretendia se submeter.
Como era uma Invocada promissora, já tinha uma noção de como aquele local funcionava enquanto estava no Tutorial. Por isso, antes mesmo de Despertar, tinha decidido melhorar os seus atributos físicos. Sabia que, caso fosse classificada como uma Maga ou até mesmo uma Sacerdotisa, poderia resolver o principal problema que tinha. Todavia, foi designada como uma Guerreira.
Já havia gastado todos os pontos que tinha na conta. Chegou até a vender a bolsa que ganhou como bônus de início. Mesmo que quisesse correr atrás de alguma missão para recuperar o valor gasto, nenhum grupo aceitava um Guerreiro com um braço inutilizável na equipe.
Dessa forma, ficar em um quarto era um luxo que não podia nem sonhar. Não podia nem realizar uma refeição por dia. Com o corpo tão enfraquecido pela falta de nutrientes, não conseguia nem completar as missões mais básicas.
Não aguentava mais nada. Se não fosse pelos irmãos Yi, já teria morrido por desnutrição. No entanto, sabia que aqueles dois também estavam sofrendo muito, então não podia continuar dependendo deles.
— Por que não falamos com o orabeo-nim? Ele é muito honesto e dedicado, não iria abandonar a gente — perguntou Yi Seol-Ah.
Estaria mentindo se dissesse que não ficou tentada pela sugestão, mas decidiu negar. Se Seol lhe devesse algum favor, a história seria diferente. Claro, ele salvou a vida dela e, em troca, o ofereceu a poção de Ressurreição. A relação que tinham acabou ali. Pelo menos era o que pensava. Não sabia se aquilo era por puro orgulho ou se também estava envergonhada em pedir ajuda.
Contudo, recusar aquela ideia fora difícil. Não querendo prejudicar ainda mais os irmãos, mudou o esconderijo em que ficava sem os contar. Porém, neste mesmo dia, passou por uma terrível provação.
Abriu os olhos durante a noite e viu três homens ocidentais. Dois seguravam os seus braços e um estava sentado em cima dela. Parecia que sempre acabaria encontrando babacas como Kang Seok. Enquanto lutava com todas as forças para resistir, um deles se aproximou um pouco mais de seu ouvido.
— Ouvi dizer que você tá aleijada.
— Quer continuar vivendo assim? Não quer ir pro Paraíso?
— Fica quietinha que a gente te dá comida e um lugar quente pra dormir também.
— Se estivermos bonzinhos podemos te dar até alguns pontos.
Pontos de Sobrevivência. No momento em que escutou aquelas palavras, todas as forças que tinham se esvaíram. Quando se arrependeu, já sentia o frio nas nádegas. Quando recobrou a consciência, a sua calcinha já estava na altura do tornozelo. Quando aquele cara tirou as calças e ficou com um sorriso malicioso no rosto, Yun Seora começou a tremer.
Segundos depois, alguém disse para ela abrir a boca.
Um objeto horrendo aproximou-se de seu rosto, mas ela continuou com a boca fechada. Pensava que, no momento em que cedesse, seria o fim.
Não, não um simples “fim”. Temia cair ainda mais naquele abismo…
Não abriu os lábios. Gritou com todas as forças. Mordeu tudo que a tocava e usou todo o corpo para lutar.
Em troca, recebeu xingamentos, chutes e socos. Mas mesmo assim, não deixou de resistir. Por fim, os homens ficaram cansados daquilo, cuspiram em seu rosto e, finalmente, foram embora.
Ajeitou-se e retornou para o abrigo do quinto andar, caindo no chão e se encolhendo no momento em que voltou ao local.
Uma gota das lágrimas que segurava caiu. O choro, antes mental, agora fora exteriorizado. Começou a soluçar sem parar.
“Seria melhor ter morrido.”
Estava com medo de dormir de novo, mas foi forçada a fechar os olhos pelo cansaço. Pensava que, caso morresse ali, talvez não tivesse nenhum arrependimento. Não se importava mais com o que aconteceria. Então, caiu em um sono profundo. Contudo…
— Senhorita Seora?
Estava prestes a pagar o barqueiro para cruzar o rio Estige…
— Senhorita Yun Seora.
Olhou para trás e o viu.
— Tá tudo bem?
Viu um jovem oferecendo ajuda.
***
Enquanto Seol cuidava de Yun Seora, Yi Seol-Ah e Yi Sungjin chegaram.
Hesitantes, os irmãos entraram no quarto. Quando viram a decoração luxuosa do ambiente, não conseguiram segurar as expressões de surpresa. Porém, quando viram o estado da amiga deitada na cama, logo se recuperaram. As feições mudaram de um tom surpreso para um melancólico.
— Ela não tava tão mal assim dois dias atrás…
— Sério?
— Sim. Por que ela ficou tão…? — indagou a jovem.
Com apenas um olhar, podia dizer que ela estava muito doente. Mesmo no seu quarto, aquela mulher continuava soando e estava com a respiração pesada. Imaginou que a situação estava um pouco melhor comparado a quando ela não o respondeu. No entanto, como não tinha conhecimento médico, não conseguia afirmar nada, apenas que queria ajudá-la.
Avisou que logo estaria de volta. Quando encarava uma situação que não sabia resolver, tinha alguém com quem podia contar.
Após ouvir a explicação, Agnes chamou outra pessoa.
Era Maria. A empregada loira se juntou a eles parecendo estar se gabando. Ela era uma Sacerdotisa nível 4. Saiu de “Sacerdotisa” nível 1 para “Diácono” nível 2, depois “Clériga” nível 3 e, por fim, “Suma Sacerdotisa”. Com a ajuda das duas, Seol logo retornou para o seu quarto.
— Isso é complicado.
— É tão ruim assim?
— Esquece do braço direito, parece que ela tá num estado de subnutrição há mais de um mês. Parece que ainda foi espancada. Então, sim. É muito ruim.
— Ela foi espancada?
— Sim. Não sei quem bateu, mas essa pessoa bateu com força — afirmou a empregada com uma risada. — Você fez bem em trazer ela pra cá. Sem os efeitos desse quarto, ela provavelmente já estaria morta.
Com aquela declaração, Yi Seol-Ah cobriu a boca, chocada.
— Como a gente faz pra curar ela?
— Se quiserem, eu posso curar, mas não precisa. Se ela passar alguns dias nesse quarto comendo bem e descansando, vai se recuperar.
— O braço dela também?
Maria ficou em silêncio e encarou Yun Seora. Agnes também analisou aquela ferida com cuidado antes de se pronunciar.
— Seis facadas no braço. Pelo jeito, foram causadas por uma adaga bem afiada. Quem fez isso até girou a arma em duas das feridas.
— Quanto tempo tem isso?
— Mais de dois meses. Que tal “Moderado” e “Massivo”?
— Por que perguntar alguma coisa que você já sabe a resposta? “Leve” seria o suficiente se a ferida fosse tratada na hora, mas agora é muito tarde. Você sabe que um machucado fica mais difícil de ser curado à medida que ele passa sem tratamento. Se for “Colossal”, pode ser possível, mas não tô confiante.
Seol não conseguia esconder a surpresa de ver as duas descobrindo o que aconteceu dois meses antes apenas olhando. Uma sensação de ansiedade também crescia dentro de si.
Não entendia muito bem a discussão, já que várias palavras relacionadas à profissão da Suma Sacerdotisa, mas conseguiu captar que seria complicado.
— Esse braço já era. Já passou do simples feitiço de “cura”, precisando de alguma coisa no nível de “Reviver”. Eu recomendo amputar — disse a empregada loira, se levantando e virando o olhar para Seol.
— Oi?
— Não posso fazer nada. A gente não tá no Paraíso. Vocês não vão achar um Sacerdote melhor do que eu na Zona Neutra.
A situação ainda podia piorar. Ainda faltava um mês até o prazo, e Yun Seora podia piorar ainda mais.
— T-tem outro jeito? — Seol estava pronto para escutar um “é impossível” como resposta.
Foi então que…
— Tem um outro jeito. — Uma calma voz o fez recuperar os sentidos. Agnes se levantou da cama ao terminar de examinar o braço tão ferido. — Como Maria disse, só um Sacerdote de nível 5 com o rank alto pode curá-la. O negócio é que os Sacerdotes são a classe mais próxima dos deuses.
— E…?
— Eu te disse que você teria que escolher um deus para servir quando chegasse no nível 5. Lembra?
Concordou com a cabeça.
— “Colossal” é um feitiço muito poderoso que Sacerdotes podem aprender depois de chegarem no nível 5.
— Você não disse que a senhorita Maria tá no nível 4?
— De fato, ela não seria capaz de lançá-lo em condições normais, mas existem algumas exceções…
— Agnes? Cala a porra da boca. — Maria começou a encarar para Agnes, mas essa só retribuiu com um olhar raivoso, não parando de falar.
— É concedido ao Sacerdote que segue a apenas um deus a classe de Sumo Sacerdote. Quando se transforma em Sumo Sacerdote, a pessoa tem direito à um privilégio.
— Privilégio?
— Sim. É o poder de cortejar uma Cerimônia. É como se fosse uma súplica aos deuses para eles deixarem que você use um feitiço de nível alto.
Maria fechou os olhos com força. Pôde até ouvir os dentes rangendo. Teve a impressão de que ela murmurou alguns xingamentos também.
Em determinado momento, decidiu falar enquanto olhava para a empregada.
— Perd…
— Ah, não! Nem fodendo!
— S-senhorita Maria?
— Não tô te ouvindo. Lalalala. Ebebebebeh… — disse, cobrindo a orelha com as mãos.
— V-você não pode ajudar? Por favor! — Yi Seol-Ah não conseguiu continuar vendo e começou a implorar.
— Merda, por que você tinha que falar tanto quanto uma puta velha? — A empregada cuspiu aquelas palavras com muita raiva, fazendo com que a jovem pulasse de susto e se escondesse atrás de Seol.
Fez sinal para a chorosa amiga ficar em silêncio e começou a se aproximar de Maria. A empregada começou a tremer.
— Não chega perto! Nem se atreva!
— Senhorita Maria, eu só quero conversar. Por favor.
Como parecia que iria correr, com cuidado, Seol agarrou os braços da Sacerdotisa, fazendo-a se debater em resistência.
— O que custa ajudar?
— Tá surdo, porra? Eu não posso. Até ajudaria se você me pagasse bem, mas eu não consigo!
— Mas e aquela Ceri…
— Cerimônia é o caralho. Não fale sobre isso de novo! Tô sendo gentil só porque a senhorita Foxy te convidou pra cá. Mas só por isso! Se não fosse por ela, eu já teria te dado um retão bem no meio da cara.
Quase explodiu dizendo “Isso é você gentil?!”, mas conseguiu engolir tais palavras. Tinha entendido, pelo menos um pouco, o motivo dela praticar um voto de silêncio.
— Eu sei que tô pedindo muito, mas só você consegue, senhorita Maria.
— E por que deveria?! — gritou de volta a empregada. — Você acha que a Cerimônia é só um evento em que você reza e ajoelha um pouquinho? E as oferendas? Da onde você tiraria elas? E porque eu vou colocar o meu na reta por alguém que eu nem conheço? Nem sou filiada ao Sinyoung. E não é só isso, pensa na quantidade de fofoca que vão fazer por eu participar de uma única Cerimônia!
Ela continuava a cuspir palavras de ódio com um pouco de insanidade nos olhos. Seol ficou até um pouco com medo, mas continuou a encarando.
“Implorar sem um plano não vai dar certo.”
— Tem um verso na Bíblia.
Ela o olhou com uma expressão de “Que porra você tá tentando dizer?”, enquanto ofegava.
— Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que…
— Eles façam por vocês. Mateus, 7:12. Evangelho de Lucas, 6:31. Já conheço — cortou. Deu um suspiro e prosseguiu. — Sério mesmo? Você tá me dizendo que uma vadia inútil dessas vai me dever um…
— Mas não seria só a senhorita Seora. — Dessa vez, foi ele quem interrompeu a fala de outra pessoa. — Eu e uma tal de senhorita Hannah. — A sua voz fez com que Maria ficasse em silêncio e pensasse. Ainda o encarava, mas as feições tinham se relaxado. Parecia que ela não esperava pelo que disse.
— O que você falou? Quem vai?
Como suspeitava, mencionar o nome de Kim Hannah mudou a situação.
— Você ouviu dizer que a senhorita Hannah veio pra Zona Neutra, né? — Continuou, agora com mais esperanças.
— Claro.
— Ela veio me pedir um favor.
— Merda. Ah, deus da Luxúria. — Abaixou a cabeça e a apoiou no peito de Seol, ficando um tempo sem se mover.
Enquanto permanecia imóvel, com medo dela descobrir o seu coração acelerado, viu uma pequena mão acenando para si.
— Me dá um cigarro. E me solta.
— Ah. — Parou de agarrá-la e logo pegou um maço. Até acendeu um dos cigarros.
— Fu-wooo… — Devagar, ela exalou a fumaça das narinas e da boca, emanando uma intenção hostil. — Nos próximos cinco minutos, vocês vão calar a boca. Já tô me sentindo uma bosta, então não quero ouvir nem um piu. Entenderam?
A empregada apoiou a cabeça contra a parede e começou a encarar o teto, terminou de fumar, xingou bastante. Quando acabou, jogou a guimba no chão e a apagou com o salto. Agnes ficou um pouco irritada, mas como tinha ciência dos perigos e sacrifícios que um Sacerdote tinha que passar para realizar uma Cerimônia, preferiu ficar em silêncio.
— Haaaaaaaaaa, meeeerrrddaaaaa. — Ajeitou o cabelo e decidiu falar. — 82010 pontos. Não, como você me deu um cigarro, 82000.
— M-Maria?! — gritou a outra empregada, surpresa.
— Vamos ver, você tem muito poucos Pontos de Sobrevivência. Muito pouco mesmo. Se quiser dar um jeito no braço dessa garota, é melhor conseguir os 82000 pontos e me pagar adiantado. Depois disso eu faço uma Cerimônia ou o que você quiser. — Continuou, ignorando toda a situação.
Yi Seol-Ah ficou boquiaberta. 200 pontos para a jovem já era muito, agora 82000 era uma quantia inimaginável. Maria não concordou muito com aquele pensamento, porque logo que viu a reação da menina apontou o dedo do meio na direção dela.
— É isso. 82000. Não esquece — disse, de forma ameaçadora enquanto caminhava em direção à saída.
SLAM!!
— 82000 pontos. Que doideira. É muito caro — murmurou a garota, ainda estarrecida com o valor.
— Não, não é nem um pouco caro — falou Agnes. — Considerando os materiais envolvidos, não é um preço absurdo. Acho até que ela pediu o menor valor possível.
— É mesmo? — perguntou Seol, ainda um pouco assustado. — Eu não tenho ideia de como deve ser, mas tem alguma explicação pra senhorita Maria odiar tanto a ideia?
— Bem, digamos que é um pouco arriscado.
Basicamente, a Cerimônia era um tipo de ritual onde um indivíduo adorava os deuses e fazia uma oferenda. Quanto maior o desejo a ser realizado, maior deveria ser a oferenda. Caso a oferta não fosse do mesmo nível do pedido, a pessoa sofreria algum tipo de retaliação.
Por exemplo, se Maria lançasse o feitiço “Colossal”, que tem o uso permitido apenas para um Sacerdote de nível 5, ela ficaria de cama pelos próximos 7 dias com uma febre muito alta. Por fim, uma restrição lhe seria aplicada, impedindo a utilização de qualquer outro feitiço pelas próximas duas semanas.
— O comum é que, logo depois da Cerimônia, quem a realizou tenha de sair da Zona Neutra.
— Ela vai ter que sair?
— Sim. Se ela for para o templo principal do deus que serve, pode conseguir diminuir pela metade o tempo dessa restrição. O mais importante é que, orando e se recuperando dos danos que sofreu lá, as chances dela sofrer com redução em seus status físicos e ter a habilidade de lançar feitiços prejudicada também diminui.
— Então…
— Só sair da Zona Neutra vai fazer com que Maria seja muito prejudicada.
A realidade é que as empregadas da Zona Neutra não eram voluntárias. Trabalhar naquele local, assim como a manutenção dele, era o meio no qual elas conseguiam Pontos de Sobrevivência. Saindo de lá, poderiam trocar esses pontos por algo chamado de “histórico de conquistas”. Se ela saísse, perderia os benefícios que tinha. Portanto, para conseguir realizar a Cerimônia, deveria estar preparada para lidar com esses fatores.
— O preço de 82000 pontos deve ser só para as oferendas. Se continuarem achando que o valor ainda é muito alto, não posso fazer nada.
Ouvir aquele tom severo de Agnes fez com que Yi Seol-Ah abaixasse a cabeça por vergonha. Por outro lado, Seol não parava de pensar nas possibilidades. Tinha 38580 pontos, então precisava conseguir mais 43420.
“Não vai ser fácil.”
Tinha decidido não fazer mais nenhuma missão “Difícil”. Porém, para completar as “Muito Difíceis”, precisaria se preparar gastando os seus PS. Mesmo que procurasse por parceiros, como as recompensas seriam divididas de maneira igual entre os participantes, não conseguiria muito.
“Por que isso foi acontecer logo depois de eu comprar aqueles negócios da loja VIP?”
— Não importa o que você decidir, eu te desejo sorte — disse Agnes após analisar o comportamento de Seol. Por fim, ela saiu do quarto, deixando os quatro sozinhos.
— M-me desculpa. P-por minha causa v-você… — sussurrou Yi Seol-Ah, ainda envergonhada.
Teve que concordar. Não era nenhum santo. Enquanto ouvia Maria gritando, havia se perguntado várias vezes o porquê de estar fazendo aquilo. No entanto, sempre que isso acontecia, tentava dizer para si mesmo que, caso desistisse, tudo que já tinha feito não serviria para nada. Os benefícios seriam muito maiores do que as perdas.
“O Mandamento Dourado. É melhor que eu não perca meu tempo, beleza?”
Não queria se arrepender de nada. Transferiu mais 300 pontos.
— O-orabeo-nim?!
— Fique aqui e descanse. Compre alguma coisa pra comer com esses pontos. Quando a senhorita Seora acordar, compra alguma coisa pra ela também. Um negócio fácil de comer, tipo mingau.
— M-mas e você…? — Os irmãos estavam atônitos com tudo que aconteceu.
— Eu vou arranjar alguns pontos. Só me esperem aqui.
Se tivesse ativado “Nove Olhos” naquele momento, teria uma surpresa. No entanto, como estava muito focado no objetivo, acabou esquecendo. Abriu a porta e saiu.
***
Tinha ido para a praça principal do primeiro andar sem nenhum plano em mente, mas, do jeito que esperava, as respostas estavam quase que o esperando. A única ideia que teve foi continuar completando as missões “Difíceis”, já que haviam dez sobrando com nove tentativas restantes cada. Se continuasse no ritmo em que estava, conseguiria os 40000 pontos. Porém…
“Parem de me encarar assim…”
Os olhares da multidão eram acompanhados pelo silêncio, mas se ele pegasse algum outro pergaminho logo os burburinhos iriam começar. Como estava decidido, estendeu o braço para pegar um dos pedaços de papel do quadro de avisos. Contudo, um dedo cutucou os seus ombros. Virou-se para ver quem era.
— Será que a gente pode tomar um chá hoje? — Uma garota usando um vestido azul o olhava com os olhos radiantes. Era Odelette Delphine, uma das pessoas na qual Kim Hannah recomendara um bom relacionamento. — Ou você vai recusar de novo?
— Claro.
— Perfeito! Vamos para aquela cafeteria ali. Todo o pessoal tá te esperando.
Ficou um pouco confuso com aquela frase, mas logo que se aproximou do local, pôde entender o que ela queria dizer. Quatro pessoas estavam sentadas na mesa esperando para que ele chegasse. Dessas, conhecia três.
— An? — indagou, surpreso por ter encontrado o homem magro vestindo um turbante.
— Achou que eu tinha morrido? — perguntou, sorrindo, o homem que parecia indiano.
— Sim. Você…
— Todo mundo falou a mesma coisa quando eu voltei. Tudo graças a um certo alguém.
— Oops — falou Delphine, com um sorriso no rosto. — Parece que “morte” não é a única punição se você não completar aquela missão. Quem diria, né?
— Ou você morre ou volta pro início pra tentar de novo.
— Então a gente não volta pra Zona Neutra?
— Isso, você só volta pro início do labirinto. Eu achei que iria morrer tentando sair daquela merda de lugar. Mas, bem, isso foi há dois meses atrás.
Era fácil perceber pela conversa o quão pouco Seol sabia sobre as idas e vindas da Zona Neutra.
Sentando na cadeira reservada para ele, ficou em silêncio e começou a encarar os outros presentes.
— De qualquer forma, bem-vindo. Pode me chamar de Tong Chai. — O nome do cara que quase morreu então era Tong Chai. Área 5.
— Leorda Salvatora. — Da Área 2. Tinha um par de olhos cinzentos que lembravam os de um lobo.
— É um prazer. Meu nome é Hao Win. — Área 7. Era quem estava fumando com o pé em cima da mesa.
“Esse cara é…”
O sobrevivente que Kim Hannah mencionou. Não era o chefe de alguma máfia? Com aquela aparência simples e organizada ele não parecia como um criminoso tão importante.
E então…
— Finalmente!! Meu sonho se tornou realidade! — Área 2. Odelette Delphine. A solitária Maga e dona do segundo lugar de melhor sobrevivente da Zona Neutra estava sorrindo.
Com exceção de uma pessoa, todos tinham sido chamados em voz alta por Cinzia no teatro.